7.4.15

Dados mensais do desemprego têm sido sempre revistos

Por Lucília Tiago e Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo

A publicação mensal de estatísticas do desemprego arrancou em novembro e de então para cá os valores inicialmente avançados foram sempre revistos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE). Dos quatro meses para os quais já há valores definitivos, um foi corrigido em baixa e três em alta. A mudança mais significativa até agora verificada foi a de janeiro, que ascendeu a 0,5 pontos percentuais, levando o primeiro-ministro a sublinhar a necessidade de o INE a fundamentar.

Do lado do INE salienta-se que as estimativas mensais do desemprego "são calculadas com base em informação incompleta", o que faz que o valor apresentado seja sempre provisório. Ou seja, as estimativas mensais correspondem a trimestres móveis, sendo o valor para o mês mais recente "obtido como uma média simples" extraída dos dois meses para os quais já existe informação completa recolhida no âmbito do Inquérito ao Emprego e um mês para o qual é necessário fazer uma projeção.

Na prática isto significa que quando avançou a taxa provisória de janeiro, o INE não dispunha ainda dos resultados do inquérito ao emprego para esse mês, mas apenas para novembro e dezembro. Por esse motivo, pode divulgar a taxa definitiva de desemprego do último mês do ano (que foi de 13,6% e não de 13,4% como inicialmente tinha sido avançado), mas só agora o pode fazer para janeiro. Da mesma forma, apenas em abril terá condições para "validar" o desemprego de fevereiro, e nessa altura se saberá se ficará nos 14,1%, agora adiantados.

Quem lida de perto com as questões do emprego e do desemprego não se surpreendeu com a revisão de em janeiro e avança até com algumas pistas que ajudam a perceber por que motivo esta foi superior às efetuadas para outubro, novembro, e dezembro. Num debate do Observatório sobre Crises e Alternativas do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, subordinado ao tema "Desemprego e emprego no pós-troika: a real dimensão do fenómeno", Jorge Gaspar, presidente do IEFP, salientou que aquela revisão "pode ter que ver com o facto de, em janeiro, uma das oito séries da amostra do inquérito [ao emprego] ainda ser fundada nos censos 2001", situação que mudará em fevereiro, mês em que os oito grupos já estão "todos fundados nos Censos de 2011".

Francisco Madelino, ex-presidente do IEFP, corrobora esta leitura. Por este motivo são de esperar novas novas revisões no curto prazo, já que o Inquérito ao Emprego vai ser feito com base em amostras "exclusivamente provenientes dos Censos de 2011", tal como o INE anunciou no final do ano passado.