25.10.18

Fugiram à guerra e ao medo. E encontraram futuro no Fundão

in TSF

Um mês após a chegada ao Fundão, há migrantes que já falam português e que em breve vão começar a trabalhar.

O grupo de 19 refugiados proveniente de Itália que chegou há um mês ao Fundão, no distrito de Castelo Branco, poderá começar a trabalhar em empresas locais muito em breve.
Oriundos de países como a Eritreia, o Iémen, a Nigéria ou o Sudão, os 17 homens e as duas mulheres encontram-se já a ter aulas de cultura e língua portuguesa. No final de outubro deverão começar a ter formação para depois poderem trabalhar.

A TSF visitou o antigo seminário do Fundão, onde foi criado um centro de acolhimento de refugiados que é agora o novo lar dos migrantes. Assistimos a uma lição de português e conversámos com algumas das pessoas que atravessaram o Mar Mediterrâneo para fugir à guerra, ao Boko Haram, ou simplesmente à procura de melhores condições de vida.

Entre os refugiados está Jambo, professor do 1.º ciclo, que agora voltou aos bancos da escola para aprender português. O antigo docente, de 28 anos, teve que pagar cerca de 5.500 euros para fazer a travessia até à Europa.
"Foi difícil atravessar a Líbia por causa dos criminosos. O mesmo aconteceu no Sudão, onde o Governo é mau como o da Eriteia", contou.

Ainda que as condições do tempo tenham ajudado, a viagem no mar Mediterrâneo não foi fácil, revelou este refugiado, resgatado pelo navio humanitário Aquarius.

Também Waliid, cidadão proveniente do Iémen, recordou à TSF a dureza da viagem de barco, que durou quatro dias, e os companheiros que perderam a vida para tentar chegar à Europa. "Saltámos para a água porque durante dois dias não comemos, nem bebemos. Saltámos 21 homens e cinco morreram", disse.

Waliid só quer esquecer esses momentos e os dias (cerca de um ano) que demorou a chegar a Portugal, um país que considera "bom" e com pessoas "respeitosas e boas". "Antes toda a minha vida era má, agora é boa", declarou.
Com Waliid, no barco que atravessou os dois continentes, seguiam 400 pessoas. Entre os ocupantes da embarcação estavam também Agustina e Deborah, duas amigas de 21 anos que deixaram as famílias na Nigéria "por causa da guerra e do Boko Haruam", e que também chegaram ao Fundão. São as únicas mulheres que se encontram no antigo seminário da cidade.
"Saímos para ter proteção", explicou Agustina.

"Eu quero ficar em Portugal e fazer aqui a minha vida. Preciso é de um trabalho para me sustentar. [Pode ser] qualquer emprego", afirmou Deborah. Para já, esta refugiada ainda só está a aprender a língua, mas dentro de dias deverá começar a ter formação profissional.

No centro de acolhimento, estes 19 homens e mulheres vão poder permanecer durante 18 meses. A coordenadora do espaço, Paula Pio, acredita que os migrantes irão sair antes mesmo desse prazo.

O presidente da Câmara do Fundão, Paulo Fernandes, também está confiante - até porque há várias empresas do concelho interessadas em acolher refugiados. "Já houve, no setor das confeções, pedidos para dar formação intensiva. Na construção civil, na área agrícola e agroflorestal também já houve empresas que se disponibilizaram para receber pessoas com esse tipo de apetências", adiantou.
Segundo o autarca, o Fundão, concelho de onde é natural secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, está disponível para acolher ainda mais migrantes.