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12.6.23

A questão cigana

António Guerreiro, crónica, in Público


É possível assistir hoje, aqui e agora, numa povoação perto de nós, em Portugal (mais no Sul do que no Norte porque é no Sul que se dá uma junção de factores e não porque a razão maléfica germine melhor nesta região), à expulsão de membros de uma população de indesejáveis e até ver graffiti, escritos nas paredes como leis escritas na pedra, que são indesejáveis e devem ser postos “ao bando”, para utilizar uma fórmula antiga, recuperada pela biopolítica? Pode-se, sem temer a lei e protegido pelo silêncio público, tratar uma população como escumalha e encarnação ignóbil da figura dos párias da história, submetendo-a a uma dupla operação – só aparentemente contraditória – que consiste em expô-la e ao mesmo tempo torná-la invisível?

Sim, pode-nos calhar em sorte e se estivermos atentos assistir à repetição dos progroms que têm como objecto, no duplo sentido desta palavra, uma população estigmatizada e tão fortemente etnicizada que essa etnicização é imposta como modo de categorização política. Falo, como já se percebeu, dos Ciganos, os “Tsiganes”, os “Gitains”, os “Roms”, todos esses nomes que mostram bem que houve uma disseminação desse “povo” em toda a Europa. Mas com palavras semelhantes poderia estar a falar dos judeus na Alemanha nazi – dos judeus que desde o final do século XIX suscitaram o medo e o fascínio do capital “sem pátria”, numa época em que se dava a concentração territorial do Estado-nação, na Europa. Tal como aconteceu aos Judeus, os Ciganos também são tratados como gado, muito embora o factor “dinheiro” não lhes diga respeito e o factor “sem pátria” os afecte apenas na medida em que são vistos como “estrangeiros do interior”. A ciganofobia não é censurada socialmente, nem sequer é reconhecida como forma de racismo: é um reflexo de protecção contra gente representada como essencialmente delinquente e traficante. “Essencialmente”, porque se trata, segundo o senso comum, de transmissão pelo sangue que lhes corre nas veias e por determinação biológica.

Já não se pode dizer que são uma “população nómada”: o seu nomadismo tradicional teve que ser abandonado porque desapareceram as condições para praticá-lo: não há as estradas e os caminhos antigos, não há os terrenos sem vedações e sem muros, não há guaridas sem cadeados, não há regras de hospitalidade. Se ainda estão obrigados a algum nomadismo é por motivo de expulsão e porque não há lugar para eles. E nem sequer se procura saber qual é o lugar que eles deveriam ter. O nomadismo, hoje, num tempo em que velocidade anulou o espaço, só é praticável se for chique, como são os “nómadas digitais”. Em 2010, num tristemente célebre discurso em Grenoble, o então Presidente francês, Nicolas Sarkozy, referiu-se aos Roms como exemplo, maior entre todos, dos causadores de problemas que ”les gens de voyage” colocam. Em vez de “nómadas”, Sarkozy preferiu uma designação administrativa: “gens de voyage”.

Mas regressemos à terra, à nossa terra, mais a Sul do que a Norte, mais no interior do que no litoral, onde, apesar de tudo, foi conseguida alguma integração. Seja de esquerda ou de direita, o poder local responde, por convicção ou por eleitoralismo, aos desejos da população: e esses desejos consistem quase sempre em evacuar, expulsar, terraplanar, construir muros. Não por determinações ideológicas ou instintivas maléficas, mas porque foram instruídos e habituados a ver essa gente como dejectos: traficantes (mas que outra maneira têm de chegar à “mercadoria”?, renitentes ao trabalho (mas quem lhes daria emprego, se eles contrariassem o reflexo de nem o procurar?), dados a uma procriação demasiado abundante e precoce, com uma “cultura”, se se pode dizer assim, que reproduz no seu interior hierarquias e relações de dominação e de propriedade sobre as mulheres e os filhos que não podem ser toleradas.

Quanto ao poder central, este nunca se mostrou capaz de enfrentar aquilo a que podemos, sem medo das ressonâncias desta locução, chamar “a questão cigana”, que existe há séculos e que foi acumulando hostilidades recíprocas, perseguições, dificuldades de convivência. E isso só estimula a regressão identitária: quanto mais são tratados como escumalha, quanto mais se mostram resistentes (sucessivamente à escravidão, ao holocausto, aos progroms, à exclusão) mais os Ciganos se protegem com o orgulho da “raça” e os enraizamentos culturais. Não sejamos inocentes: uma questão deste tipo não se resolve com voluntarismos e acções avulsas apenas localizadas nalguns focos: exige uma tarefa ingente que mal foi começada.


1.2.23

Governo anuncia constituição do Observatório do Racismo

in Sol

Ana Catarina Mendes disse que "nos próximos dias" será assinado um protocolo com uma universidade, sem especificar qual, que terá um "consórcio com vários centros de investigação e universidades, para a criação do Observatório contra o Racismo e a Xenofobia".

O Governo vai assinar um protocolo como uma universidade para que seja criado um Observatório contra o Racismo, anunciou a ministra Ana Catarina Mendes, esta quarta-feira.

Na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, requerido pelo PAN), sobre eventuais mensagens de teor racista escritas por elementos da PSP e da GNR, a ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares afirmou que o Governo está “empenhado” no “combate ao racismo e todas as formas de discriminação".

Deste modo, a ministra adiantou que, "nos próximos dias", será assinado um protocolo com uma universidade, sem especificar qual, que terá um "consórcio com vários centros de investigação e universidades, para a criação do Observatório contra o Racismo e a Xenofobia".

Além do Observatório, Ana Catarina Mendes afirmou que está “já em circuito legislativo a autonomização institucional" da Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), como órgão independente, "decorrendo daqui decisões isentas e independentes".

"Esta autonomização, que deverá ser aprovada nos próximos dias, trará também mais um instrumento à sociedade portuguesa para podermos combater fenómenos desta natureza", referiu.

O "racismo não é um problema estrutural" em Portugal, frisou, ainda que não se possa ignorar quando os casos são conhecidos.

O número de queixas sobre discriminação, racismo ou discursos de ódio feitas à CICDR aumentaram entre 2021 e 2022, adiantou, contabilizando-se 491 no ano passado (mais 83 do que em 2021).

12.4.21

Plano contra racismo com vagas específicas na universidade para alunos carenciados

in EcoOnline

Os alunos de escolas em territórios económica e socialmente desfavorecidos poderão aceder ao ensino superior através de contingente especial. Documento vai estar em consulta pública até 10 de maio.

Os alunos de escolas em territórios económica e socialmente desfavorecidos poderão aceder ao ensino superior através de contingente especial, tal como está previsto no Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação, que entra esta sexta-feira em consulta pública.

No documento, a que a Lusa teve acesso, e integrado nas medidas que dizem respeito ao ensino superior, o Governo prevê “definir um contingente especial adicional de alunos das escolas TEIP [Territórios Educativos de Intervenção Prioritária] no acesso ao ensino superior e cursos técnicos superiores profissionais”.

O programa TEIP abrange atualmente 136 agrupamentos de escolas e escolas não agrupadas que estão localizadas em territórios económica e socialmente desfavorecidos, “marcados pela pobreza e exclusão social, onde a violência, a indisciplina, o abandono e o insucesso escolar se manifestam”, lê-se no ‘site’ da Direção-geral de Educação.

Em declarações à Lusa, a secretária de Estado para a Cidadania e a Igualdade explicou que a criação de um contingente especial de acesso ao ensino superior para alunos das escolas em TEIP “é uma medida que está a ser desenhada pel[o]a [Ministério da] Presidência, o Ministério da Educação e pelo Ministério do Ensino Superior”.

“Aqui é precisamente esse o objetivo, tal como existe noutros países, contingentes especiais para outros grupos. Considera-se esta uma boa estratégia, por isso a propomos”, disse Rosa Monteiro, que defendeu que o trabalho em relação ao ensino superior “vai muito além da questão do acesso”, apesar de admitir que é uma questão “absolutamente decisiva”.

Nesse sentido, sublinhou que é preciso que o incentivo comece antes do ensino superior, apontando que está também previsto o “reforço do sistema de bolsas”, como as bolsas do programa OPRE para alunos ciganos do ensino superior e as bolsas no âmbito do programa ROMA Educa, para estudantes ciganos no 3.º ciclo do ensino básico ou do ensino secundário.

Dentro do ensino superior, o plano prevê também códigos de conduta, maior representatividade entre pessoal docente e não docente ou dirigente ou a inclusão nos planos curriculares de estratégias de educação contra o racismo e sobre a história e contribuição das pessoas afrodescendentes e ciganas.

O documento, que o Governo agora apresenta para consulta pública, está organizado em quatro princípios e 10 linhas de atuação, com o objetivo de “concretizar o direito à igualdade e à não discriminação, através de uma estratégia de atuação nacional que vá para além da proibição e da punição da discriminação racial”.

Para Rosa Monteiro, esta sexta-feira “é um dia muito especial para todo o Governo porque é a primeira vez que se torna público um plano nacional de ação contra o racismo”.

“Isso não tem só o valor simbólico, é o reconhecimento de um conjunto de necessidades de intervenção que reforça de facto os meios destinados à prevenção e combate ao racismo, com medidas transversais e medidas direcionadas aos vários setores e áreas governativas”, apontou.

O plano traz medidas divididas entre “Governação, informação e conhecimento para uma sociedade não discriminatória”, “Educação e Cultura”, “Ensino Superior”, “Trabalho e Emprego”, “Habitação”, “Saúde e Ação Social”, “Justiça, Segurança e Direitos”, “Participação e Representação”, “Desporto” e “Meios de Comunicação e o Digital”.

Está prevista uma aposta na formação e capacitação dos trabalhadores da administração pública, desde um “programa intensivo de direito antidiscriminação” ou ações para quem trabalha na área do atendimento ao público, mas também entre a comunidade educativa, profissionais de saúde, forças de segurança ou trabalhadores de municípios e freguesias.

Por outro lado, em matéria de “Educação e Cultura”, o plano prevê “diversificar o ensino e os currículos, designadamente, através da inclusão de conteúdos, imagens e recursos sobre diversidade e presença histórica dos grupos discriminados, e processos de discriminação e racismo, nos currículos e manuais escolares de disciplinas obrigatórias”.

“Alargar a oferta do plano nacional de leitura a autores lusófonos e de outros países não europeus ou norte-americanos, incluindo autores portugueses ciganos e afrodescendentes, bem como autores imigrantes e emigrantes, e refugiados a residir em Portugal”, é outra das medidas previstas.

No âmbito do “Trabalho e Emprego”, por exemplo, o Governo quer promover formas de recrutamento cego, de modo a aumentar a diversidade e a assegurar maior igualdade tanto no acesso como na progressão, por parte de pessoas de grupos discriminados.

Outra das medidas, inserida na parte sobre “Justiça, Segurança e Direitos”, é a autonomização e reforço da Comissão para a Igualdade e contra a Discriminação Racial (CICDR), e que, tal como explicou a secretária de Estado, passa pela saída deste organismo da alçada do Alto-Comissariado para as Migrações.

O documento vai estar em consulta pública até ao dia 10 de maio, na plataforma ConsultaLEX (consultalex.gov.pt), e a secretário de Estado espera que haja “uma participação muito significativa e cooperante por parte da sociedade civil”.

“Pretendemos que este seja um plano para todas as pessoas, em que toda a sociedade portuguesa se reveja, com este desígnio de avançarmos para um futuro mais igual, alinhados com aqueles que são também os grandes objetivos da União Europeia”, defendeu Rosa Monteiro.

25.3.21

Presidência da UE. Europa envia "forte sinal contra racismo" com cimeira de alto nível

in O Observador

Cimeira vai debater o tema na base do novo Plano de Ação da União Europeia Contra o Racismo 2020-2025. A presidente da Comissão Europeia considera que "precisamos de falar sobre racismo".

A Cimeira Europeia Contra o Racismo, que se realiza sexta-feira, pretende dar um “forte sinal” da União Europeia contra a discriminação, envolvendo ministros, parlamentares e outros atores políticos e sociais num encontro de alto nível.

A dias do Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, que se assinala a 21 de março, a cimeira co-organizada pela Comissão Europeia e pela presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) vai debater o tema na base do novo Plano de Ação da União Europeia Contra o Racismo 2020-2025.

Entre as 09h00 e as 13h00 (hora de Bruxelas, menos uma em Lisboa), o evento de alto nível “pretende lançar as bases para uma futura cooperação no desenvolvimento de condições concretas para a implementação da agenda antirracismo da UE”.

“Precisamos de falar sobre racismo. E precisamos de agir. É sempre possível mudar de direção, se houver vontade de fazê-lo. Estou feliz por viver numa sociedade que condena o racismo. Mas não devemos parar por aqui. O lema da nossa União Europeia é ‘unidos na diversidade’. A nossa tarefa é viver de acordo com essas palavras e cumprir o seu significado”, disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no Parlamento Europeu, em junho do ano passado.

Três meses depois, a Comissão Europeia adotava o plano de ação, que estabelece uma série de medidas para combater o racismo e a discriminação racial. No contexto do ambicioso plano, a Comissão quer “abordar o racismo estrutural”, que “perpetua as barreiras colocadas no caminho dos cidadãos unicamente devido à sua origem racial ou étnica”.

Em concreto, a Comissão desenvolveu o Quadro Estratégico da UE para a comunidade roma, que pretende combater “a hostilidade em relação aos ciganos” e está a preparar a próxima estratégia de luta contra o antissemitismo.

Na informação de enquadramento sobre a cimeira agendada para sexta-feira, refere-se que a Comissão quer dar “prioridade a ouvir as pessoas afetadas” seguindo o lema “nada sobre nós sem nós”, instando os decisores políticos da UE e dos Estados-membros a promoverem a participação das vítimas de “racismo quotidiano” no desenho e implementação de medidas.

A Cimeira Europeia Contra o Racismo contará com a participação, entre outros, da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, da vice-presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, e da ministra de Estado e da Presidência portuguesa, Mariana Vieira da Silva.

O objetivo da cimeira é “envolver todas as partes interessadas” na “definição de prioridades” para a erradicação do racismo na UE. “A luta contra o racismo deve prosseguir e ser intensificada como uma frente comum”, defende a Comissão.

Na informação de enquadramento sobre a cimeira, constata-se que “a pandemia de Covid-19 e as consequências de ataques terroristas são apenas os casos mais recentes em que a culpa foi injustamente dirigida a pessoas com uma minoria racial ou étnica”.

O impacto da pandemia também é referido pelo Intergrupo Antirracismo e Diversidade do Parlamento Europeu (ARDI), que apoia a organização da Cimeira Europeia Contra o Racismo. A pandemia “incidiu uma luz sobre as desigualdades existentes“, disse à Lusa, por email, Jelena Jovanovic, em nome do grupo de parlamentares de diferentes famílias políticas europeias.

O ARDI apresentou uma série de recomendações com vista à Cimeira Europeia Contra o Racismo, entre as quais a criação de um eficaz mecanismo de monitorização do plano de ação europeu (e dos planos nacionais que vierem a ser adotados), a análise de falhas na lei, a compilação de dados sobre igualdade e a abordagem ao racismo institucional e às injustiças históricas.





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RACISMO
DISCRIMINAÇÃO
SOCIEDADE
COMISSÃO EUROPEIA
EUROPA
MUNDO

23.3.18

Comissão quer mais acção do Facebook no combate ao ódio

Ana Cristina Pereira, in Público on-line

Organismo que recebe queixas de discriminação racial registou mais 60 participações em 2017 do que no ano anterior.

A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR) registou 179 participações no ano passado, o que significa um aumento de cerca de 50% em relação ao ano anterior. Os conselheiros querem agora sensibilizar o Facebook para a necessidade de aumentar e afinar o combate ao discurso de ódio.

O número de participações, queixas e denúncias – consoante tenham sido remetidas por outras entidades, pelas vítimas, ou por terceiros – oscilou ao longo de uma década (andava pelos 85 em 2005/2006, caiu de 78 para 60 entre 2012 e 2013, subiu de 60 para 84 entre 2014 e 2015) e iniciou uma tendência de crescimento nos últimos anos. Registaram-se 119 em 2016 e 179 em 2017.

O alto comissário das Migrações, Pedro Calado, escusou-se a explicar o que pensa sobre este assunto. Por email, o seu gabinete relacionou o aumento de ocorrências registadas pela CICDR com a “maior consciencialização para a problemática da discriminação racial e étnica. E com “o reconhecimento, por parte dos interessados, dos recursos ao seu dispor” para se queixarem de tais práticas.

Há episódios que deram origem a várias queixas. É o caso das declarações de André Ventura, enquanto candidato do PSD à Câmara de Loures, ao jornal online Notícias ao Minuto e ao jornal i. E das do eurodeputado do PS Manuel dos Santos no Twitter, referindo-se a Luísa Salgueiro, deputada do PS e então candidata à Câmara de Matosinhos, de forma pejorativa como “a cigana, e não é só pelo aspecto”.

“A ciganofobia é transversal na sociedade portuguesa”, comenta Mamadu Ba, representante do Bloco de Esquerda na CICDR. “Está presente em todas as faixas etárias e em todas as classes sociais. Não é apenas uma questão de ideologia, já se tornou numa cultura”, salienta. Mesmo entre pessoas que se situam no espectro político progressista, ouve “declarações vergonhosas sobre ciganos”. E isto, em seu entender, só se resolve com uma lei dissuasora e com políticas públicas.
A quantidade de queixas motivadas por discriminação através da Internet está a crescer desde 2012. E isso inquieta os conselheiros.

Comissão Contra a Discriminação Racial recebeu quatro queixas contra Urban Beach

“Nesta comissão, presidida pelo alto comissário, com representantes dos vários grupos parlamentares e da sociedade civil, estamos muito preocupados, muito preocupados mesmo”, afiança Olga Mariano, representante das comunidades ciganas. “Isto tem de ser trabalhado a nível de cargos superiores. Isto tem de ser debatido a nível da Assembleia da República, a nível do Alto Comissariado para as Migrações (ACM), a nível da Secretaria de Estado para a Cidadania e a Igualdade.”

Na última reunião, que decorreu a 12 de Março, os conselheiros mandataram o presidente para contactar o Facebook em Portugal. Não por acaso. Esta é rede social mais utilizada em Portugal.
Código de conduta

Incentivados pela Comissão Europeia, no dia 31 de Maio de 2016, o Facebook, o Twitter, o Youtube e a Microsoft assinaram um código de conduta. Comprometeram-se a rever em menos de 24 horas a maior parte das notificações relativas a discurso de ódio e a retirar ou a impossibilitar o acesso a tais conteúdos.

“O Facebook elimina discurso que incentiva o ódio, o que inclui conteúdo que ataca directamente as pessoas com base nos seguintes aspectos: raça, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual, sexo ou identidade sexual, ou deficiências ou doenças graves”, lê-se na área reservada aos “padrões da comunidade”. O que não quer dizer que o humor ou a sátira estejam banidos.

Havendo uma denúncia, não basta atender ao conteúdo. Há que avaliar também o contexto e a intenção, o que implica ter em conta a geopolítica, interpretar os aspectos linguísticos e culturais. Já por isso, a empresa tem estado a aumentar o número de operadores de comunidades. E os conselheiros acham importante aumentar e afinar a resposta.
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Comissão Contra a Discriminação Racial proferiu 20 condenações em dez anos

Comissão contra a discriminação racial parada há mais de um ano
Dentro de dias, dever-se-á saber quantas queixas envolvem esta rede social. Neste momento, a CICDR está a acabar o relatório anual, que deverá ser remetido à Assembleia da República até ao final do primeiro trimestre. Por isso, o ACM não adianta dados sobre caracterização e desfecho.

A experiência mostra que muito do que chega à CICDR se perde na categoria “incompleto, incorrecto, infundado”. E outro tanto é encaminhado para outras instâncias como a Autoridade para as Condições do Trabalho, a Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, o Instituto Português do Desporto e Juventude, a Entidade Reguladora para a Comunicação, ou, em caso de crime, o Ministério Público (MP). O caso mais mediático do ano passado, que envolveu André Ventura, foi reencaminhado para o MP e acabou por ser arquivado.

25.10.17

´Livres e Iguais´ combate racismo xenofobia e discriminação étnica

José Paulo Silva, in Correio do Minho

Porque o racismo, a discriminação étnica e a xenofobia ainda persistem em 2017 e ainda motivam muitos preconceitos, o músico Carlão dar a cara e a voz ao projecto pedagógico 'Livres e Iguais', ontem apresentado no Museu D. Diogo de Sousa, assinalando o Dia Municipal para a Igualdade e o Dia das Nações Unidas.
O projecto, que resulta da parceria entre Carlão e a empresa bracarense Betweien, é direccionado para os alunos do 3.º ciclo do Ensino Básico e Secundário, trabalhando aquelas problemáticas e promovendo uma sociedade intercultural.

"Quando foi feito o contacto, claro que embarquei na aventura, é algo que me diz muito esse tipo de acções. Acho que estão exercícios bastante úteis, não só para os miúdos, mas também para nós. Eu mesmo passei por algo assim a fazer uma letra. Acho que é um trabalho muito válido", confessou o músico, que cantou as três músicas que compôs para o trabalho, uma para cada tema.

Além da apresentação musica a sessão de lançamento de 'Livres e Iguais' contou também com uma reproduzação teatral de partes do livro.

Firmino Marques, vice-presidente da Câmara Municipal de Braga, saudou a empresa por desenvolver projectos deste cariz a partir do concelho de Braga.
"Nada melhor para celebrar este evento do que apresentar este livro. Qualquer percurso que se faça é um bom percurso para chegar ao tal patamar de olharmos os outros como a nós mesmos", declarou o autarca.

Por sua vez, Narciso Moreira, coordenador de 'Livres e Iguais', salientou a importância da discussão de temas como esses com os jovens.

"A ideia é inovar na educação. Temos conteúdos, que são grande parte das vezes transversais, e não são abordados em contexto escolar. Ou se são, são de forma muito rápida. Queremos levar essas apresentações de forma diferente. Sabemos que não vamos mudar comportamentos, pois as acções são curtas, no entanto, sabemos que vão sensibilizar de algum modo para que alguns comportamentos sejam reflectidos", explicou o responsável da Betweien.

Na sessão do Museu D. Diogo de Sousa participaram alunos do concelho de Braga que, no final, receberam exemplares do livro 'Livres e Iguais'.

Num modelo de apresentação específico, as escolas e outras instituições educativas poderão também receber uma adaptação das narrativas do livro ao teatro. Literatura, Música e Teatro são os três componentes a que alunos/as e professores/as poderão ter acesso, na apresentação deste projecto.

'Livres e Iguais' beneficia ainda de duas parcerias estratégicas com a SOS Racismo e o Conselho Português para os Refugiados, parceiros que dão a garantia de qualidade dos conteúdos explorados.

5.5.16

Sozinha, uma mulher negra fez frente a 300 neonazis

In "Pùblico"

A imagem tornou-se viral na Suécia e já está a correr o mundo.

O que leva uma mulher a desafiar cerca de 300 neonazis? A protagonista desta história é Tess Asplund, uma mulher de 42 anos, com ascendência africana, cuja sua imagem se tornou viral depois de ter enfrentado sozinha, no último domingo, uma manifestação organizada pelo Movimento da Resistência Nórdica, na cidade de Borlänge, Suécia.

A imagem de Tess Asplund de punho erguido a enfrentar o grupo de extrema-direita está a correr o mundo. Entrevistada pelo jornal britânico The Guardian, Asplund conta que não reflectiu e agiu no momento. “Foi um impulso. Eu estava tão zangada, tive de sair para a rua”, confessa. “Só pensava: nem pensar, eles não podem marchar aqui. Nenhum nazi vai marchar aqui, não está correcto”.

Depois da manifestação, apanhou um comboio para Estocolmo e esqueceu o assunto. Segunda-feira percebeu que a foto estava a correr as redes sociais. Agora teme pelos seus 50 kgs de coragem que lhe parecem pouco quando pensa nos “grandes e loucos” membros do grupo de extrema-direita. “Talvez não o devesse ter feito, quero paz e sossego”, desabafa.

O medo não é em vão. Tess afirma que as acções daquele grupo lhe são familiares e conta que alguns dos seus amigos já foram atacados e obrigados a mudar de casa. A mulher já recebeu telefonemas anónimos a meio da noite onde pessoas lhe gritam do outro lado do auscultador. “É difícil falar sobre o ódio. Sinto vergonha por termos este problema. As autoridades dizem que é um país democrático. Mas estamos a falar de nazis! É horrível”, confessa.

A manifestação de domingo acontece numa altura em que os movimentos de extrema-direita estão a aumentar na Suécia, explica Daniel Poohl, editor da Expo, uma revista anti-racista sueca, à qual pertence o fotógrafo que captou a imagem viral.

O impacto da fotografia foi tal que os meios de comunicação suecos já a compararam a uma outra famosa imagem, capturada por Hans Runesson em 1985, e que ficou conhecida como “a senhora com a mala”. Na imagem, hoje com mais de três décadas, uma mulher usa a sua mala para bater num skinhead do partido neo-nazi sueco, dissolvido em 2009.

As sondagens mostram que os Democratas Suecos, um partido nacionalista, conservador e anti-imigração, conquistam 15% a 20% das intenções de voto dos eleitores e mantêm o poder no Parlamento, enquanto a proliferação do seu discurso se espalha por sites que incitam ao ódio. É no espectro mais extremista desta ideologia que encontramos o Movimento da Resistência Nórdica, explica Poohl.

“Vivemos numa Europa onde as ideias de extrema-direita se estão a tornar cada vez mais populares e também existe uma reacção contra elas”. “Vivemos dias em que as pessoas aguardam por algo que canalize esta necessidade de resistir à Europa que constrói muros e fronteiras contra refugiados, uma Europa com quem não podem cooperar mais. O gesto de Tess capturou um desses conflitos actuais”, analisa.

Recorde-se que a Suécia rejeitou, no início deste ano, a entrada de mais refugiados e migrantes da Ásia e Médio Oriente, alegando receio de que esta vaga ameace a segurança nacional, depois de se terem registado episódios de violência em centros de acolhimento de refugiados. Em Janeiro o país começou a recusar a entrada de migrantes sem documentos.

No último ano, as Nações Unidas consideraram que o país tem um problema específico de Afrofobia.

"O racismo foi normalizado na Suécia. Pensava que a Suécia em 2016 iria ser mais aberta, mas alguma coisa aconteceu”, lamenta Tess. “Espero que algo positivo resulte desta fotografia. Talvez aquilo que eu fiz se torne um símbolo de que qualquer pessoa pode fazer alguma coisa. Se uma pessoa o conseguiu, qualquer um consegue”, conclui.

12.11.15

Eu não sou preto, tu não és branco

Gonçalo Isento, in P3

Richard Williams, um jovem rapper e activista de 27 anos, de St. Louis nos Estados Unidos, mais conhecido por Prince Ea é o autor de uma série de vídeos que se tornaram virais por abordarem questões relacionadas com política, sociabilidade, questões ambientais e da vida quotidiana. Todos têm o intuito de fazer reflectir aqueles que assistem aos vídeos tentando assim mudar a consciência global do planeta. No seu site pode-se ler que Richard Williams acredita que a “única maneira de mudar o mundo é mudar o individuo”. E os vídeos têm esse intuito: a mudança. A missão de Prince Ea é apelar à consciência colectiva difundindo a sua mensagem através de vídeos que podem ser vistos no seu site oficial ou no seu canal do YouTube. No seu portefólio estão vídeos como “Can we auto-correct humanity?” em que aborda a forma como a humanidade está cada vez mais conectada através da tecnologia e ao mesmo tempo mais desconectada das relações no mundo real, ou “Dear Future Generations: Sorry” uma carta em forma de vídeo em que pede desculpa às futuras gerações por termos destruído o planeta Terra. “I am not black, you are not white” é o titulo do novo vídeo do Prince Ea que aborda a questão do racismo e de como os rótulos sociais nos acompanham toda a vida.

6.8.14

Porto vai ter mostra internacional de cinema anti-racista

Por JPN

Já está confirmada, para os dias 17, 18 e 19 de outubro, a realização da primeira mostra internacional de cinema anti-racista, no Porto. O ciclo, que decorrerá no Pequeno Auditório do Teatro Rivoli, quer aproximar o espectador do olhar dos discriminados.

O Porto prepara-se para receber a primeira Mostra Internacional de Cinema Anti-Racista (MICAR) e as datas já são conhecidas: 17, 18 e 19 de outubro.

Durante aqueles três dias, o Pequeno Auditório do Teatro Rivoli acolherá a estreia do ciclo cultural, cuja organização estará a cargo do SOS Racismo, em parceria com a Fare Network e com o apoio da Câmara Municipal do Porto.

"Durante os três dias do evento, serão exibidas obras cinematográficas que focam a temática do racismo, da imigração e das minorias étnicas, com especial destaque nesta edição para a discriminação racial no futebol; cada sessão será completada ainda com um debate sobre o tema abordado", informa, em comunicado, Pedro Ferreira, do SOS Racismo.

Os filmes em exibição ainda não são conhecidos, mas o posicionamento da organização em relação a este problema social e ao objetivo da iniciativa já: "O outro como duplicado é sempre, na sua não coincidência, a chave que nos fornece acesso à nossa própria leitura. Precisamos do olhar do outro para nos ajudar a definir. (...) O outro como caminho para a possibilidade é, antes do mais, a definição da condição humana, diversa, incontrolável e questionante".

Desta forma, o propósito da mostra passa por colocar o espectador na perspetiva de quem é alvo de discriminação racial, procurando gerar uma melhor compreensão dos fatores que podem levar à mitigação do problema.