Andréia Azevedo Soares, in Jornal Público
Comissão de Coordenação Regional cria painel de especialistas para estimular projectos capazes de atrair mais fundos comunitários
Só "um mago poderá adivinhar" o tamanho exacto da fatia que caberá ao Norte do bolo comunitário de 21,5 mil milhões de euros que constitui o Quadro de Referência Estratégico Nacional (QREN), mas a região já sabe o que quer: pretende crescer pelo menos um por cento acima da média nacional nos próximos seis anos. A ambição foi ontem revelada por Carlos Lage, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Norte, numa conferência de imprensa realizada na sede da instituição.
Carlos Lage fez um discurso sereno mas assertivo: lembrou que é "decisiva" a fatia do QREN que caberá ao Norte, sendo esta região "a principal destinatária dos fundos estruturais", e que, ao promover a coesão territorial, o país não está a demonstrar "apenas um gesto de solidariedade", mas sim a atender a "uma necessidade, pelo facto de o crescimento económico a nível nacional não poder continuamente dispensar o contributo decisivo do Norte". O líder na CCDR evitou qualquer comentário que evocasse rivalidade entre regiões ou ideia de oposição entre o Norte e o poder central.
"Esta afirmação não reflecte qualquer egoísmo, reivindicação ou particularismo: é apenas o reconhecimento de que a esmagadora maioria daquelas verbas se destina às regiões de convergência, a maior das quais é o Norte de Portugal [seguido do Alentejo e do Centro]", acrescentou ontem Carlos Lage.
Os últimos anos de cinto apertado têm um reflexo claro nos indicadores económicos: entre 2002 e 2004, o Norte recuou na listagem das regiões menos desenvolvidas dos 15 mais antigos membros da União Europeia, passando do 12.º lugar para o quarto entre as regiões com o menor produto interno bruto per capita, corrigido pela paridade de poder de compra.
Apesar dos diversos calcanhares de Aquiles do Norte - mão-de-obra desqualificada ou, por exemplo, tecido industrial muito alicerçado no sector tradicional -, Carlos Lage conseguiu introduzir algumas notas de optimismo no seu discurso.
"Os dados disponíveis sugerem-nos que, em 2006, não apenas se terá reforçado a competitividade externa da Região Norte, como também que a procura interna se terá animado", sustentou Carlos Lage, para quem o ano passado "terá já sido [...] de crescimento económico positivo na região, em virtude das transformações estruturais que têm vindo a ser operadas".
Para exemplificar aquilo a que chamou de "sinais positivos", o responsável da CCDR-N deu especial ênfase ao crescimento das importações de bens de capital, cujo aumento é da ordem de 31 por cento em valor se exceptuarmos material de transporte, não deixando ainda de referir o ligeiríssimo crescimento do emprego (0,4 por cento) e a estabilização da taxa de desemprego.
Pensemos no papel do Norte em relação aos fundos europeus como um sistema de bonecas russas, as matrioskas: dentro da anafada boneca europeia há a boneca portuguesa, que vale 21,5 mil milhões de euros. O QREN determinou que, entre as bonequinhas regionais, a do Norte teria o valor fixo de 2,7 mil milhões de euros. O objectivo de Carlos Lage, presidente da CCDR-N, é fazer com que a bonequinha nortenha engorde engolindo pequenas fatias dos restantes programas temáticos de iniciativa nacional, o que permitiria ultrapassar a fasquia dos oito mil milhões de euros.