Rudolfo Rebêlo, in Diário de Notícias
O crescimento da economia em 2006 foi conseguido à custa de mais emprego, ao invés de maiores aumentos na produtividade, de acordo com os dados das contas nacionais, divulgados na semana passada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Números redondos, a produtividade da economia portuguesa - medida pela divisão da riqueza gerada pelo número de trabalhadores - cresceu 0,5% em 2006, mantendo o ritmo do ano anterior, depois de ter crescido 1,2% em 2004. Mas há uma diferença substancial entre os anos de 2005 e 2006. É que há dois anos o emprego manteve-se inalterado face a 2004 e a produtividade acabou por aumentar 0,5%.
No ano passado o país empregou mais 37 mil pessoas (emprego cresceu 0,7%), a produção de riqueza (PIB) aumentou 1,3% e a produtividade 0,5%. Ou seja, o mesmo acréscimo de produtividade que em 2005. Isto significa que a criação de riqueza nacional está, tendencialmente, a aumentar à custa da mão-de-obra em vez da modernização do tecido produtivo.
Isto não significa que o investimento em máquinas esteja em queda. Pelo contrário, está a aumentar, mas a um ritmo inferior ao desejado. Os números do INE indicam que o investimento total está em queda, influenciado pela contracção no sector da construção. "Existiu em 2006 um ligeiro aumento do investimento, não afecto à construção", confirma Rui Constantino, economista-chefe do Banco Santander de Negócios. Mas, ao mesmo tempo que aumenta o número de empregados na economia, sobe o número de pessoas desempregadas. A taxa de desemprego subiu de 7,6% em 2005 para os 7,7% no final do ano passado, de acordo com números recentes do INE. "Os dois fenómenos a ocorrerem em simultâneo significa", diz João César das Neves, docente universitário, "que a economia está a empregar imigrantes", sublinha.
Os analistas concordam que está em curso uma transformação estrutural da malha industrial, embora a origem do acréscimo da produtividade esteja no aumento do emprego. A expansão da economia - 1,3% no ano passado - foi à custa das exportações e do decréscimo das importações, já que as despesas finais em consumo, das famílias e do Estado, aumentaram apenas 0,7%. À excepção da crise de 2003, as famílias consumiram ao ritmo mais baixo da década. Os gastos do Estado, incluindo pagamento de salários, caíram, o que sucede pela primeira vez desde o início da década de 90.


