10.6.07

Cinco milhões de portugueses vivem no estrangeiro

Ana Cristina Pereira, in Jornal Público

Há portugueses em cerca de 150 países. O fluxo de saídas não pára de crescer. Antes para França, agora para Inglaterra ou para a Galiza. Hoje é o Dia das Comunidades


O movimento de saídas do território nacional prossegue - Atlântico adentro, Europa acima, África abaixo. Silencioso, incontrolado, diverso. Em idade activa, qualificados e não-qualificados, viram costas à crise económica e engrossam a estatística de portugueses residentes no estrangeiro. São já mais de cinco milhões, estima a Direcção-Geral dos Assuntos Consulares.

Escolhem, sobretudo, países do Espaço Económico Europeu. Tendem para sectores impossíveis de deslocalizar, como o comércio, as limpezas, a segurança, a construção, a agricultura ou a indústria agro-alimentar. Velhas comunidades, como a da França, do Luxemburgo ou da Suíça vêem o número de recém-chegados superar o dos que fazem as malas para regressar a Portugal. Aposta-se em novos rotas, com destaque para o Reino Unido, para Espanha e para Angola.

A maior parte avança pela mão de engajadores, de agências privadas de colocação e de trabalho temporário. Muitos acompanham a internacionalização das empresas nacionais para os Países Africanos de Língua Portuguesa, a Europa de Leste, o Norte de África, ou mesmo Malásia, Benim, Peru, Chile... Nas zonas de fronteira, como na raia com a Galiza, desenvolve-se um tipo específico de migração, a que os especialistas chamam "deslocamento de retorno contínuo" (ver textos nas páginas seguintes).

INE desistiu de inquérito

As autoridades portuguesas não dispõem de dados precisos. Apesar dos constantes apelos da diplomacia, os emigrantes tendem a não inscrever-se nos serviços consulares das suas áreas de residência. E o Instituto Nacional de Estatística, que desistiu de fazer o inquérito aos movimentos de saída em 2003, prometeu cruzar diversas fontes para fornecer dados mais credíveis, mas tarda.

Nem por isso faltarão palcos hoje a assinalar o dia das comunidades portuguesas, apesar de muitos emigrantes remoerem ainda a reestruturação dos serviços consulares. A geografia da diáspora compreende cerca de 150 países, alguns tão improváveis como Israel, Arábia Saudita ou Emirados Árabes Unidos. E mantém um peso significativo na economia nacional (uma média de transferências de 6,2 milhões de euros por dia em 2006, segundo o Banco de Portugal).

As maiores comunidades residem nos Estados Unidos (1,3 milhões), na França (791 mil), no Brasil (mais de 700 mil), no Canadá (357 mil), na África do Sul (300 mil), na Venezuela (253 mil). O maior foco de atracção dos últimos anos é o Reino Unido: inscritos na Segurança Social estão apenas 85 mil, mas há 129 mil registados no Consulado-Geral Londres e 850 no de Manchester. Como já se dirigiram aos serviços consulares outros 260 mil residentes com nacionalidade portuguesa, a diplomacia afirma existir "seguramente cerca de 360 mil portugueses" ali, vincando que "as estimativas apontam já para meio milhão".

Açorianos nas Bermudas

Os mais vigorosos fluxos da actualidade fazem-se para outros dois destinos europeus: a Suíça (149.030 portugueses com cartão de residência em Junho de 2004 para 173.000 em Fevereiro de 2007) e a Espanha (no final de 2006, as autoridades espanholas contabilizavam 72.505 com residência legal no seu território, o que representava uma subida de 21,27 por cento face a 2005). Números que deixam de foram os milhares que se encontram em situação irregular.

Nesta tentativa de actualização da geografia da diáspora, merece ainda menção Andorra, por ser um território muito pequeno, onde a comunidade tem um forte impacte: em 2006, o número de portugueses cresceu 14 por cento, elevando-se a 12.789. Uma última nota sobre as Bermudas, por ser um destino com uma proveniência quase exclusiva: segundo a Direcção Regional das Comunidades, de 2001 a 2006, as Bermudas lideraram, como país de acolhimento, o movimento emigratório açoriano.

A globalização das empresas está a promover a emigração tanto de operários como de trabalhadores qualificados.