11.6.07

Um engenheiro informático bem sucedido

Joana Capitão, in Jornal Público

Rui é hoje um informático bem sucedido numa empresa de consultoria de informática. Ficou surdo aos três anos. Agora com 27 olha para trás e lembra um percurso escolar cujo sucesso dependeu em muito das suas capacidades de autodidacta. Assim que descobriram que era surdo, os pais fomentaram a aprendizagem da leitura e da escrita. Quando entrou na escola, já sabia ler e escrever. A surdez não foi por isso impedimento a que se tornasse um aluno de notas elevadas.

Foi no 10.º ano que se sentiu pela primeira vez em desvantagem em relação aos colegas. "Os professores já partem do princípio de que os alunos sabem tirar notas sozinhos e não precisam de andar a encher o quadro com "testamentos". Foi precisamente quando a alternativa escrita começou a desaparecer que o meu rendimento escolar começou a descer."

Terminado o secundário, optou pelo curso de Engenharia de Informática no Instituto Superior Técnico. Lançou-se nesta nova etapa da sua vida sem saber muito bem o que esperar. "Sabia que não ia ser tão fácil como no liceu. Por isso fui um pouco na aventura, sem esperar nada." Uma das primeiras barreiras a ultrapassar foi conseguir arranjar material escrito de apoio às aulas. Já não havia programas previamente organizados, nem livros para cada disciplina. O pouco material que existia esgotava-se rapidamente.

Os primeiros exames trouxeram consigo a desilusão. "Tive logo várias negativas seguidas, e comecei a achar tudo muito difícil, até porque eu era um aluno de notas altas no liceu." Rui desanimou. Valeram-lhe o apoio de quem não o deixou desistir. "Depois de ter tirado da cabeça a mania de que era tudo impossível, as coisas começaram a ficar fáceis." Os primeiros dois anos de universidade foram particularmente difíceis. "Comecei por "enterrar-me" todo e chumbar a quase tudo, passando apenas nas fáceis. Passei para o segundo ano com um mínimo de cadeiras feitas, mas depois, com tanta cadeira em atraso mais as do segundo ano, fiquei "na mesma" mais um ano." A partir do terceiro ano, as coisas começaram finalmente a melhorar. Conseguiu concluir o curso em cinco anos. Da maioria dos professores, regista a disponibilidade quando perceberam a sua surdez. Mas também houve casos que lhe deixaram uma marca negativa.