14.6.07

Professor propõe modelo inovador contra desertificação

in Diário Digital

Um professor universitário de Beja vai propor, na sua tese de doutoramento, um modelo «inovador» que pretende transformar em «aldeias lar» para apoiar idosos as povoações do interior em risco de desertificação.

A vocação das aldeias e vilas do interior de Portugal para o modelo, que pretende combater a desertificação e apoiar idosos, vai ser debatida por nove especialistas nacionais e estrangeiros num seminário internacional, sexta-feira, em Beja.

O encontro, promovido pelo Núcleo Distrital de Beja da Rede Europeia Anti Pobreza/Portugal (REAPN), vai decorrer no Teatro Municipal Pax Julia, a partir das 09:00.

O autor do modelo, professor universitário e organizador do seminário, João Martins, explicou hoje à agência Lusa que os especialistas vão «tentar encontrar respostas sociais mais eficazes para o envelhecimento da população e a desertificação que afectam o interior do país».

A «tentativa» parte do modelo de «aldeias lar», uma das «respostas concretas» para aqueles problemas, que João Martins vai propor na sua tese de doutoramento em Planificação Integral e Desenvolvimento Regional, com o tema «Alqueva - Cenários de Inovação e Desenvolvimento a Sudoeste da União Europeia».

Segundo o autor, já existe um outro conceito, geralmente denominado de «residências assistidas para seniores», mas «são equipamentos construídos de raiz, quase todos isolados e só têm como finalidade apoiar idosos».

Segundo o autor, o modelo «inovador» consiste em «aproveitar e revitalizar as aldeias e vilas do interior do país com população envelhecida, pouca oferta de emprego e em processo de desertificação», transformando-as em «aldeias lar».

«Através de investimento público, privado ou misto, as casas devolutas ou abandonadas nestas povoações poderão ser adquiridas e reconvertidas em apartamentos para a habitação de idosos», precisou.

Além das habitações e dos equipamentos e serviços normais em qualquer localidade, continuou, serão criadas «unidades de apoio a idosos», onde, exemplificou, «poderão ser servidas refeições ou prestados serviços médico-sociais, como cuidados geriátricos ou paliativos».

As «aldeias lar», além de alojar os idosos residentes, que «não terão que abandonar as suas casas e ir para um lar, muitas vezes longe dos seus familiares, amigos e vizinhos», salientou João Martins, «poderão também apostar no turismo social».

Neste sentido, explicou, «algumas das habitações ficarão disponíveis para os familiares dos idosos residentes e para outros idosos e seus familiares vindos de outros pontos do país ou do estrangeiro».

«No caso de existir uma rede de 'aldeias lar' com gestão central, há ainda a possibilidade dos idosos passarem períodos temporais em sítios diferenciados», sugeriu.

A «dignificação» dos idosos, através de uma «assistência de qualidade na fase final das suas vidas», um «melhor» ordenamento do território, com a «revitalização da actividade social e económica» das povoações em risco de desertificação, são as principais vantagens do modelo apontadas por João Martins.

As «excelentes» condições climáticas, «riquezas» ambientais e patrimoniais e a gastronomia de Portugal, defendeu João Martins, poderão também ser «valorizadas», «assumindo o interior do país como um 'cluster' nas áreas da geriatria e do turismo social para idosos, atractivo para os povos nórdicos».

Como «experiências próximas» do modelo de «aldeias lar», João Martins apontou os casos da aldeia de Saint Brendan, na Irlanda, e das portuguesas de São Martinho das Amoreiras, no concelho alentejano de Odemira (Beja), e São José de Alcalar, na freguesia da Mexilhoeira Grande (Portimão).

Entre os especialistas presentes no seminário, destaque para o sociólogo argentino Ezequiel Ander-Egg, consultor da Organização das Nações Unidas e um dos impulsionadores da reflexão sobre a animação sócio-cultural, que irá falar sobre as respostas sociais para os idosos na Europa do Sul.

O modelo de «aldeias lar» visto pelo professor espanhol Julian Mora Aliseda, da Universidade da Extremadura, e «Geriatria versus respostas sociais inovadoras», por Abreu Nogueira, da Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados, são outros dos temas «em cima da mesa».

No seminário, vai ainda ser analisado o projecto da aldeia algarvia de São José de Alcalar, pelo seu «mentor», o padre Domingos Costa, além de debatido o apoio comunitário para idosos, por Vítor Neves do Departamento Social da Associação pela Dignidade na Vida e na Morte (AMARA).