5.2.09

Investigadores temem repercussões da crise

Denisa Sousa, in Jornal de Notícias

Boaventura Sousa Santos antecipou, esta quarta-feira, algum "desassosego social" provocado pela actual conjuntura económica. O director do Centro de Estudos Sociais, que participava no X Congresso Afro-Luso-Brasileiro, na Universidade do Minho, augurou ainda o fim da democracia nos moldes actuais, já que, alerta, em Portugal, esta forma de Governo não promoveu a igualdade social.

"Se, nos últimos 30 anos, a democracia não conseguiu tornar equitativa a distribuição, há aqui qualquer coisa que não joga, uma vez que a democracia sempre foi associada à justiça social e respectivas políticas", referiu, adiantando que, nos últimos anos, estes conceitos desacoplaram-se. Com o atenuamento das políticas sociais, nomeadamente reformas, apoios e subsídios que passaram a ser "residuais", esta relação ficou fragilizada. "Até quando a democracia se vai suster num país onde aumentaram as injustiças?", questiona, cáustico, antecipando uma crise social.

"Perguntam-me se e quando as pessoas se vão manifestar. É muito provável que haja algum desassossego", continua, evidenciando aquela que foi a opinião mais debatida no primeiro dia do congresso: "O país e a Europa tiveram mais capacidade de resolver o problema dos bancos do que o das pessoas". Sousa Santos acredita, no entanto, que não será a morte da democracia. "É preciso é mais democracia, já que, neste país, ela funciona em baixa intensidade. É preciso mais referendos, saber se as pessoas querem mais pontes ou um sistema de saúde melhor", sublinhou.

Na mesma linha de pensamento, também Veit Bader, considerado um dos mais conceituados cientistas sociais, alertou para a urgência em "regulamentar" o capitalismo, sob pena de um "desastre". Comparando já a actual crise à Grande Depressão, o sociólogo garante que se não forem tomadas medidas, o colapso atingirá as pensões sociais, criando uma vaga de idosos pobres. "É ridículo que os governos nacionalizem os bancos e estes não se comportem, depois, como o esperado", acrescentou ainda.

Sobre a emigração, não tem dúvidas: "É preciso impor medidas menos restritivas, já que a única coisa que distingue alguém que nasceu num país subdesenvolvido ou num rico é o factor sorte".