23.4.10

416 mil pessoas vivem em famílias sem qualquer emprego

por João Cristóvão Baptista, in Diário de Notícias

Dados do INE mostram que este é o valor mais elevado registado nos últimos dez anos


No final de 2009, havia em Portugal 416 mil pessoas com idades entre os 18 e os 59 anos que viviam em agregados familiares em que nenhum dos elementos tinha emprego. De acordo com dados recolhidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a que o DN teve acesso, este é o valor mais elevado da última década (ver gráfico) e representa um aumento de quase 75 mil casos em relação aos números de 2008.

Segundo a estimativa de Nuno Alves, investigador do Banco de Portugal (BdP), referente ao segundo semestre de 2009, mais de um quinto das famílias portuguesas tinha dois ou mais elementos em situação de desemprego. As contas feitas pelo economista que se debruçou sobre os dados apurados pelo Inquérito ao Emprego do INE apontam para que a percentagem de agregados com dois ou mais desempregados se fixou, no final de 2009, nos 21%. Um número que, de acordo com o investigador do BdP, aponta para a proporção mais alta desde pelo menos 1998.

Uma das responsáveis técnicas pela campanha "País Solidário" [ver caixa] - organizada pela Cruz Vermelha Portuguesa, pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Fundação EDP -, Daniela Costa, trabalha regularmente com famílias que enfrentam este tipo de situações. Segundo esta responsável, a maior parte dos casos diz respeito a famílias em que os elementos do agregado trabalhavam todos para a mesma entidade patronal e que acabaram na rua ao mesmo tempo.

"Muitos dos casos que nos chegaram são de famílias em que todos os elementos trabalhavam em fábricas que fecharam, principalmente no sector têxtil", explicou Daniela Costa ao DN.

"Estamos a falar de um número muito grande de situações em que tanto os pais, com idades a rondar os 45 anos, e pelo menos um dos filhos, na casa dos 20, trabalhavam todos numa fábrica que simplesmente fechou e que, de repente, se viram numa situação de desemprego", adiantou, salientando que "é na zona norte, particularmente no vale do Ave e na região do Tâmega, que se encontram os casos mais complicados".

Embora seja no Norte do País que mais frequentemente se encontram famílias em que todos os elementos estão no desemprego, "actualmente este é um problema que se estende a todo o País". A responsável pela campanha "País Solidário" revelou ao DN que "até no Algarve, onde o trabalho sazonal tradicionalmente evitava que as famílias se vissem neste tipo de dificuldades, se tem multiplicado o número de pedidos de apoio por parte de famílias em que dois ou mais membros estão desempregados".

Daniela Costa sublinhou que, além dos casos em que vários elementos da família são confrontados com situações de despedimento, há ainda uma parcela de situações em que são questões de saúde que motivam o desemprego. "Casos em que os cônjuges deixam os empregos para tratar dos filhos, de crianças doentes ou mesmo para ajudar numa situação de doença do outro cônjuge são também frequentes", alertou.

Nos casos em que todos os elementos da família estão sem emprego, nota-se que, "mais do que no subsídio de desemprego, é nas redes sociais em que se inserem que as famílias desempregadas mais se apoiam", explicou Daniela Costa. "Muitas vezes dependem da ajuda de outros familiares, e até de vizinhos, para ajudar nas despesas de alimentação ou até para pagar pequenas contas", revelou ao DN.