28.4.10

Portugal é o terceiro da Europa com mais greves

Virgínia Alves*, in Jornal de Notícias

Transportes pararam um dia e prejudicaram 1,5 milhões de pessoas


No dia em que se cumpriu uma greve geral dos transportes, que terá afectado cerca de 1,5 milhões de pessoas, provocando quebras de produtividade de 30 %, o JN soube que um estudo europeu coloca Portugal na terceira posição com mais greves convocadas.

Com os sindicatos a congratularem-se com o nível de adesão à greve do sector dos transportes, que em alguns casos foi de 100%, a CGTP lembra que "a greve é e sempre foi o último instrumento dos trabalhadores".

Arménio Carlos, da CGTP, sublinha que "é necessária coragem dos trabalhadores para avançarem para uma greve", e dá como exemplo a paralisação de ontem, "a que aderiu um número significativo de trabalhadores de empresas privadas".

Nesse sentido, frisou "que as paralisações continuam a fazer todo o sentido", referindo um estudo Europeu que "coloca Portugal, em 2008, na terceira posição, atrás da Grécia e da França, em número de greves declaradas, o que prova que são credíveis e têm o apoio dos trabalhadores".

Quanto à greve de ontem, para Amável Alves, da FECTRANS (Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações), "é um sinal que deve ser lido pelo Governo e pelas entidades patronais de que devem reabrir os processos negociais".

Recorde-se que a contestação de ontem prendia-se com três razões: o congelamento dos salários, o bloqueio das negociações dos contratos colectivos de trabalho (ver caixa) e as privatizações.

Da parte da UGT, além do elogio à adesão à greve, João Proença disse que esta "revela o descontentamento geral" dos trabalhadores e apontou o dedo aos empresários privados que pretendem lucrar "à custa" dos salários.

Os custos desta paralisação não estão contabilizados, mesmo assim, alguns especialistas apontam para quebras na produtividade na ordem dos 30%. Por outro lado, admitiram que os impactos de mobilidade foram menores do que os previstos (devido à não paralisação dos metros de Lisboa e Porto e a fraca adesão dos STCP e Carris).

Já do lado do Governo, o secretário de Estado dos Transportes reconheceu que a greve provocou "incómodos", mas ressalvou que o Governo não cederá às reivindicações dos sindicatos, alegando que o Orçamento do Estado "não comporta crescimento de custos".

Carlos Correia da Fonseca assegurou que o Governo mantém a sua postura de "diálogo" com os sindicatos, com reuniões agendadas, mas não abre "excepções", lembrando que o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) estipula um "crescimento de 0% nos salários" do sector público. Além disso, alegou, "o Orçamento do Estado não comporta crescimento de custos, como é desejado por muitos sindicatos".

O ministro da Presidência, Silva Pereira, apelou à "reflexão" dos sindicatos.