26.4.10

Presidente alerta para a falta de rumo no país

Alexandra Inácio, in Jornal de Notícias

Discurso do 25 de Abril classificado como "inspirador" por Sócrates. BE criticou extravasar de competências


O país está sem rumo e sem confiança no futuro, alerta Cavaco Silva. No seu último discurso do 25 de Abril antes das presidenciais, o chefe de Estado apontou caminhos e medidas concretas para o Governo tirar o país da crise. José Sócrates considerou-o "inspirador".

"Os portugueses perguntam-se todos os dias: para onde é que estão a conduzir o país? Em nome de quê se fazem todos estes sacrifícios?", interrogou-se, ontem, o presidente da República, na sessão solene do 36.º aniversário do 25 de Abril, na Assembleia da República. Ao alerta feito quanto à falta de rumo e de confiança dos portugueses no futuro do país, Cavaco Silva acrescentou que se vivem "sentimentos de revolta" pela ideia de que "não há justiça igual para todos".

O chefe de Estado sublinhou que as desigualdades sociais são mais penosas por o país conhecer, quase diariamente, casos de "riqueza imerecida"; e voltou a criticar os salários "desproporcionados" e prémios "concedidos a gestores de empresas que beneficiam de situações vantajosas no mercado interno", sem jamais aludir a casos como o de António Mexia, que recebeu um prémio de três milhões de euros da EDP. São alertas, frisou, que já faz desde a mensagem de Ano Novo de 2008. Depois, apontou ele próprio um rumo para o país, focalizado no mar e nas indústrias criativas (ler ficha na página seguinte).

Para o primeiro-ministro, o discurso do presidente não foi crítico em relação ao Governo, mas antes inspirador e "muito apropriado" à actual conjuntura política e económica. "Vi nas palavras do senhor presidente aquilo que é necessário ao país. Confiança, mas também palavras inspiradoras", defendeu José Sócrates, após a sessão comemorativa, sublinhando a concordância com as críticas de Cavaco aos prémios dos gestores.

"Também eu tenho criticado aquilo que classifiquei como vertigem gananciosa". Interpelado sobre o prémio pago a Mexia, o primeiro-ministro argumentou que os privados "têm todo o direito" de tomar essas decisões.

Passos Coelho - que pela primeira vez participou na cerimónia como líder do PSD - elogiou o discurso do presidente, por ser "virado para o futuro" e definir "apostas importantes em que o país tem de mergulhar".

O CDS-PP anunciou que vai apresentar uma iniciativa para impedir "sinais de ostentação" nas empresas do Estado e participadas, como a EDP, "que beneficiam de um monopólio que o Estado lhes garante", referiu Paulo Portas. Já o líder parlamentar do BE, José Manuel Pureza, considera que Cavaco ultrapassou as suas competências constitucionais, por ter aludido à localização de políticas públicas, ao considerar que o Porto tem condições para se tornar um pólo de indústrias criativas.

Jerónimo de Sousa gostou dos reparos do presidente em relação aos prémios dos gestores, mas lamentou que não alargasse as críticas aos lucros da Banca. Para Heloísa Apolónia, do PEV, Cavaco apresentou "o seu programa eleitoral".