28.4.10

Corte do rating português causa vendaval nos mercados e aproxima o país da Grécia

Por Ana Rita Faria, Rosa Soares e Sérgio Aníbal, in Jornal Público

S&P admite baixar ainda mais o rating e diz que as medidas do PEC não são suficientes. Níveis de risco da dívida portuguesa estão em máximos e na bolsa há ordem para vender tudo


Juros de Portugal ao mesmo nível do dos gregos quando pediram ajuda Passos e Sócrates reúnem-se hoje para acordar medidas "Quando se é do Sul, é-se menos credível"

Depois da Grécia, Portugal é a próxima vítima? A pergunta tem estado na boca do mundo nos últimos meses, dando forma aos receios de que a crise grega contagie a economia nacional. Mas, ontem, com o corte do rating da república portuguesa pela Standard & Poor"s (S&P), os mercados internacionais parecem ter dado o sinal de que Portugal já é visto como um caso problemático por si só. Os investidores olharam para o país como estando em pré-falência e fizeram os níveis de risco da dívida portuguesa disparar para máximos. Na bolsa, há ordem para vender tudo.

Depois de a agência de notação financeira Fitch já ter feito o mesmo no mês passado, a S&P veio ontem, de forma ainda mais radical, rever em baixa o rating da República portuguesa, ou seja, a avaliação da sua capacidade de cumprir com as obrigações financeiras e, em última instância, o seu risco de default (falência). O rating de longo prazo baixou dois níveis, de A+ para A-. Isso significa que Portugal terá agora mais dificuldade em conseguir financiamento nos mercados internacionais.

O corte do rating coloca Portugal como o segundo país mais arriscado da zona euro. Pior só a Grécia, que também viu ontem a sua avaliação junto da S&P baixar para BB+, ou junk (que significa, literalmente, lixo). Este rating, se for seguido pelas outras agências, impede os títulos de dívida grega de continuarem a servir como colaterais junto do Banco Central Europeu, quando este concede financiamentos aos bancos.

A piorar a situação, a agência de notação mantém um outlook negativo para a República portuguesa, o que indicia que o rating possa vir a baixar mais ainda a curto prazo (geralmente entre seis meses e dois anos).

Há apenas um mês, a mesma agência tinha decidido manter o rating português inalterado, deixando mesmo elogios ao PEC português. Agora, tudo parece estar diferente. Kai Stukenbrock, o analista da S&P responsável pela análise de Portugal, explica, em declarações ao PÚBLICO, que o que mudou "foi a nossa avaliação do cenário de crescimento para Portugal". A agência está a apostar em taxas de crescimento muito lentas no próximo ano, com o PIB nominal a regressar aos níveis de 2008 apenas em 2012.

Além disso, Stukenbrock destaca o risco que representa "um choque potencial de taxas de juro, que pode aumentar de forma rápida a pressão sobre os défices". Isto significa que a subida das taxas de juro registadas nos mercados durante o último mês levou a S&P a descer os ratings, o que por sua vez pode provocar novas subidas de taxas. Portugal parece ter entrado no mesmo ciclo vicioso em que já se encontra a Grécia.

À descida do rating seguiu-se, como era esperado, a redução da notação dos cinco maiores bancos portugueses. A Caixa Geral de Depósitos, o BES e o BPI igualaram o rating da República. O Santander ainda se mantém acima e o BCP está abaixo, com um rating de BBB+.

Bolsas caem, juros sobem

Depois de dois dias de tempestade na bolsa e no mercado da dívida, o corte do rating provocou um vendaval: em pouco mais de meia hora, a Bolsa de Lisboa passou de uma queda de três para 5,36 por cento, com ordens de venda, vindas do exterior, para limpar carteiras, incluindo "títulos defensivos" como EDP e REN.

No mercado da dívida, os juros das obrigações portuguesas a dois anos dispararam para 5,2 por cento, distanciando-se 440 pontos base (4,4 por cento) das obrigações alemãs para a mesma maturidade e que servem de referência aos investidores. Os juros das obrigações do Tesouro a dez anos ultrapassaram os 5,5 por cento, estando a mais de 2,6 pontos percentuais de distância das bonds alemãs. A margem ou spread em relação à dívida alemã recuou para os tempos do escudo (1997). Os credit default swaps, instrumentos de cobertura de risco, também estão em máximos.

O ministro das Finanças admitiu ontem que os mercados "não vão serenar", continuando a manifestar "turbulência e nervosismo". Reagindo ao corte, Teixeira dos Santos disse que o Governo irá "avançar com um conjunto de medidas que dêem um sinal claro que Portugal está firmemente comprometido na solução mais rápida possível do seu défice".