23.5.11

Elsa Pinto ‘A pobreza no nosso continente tem o rosto de mulher’

José Kaliengue, in O País

O Núncio da data para as eleições presidenciais, pelo Presidente Fradique de Menezes, mereceu reacções não muito positivas em S. Tomé, principalmente dos candidatos. Onde foi que o Presidente esteve mal?

Há uma prática em que antes de marcar as eleições, o Presidente consulta os partidos políticos, há uma certa concertação sobre a data e tudo o que rodeia as eleições. Desta vez fomos todos surpreendidos pela marcação da data sem que tivesse havido essa consulta, essa concertação. Deixou uma pequena mágoa, sem grande importância, mas que poderia ter sido evitada.

Mas esta concertação deve ter faltado também no MLSTP, um partido histórico que tem pelo menos três candidatos saídos das suas hostes.

O MLSTP não avança com três candidatos. Há três figuras do MLSTP que farão o seu percurso de candidatura como independentes.

Apesar das vicissitudes no processo interno do MLSTP que legitimou o seu candidato … mas há outras figuras do partido que avançarão como independentes, sem o apoio formal do partido.


E isso não fragiliza o partido, ou, pelo menos, o seu eleitorado, tendo membros do MLSTP a disputar a o lugar com o candidato oficial?

É inevitável, cada candidato tentará buscar o máximo de apoios nas hostes partidárias, tentando congregar o máximo de militantes em torno da sua própria candidatura, há este risco, sobretudo na primeira volta, mas que poderá ser dissipado na segunda volta, se houver, eventualmente, uma segunda volta.

E é também uma oportunidade para piscar o olho aos apoiantes de outros partidos que não indicarão candidatos? O MLSTP é um grande partido, e por isso mesmo é gerador de figuras presidenciáveis. É natural. E é um partido democrático, não veda a possibilidade de as pessoas se candidatarem. O problema, possivelmente esteve na forma como geriu o processo da escolha do seu candidato …


Teria sido necessária uma espécie de primárias?

Isso ou uma selecção que obedecesse a alguns critérios que salvaguardassem os interesses de uns e outros.


O surgimento de vários candidatos, tendo o partido um oficial, significa que se está a pôr em causa a liderança partidária de Aurélio Martins?

Não são os candidatos que põem em causa a liderança partidária, é a própria liderança que se auto-fragilizou, na medida em que esta liderança imergiu muito recentemente de um congresso, e que, de forma explícita, garantiu que não entraria na corrida às presidenciais … porque o partido perdeu as eleições legislativas e era necessário reorganiza-lo, consolidar as bases, e construir uma liderança com um discurso de um partido que tem responsabilidades históricas com o país, com o povo e com os parceiros tradicionais de S.

Tomé e Príncipe. Este passo não foi dado. Digamos que é uma liderança estreante e que ainda não se consumou. Tanto que se auto-fragilizou buscando tão rapidamente uma candidatura às presidenciais.


Significará isso, numa leitura política, que se não ganhar, Aurélio Martins poderá perder também a direcção do MLSTP?

Já falei muito sobre esta questão.

Aurélio Martins é um quadro que não tem uma longa trajectória no partido, mas é um quadro que nesta onda de renovação em que uma aposta deve ser feita na juventude, numa nova postura, novo discurso … até obedecendo aos ditames da sociedade num país em que 64% da população é jovem … e porque se pensou que a derrota nas legislativas deveu-se também ao facto de se ter negligenciado a juventude, Aurélio Martins poderia ser essa figura estreante, mas que poderia, depois, catalisar apoios. Mas se Aurélio Martins ainda não conseguiu construir o seu espaço e muito menos deixar a sua marca, poderá, efectivamente sair bastante fragilizado, quer ao nível do partido quer como candidato a Presidente.

‘Temos uma democracia jovem, mas é uma democracia forte, que dá provas’

Olhando para a história recente se S. Tomé e Príncipe, com Fradique de Menezes a criar governos de iniciativa presidencial, com o surgimento de mais partidos como a ADI … pode-se dizer que os cimentos que unem as forças políticas santomenses são quebradiços e que muito facilmente surgem cisões no seu interior?

Digamos que temos uma democracia jovem, mas é uma democracia forte, que dá provas. E em democracia há coisas muito importantes.

O exercício do contraditório, em primeiro lugar, isto é indiscutível no nosso país. Segundo, a possibilidade de escolha. Hoje, na nossa democracia, o cidadão tem, efectivamente, a possibilidade de escolha. Terceiro, o quadro do relacionamento interpartidário em que existem várias forças políticas, cada uma com o seu eleitorado e elas se movem neste espaço de forma muito democrática.

Nesta democracia tão incipiente, em que cada agente quer alicerçar-se há experiências novas. O próprio Fradique como líder de uma força partidária, tal como o Miguel Trovoada foi líder de uma força partidária, cada um tentou realizar os seus sonhos … não o conseguiram de forma plena, tendo em conta o processo em que eles próprios se estavam descobrindo também…


E há num país pequeno e com pouca gente, espaço para tantas tendências e tantos rumos, divergentes algumas vezes? Não sei se há espaço, mas que existem existem, estão lá e coabitam.

Deve haver lugar para todos.


Estamos a falar com uma mulher que já foi ministra da Defesa, num país africano, a lidar com homens, os mesmos que impuseram uma prisão à antiga primeira-ministra, a membros do governo …

A Elsa Pinto é uma mulher que já tinha exercido vários cargos, sobretudo no ministério da Justiça. Fui ministra da Justiça nos oitavo, nono e décimo governos.

E que também viveu esses golpes de estado. Eu era membro do governo no último golpe de estado.

Digamos que fui chamada num momento difícil, na medida em que havia uma certa crispação nas forças armadas, algum descontentamento e era preciso enviar um sinal para garantir a estabilidade. Mas os próprios militares sobrepesaram várias figuras, quer civis, quer militares.

eu já tinha estado na Justiça e já tinha estado envolvida em processos de humilhação, de consulta … o Presidente Fradique decidiu ficar com este nome. Tinham-lhe sido apresentadas várias figuras alternativas, mas ele achou que eu deveria ficar com o cargo, que poderia ser uma mulher que traria uma certa estabilidade, uma calma relativa ao país e às forças armadas. Foi um desafio aceite e que chegou ao fim com sucesso.


Estamos a falar de um país em que as mulheres começam mesmo a ter força …

Começam não. Têm foça.


Tanto que têm duas candidatas à Presidência da república?

Claro.


E isso é mesmo vantajoso?

É vantajoso. Estamos num país em que as mulheres contribuem efectivamente para o seu desenvolvimento. Trata-se de um país em que o processo de emancipação começou cedo, começou com a Independência Nacional. Um país de grande mulheres, como a Alda do Espírito Santo que na primeira república foi presidente da Assembleia Nacional, naqueles tempos em que a mulher ainda tinha um papel muito diminuído. A Alda foi a segunda figura do país durante muitos anos. Neste processo de “empoderamento” das mulheres, quando atingimos cargos cimeiros não nos são dados de favor, é por mérito. Muitas mulheres têm participado na vida política, isso é encorajador, e um sinal de maturidade.




Vai apostar num discurso sedutor para o eleitorado feminino?

Eu não gostaria de fazer um discurso apenas direccionado para as mulheres, para não ser um discurso que os homens considerassem de feminista. Prefiro um discurso que faça as mulheres verem na Elsa Pinto a mulher que pode ser a voz de outras mulheres. São 51,4% e muitas delas vivem ainda na extrema pobreza. E quando se fala da mulher estamos também a falar da infância, da juventude, da pobreza. A pobreza no nosso continente tem o rosto de mulher.


Como é que se muda esta realidade?

Com escolhas acertadas, com apostas. Mo nosso continente e no nosso S. Tomé e Príncipe é preciso estarmos de acordo com as escolhas que fazemos, o “unismo” das escolhas.

Cada coisa a seu tempo, uma coisa de cada vez. Alicerçando as escolhas podemos avançar. Não podemos entrar num discurso populista prometendo já a erradicação da pobreza, mas podemos, com programas de protecção social, com programas que criem oportunidades, que sustentem as iniciativas privadas, no micro empresariado, poderemos alavancar a nossa economia.




‘A nossa posta tem de passar pelo mar, não apenas pelas pescas, pelo mar’

O seu país é insular, com desvantagens aparentes na integração regional, é um país não industrializado, como a maioria dos países africanos, o que é uma desvantagem na corrida pelos mercados. Tendo-a como Presidente da República, qual seria o seu rumo em questões como a economia e a política?

Para o eixo económico duas apostas: agricultura e pescas. Somos um país insular, mas que tem grandes recursos agrícolas. Somos ricos em terras e temos 160 milhas de mar e o nosso mar tem tudo. A nossa aposta tem de passar pelo mar, não apenas pelas pescas, pelo mar. Isso será a alavancagem do nosso país. A agricultura deve ser vista numa perspectiva de desenvolvimento, sustentabilidade e segurança alimentar. Neste mundo em crise profunda é preciso pensar no futuro das pessoas, na subsistência das pessoas. Estas seriam as principais apostas.


Podemos cultivar … mas temos o problema da transformação

Esta componente pode vir paulatinamente. Podemos falar de uma agricultura virada para a exportação, um pouco, e também o acondicionamento, numa perspectiva de S. Tomé vir a ser, num futuro breve, uma plataforma de serviços e de fornecimento de produtos, sobretudo para os países vizinhos. S. Tomé tem um mercado pequeno mas pode exportar.


Falou na perspectiva de uma plataforma de serviços, falou do mar … quando fala do mar ocorre-lhe mais o turismo ou o petróleo?

No mar não apostaria mais nem no turismo nem no petróleo. Apostaria na perspectiva da transformação dos recursos, nas parcerias estratégicas, na perspectiva de um país insular mas que pode ter um grande papel no desenvolvimento da sub-região. Um espaço especial que pode ajudar até na prevenção de conflitos, etc.


Mas o mar também pode estar na base de alguns problemas, alguns conflitos. Se olharmos para o mar e ligarmos isso aos golpes de estado recentes … isso foi resultado também do “mal do petróleo”? lutava-se pelo controlo do mar e dos negócios do petróleo?

Eu considero estes golpes de estado como tendo invertido a ordem constitucional, mas de uma forma suis generis. Os conflitos que estiveram na base não são de natureza política, não creio.

Poderá haver outros contornos, mas é preciso, nos nossos países, acautelar o moral das forças armadas, a pobreza nas forças armadas. Isso é gerador de conflitos. Temos homens armados e sem ocupação, somos um país que não tem guerra. É preciso resolver também os problemas das forças armadas.

Acho que a insatisfação foi geradora destes golpes.
“Acho mais interessante que ganhe uma mulher, seria uma prova de maturidade” Comportar-se-ia da mesma forma num debate público com Aurélio Martins ou com Maria das Neves, os seus concorrentes vindo da mesma família política? Acha que as mulheres são mais softs?

Eu sou mulher mas, às vezes, sou dura também. Isso tem a ver com os momentos, com o estado de espírito, com muita coisa … mas eu conheço a outra mulher. Conheço bem, combatemos lado a lado na mesma trincheira. Ela foi primeira-ministra e eu fui ministra da justiça, ela é presidente da OMSTP (organização feminina do MLSTP) e eu sou secretária provincial.

Ambas membros da estrutura dirigente do partido, deputadas da mesma bancada … podemos até ter opções idênticas porque estamos preocupadas com as questões nacionais … havemos de convergir em algumas coisas e de discordar noutras, tudo depende da forma como as coisas se desenvolverem. Acho que nos acautelaremos para que seja um debate franco, aberto e civilizado. Com Aurélio Martins é diferente. Ele defraudou um pouco as expectativas, gerou decepções. Houve uma aposta mas, violando as regras por si mesmo estabelecidas e pela estrutura do partido, aparece como candidato às eleições … não sei como seria um debate. Eu fui a primeira pessoa a entrar de forma aberta na corrida, depois apareceu a Maria, tem todo o direito, mas depois o partido decidiu estabelecer regras, criando uma comissão para pensar nas presidenciais e definir o perfil do candidato e estabelecendo prazos para a a apresentação de eventuais candidaturas.

Foi marcado o dia 15 de Janeiro como prazo. Uma sondagem definiria que candidato apresentar.

Foram regras estabelecidas num conselho nacional. Ele extravasou, apresentou a sua candidatura fora do quadro criado, fora de prazo, instrumentalizou as estruturas, deixandonos sem margem de manobra e até tentando coarctar-nos o acesso ao partido. Foi muito mau. Somos quadros do MLSTP. Foi terrível a forma como agiu, manipulando até a opinião pública trazendo algo que não era verdade, dizendo que as manas não se entendem e por isso teve de se candidatar. Vamos ver, em democracia é preciso ter o espírito aberto e partilhar opiniões… estarei disponível para o ouvir, até porque é presidente do meu partido.


Com alguma maldade pode-se dizer que teremos uma campanha com duas mulheres a bater num homem?

Já batemos. (risos)


Antevê um cenário com duas mulheres na segunda volta?

Pode haver, não temo uma segunda volta. Eu sou uma mulher que luta há anos pelo meu país e pelas mulheres, tenho um histórico de ir a todo o lado em seminários, palestras e colóquios sobre a mulher, as oportunidades, etc.

Se houver uma segunda volta, que ganhe o melhor. O povo ordenará. E se o povo o ordenar não teria qualquer problema em apoiar uma camarada.

Acho mais interessante que ganhe uma mulher, seria uma prova de maturidade.


Esta talvez devesse ser a primeira pergunta: quer candidatar-se à Presidência da República para mudar o quê? o que diz ao santomenses?

Uma coisa que gostaria de mudar muito rapidamente é o rosto das pessoas. Voltar a fazê-las acreditar. É como se fosse algo imaterial, quando se olha para as pessoas elas perderam a crença, lá em S. Tomé, aqui em Angola, em todo o lado, não acreditam mais. É preciso fazer o povo voltar a acreditar. Quando o homem perde a crença a razão vacila. Mas quem não acredita não consegue fazer as coisas, não avança.

Angola é um grande país, é o nosso país irmão, é o nosso parceiro tradicional

Está na política há muitos anos, já foi governante e sabe com que linhas se cose a política no seu país. Sabe também como se lida com o exterior. Há razão quando se diz que S. Tomé poderá estar no meio de um disputa por influências na zona do golfo da Guiné protagonizada por dois gigantes como Angola e a Nigéria?

Desde os primórdios que S. Tomé e Príncipe foi um entreposto, um ponto incontornável. Os portugueses tinham que chegar lá, era um entreposto de escravos, era lá onde se fazia a paragem. Hoje, as duas ilhas continuam a ter um posicionamento estratégico muito importante, e nós temos consciência disso.

Temos um posicionamento de ouro. E apesar de todas as dificuldades conjunturais somos um país rico.

Com este posicionamento estratégico, com a riqueza do seu mar, com a riqueza em terra, um país insular com água, florestas, etc., é uma pequena mina e acho que gera uma certa apetência.

Mas nós, os santomenses, temos uma forma de estar e ser, enquanto povo insular, e sempre primamos por relações de boa vizinhança, com equidistância, sem nos imiscuirmos nos interesses e problemas dos vizinhos, guardando o nosso posicionamento. Angola é um grande país, é o nosso país irmão, é o nosso parceiro tradicional, e isso não é ser tradicional por ser, temos uma relação até de consanguinidade. Em s. Tomé, quando se diz no nosso dialecto – Eu vou ao Sul – quer dizer eu vou para Angola. Não se fala de Angola, falase do Sul …




Como se houvesse uma continuidade …

Há uma continuidade, quase. É uma relação muito profunda. A Nigéria é um vizinho, e não se escolhe os vizinhos. Está lá. É nosso vizinho e, por questões de delimitação de fronteiras hoje temos uma zona conjunta. É um grande país e respeitamos os nossos vizinhos. Todo o nosso relacionamento, quer com Angola, quer com a Nigéria, passa por salvaguardar os interesses da nossa sub-região. Crescendo a subregião, S. Tomé e Príncipe ganha. Tal como ganharia a África.


Temos em Angola uma grande comunidade de santomenses, se se dirigir a eles o que lhes diria sobre as suas vantagens em relação aos outros candidatos?

A minha vantagem está nalguma intimidade, pelo facto de nutrir uma relação muito querida com Angola, com as pessoas, com quadros, com alguns dirigentes … há uma relação de empatia que facilita muito a construção de um novo paradigma de relações. Poderíamos rapidamente construir um quadro de integração para os santomenses em Angola, propiciando um intercâmbio muito mais forte entre os angolanos e os santomenses que aqui vivem, buscando mais oportunidades e uma maior divulgação da santomensidade no espaço multicultural que é o espaço angolano.


Os investimentos angolanos em S. Tomé provocam aqui e acolá alguma animosidade, sabe-se pelas notícias …

Os investimentos angolanos são bem vistos e bem-vindos. Precisamos é de criar um verdadeiro e frutuoso quadro de cooperação e não dossiers pontuais, investimentos pontuais. Precisamos de criar uma ponte grande, com grande tráfego de relações institucionais muito bem alicerçadas e boas relações empresariais e com a bênção daqueles que dirigem os países. Existem relações de consanguinidade, pessoais, empresariais, institucionais, mas precisamos de fomentar o quadro de cooperação intensa.


Quer que se transforme numa coisa banal dizer eu vou para o Sul ou eu vou para o Norte?

Exactamente.


E isso muda-se com um toque feminino?

Com atitudes, com acção, como fiz com as forças armadas, falando pouco e fazendo muito, surpreendendo pela positiva.


Como reage quando se cruza com militares que ameaçaram a vida de todos, com armas, tem mágoa, ficou traumatizada?

Vou contar-lhe uma coisa importante. Eu fui o único membro do governo que não foi ao quartel, como eles ordenaram. Eu disse eu não vou, eles que me venham buscar e a história registará o facto. Não fui.


E eles não se chatearam com tal desafio?

Não sei, o certo é que eu não fui. Os meus colegas foram presos, outros foram apresentar-se. Eu vivo na Marginal e vi o movimento, ainda consegui falar com alguns dos meus colegas quando estavam a ser detidos, a primeira-ministra, o ministro do trabalho, o ministro do comércio e outros. Eu nem queria acreditar que estava a acontecer um golpe de estado.

Levantei-me e disse ao meu márido que iríamos partir para destinos diferentes, sem que um soubesse para onde iria o outro. Ainda lhe disse que se ele soubesse, e se apertado, na hora da verdade, poderia confessar, por mim e pelos filhos. Mas disse-lhe que iria para o meio do povo. Fui falando com os meus colegas até ao momento em que lhes foram retirados os telemóveis. Na altura, eu tinha um bebé e na precipitação deixei tudo da criança, o leite, tudo. Foi difícil, ele tinha apenas meses … sofremos todos neste episódio. Mas as coisas não acontecem por acaso e nestes últimos anos já perguntei aos militares, olhos nos olhos, A quem beneficiou o golpe de estado, rapazes, digam-me? A quem beneficiou? – E eles olham para mim, olhos nos olhos, A nós não! – Então não vale a pena, vamos construir forças republicanas ao serviço do povo, ao serviço do desenvolvimento. O recurso à força não beneficia a todos, pelo contrário. A fama ficou convosco, tenho-lhes dito. Se alguém arquitectou, vocês ficaram com a má fama.



E há suspeitas sobre quem tenha arquitectado.

Um rebanho tem sempre um pastor, não sei nem me interessa saber quem foi o pastor, mas a história há-de revelar, no momento próprio.




Perfil


“Um filho é não ter filhos”, diz Elsa Pinto. Ela que é casada e tem quatro filhos, três dos quais nascidos no dia 19, embora de meses diferentes. Ela própria é de 19 de Julho. O último filho, conta, teve de pedir ao médico que gerisse a gravidez de forma a nascer num outro dia. Tem uma neta e é uma mulher que pratica a religião protestante. O pai, pastor, foi dos fundadores da Igreja em S. Tomé e Príncipe. Elsa Pinto nasceu em Água Grande e entrou para a JMLSTP aos 14 anos, partido a que pertence, sempre com a vontade de mudar as coisas, diz. Conhece Angola desde os 14 anos, nos quando participava nos acampamentos de pioneiros.

É licenciada em direito. Tem também o curso de relações diplomáticas e práticas internacionais. Tem um mestrado em direito público. Formações obtidas em França. Em S. Tomé e Príncipe fez um curso de magistratura judicial. Já trabalhou nas finanças e foi ministra da defesa e da justiça.

Diz que cozinha primorosamente. “Sou de uma família em que as mulheres eram educadas para casar”.

O prato preferido? Banana com peixe, ou não fosse santomense. Tem 46 anos de idade.