26.5.11

Todos os dias morrem 13 crianças e jovens em Portugal

in Jornal de Notícias

Todos os dias morrem, em Portugal, 13 crianças e jovens. E todos os dias chegam à associação "A Nossa Âncora" novos casos de pais incapazes de lidar sozinhos com a dor de perder um filho.

Esta quarta-feira, Dia Internacional das Crianças Desaparecidas, 13 moderadoras da instituição "A Nossa Âncora" estiveram no Palácio de Belém, num almoço com Maria Cavaco Silva, para falar na experiência pessoal que é perder um filho.

"Todos os dias chegam novos casos à associação", contou à Agência Lusa a presidente da associação, Emília Maria, mostrando-se preocupada com o aumento de casos mortais provocados por acidentes de viação e suicídios entre os 18 e os 40 anos.

A base de dados da instituição tem já três mil pessoas registadas. As moderadoras, espalhadas um pouco por todo o país, dão neste momento apoio a 500 famílias. Mas a maioria dos pais em luto continua a sofrer em silêncio.

Segundo a associação, criada em 1996, por ano morrem em Portugal cerca de cinco mil crianças e jovens até aos 30 anos. Estatísticas recentes indicam que diariamente em Portugal perdem a vida 13 crianças ou jovens entre os zero e os 30 anos.

Na instituição, os pais podem partilhar o sofrimento. "Lembro-me de ter vindo à associação e sentir que falávamos todos a mesma linguagem e sentir que não estava sozinha", recorda Dulce Silva, que há três anos perdeu o filho mais novo, de 22 anos.

Dulce começou por recorrer à "Nossa Âncora" num momento em que precisava de ajuda, agora é moderadora em Sintra, desenvolvendo um trabalho de acompanhamento e apoio a outros pais.

Maria recordou luto da avó pelos filhos

No Palácio de Belém, Maria Cavaco Silva contou a sua história. "A minha avó perdeu dois filhos vítimas da praga da época, a tuberculose. Hoje a praga é outra: são os acidentes rodoviários. E ainda me lembro bem da força da minha avó", recordou a anfitriã.

A avó de Maria Cavaco Silva "ultrapassou a dor conversando e partilhando experiências. Não havia associações como há agora, mas na aldeia onde vivia havia muitas mulheres que se juntavam para conversar e partilhar", lembrou.

Nos dias que correm, as associações fazem as vezes dos espaços de encontro das aldeias. E as 13 mulheres que estiveram em Belém, que Maria Cavaco Silva apelidou de "pequenas grandes heroínas do quotidiano", são as "âncoras de outras mulheres".

"Estamos aqui para um almoço de amigas para falarmos do que quisermos e calarmos aquilo que quisermos. Até porque às vezes se comunica mais com o silêncio", disse Maria Cavaco Silva.