DECO, opinião, in Mensageiro de Bragança
A redução do consumo de plásticos de utilização única não deve conduzir à sua substituição por outros artigos em materiais, também de utilização única.
Embora o plástico seja um material bastante versátil, que faz parte do nosso dia a dia, a sua utilização está desajustada. Ano após ano, milhões de toneladas de plástico, no valor de milhares de milhões de euros, acabam em aterros ou são incineradas ou escoadas para o meio ambiente.
Dados apontam para uma média anual de 8 milhões de toneladas de plástico despejadas no oceano – e este número está a aumentar. Se não repensarmos a sua utilização, em 2050 haverá mais plástico no oceano do que peixe!
Temos assistido, nos últimos anos, à introdução de diversas contribuições que procuram promover comportamentos que levem à redução da quantidade de embalagens descartáveis colocadas no mercado.
A DECO, que sempre manifestou o seu apoio a estas intenções, tem demonstrado a sua preocupação com esta problemática e a ausência de soluções verdadeiramente adequadas a todos, sobretudo aos consumidores.
A nossa Associação considera que é urgente que se exija:
Mais responsabilidade aos produtores na conceção e produção dos produtos plásticos;
Mais alternativas reutilizáveis disponibilizadas nos estabelecimentos comerciais e de forma acessível a todos os consumidores;
Mais agilidade neste processo de transição ecológica, removendo-se barreiras e entraves injustificados aos consumidores que querem ser mais sustentáveis.
Conheça a nossa tomada de posição em deco.pt
Edição
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23.8.23
Pôr pilhas e equipamentos elétricos no Electrão vai ajudar o IPO
Por Lusa, in SIC
No ano passado, a iniciativa “Todos pelo IPO” recolheu 156 toneladas de material elétrico, reunindo 37 mil euros que foram entregues à instituição de saúde para comprar material cirúrgico.
A gestora de resíduos Electrão vai apoiar financeiramente o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, numa campanha que decorre até final do ano associada à quantidade de pilhas e equipamentos elétricos usados entregue para reciclagem.
Segundo a campanha "Todos pelo IPO", esta quarta-feira divulgada em comunicado, os equipamentos elétricos e as pilhas que forem entregues nos mais de nove mil pontos de recolha da Electrão irão "transformar-se" em apoio ao IPO, uma iniciativa que no ano passado reuniu 37 mil euros (pela recolha de 156 toneladas de material) para a instituição de saúde, usados para comprar material cirúrgico.
A edição deste ano, segundo o comunicado das duas entidades, coincide com os 100 anos do IPO.
Na iniciativa também serão contabilizados os grandes eletrodomésticos recolhidos pelo Electrão porta-a-porta, na Área Metropolitana de Lisboa (pedidos através do número 800.262.333).
Electrão e IPO explicam ainda que se podem associar à campanha empresas de todo o país, com a dinamização de ações internas para reunir pilhas, baterias e equipamentos elétricos usados, podendo a recolha ser solicitada ao Electrão.
O valor a atribuir este ano, que depende das quantidades recolhidas, vai destinar-se à compra de equipamento médico.
As duas entidades notam que as pilhas, baterias e os equipamentos elétricos usados que não são corretamente encaminhados para reciclagem constituem um problema grave para o ambiente e para a saúde humana. E frisam a importância de estes aparelhos serem encaminhados para reciclagem em unidades especializadas.
O IPO de é um hospital público do Serviço Nacional de Saúde com um século de experiência na investigação, estudo e tratamento da doença oncológica. Tem cerca de 2.070 trabalhadores e recebe doentes das regiões de Lisboa e sul do país, das ilhas (Açores e Madeira) e ainda dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
No ano passado, a iniciativa “Todos pelo IPO” recolheu 156 toneladas de material elétrico, reunindo 37 mil euros que foram entregues à instituição de saúde para comprar material cirúrgico.
A gestora de resíduos Electrão vai apoiar financeiramente o Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa, numa campanha que decorre até final do ano associada à quantidade de pilhas e equipamentos elétricos usados entregue para reciclagem.
Segundo a campanha "Todos pelo IPO", esta quarta-feira divulgada em comunicado, os equipamentos elétricos e as pilhas que forem entregues nos mais de nove mil pontos de recolha da Electrão irão "transformar-se" em apoio ao IPO, uma iniciativa que no ano passado reuniu 37 mil euros (pela recolha de 156 toneladas de material) para a instituição de saúde, usados para comprar material cirúrgico.
A edição deste ano, segundo o comunicado das duas entidades, coincide com os 100 anos do IPO.
Na iniciativa também serão contabilizados os grandes eletrodomésticos recolhidos pelo Electrão porta-a-porta, na Área Metropolitana de Lisboa (pedidos através do número 800.262.333).
Electrão e IPO explicam ainda que se podem associar à campanha empresas de todo o país, com a dinamização de ações internas para reunir pilhas, baterias e equipamentos elétricos usados, podendo a recolha ser solicitada ao Electrão.
O valor a atribuir este ano, que depende das quantidades recolhidas, vai destinar-se à compra de equipamento médico.
As duas entidades notam que as pilhas, baterias e os equipamentos elétricos usados que não são corretamente encaminhados para reciclagem constituem um problema grave para o ambiente e para a saúde humana. E frisam a importância de estes aparelhos serem encaminhados para reciclagem em unidades especializadas.
O IPO de é um hospital público do Serviço Nacional de Saúde com um século de experiência na investigação, estudo e tratamento da doença oncológica. Tem cerca de 2.070 trabalhadores e recebe doentes das regiões de Lisboa e sul do país, das ilhas (Açores e Madeira) e ainda dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
21.8.23
Guia: como posso fazer compostagem em casa?
Amanda Faria, in Público
A compostagem ajuda a transformar resíduos orgânicos em composto, e há iniciativas domésticas e comunitárias para combater o desperdício e promover a sustentabilidade. O que é preciso para começar?
Deitar restos de fruta e cascas de legumes para o lixo é uma prática comum em muitas casas. Com a crescente preocupação ambiental relacionada com a gestão e tratamento dos resíduos urbanos, a compostagem começa a ganhar alguma notoriedade (seja doméstica ou comunitária). Em Portugal, onde cerca de 31% dos resíduos urbanos são ainda depositados em aterros sanitários – havendo uma parcela significativa correspondente a matéria orgânica –, a necessidade de optar por estas alternativas aumenta. O Azul conversou com uma especialista para esclarecer as principais dúvidas sobre compostagem.
O que é compostagem?
A compostagem é um processo natural de decomposição da matéria orgânica, impulsionado por microrganismos na presença de oxigénio. Essa transformação converte resíduos biodegradáveis, como restos de comida e detritos de jardim, num fertilizante natural conhecido como composto, rico em nutrientes. O composto pode ser utilizado para enriquecer o solo em vasos, hortas e jardins, bem como na agricultura biológica.
Há três formas de compostagem: a doméstica, a comunitária e a mecânica. O seu objectivo é reduzir a quantidade de resíduos orgânicos enviados para aterro sanitário, promovendo a reutilização e valorização destes materiais.
O que preciso para começar?
Antes de se iniciar a compostagem, a bióloga Carolina Bianchi realça a importância de se fazer uma “auditoria” na cozinha para identificar desperdícios que podem ser evitáveis. Feito isso, é hora de avaliar as opções disponíveis. “A pessoa deve analisar as possibilidades para adoptar a prática. A dinâmica muda de acordo com a habitação: se for uma moradia e tiver jardim, é de uma maneira, mas se morar num apartamento, talvez seja necessário procurar uma compostagem comunitária.”
No caso da compostagem doméstica, recomenda-se adquirir um compostor, um contentor plástico destinado ao depósito dos resíduos. Em algumas regiões de Portugal, é possível obtê-los gratuitamente. Adicionalmente, é essencial garantir uma proporção equilibrada de resíduos “castanhos” (tais como folhas secas e ramos) e resíduos “verdes” (que incluem restos de frutas e cascas de legumes) de modo a fomentar um processo de decomposição saudável e eficiente.
Onde conseguir um contentor?
Em determinadas regiões, pode-se obter um contentor sem custo, desde que se cumpram os critérios definidos pela entidade distribuidora. Recomenda-se verificar a página na Internet da câmara municipal local para obter informações sobre os projectos à disposição, como o “Lisboa a Compostar”.
A Lipor, por exemplo, organização que gere resíduos em oito municípios (Espinho, Gondomar, Maia, Matosinhos, Porto, Póvoa de Varzim, Valongo e Vila do Conde) disponibiliza compostores gratuitos para a compostagem doméstica, além de pequenos contentores destinados ao tratamento mecânico. Para obter o equipamento, é necessário preencher um formulário online e participar numa formação.
Há vários outros sistemas multimunicipais ou municipais a prestar este serviço. Mas no caso de o município não oferecer um compostor, é possível comprá-lo em lojas de jardinagem, centros de bricolagem e estabelecimentos online especializados em produtos para o lar e jardim. É crucial escolher um contentor apropriado para o espaço disponível e a quantidade de resíduos a ser compostada.
A compostagem começa no balcão da cozinha. É necessário criar o hábito de separar os resíduos enquanto cozinha
Carolina Bianchi
Já tenho um compostor. E agora, como fazer?
O processo é bastante simples, mas é preciso ter atenção aos detalhes. Na compostagem doméstica, após adquirir um compostor, deve-se começar por adicionar ramos mais espessos ao fundo do contentor para permitir uma boa ventilação. Em seguida, recomenda-se colocar uma camada de cerca de 10 centímetros de “castanhos”, seguida por algum composto já pronto para auxiliar o processo.
Posteriormente, intercale os resíduos “verdes” e “castanhos”. É fundamental manter as camadas húmidas bem arejadas. Para evitar problemas de proliferação de insectos e maus odores, lembre-se de que os materiais “castanhos” devem sempre ficar na parte superior. Ao longo de alguns meses, os microrganismos irão transformar gradualmente os resíduos em composto.
“A compostagem começa no balcão da cozinha. É necessário criar o hábito de separar os resíduos enquanto cozinha”, alerta Carolina Bianchi. A bióloga sublinha que o processo torna-se mais fluido com um planeamento prévio, pelo que recomenda ter um recipiente com tampa onde os resíduos orgânicos possam ser armazenados antes de serem transferidos para o compostor.
O que é permitido e proibido no compostor?
O processo de compostagem doméstica, conforme as orientações da Agência Portuguesa do Ambiente, permite a inclusão de uma variedade de materiais biodegradáveis. É recomendável cortar os resíduos em pequenos pedaços. Certos resíduos, como restos de carne e peixe, ossos, óleo, comidas gordurosas, lacticínios, cascas e restos de ovos, cortiça, beatas de cigarros, fezes de animais e fraldas, não podem ir para o compostor.
O que é permitido?
Resíduos de vegetais crus ;
Cascas de batata;
Papel de cozinha usado e não contaminado;
Resíduos de descasque de fruta;
Cascas de frutos secos;
Massas e arroz cozinhados (poucas quantidades);
Borras de café;
Folhas secas;
Pão (poucas quantidades);
Saquetas de chá;
Aparas de relva secas;
Folhas verdes;
Aparas de madeira e serradura não contaminada ou tratada quimicamente;
Ervas daninhas sem semente;
Resíduos de ramos e arbustos, resultantes de podas;
Flores e plantas, não tratadas com produtos químicos;
Palha e feno;
Aparas de relva frescas;
Caruma;
Ramos finos
Causa mau cheiro?
A compostagem pode, por vezes, originar maus odores, mas há como os evitar. A utilização de materiais ricos em carbono, como folhas secas e aparas de madeira, ajuda a absorver os cheiros indesejados. Além disso, o processo de revolvimento do composto contribui para reduzir o mau cheiro, permitindo que a decomposição ocorra de forma controlada e eficiente.
Onde colocar os resíduos cozinhados?
Os resíduos cozinhados, como sobras de alimentos e restos de refeições, devem ser depositados no contentor castanho de orgânicos para tratamento mecânico. Esta acção ajuda a evitar problemas de mau cheiro e insectos, além de garantir o encaminhamento adequado dos resíduos para tratamento. A compostagem doméstica ou comunitária não é aconselhada para resíduos cozinhados devido aos riscos de odores e atracção de pragas.
Posso fazer compostagem doméstica morando num apartamento?
É possível realizar compostagem doméstica num apartamento, caso haja uma varanda ou jardim. Algumas câmaras municipais implementam iniciativas de compostagem comunitária em determinadas freguesias, oferecendo uma alternativa para quem não dispõe de espaço para um compostor individual. Neste processo, os resíduos orgânicos são recolhidos em compostores comunitários instalados em áreas compartilhadas e transformados em composto para uso local.
Compostagem exige um pensamento muito mais colectivista do que individualista, sendo crucial mudar a mentalidade. O lixo que produzimos é de todos, já que afecta também outras pessoas
Carolina Bianchi
Qual a diferença entre a compostagem doméstica e comunitária?
A compostagem doméstica e comunitária distinguem-se pela localização em que são realizadas. Na compostagem doméstica, o indivíduo deposita os resíduos num contentor instalado na sua propriedade. Desta forma, as famílias produzem e podem utilizar o composto rico em nutrientes nos seus jardins e plantações.
Por outro lado, a compostagem comunitária envolve a recolha e o tratamento de resíduos orgânicos em compostores instalados em espaços públicos, como parques ou áreas compartilhadas de edifícios de apartamentos. Neste cenário, várias pessoas contribuem para um único compostor e o composto resultante pode ser utilizado em benefício da comunidade local.
“A compostagem exige um pensamento muito mais colectivista do que individualista, sendo crucial mudar a mentalidade. O lixo que produzimos é de todos, já que afecta também outras pessoas”, conclui Carolina Bianchi.
Texto editado por Ana Fernandes
[artigo disponível na íntegra só para assinantes]
2.8.23
Planeta entra em sobrecarga e começa a consumir recursos do próximo ano
Por Lusa, in SIC
Nos últimos anos tem havido uma tendência de estabilização do dia em que o planeta começa a viver a crédito.O planeta começa a partir de quarta-feira a consumir recursos naturais que só deviam ser usados no próximo ano, entrando em sobrecarga, indicam os cálculos da organização internacional "Global Footprint Network".
Analisando as contas da pegada ecológica e a capacidade biológica (de gerar recursos) de mais de 180 países, a organização assinala este dia como o Dia da Sobrecarga do Planeta (Overshoot Day), em que a necessidade de recursos ambientais por parte da humanidade excede a capacidade do planeta em os produzir.
Nos últimos anos tem havido uma tendência de estabilização do dia em que o planeta começa a viver a crédito. A organização nota que há um aparente ganho (avanço na data) de cinco dias em relação ao ano passado mas acrescenta que na verdade do ano passado para este ano só se melhorou um dia. Os outros quatro dias devem-se a melhorias na edição das contas sobre a pegada do planeta.
Os responsáveis pelos cálculos admitem não poder dizer se a estabilidade dos últimos cinco anos se deve a um abrandamento económico ou a esforços deliberados de descarbonização. Mas alertam que mesmo assim a redução do excesso de emissões de gases com efeito de estufa (GEE) é demasiado lenta, e que para atingir os objetivos preconizados por organizações da ONU era preciso reduzir no calendário o Dia da Superação da Terra em 19 dias por ano nos próximos sete anos.
Este ano, o Dia é assinalado em conjunto com a Eslovénia. Citado num comunicado o diretor executivo da "Global Footprint Network", Steven Tebbe, alerta para o facto de que manter de forma persistente o uso do "cartão de crédito" leva a situações cada vez mais notórias de ondas de calor, incêndios florestais, secas e inundações.
Aumentar as fontes globais de eletricidade de baixo teor de carbono, de 39% para 75%, faria com que o dia passasse a ser assinalado 26 dias depois, e reduzir para metade o desperdício de alimentos faria avançar mais 13 dias.
Num comentário ao Dia da Sobrecarga do Planeta a organização ambientalista Zero apela a uma aceleração das mudanças para se inverter a destruição do planeta. E salienta ainda outras formas de "empurrar" para mais tarde a data do cartão de crédito: a redução para metade da pegada de carbono faria com o dia da sobrecarga apenas acontecesse no início de novembro.
Depois, salienta ainda a Zero, se as pessoas reduzissem a pegada ligada à mobilidade em 50% o cartão de crédito ambiental ia para a segunda semana deste mês. E só seria acionado no dia 19 se o consumo de carne fosse reduzido para metade.
31.7.23
Alto Alentejo discute caminhos para a gestão e consumo mais consciente dos recursos hídricos
A Águas do Alto Alentejo assinalou na a sexta-feira, dia 21, no auditório Municipal do Crato, o primeiro aniversário da sua actividade comercial com a conferência “Gestão de Água: Futuro Sustentável”, onde foi debatida a importância de adaptar as instituições a modelos de gestão de água sustentáveis e que promovam um consumo consciente, garantindo o acesso a este recurso indispensável, tanto agora como no futuro.
O presidente do Conselho de Administração da Águas do Alto Alentejo, Hugo Hilário, sublinhou a importância da criação da empresa, destacando a concertação entre os 10 Municípios aderentes, no sentido de gerir os recursos disponíveis de forma consciente e eficiente. Deste primeiro ano, destacou o «investimento superior a 7 milhões de euros, destinado ao alargamento e remodelação da rede, garantindo o abastecimento de água à população, incluindo a territórios onde nunca tinha existido este serviço, e operando hoje em, aproximadamente, 4 dos cerca de 6 mil quilómetros da área do distrito de Portalegre, com 4 centros operacionais e mais de 50 funcionários». Este é um processo que se considera absolutamente fundamental para a adaptação do território às necessidades actuais, mas, especialmente, das gerações futuras.
A importância do investimento contínuo na rede hidráulica para combater problemáticas como as perdas de água a nível municipal e a gestão integrada dos recursos foram tópicos centrais da sessão de mesa-redonda, moderada por Ricardo Campos, presidente do Fórum de Energia e Clima, e que reuniu Carlos Martins, CEO da EPAL e AdVT, Miguel Nunes, Vogal do Conselho de Administração da ERSAR, e André Matoso, Director da ARH do Alentejo da Agência Portuguesa do Ambiente.
Carlos Martins reforçou a importância do trabalho e investimentos continuados, dando como exemplo os trabalhos profundos feitos pela EPAL nos anos 90 e que só seis ou sete anos depois mostraram os seus resultados, sendo agora necessário voltar a investir para manter o padrão de qualidade. Nessa linha, Miguel Nunes relembrou que as agregações como a AAA «são mecanismos extremamente importantes para se alcançar a gestão verdadeiramente profissionalizada e de qualidade».
Desta intensa manhã destaca-se também a intervenção de Joaquim Diogo, presidente da Câmara do Crato, com foco na relevância da construção da Barragem do Pisão para o abastecimento de água e diversificação das actividades económicas da região.
Para trazer a debate a perspectiva de defesa dos consumidores, Marta Mesquita Pais, da DECO PROTESTE, fez uma apresentação centrada na percentagem preocupante de desperdício de água a nível municipal, apontando caminhos para que as empresas de gestão possam ir ao encontro das necessidades dos consumidores.
Chamado a intervir sobre as oportunidades de financiamento para o sector da água, o deputado à Assembleia da República, Ricardo Pinheiro, sublinhou a importância da adaptação da gestão hídrica a modelos sustentáveis, alinhados com a visão europeia, saudando a Águas do Alto Alentejo pela visão e trabalho desenvolvido, que considera adequado ao futuro da região.
Na sessão de encerramento, Gonçalo Rodrigues, secretário de Estado da Agricultura, abordou a relação indissociável entre a gestão da água e a actividade agrícola, defendendo que um futuro sustentável passa por garantir que «o presente também o é, através da educação e do desenvolvimento de projectos que visem encontrar soluções para as problemáticas associadas às alterações climáticas», nas quais se inclui a seca, altamente sentida no território do Alto Alentejo, e que afecta directamente a agricultura.
O nosso jornal acompanhou os trabalhos numa reportagem que pode lera na edição desta semana do Alto Alentejo
O presidente do Conselho de Administração da Águas do Alto Alentejo, Hugo Hilário, sublinhou a importância da criação da empresa, destacando a concertação entre os 10 Municípios aderentes, no sentido de gerir os recursos disponíveis de forma consciente e eficiente. Deste primeiro ano, destacou o «investimento superior a 7 milhões de euros, destinado ao alargamento e remodelação da rede, garantindo o abastecimento de água à população, incluindo a territórios onde nunca tinha existido este serviço, e operando hoje em, aproximadamente, 4 dos cerca de 6 mil quilómetros da área do distrito de Portalegre, com 4 centros operacionais e mais de 50 funcionários». Este é um processo que se considera absolutamente fundamental para a adaptação do território às necessidades actuais, mas, especialmente, das gerações futuras.
A importância do investimento contínuo na rede hidráulica para combater problemáticas como as perdas de água a nível municipal e a gestão integrada dos recursos foram tópicos centrais da sessão de mesa-redonda, moderada por Ricardo Campos, presidente do Fórum de Energia e Clima, e que reuniu Carlos Martins, CEO da EPAL e AdVT, Miguel Nunes, Vogal do Conselho de Administração da ERSAR, e André Matoso, Director da ARH do Alentejo da Agência Portuguesa do Ambiente.
Carlos Martins reforçou a importância do trabalho e investimentos continuados, dando como exemplo os trabalhos profundos feitos pela EPAL nos anos 90 e que só seis ou sete anos depois mostraram os seus resultados, sendo agora necessário voltar a investir para manter o padrão de qualidade. Nessa linha, Miguel Nunes relembrou que as agregações como a AAA «são mecanismos extremamente importantes para se alcançar a gestão verdadeiramente profissionalizada e de qualidade».
Desta intensa manhã destaca-se também a intervenção de Joaquim Diogo, presidente da Câmara do Crato, com foco na relevância da construção da Barragem do Pisão para o abastecimento de água e diversificação das actividades económicas da região.
Para trazer a debate a perspectiva de defesa dos consumidores, Marta Mesquita Pais, da DECO PROTESTE, fez uma apresentação centrada na percentagem preocupante de desperdício de água a nível municipal, apontando caminhos para que as empresas de gestão possam ir ao encontro das necessidades dos consumidores.
Chamado a intervir sobre as oportunidades de financiamento para o sector da água, o deputado à Assembleia da República, Ricardo Pinheiro, sublinhou a importância da adaptação da gestão hídrica a modelos sustentáveis, alinhados com a visão europeia, saudando a Águas do Alto Alentejo pela visão e trabalho desenvolvido, que considera adequado ao futuro da região.
Na sessão de encerramento, Gonçalo Rodrigues, secretário de Estado da Agricultura, abordou a relação indissociável entre a gestão da água e a actividade agrícola, defendendo que um futuro sustentável passa por garantir que «o presente também o é, através da educação e do desenvolvimento de projectos que visem encontrar soluções para as problemáticas associadas às alterações climáticas», nas quais se inclui a seca, altamente sentida no território do Alto Alentejo, e que afecta directamente a agricultura.
O nosso jornal acompanhou os trabalhos numa reportagem que pode lera na edição desta semana do Alto Alentejo
26.7.23
O canto das cigarras: o som estridente (e característico) do Verão
Amanda Faria, in Público
As cigarras apareceram neste ano em Portugal mais cedo do que é normal. O som único de cada espécie (usado para atrair, acasalar e proteger) marca o início da estação mais quente do ano.
Os dias quentes mal começam e o ambiente passa a ser preenchido por um som estridente que anuncia a chegada do Verão: o canto das cigarras. Por todo o país, há 13 espécies destes pequenos insectos — de corpo verde, castanho ou preto, asas translúcidas e olhos grandes e redondos —, e pelo mundo existem mais de 3000 espécies. As cigarras possuem um ciclo de vida curioso, repleto de peculiaridades, que pode durar mais de uma década. Apesar da sua importância para o ecossistema, enfrentam desafios que ameaçam a sua sobrevivência.
As cigarras pertencem à família Cicadidae. Entre as espécies mais comuns em Portugal estão a cigarra-comum (Cicada orni) e a cigarra-comum-do-sul (Cicada barbara), frequentemente vistas e ouvidas na zona centro-oeste, devido às altas temperaturas; a principal diferença está no canto que produzem.
A investigadora do projecto Cigarras de Portugal, Vera Nunes, define o som produzido pela cigarra-comum como um “'che-che-che' repetitivo e monótono”, enquanto o canto da cigarra-comum-do-sul é um “zumbido forte e contínuo como uma sirene.”
Uma “existência solitária”
Nos Estados Unidos, algumas espécies de cigarras podem viver até 17 anos debaixo de terra, mas o mesmo não ocorre em Portugal, visto que o desenvolvimento desses invertebrados dura em média dois a três anos, explica Vera Nunes.
A investigadora Vera Nunes define o desenvolvimento das cigarras como uma “existência solitária” em que cada insecto vive no seu túnel quando ninfa (entre a fase de larva e a fase adulta dos insectos que passam por metamorfoses). Nesse período, alimentam-se da seiva das raízes de plantas e mudam de pele diversas vezes. “Quando chegam à idade adulta, precisam de encontrar-se para acasalar. Então sobem à superfície, nas árvores, por ser mais fácil para elas encontrarem-se.” Assim, passam pela última transformação e ganham asas. E os machos adquirem a capacidade de cantar.
O canto alto e estridente, que pode ser ouvido a longas distâncias, tem dois propósitos: proteger dos predadores e atrair as fêmeas para o acasalamento. O período de reprodução destes insectos ocorre no Verão. As fêmeas depositam os ovos nos troncos das árvores e, de três a quatro semanas após acasalarem, morrem. Os ovos eclodem após aproximadamente duas semanas, dando continuidade ao processo.
Declínio acentuado em Portugal
No entanto, nem tudo são canções e encantos para as cigarras em terras portuguesas. Nos últimos cinco anos, algumas espécies sofreram um declínio acentuado, principalmente devido à agricultura intensiva e à mecanização, que podem destruir as ninfas que se alimentam das raízes, declara Vera Nunes.
A investigadora destaca ainda o uso de pesticidas como um vilão na preservação das cigarras. Em outras zonas onde o turismo está mais presente, como no Algarve, “a urbanização torna-se um grave problema porque é preciso impermeabilizar o solo, reduzindo o habitat disponível para as cigarras.”
O Livro Vermelho dos Invertebrados de Portugal revelou que quatro das 13 espécies de cigarras nativas do país estão em estado vulnerável, sendo a cigarra-verde-do-Alentejo (Euryphara contentei) a mais ameaçada.
Para mapear a distribuição das cigarras em Portugal e avaliar o estatuto de conservação das espécies, um grupo de investigadores do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa lançou o projecto Cigarras de Portugal em 2019. A iniciativa promove a "ciência-cidadã", em que qualquer pessoa pode contribuir com fotos e áudios das cigarras, hospedados na plataforma BioDiversity4All.
As cigarras costumam aparecer em Maio. Neste ano, contudo, a primeira aparição foi em Abril, em Santarém, o que surpreendeu os investigadores por ocorrer duas semanas mais cedo do que o esperado, conforme os dados disponibilizados pelo projecto. Os especialistas apontam as temperaturas mais quentes como uma possível causa.
As cigarras podem ser vistas até Setembro, principalmente nas regiões Centro e Sul. Quando estiver de férias no meio a natureza, tem boas hipóteses de avistá-las ou até de ouvi-las durante o dia. Caso queria contribuir para o projecto Cigarras de Portugal, basta aceder à plataforma e registar o seu áudio ou imagem.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva
Animais de Verão é uma minissérie do Azul sobre animais que podemos ver em Portugal na época estival. Sai um artigo por semana
Os dias quentes mal começam e o ambiente passa a ser preenchido por um som estridente que anuncia a chegada do Verão: o canto das cigarras. Por todo o país, há 13 espécies destes pequenos insectos — de corpo verde, castanho ou preto, asas translúcidas e olhos grandes e redondos —, e pelo mundo existem mais de 3000 espécies. As cigarras possuem um ciclo de vida curioso, repleto de peculiaridades, que pode durar mais de uma década. Apesar da sua importância para o ecossistema, enfrentam desafios que ameaçam a sua sobrevivência.
As cigarras pertencem à família Cicadidae. Entre as espécies mais comuns em Portugal estão a cigarra-comum (Cicada orni) e a cigarra-comum-do-sul (Cicada barbara), frequentemente vistas e ouvidas na zona centro-oeste, devido às altas temperaturas; a principal diferença está no canto que produzem.
A investigadora do projecto Cigarras de Portugal, Vera Nunes, define o som produzido pela cigarra-comum como um “'che-che-che' repetitivo e monótono”, enquanto o canto da cigarra-comum-do-sul é um “zumbido forte e contínuo como uma sirene.”
Uma “existência solitária”
Nos Estados Unidos, algumas espécies de cigarras podem viver até 17 anos debaixo de terra, mas o mesmo não ocorre em Portugal, visto que o desenvolvimento desses invertebrados dura em média dois a três anos, explica Vera Nunes.
A investigadora Vera Nunes define o desenvolvimento das cigarras como uma “existência solitária” em que cada insecto vive no seu túnel quando ninfa (entre a fase de larva e a fase adulta dos insectos que passam por metamorfoses). Nesse período, alimentam-se da seiva das raízes de plantas e mudam de pele diversas vezes. “Quando chegam à idade adulta, precisam de encontrar-se para acasalar. Então sobem à superfície, nas árvores, por ser mais fácil para elas encontrarem-se.” Assim, passam pela última transformação e ganham asas. E os machos adquirem a capacidade de cantar.
O canto alto e estridente, que pode ser ouvido a longas distâncias, tem dois propósitos: proteger dos predadores e atrair as fêmeas para o acasalamento. O período de reprodução destes insectos ocorre no Verão. As fêmeas depositam os ovos nos troncos das árvores e, de três a quatro semanas após acasalarem, morrem. Os ovos eclodem após aproximadamente duas semanas, dando continuidade ao processo.
Declínio acentuado em Portugal
No entanto, nem tudo são canções e encantos para as cigarras em terras portuguesas. Nos últimos cinco anos, algumas espécies sofreram um declínio acentuado, principalmente devido à agricultura intensiva e à mecanização, que podem destruir as ninfas que se alimentam das raízes, declara Vera Nunes.
A investigadora destaca ainda o uso de pesticidas como um vilão na preservação das cigarras. Em outras zonas onde o turismo está mais presente, como no Algarve, “a urbanização torna-se um grave problema porque é preciso impermeabilizar o solo, reduzindo o habitat disponível para as cigarras.”
O Livro Vermelho dos Invertebrados de Portugal revelou que quatro das 13 espécies de cigarras nativas do país estão em estado vulnerável, sendo a cigarra-verde-do-Alentejo (Euryphara contentei) a mais ameaçada.
Para mapear a distribuição das cigarras em Portugal e avaliar o estatuto de conservação das espécies, um grupo de investigadores do Centro de Ecologia, Evolução e Alterações Ambientais (cE3c) da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa lançou o projecto Cigarras de Portugal em 2019. A iniciativa promove a "ciência-cidadã", em que qualquer pessoa pode contribuir com fotos e áudios das cigarras, hospedados na plataforma BioDiversity4All.
As cigarras costumam aparecer em Maio. Neste ano, contudo, a primeira aparição foi em Abril, em Santarém, o que surpreendeu os investigadores por ocorrer duas semanas mais cedo do que o esperado, conforme os dados disponibilizados pelo projecto. Os especialistas apontam as temperaturas mais quentes como uma possível causa.
As cigarras podem ser vistas até Setembro, principalmente nas regiões Centro e Sul. Quando estiver de férias no meio a natureza, tem boas hipóteses de avistá-las ou até de ouvi-las durante o dia. Caso queria contribuir para o projecto Cigarras de Portugal, basta aceder à plataforma e registar o seu áudio ou imagem.
Texto editado por Claudia Carvalho Silva
Animais de Verão é uma minissérie do Azul sobre animais que podemos ver em Portugal na época estival. Sai um artigo por semana
[artigo disponível na íntegra só para assinantes aqui]
Jornada Mundial da Juventude sugere aos peregrinos serem vegetarianos para compensar viagem de avião
Pedro Sousa Carvalho Jornalista, in Expresso
Os peregrinos que virão a Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude vão ter acesso a uma aplicação com uma calculadora que mede a sua pegada carbónica. A organização publicou um manual onde recomenda formas de compensar a poluição provocada pela viagem a Lisboa. Ao Expresso SER, o presidente da Novo Verde e ERP Portugal explica como é que vai funcionar a calculadora
Em abril, o Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) juntou-se às câmaras municipais de Lisboa e Loures e a várias outras organizações para assinar uma carta onde se comprometeram a “fazer da sustentabilidade um objetivo central da organização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023”. Essa carta é inspirada na encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, um texto de 2015 onde o Papa Francisco fez um apelo para que a humanidade consiga travar a degradação ambiental e as alterações climáticas e onde fez um levantamento exaustivo daquilo que está a acontecer à “nossa casa comum”: a poluição, as mudanças climáticas, o tema da água, a perda da biodiversidade, a fraqueza das reações e a deterioração da qualidade de vida humana.
Uma das ações previstas para ajudar a minimizar a pegada carbónica deste evento, – onde o Papa Francisco será a figura principal, – passa pela disponibilização de uma calculadora que ajuda a medir a pegada carbónica da viagem e estadia em Lisboa, sugerindo formas de compensação para mitigar o impacto ambiental do evento. A JMJ pode trazer a Lisboa cerca de um milhão de visitantes nas primeiras duas semanas de agosto.
Esta calculadora foi desenvolvida pela ERP Portugal/Novo Verde, um dos subscritores da carta de compromisso, e integra a aplicação de telemóvel da JMJ. “Fomos convidados a participar no grupo de sustentabilidade da Fundação JMJ que trabalhou, ao longo do último ano, com o objetivo de colocar a sustentabilidade como preocupação central na organização do evento. Tendo como premissa o cuidado com a ‘Casa Comum’, plasmado no pedido que o próprio Papa Francisco nos endereçou, a ERP Portugal e a Novo Verde disponibilizaram-se prontamente para a execução e oferta desta ferramenta”, explicou ao Expresso SER Ricardo Neto, presidente da Novo Verde e ERP Portugal (ver perguntas e respostas em baixo).
Juntamente com a calculadora, a ERP Portugal/Novo Verde também desenvolveu um “Manual do Peregrino” “com recomendações de comportamento” que pretendem ajudar a minimizar a pegada ambiental de cada participante na JMJ. Este manual começa por reconhecer o impacto que estas jornadas vão ter no ambiente: “A JMJ, como qualquer outro encontro desta dimensão, tem um impacto no planeta e os peregrinos participantes têm uma contribuição significativa”. E dá o exemplo de uma viagem de avião de ida e volta entre Atenas e Lisboa que gera 1746 kgCO2e (quilogramas de dióxido de carbono equivalente). Esta pegada de carbono, segundo as contas da organização, corresponde a:
1) Aproximadamente 55 anos de banhos diários (considerando uma duração de banho diário entre 5 a 10 minutos e o valor correspondente de 32,85 kgCO2e/ano);
2) A cerca de meio ano de dieta omnívora (considerando um elevado consumo de carne, de 3285 kgCO2e/pessoa/ano);
3) E, finalmente, a aproximadamente 20 iPhone 12 Pro Max.
“As viagens dos participantes em eventos, principalmente de avião, são de facto impactantes”, conclui o “Manual do Peregrino”.
COMO MITIGAR A VIAGEM DE AVIÃO?
Neste exemplo de uma viagem de ida e volta entre Atenas e Lisboa para participar na JMJ, a organização afirma que que “é possível compensar essas emissões mesmo após a JMJ”. E como é que se faz isso? O “Manual do Peregrino” deixa três sugestões:
1) A primeira sugestão é realizar a viagem casa-trabalho de comboio ao invés de carro pessoal durante dois anos, para um percurso de 10km (para estes cálculos a empresa usou fatores de emissão de comboio de 0,0235 kgCO2e/pessoa/km e de carro de 0,1815 kgCO2e/pessoa/km, duas viagens casa-trabalho de 10km/dia e 251 dias de trabalho/ano).
2) A segunda sugestão é aceitar o desafio de “ser vegetariano durante um ano” (para estas cálculos considerou-se uma redução das emissões de uma dieta omnívora, com elevado consumo de carne, de 3285kg CO2e/pessoa/ano para uma dieta vegetariana, de 1700kg CO2e/ pessoa/ano).
3) Finalmente, para compensar a totalidade das emissões da viagem, o manual recomenda “apoiar programas de conservação de árvores durante um ano, correspondente a 65 árvores (assume que cada árvore capta um valor médio de carbono de 26,6kgCO2e/árvore/ano)”.
No manual são feitas várias outras sugestões para que os peregrinos tenham uma vida mais próxima daquela que o Papa Francisco pediu na encíclica Laudato Si’, em vários domínios, desde as viagens, mobilidade, estadia, consumo, alimentação e resíduos. Os peregrinos são confrontados com vários números para que possam ter comportamentos mais amigos do ambiente. Por exemplo, lê-se no “Manual do Peregrino” que beber apenas água engarrafada tem um impacto de 234 kgCO2e/ano, ao contrário de beber água apenas da torneira que não tem nenhum impacto. Tomar um banho de imersão corresponde a emitir 949 kgCO2e/ano, valor que compara com os 183 kgCO2e/ano de um duche.
COMO FUNCIONA A CALCULADORA?
A calculadora para medir a pegada carbónica da estadia e das deslocações dos peregrinos vai estar disponível na app oficial da JMJ, “e o peregrino pode quantificar a sua pegada e conhecer outras opções e ações para mitigar as consequências geradas durante a sua participação” no evento. Para saber o valor base da pegada, o peregrino começa por preencher o questionário inicial em: "Descobre a tua pegada de carbono durante a Jornada". Para tal são-lhe solicitados vários dados: a viagem até Lisboa (distância e o transporte usado), o tipo de alojamento, a mobilidade na capital e os recursos “que englobam os padrões de consumo de água, de eletricidade, hábitos alimentares e compras”.
A organização garante que os dados serão “anonimizados” e após preencher o questionário inicial, o peregrino será confrontado com a sua pegada de carbono total que vai aparecer numa escala de cinco níveis de cor (verde escuro, verde claro, amarelo, laranja, e vermelho), que vai deste os 0 kg CO2e até aos 7000 kg CO2e. A cada dia de estadia em Lisboa, o utilizador da app pode responder ao questionário da mitigação, onde terá a oportunidade de indicar o que fez naquele dia pelo planeta. “A cada dia que vais preenchendo o questionário da mitigação, serás notificado da redução de emissões que fizeste naquele dia, face ao valor calculado para ti com base nas respostas ao questionário inicial”, lê-se no manual.
RICARDO NETO EM DISCURSO DIRETO
Em respostas enviadas por escrito ao Expresso SER, Ricardo Neto, presidente da Novo Verde e ERP Portugal, explica como é que vai funcionar esta calculadora e o que é que o grupo de trabalho da JMJ para a área da sustentabilidade está a fazer para mitigar o impacto que este evento terá na cidade e no meio ambiente.
Porque é que tiveram a ideia de lançar esta calculadora?
Fomos convidados a participar no grupo de sustentabilidade da Fundação JMJ que trabalhou, ao longo do último ano, com o objetivo de colocar a sustentabilidade como preocupação central na organização do evento. Tendo como premissa o cuidado com a “Casa Comum”, plasmado no pedido que o próprio Papa Francisco nos endereçou, a ERP Portugal e a Novo Verde disponibilizaram-se prontamente para a execução e oferta desta ferramenta. Com a robustez de experiências anteriores no desenvolvimento de calculadoras desta natureza, e percebendo o inevitável impacto ambiental que um evento desta magnitude tem, este foi um desafio natural e que nos faz todo o sentido.
Como é que vão publicitá-la junto dos peregrinos?
Quer da parte da ERP Portugal/Novo Verde, como da Fundação JMJ, existe um compromisso de incentivar o uso massivo da calculadora de pegada carbónica, onde o peregrino consegue ter a noção clara do seu impacto individual. Tendo em conta a importância desta monitorização, quer a ERP Portugal e a Novo Verde, quer a Fundação JMJ têm um compromisso sério com a divulgação e motivação para a utilização desta ferramenta. Está prevista a divulgação da calculadora de pegada carbónica em todos os canais de comunicação JMJ Lisboa 2023 (incluindo na JMJ TV), bem como a integração desta ferramenta no plano de comunicação digital da ERP Portugal e da Novo Verde.
Como é que funciona esta calculadora?
A calculadora de pegada carbónica tem por base a análise dos seguintes indicadores: viagem, estadia, mobilidade interna e outros recursos. Os peregrinos inscritos (voluntários, ou seja, peregrinos que estão no ativo), clero e media, terão acesso à aplicação da JMJ onde está alojada a calculador. No ato da inscrição, o peregrino recebe um QRCode com acesso à totalidade dos conteúdos da app, de onde faz parte a calculadora. Desta forma e muito facilmente, respondendo a um questionário inicial, é possível aferir o cálculo da sua pegada até ali. À medida que os dias avançam, mediante as suas decisões e atitudes, os peregrinos poderão mitigar a sua pegada inicial, visualizando de uma forma apelativa e através de uma escala de cor, o quão as suas atitudes individuais impactam o global. Existe um questionário diário com uma “check list” cujas respostas são convertidas em unidades de carbono que fazem oscilar a barra de resultados.
Junto com o desenvolvimento desta calculadora de pegada carbónica, foi elaborado um “Manual do Peregrino”, que contém recomendações de comportamento que, ao serem aplicadas, terão impacto nas respostas aos questionários diários e consequentemente diminuição do impacto individual. Estão também presentes neste manual várias medidas de mitigação que podem e devem ser aplicadas, não apenas à semana em que os eventos das JMJ decorrem, mas por estarem traduzidas em quatro línguas e permanecerem acessíveis nos sites da ERP Portugal e Novo Verde, poderão ter efeitos perenes.
Que impacto é que esperam que esta ferramenta tenha no comportamento dos peregrinos?
Sabemos que, neste momento, estão mais de 336 mil peregrinos inscritos, e como tal, aguardamos uma adesão significativa ao uso da calculadora. Recordamos que todos tiveram acesso a uma carta de compromisso que sublinhava e apelava para as questões relacionadas com a sustentabilidade. Acreditamos que a sensibilização que terá lugar antes da semana das Jornadas, aos mais de 20.000 voluntários, terá um impacto significativo na mobilização dos restantes peregrinos para o uso desta ferramenta. Nos vários espaços onde decorrerão diversos eventos, os peregrinos terão acesso a comunicação e sensibilização para o preenchimento do questionário diário, e como tal, estamos muito otimistas no que aos resultados diz respeito.
Tem alguma estimativa da pegada carbónica de um evento como o das JMJ, que obriga à deslocação de mais de um milhão de pessoas?
Não. Recordamos que Portugal está a acolher um evento sem precedentes. No entanto, e tendo em conta que a utilização desta nossa ferramenta é pioneira no histórico da Jornadas Mundiais da Juventude, aguardamos com expectativa o nível de adesão à utilização da calculadora que nos ajudará a aferir melhor esse impacto. Contudo, sabemos que o grupo de Sustentabilidade ao qual pertencemos conseguiu, ao longo do último ano, vários compromissos na organização do evento, de forma a diminuir o seu inevitável impacto ambiental.
O que está a organização da JMJ a fazer para minimizar o impacto ambiental deste evento?
A Novo Verde e a ERP Portugal fazem parte do grupo de trabalho multidisciplinar na área da sustentabilidade. Este grupo reúne várias empresas e voluntários que uniram esforços para que vários detalhes fossem tidos em consideração na organização de um evento desta relevância, tais como: desmaterialização da informação dada ao peregrino, garrafas de águas reutilizáveis, colocação de bebedouros, contentorização para a separação dos resíduos adequada ao número de visitantes, bem como, sinalética transversal à multiculturalidade que se viverá nessas semanas.
Outra das medidas de prevenção, recai na seleção de embalagens de alimentação no kit peregrino, sendo estas monomaterial, como forma de facilitar a correta separação e encaminhamento destes resíduos. De sublinhar que o contributo da ERP Portugal e da Novo Verde nestas matérias fica plasmado no manual de pegada de carbono, disponível não apenas para os peregrinos inscritos, mas para todos, dado que irá estar disponível nos websites das entidades gestoras.
Os peregrinos que virão a Lisboa para a Jornada Mundial da Juventude vão ter acesso a uma aplicação com uma calculadora que mede a sua pegada carbónica. A organização publicou um manual onde recomenda formas de compensar a poluição provocada pela viagem a Lisboa. Ao Expresso SER, o presidente da Novo Verde e ERP Portugal explica como é que vai funcionar a calculadora
Em abril, o Comité Organizador Local da Jornada Mundial da Juventude (JMJ) juntou-se às câmaras municipais de Lisboa e Loures e a várias outras organizações para assinar uma carta onde se comprometeram a “fazer da sustentabilidade um objetivo central da organização da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023”. Essa carta é inspirada na encíclica do Papa Francisco, Laudato Si’, um texto de 2015 onde o Papa Francisco fez um apelo para que a humanidade consiga travar a degradação ambiental e as alterações climáticas e onde fez um levantamento exaustivo daquilo que está a acontecer à “nossa casa comum”: a poluição, as mudanças climáticas, o tema da água, a perda da biodiversidade, a fraqueza das reações e a deterioração da qualidade de vida humana.
Uma das ações previstas para ajudar a minimizar a pegada carbónica deste evento, – onde o Papa Francisco será a figura principal, – passa pela disponibilização de uma calculadora que ajuda a medir a pegada carbónica da viagem e estadia em Lisboa, sugerindo formas de compensação para mitigar o impacto ambiental do evento. A JMJ pode trazer a Lisboa cerca de um milhão de visitantes nas primeiras duas semanas de agosto.
Esta calculadora foi desenvolvida pela ERP Portugal/Novo Verde, um dos subscritores da carta de compromisso, e integra a aplicação de telemóvel da JMJ. “Fomos convidados a participar no grupo de sustentabilidade da Fundação JMJ que trabalhou, ao longo do último ano, com o objetivo de colocar a sustentabilidade como preocupação central na organização do evento. Tendo como premissa o cuidado com a ‘Casa Comum’, plasmado no pedido que o próprio Papa Francisco nos endereçou, a ERP Portugal e a Novo Verde disponibilizaram-se prontamente para a execução e oferta desta ferramenta”, explicou ao Expresso SER Ricardo Neto, presidente da Novo Verde e ERP Portugal (ver perguntas e respostas em baixo).
Juntamente com a calculadora, a ERP Portugal/Novo Verde também desenvolveu um “Manual do Peregrino” “com recomendações de comportamento” que pretendem ajudar a minimizar a pegada ambiental de cada participante na JMJ. Este manual começa por reconhecer o impacto que estas jornadas vão ter no ambiente: “A JMJ, como qualquer outro encontro desta dimensão, tem um impacto no planeta e os peregrinos participantes têm uma contribuição significativa”. E dá o exemplo de uma viagem de avião de ida e volta entre Atenas e Lisboa que gera 1746 kgCO2e (quilogramas de dióxido de carbono equivalente). Esta pegada de carbono, segundo as contas da organização, corresponde a:
1) Aproximadamente 55 anos de banhos diários (considerando uma duração de banho diário entre 5 a 10 minutos e o valor correspondente de 32,85 kgCO2e/ano);
2) A cerca de meio ano de dieta omnívora (considerando um elevado consumo de carne, de 3285 kgCO2e/pessoa/ano);
3) E, finalmente, a aproximadamente 20 iPhone 12 Pro Max.
“As viagens dos participantes em eventos, principalmente de avião, são de facto impactantes”, conclui o “Manual do Peregrino”.
COMO MITIGAR A VIAGEM DE AVIÃO?
Neste exemplo de uma viagem de ida e volta entre Atenas e Lisboa para participar na JMJ, a organização afirma que que “é possível compensar essas emissões mesmo após a JMJ”. E como é que se faz isso? O “Manual do Peregrino” deixa três sugestões:
1) A primeira sugestão é realizar a viagem casa-trabalho de comboio ao invés de carro pessoal durante dois anos, para um percurso de 10km (para estes cálculos a empresa usou fatores de emissão de comboio de 0,0235 kgCO2e/pessoa/km e de carro de 0,1815 kgCO2e/pessoa/km, duas viagens casa-trabalho de 10km/dia e 251 dias de trabalho/ano).
2) A segunda sugestão é aceitar o desafio de “ser vegetariano durante um ano” (para estas cálculos considerou-se uma redução das emissões de uma dieta omnívora, com elevado consumo de carne, de 3285kg CO2e/pessoa/ano para uma dieta vegetariana, de 1700kg CO2e/ pessoa/ano).
3) Finalmente, para compensar a totalidade das emissões da viagem, o manual recomenda “apoiar programas de conservação de árvores durante um ano, correspondente a 65 árvores (assume que cada árvore capta um valor médio de carbono de 26,6kgCO2e/árvore/ano)”.
No manual são feitas várias outras sugestões para que os peregrinos tenham uma vida mais próxima daquela que o Papa Francisco pediu na encíclica Laudato Si’, em vários domínios, desde as viagens, mobilidade, estadia, consumo, alimentação e resíduos. Os peregrinos são confrontados com vários números para que possam ter comportamentos mais amigos do ambiente. Por exemplo, lê-se no “Manual do Peregrino” que beber apenas água engarrafada tem um impacto de 234 kgCO2e/ano, ao contrário de beber água apenas da torneira que não tem nenhum impacto. Tomar um banho de imersão corresponde a emitir 949 kgCO2e/ano, valor que compara com os 183 kgCO2e/ano de um duche.
COMO FUNCIONA A CALCULADORA?
A calculadora para medir a pegada carbónica da estadia e das deslocações dos peregrinos vai estar disponível na app oficial da JMJ, “e o peregrino pode quantificar a sua pegada e conhecer outras opções e ações para mitigar as consequências geradas durante a sua participação” no evento. Para saber o valor base da pegada, o peregrino começa por preencher o questionário inicial em: "Descobre a tua pegada de carbono durante a Jornada". Para tal são-lhe solicitados vários dados: a viagem até Lisboa (distância e o transporte usado), o tipo de alojamento, a mobilidade na capital e os recursos “que englobam os padrões de consumo de água, de eletricidade, hábitos alimentares e compras”.
A organização garante que os dados serão “anonimizados” e após preencher o questionário inicial, o peregrino será confrontado com a sua pegada de carbono total que vai aparecer numa escala de cinco níveis de cor (verde escuro, verde claro, amarelo, laranja, e vermelho), que vai deste os 0 kg CO2e até aos 7000 kg CO2e. A cada dia de estadia em Lisboa, o utilizador da app pode responder ao questionário da mitigação, onde terá a oportunidade de indicar o que fez naquele dia pelo planeta. “A cada dia que vais preenchendo o questionário da mitigação, serás notificado da redução de emissões que fizeste naquele dia, face ao valor calculado para ti com base nas respostas ao questionário inicial”, lê-se no manual.
RICARDO NETO EM DISCURSO DIRETO
Em respostas enviadas por escrito ao Expresso SER, Ricardo Neto, presidente da Novo Verde e ERP Portugal, explica como é que vai funcionar esta calculadora e o que é que o grupo de trabalho da JMJ para a área da sustentabilidade está a fazer para mitigar o impacto que este evento terá na cidade e no meio ambiente.
Porque é que tiveram a ideia de lançar esta calculadora?
Fomos convidados a participar no grupo de sustentabilidade da Fundação JMJ que trabalhou, ao longo do último ano, com o objetivo de colocar a sustentabilidade como preocupação central na organização do evento. Tendo como premissa o cuidado com a “Casa Comum”, plasmado no pedido que o próprio Papa Francisco nos endereçou, a ERP Portugal e a Novo Verde disponibilizaram-se prontamente para a execução e oferta desta ferramenta. Com a robustez de experiências anteriores no desenvolvimento de calculadoras desta natureza, e percebendo o inevitável impacto ambiental que um evento desta magnitude tem, este foi um desafio natural e que nos faz todo o sentido.
Como é que vão publicitá-la junto dos peregrinos?
Quer da parte da ERP Portugal/Novo Verde, como da Fundação JMJ, existe um compromisso de incentivar o uso massivo da calculadora de pegada carbónica, onde o peregrino consegue ter a noção clara do seu impacto individual. Tendo em conta a importância desta monitorização, quer a ERP Portugal e a Novo Verde, quer a Fundação JMJ têm um compromisso sério com a divulgação e motivação para a utilização desta ferramenta. Está prevista a divulgação da calculadora de pegada carbónica em todos os canais de comunicação JMJ Lisboa 2023 (incluindo na JMJ TV), bem como a integração desta ferramenta no plano de comunicação digital da ERP Portugal e da Novo Verde.
Como é que funciona esta calculadora?
A calculadora de pegada carbónica tem por base a análise dos seguintes indicadores: viagem, estadia, mobilidade interna e outros recursos. Os peregrinos inscritos (voluntários, ou seja, peregrinos que estão no ativo), clero e media, terão acesso à aplicação da JMJ onde está alojada a calculador. No ato da inscrição, o peregrino recebe um QRCode com acesso à totalidade dos conteúdos da app, de onde faz parte a calculadora. Desta forma e muito facilmente, respondendo a um questionário inicial, é possível aferir o cálculo da sua pegada até ali. À medida que os dias avançam, mediante as suas decisões e atitudes, os peregrinos poderão mitigar a sua pegada inicial, visualizando de uma forma apelativa e através de uma escala de cor, o quão as suas atitudes individuais impactam o global. Existe um questionário diário com uma “check list” cujas respostas são convertidas em unidades de carbono que fazem oscilar a barra de resultados.
Junto com o desenvolvimento desta calculadora de pegada carbónica, foi elaborado um “Manual do Peregrino”, que contém recomendações de comportamento que, ao serem aplicadas, terão impacto nas respostas aos questionários diários e consequentemente diminuição do impacto individual. Estão também presentes neste manual várias medidas de mitigação que podem e devem ser aplicadas, não apenas à semana em que os eventos das JMJ decorrem, mas por estarem traduzidas em quatro línguas e permanecerem acessíveis nos sites da ERP Portugal e Novo Verde, poderão ter efeitos perenes.
Que impacto é que esperam que esta ferramenta tenha no comportamento dos peregrinos?
Sabemos que, neste momento, estão mais de 336 mil peregrinos inscritos, e como tal, aguardamos uma adesão significativa ao uso da calculadora. Recordamos que todos tiveram acesso a uma carta de compromisso que sublinhava e apelava para as questões relacionadas com a sustentabilidade. Acreditamos que a sensibilização que terá lugar antes da semana das Jornadas, aos mais de 20.000 voluntários, terá um impacto significativo na mobilização dos restantes peregrinos para o uso desta ferramenta. Nos vários espaços onde decorrerão diversos eventos, os peregrinos terão acesso a comunicação e sensibilização para o preenchimento do questionário diário, e como tal, estamos muito otimistas no que aos resultados diz respeito.
Tem alguma estimativa da pegada carbónica de um evento como o das JMJ, que obriga à deslocação de mais de um milhão de pessoas?
Não. Recordamos que Portugal está a acolher um evento sem precedentes. No entanto, e tendo em conta que a utilização desta nossa ferramenta é pioneira no histórico da Jornadas Mundiais da Juventude, aguardamos com expectativa o nível de adesão à utilização da calculadora que nos ajudará a aferir melhor esse impacto. Contudo, sabemos que o grupo de Sustentabilidade ao qual pertencemos conseguiu, ao longo do último ano, vários compromissos na organização do evento, de forma a diminuir o seu inevitável impacto ambiental.
O que está a organização da JMJ a fazer para minimizar o impacto ambiental deste evento?
A Novo Verde e a ERP Portugal fazem parte do grupo de trabalho multidisciplinar na área da sustentabilidade. Este grupo reúne várias empresas e voluntários que uniram esforços para que vários detalhes fossem tidos em consideração na organização de um evento desta relevância, tais como: desmaterialização da informação dada ao peregrino, garrafas de águas reutilizáveis, colocação de bebedouros, contentorização para a separação dos resíduos adequada ao número de visitantes, bem como, sinalética transversal à multiculturalidade que se viverá nessas semanas.
Outra das medidas de prevenção, recai na seleção de embalagens de alimentação no kit peregrino, sendo estas monomaterial, como forma de facilitar a correta separação e encaminhamento destes resíduos. De sublinhar que o contributo da ERP Portugal e da Novo Verde nestas matérias fica plasmado no manual de pegada de carbono, disponível não apenas para os peregrinos inscritos, mas para todos, dado que irá estar disponível nos websites das entidades gestoras.
75% dos consumidores da geração Z estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis
Pedro Sousa Carvalho Jornalista, in Expresso
Um estudo da Oliver Wyman traça o perfil de consumo da geração Z (pessoas nascidas entre meados da década de 1990 e o início da década de 2010) e chega à conclusão que 75% estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis e 88% acreditam que as empresas devem ajudar a resolver problemas sociais
“São nativos digitais, utilizam as redes sociais como ferramenta de decisão, exigem produtos que correspondam aos seus valores e preferências sociais e ambientais e estão (muito) preocupados com a sua segurança financeira”. É assim que este estudo ‘Generation Z: Shaping the Future of Consumer Trends’ descreve a Geração Z.
Este estudo, baseado em mais de 10 mil entrevistas nos EUA e no Reino Unido, conclui que 88% dos consumidores da geração Z acreditam que as empresas devem ajudar a resolver problemas sociais e ambientais e 82% acreditam que as empresas devem refletir a diversidade do mundo real nas suas campanhas de publicidade e marketing. Pela mesma razão, 75% dos consumidores nesta faixa etária estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis.
Este inquérito pretende ajudar as empresas e as marcas a chegarem a estes consumidores que têm hábitos diferentes dos das gerações anteriores, muito focados obviamente nos canais digitais. A consultora Oliver Wyman conclui que a geração Z é a primeira que cresceu inteiramente na era digital e estima que “estes jovens passam, em média, 10 horas por dia a interagir com conteúdos online e têm uma média de cinco contas em diferentes redes sociais, que utilizam constantemente para descobrir novos produtos, procurar recomendações e interagir com as marcas”. E as marcas que os querem encontrar é aqui que os vão encontrar.
Sobre o tema da sustentabilidade, o estudo aponta um grande paradoxo desta geração: apesar de estar muito comprometida com o tema da sustentabilidade, esta geração tem um estilo de vida que resulta num grande nível de consumo. Por exemplo, “os jovens da geração Z têm uma probabilidade 2,6 vezes maior de comprar roupas numa base semanal quando comparados com os de outras gerações”. Os jovens desta geração “falam verde, votam verde e querem trabalhar em empresas verdes”, mas continuam a ser grandes consumidores de fast fashion. E aqui o preço pode ser um fator determinante: “40% destes jovens da geração Z argumentam que a moda sustentável é demasiado cara, o que transforma a fast fashion numa alternativa apelativa”.
O preço dos bens e dos serviços é uma grande preocupação para estes jovens. O estudo conclui que “a incerteza e os desafios económicos que enfrentam moldaram uma mentalidade prudente e cautelosa do ponto de vista financeiro. Por esta razão, 51% deles dão prioridade à relação qualidade/preço quando tomam as suas decisões de compra, que, além disso, não são impulsivas, uma vez que o estudo mostra que 67% dos indivíduos desta geração poupam ativamente”. Ainda a propósito da sua situação financeira, o relatório refere que a geração Z regista uma taxa de desemprego que é quase o dobro da de outras gerações em quase todos os países da OCDE.
Apesar da menor folga financeira da geração Z, a Oliver Wyman assegura que estes jovens “querem que as suas decisões de consumo tenham um impacto positivo nas alterações climáticas”. Caso a descida de preço não seja uma opção para as empresas, “elas devem procurar outras formas de incentivar as compras sustentáveis. Por exemplo, devem apostar mais na rotulagem e na divulgação de informação sobre a sustentabilidade dos produtos que comercializam”. Neste inquérito, 31% dos consumidores da geração Z afirmam que estariam dispostos a comprar mais bens sustentáveis se as empresas fossem mais claras na rotulagem e na etiquetagem, e 29% referem que comprariam mais se tivessem mais informação sobre o impacto dos produtos que estão a comprar.
Este estudo sugere às companhias que criem um nível de liderança alinhado com o propósito da empresa ou com a sustentabilidade (por exemplo, a figura de um “chief purpose officer”) porque os jovens desta faixa etária mais facilmente compram, investem ou querem trabalhar em empresas que estão mais alinhadas com as suas crenças e os seus princípios.
Um em cada cinco dos inquiridos, neste inquérito, revela que deixaria de comprar a sua marca favorita e passaria a comprar outra marca se descobrisse que a fabricante dessa marca favorita tem uma posição contrária à dele nalguns dos princípios em que acredita. “Se as empresas não falarem sobre os temas que interessam a esta geração arriscam-se a perder a próxima geração de consumidores e de trabalhadores”, conclui o estudo que diz que esta geração Z é particularmente sensível a detetar o greenwashing.
Um estudo da Oliver Wyman traça o perfil de consumo da geração Z (pessoas nascidas entre meados da década de 1990 e o início da década de 2010) e chega à conclusão que 75% estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis e 88% acreditam que as empresas devem ajudar a resolver problemas sociais
“São nativos digitais, utilizam as redes sociais como ferramenta de decisão, exigem produtos que correspondam aos seus valores e preferências sociais e ambientais e estão (muito) preocupados com a sua segurança financeira”. É assim que este estudo ‘Generation Z: Shaping the Future of Consumer Trends’ descreve a Geração Z.
Este estudo, baseado em mais de 10 mil entrevistas nos EUA e no Reino Unido, conclui que 88% dos consumidores da geração Z acreditam que as empresas devem ajudar a resolver problemas sociais e ambientais e 82% acreditam que as empresas devem refletir a diversidade do mundo real nas suas campanhas de publicidade e marketing. Pela mesma razão, 75% dos consumidores nesta faixa etária estão dispostos a pagar mais por produtos e serviços sustentáveis.
Este inquérito pretende ajudar as empresas e as marcas a chegarem a estes consumidores que têm hábitos diferentes dos das gerações anteriores, muito focados obviamente nos canais digitais. A consultora Oliver Wyman conclui que a geração Z é a primeira que cresceu inteiramente na era digital e estima que “estes jovens passam, em média, 10 horas por dia a interagir com conteúdos online e têm uma média de cinco contas em diferentes redes sociais, que utilizam constantemente para descobrir novos produtos, procurar recomendações e interagir com as marcas”. E as marcas que os querem encontrar é aqui que os vão encontrar.
Sobre o tema da sustentabilidade, o estudo aponta um grande paradoxo desta geração: apesar de estar muito comprometida com o tema da sustentabilidade, esta geração tem um estilo de vida que resulta num grande nível de consumo. Por exemplo, “os jovens da geração Z têm uma probabilidade 2,6 vezes maior de comprar roupas numa base semanal quando comparados com os de outras gerações”. Os jovens desta geração “falam verde, votam verde e querem trabalhar em empresas verdes”, mas continuam a ser grandes consumidores de fast fashion. E aqui o preço pode ser um fator determinante: “40% destes jovens da geração Z argumentam que a moda sustentável é demasiado cara, o que transforma a fast fashion numa alternativa apelativa”.
O preço dos bens e dos serviços é uma grande preocupação para estes jovens. O estudo conclui que “a incerteza e os desafios económicos que enfrentam moldaram uma mentalidade prudente e cautelosa do ponto de vista financeiro. Por esta razão, 51% deles dão prioridade à relação qualidade/preço quando tomam as suas decisões de compra, que, além disso, não são impulsivas, uma vez que o estudo mostra que 67% dos indivíduos desta geração poupam ativamente”. Ainda a propósito da sua situação financeira, o relatório refere que a geração Z regista uma taxa de desemprego que é quase o dobro da de outras gerações em quase todos os países da OCDE.
Apesar da menor folga financeira da geração Z, a Oliver Wyman assegura que estes jovens “querem que as suas decisões de consumo tenham um impacto positivo nas alterações climáticas”. Caso a descida de preço não seja uma opção para as empresas, “elas devem procurar outras formas de incentivar as compras sustentáveis. Por exemplo, devem apostar mais na rotulagem e na divulgação de informação sobre a sustentabilidade dos produtos que comercializam”. Neste inquérito, 31% dos consumidores da geração Z afirmam que estariam dispostos a comprar mais bens sustentáveis se as empresas fossem mais claras na rotulagem e na etiquetagem, e 29% referem que comprariam mais se tivessem mais informação sobre o impacto dos produtos que estão a comprar.
Este estudo sugere às companhias que criem um nível de liderança alinhado com o propósito da empresa ou com a sustentabilidade (por exemplo, a figura de um “chief purpose officer”) porque os jovens desta faixa etária mais facilmente compram, investem ou querem trabalhar em empresas que estão mais alinhadas com as suas crenças e os seus princípios.
Um em cada cinco dos inquiridos, neste inquérito, revela que deixaria de comprar a sua marca favorita e passaria a comprar outra marca se descobrisse que a fabricante dessa marca favorita tem uma posição contrária à dele nalguns dos princípios em que acredita. “Se as empresas não falarem sobre os temas que interessam a esta geração arriscam-se a perder a próxima geração de consumidores e de trabalhadores”, conclui o estudo que diz que esta geração Z é particularmente sensível a detetar o greenwashing.
24.7.23
Confiantes, com ambição de crescer, focadas no cliente e na redução da pegada de carbono: assim vão as empresas familiares portuguesas
Margarida Cardoso Jornalista e Jaime Figueiredo Jornalista/Coordenador-Geral de Infografia, in Expresso
Em Portugal as empresas familiares, em média, têm mais mulheres na liderança do que no resto do mundo, revela o retrato traçado na 11ª edição do Global Family Business Survey, da PwC
Nas empresas familiares portuguesas, a confiança no crescimento está a aumentar e é até superior à média global, conclui a consultora PwC na 11ª edição do seu Global Family Business Survey.
No horizonte dos próximos dois anos, 88% das empresas familiares nacionais espera crescer. Isto, depois de 75% ter visto os resultados aumentarem no último exercício e 49% assumir que o salto foi de dois dígitos. São percentagens superiores à média, nota a consultora, que a nível global reporta percentagens de 77%, 71% e 43%, respetivamente.
E no que respeita à ambição, a maioria (78%) quer crescer de forma consistente, enquanto 10% espera avançar de forma agressiva e 12% prefere estabilizar o seu negócio principal.
Quanto à palavra “confiança”, a atenção está especialmente concentrada nos clientes: quase todos os inquiridos (86%) dizem que ter a confiança dos clientes é essencial. Já quando o foco são os trabalhadores, a percentagem desce um pouco, para os 80%, e se o tema é a família, desce ainda mais, para os 57%.
No entanto, sublinha a PwC, “ainda existe uma diferença entre dizer que precisam dessa confiança e realmente confiar nestes intervenientes”. E explica com base nos dados recolhidos no inquérito: entre os inquiridos em Portugal, 94% admite precisar de confiar nos clientes, mas apenas 64% diz confiar realmente neles. Para os trabalhadores, a diferença acentua-se e 94% precisa de confiar, mas os que confiam ficam pelos 56%.
3% TEM LIDERANÇA EXCLUSIVAMENTE MASCULINA
Na caracterização do universo das empresas familiares em Portugal, a PwC avança que 28% têm três ou mais gerações envolvidas no negócio da família e apenas 3% têm uma liderança exclusivamente masculina, sem mulheres no conselho de administração, o que contrasta com o cenário global em que 31% das empresas são lideradas apenas por homens.
O grupo que tem apenas membros familiares no conselho de administração também é de 3% em Portugal, subindo até aos 36% a nível global.
Já o número médio de administradores por empresa é de 5,2 em Portugal, em linha com a média global de 5,3 pessoas.
O TOPO DAS PRIORIDADES
E quais são as prioridades atuais das empresas familiares? 41% das empresas destaca gerar valor a longo prazo para acionistas e investidores. Seguem-se entregar valor aos clientes (33%), atrair/reter os melhores talentos (16%), minimizar/reduzir impacto ambiental negativo (4%) e ter relações éticas e justas com fornecedores (4%).
No horizonte de dois anos, a agenda muda: mais de metade (55%) elege a redução da pegada de carbono como principal prioridade, 49% quer proteger o negócio, 45% aposta em explorar novos mercados ou segmentos de clientes e 41% refere o reforço da lealdade dos clientes, assim como a introdução de novos produtos/serviços e o aumento da confiança dos trabalhadores.
Para a PwC, fica claro que “a noção de como construir confiança nos negócios está a mudar fundamental e rapidamente. Para todos – incluindo clientes e colaboradores - questões ambientais, sociais e de governação e diversidade, equidade e inclusão tornaram-se testes decisivos de confiança”.
As mudanças demográficas também ditam mudanças na perceção de confiança e, diz a consultora, com base na análise destes dados, como “a maioria dos clientes e colaboradores de hoje provêm da geração millenial e da geração Z, cujos valores são diferentes dos babyboomers (…), a equação para vencer – e manter – a confiança mudou e as empresas familiares precisam de acompanhar esta tendência”.
“A confiança continua a ser uma das principais vantagens competitivas das empresas familiares”, que “necessitam de adotar novas fórmulas de sucesso para construir confiança e proteger o seu legado”, sublinha Rosa Areias, líder da área fiscal e de empreendedorismo da PwC.
84% TEM UM PROPÓSITO CLARO
A verdade é que, de acordo com este inquérito, que abrangeu 2043 empresas de 82 países, as questões relativas ao ambiente, componente social, governação, diversidade e inclusão ainda não são parte da agenda das empresas familiares: apenas 14% admite estar “muito focada” nos temas da sustentabilidade e só 34% têm uma pessoa ou equipa responsável por estes temas.
Mesmo assim, 86% das empresas inquiridas dizem existir uma oportunidade para liderar nas práticas empresariais sustentáveis, quando a percentagem a nível global fica nos 64%.
“As empresas familiares portuguesas são propensas a acreditar que se encontram mais desenvolvidas num conjunto de áreas, incluindo a capacidade de adaptação”, nota a PwC, atenta ao facto de 63% dos inquiridos em Portugal assumir ter capacidade para uma rápida tomada de decisões para adaptação às mudanças, contra uma percentagem próxima dos 55% a nível global.
E quantos afirmam ter um propósito claro para a sua empresa? 84% em Portugal face a 79% a nível global. No entanto, nota a PwC, “muitos não tomam as medidas necessárias para garantir a eficácia desse propósito”, o que significa, em termos percentuais, que apenas 65% garante que os funcionários entendem o significado desse propósito e 21% assume que o alinhamento com o propósito e os valores é parte da avaliação da gestão.
Nas empresas familiares portuguesas, a confiança no crescimento está a aumentar e é até superior à média global, conclui a consultora PwC na 11ª edição do seu Global Family Business Survey.
No horizonte dos próximos dois anos, 88% das empresas familiares nacionais espera crescer. Isto, depois de 75% ter visto os resultados aumentarem no último exercício e 49% assumir que o salto foi de dois dígitos. São percentagens superiores à média, nota a consultora, que a nível global reporta percentagens de 77%, 71% e 43%, respetivamente.
E no que respeita à ambição, a maioria (78%) quer crescer de forma consistente, enquanto 10% espera avançar de forma agressiva e 12% prefere estabilizar o seu negócio principal.
Quanto à palavra “confiança”, a atenção está especialmente concentrada nos clientes: quase todos os inquiridos (86%) dizem que ter a confiança dos clientes é essencial. Já quando o foco são os trabalhadores, a percentagem desce um pouco, para os 80%, e se o tema é a família, desce ainda mais, para os 57%.
No entanto, sublinha a PwC, “ainda existe uma diferença entre dizer que precisam dessa confiança e realmente confiar nestes intervenientes”. E explica com base nos dados recolhidos no inquérito: entre os inquiridos em Portugal, 94% admite precisar de confiar nos clientes, mas apenas 64% diz confiar realmente neles. Para os trabalhadores, a diferença acentua-se e 94% precisa de confiar, mas os que confiam ficam pelos 56%.
3% TEM LIDERANÇA EXCLUSIVAMENTE MASCULINA
Na caracterização do universo das empresas familiares em Portugal, a PwC avança que 28% têm três ou mais gerações envolvidas no negócio da família e apenas 3% têm uma liderança exclusivamente masculina, sem mulheres no conselho de administração, o que contrasta com o cenário global em que 31% das empresas são lideradas apenas por homens.
O grupo que tem apenas membros familiares no conselho de administração também é de 3% em Portugal, subindo até aos 36% a nível global.
Já o número médio de administradores por empresa é de 5,2 em Portugal, em linha com a média global de 5,3 pessoas.
O TOPO DAS PRIORIDADES
E quais são as prioridades atuais das empresas familiares? 41% das empresas destaca gerar valor a longo prazo para acionistas e investidores. Seguem-se entregar valor aos clientes (33%), atrair/reter os melhores talentos (16%), minimizar/reduzir impacto ambiental negativo (4%) e ter relações éticas e justas com fornecedores (4%).
No horizonte de dois anos, a agenda muda: mais de metade (55%) elege a redução da pegada de carbono como principal prioridade, 49% quer proteger o negócio, 45% aposta em explorar novos mercados ou segmentos de clientes e 41% refere o reforço da lealdade dos clientes, assim como a introdução de novos produtos/serviços e o aumento da confiança dos trabalhadores.
Para a PwC, fica claro que “a noção de como construir confiança nos negócios está a mudar fundamental e rapidamente. Para todos – incluindo clientes e colaboradores - questões ambientais, sociais e de governação e diversidade, equidade e inclusão tornaram-se testes decisivos de confiança”.
As mudanças demográficas também ditam mudanças na perceção de confiança e, diz a consultora, com base na análise destes dados, como “a maioria dos clientes e colaboradores de hoje provêm da geração millenial e da geração Z, cujos valores são diferentes dos babyboomers (…), a equação para vencer – e manter – a confiança mudou e as empresas familiares precisam de acompanhar esta tendência”.
“A confiança continua a ser uma das principais vantagens competitivas das empresas familiares”, que “necessitam de adotar novas fórmulas de sucesso para construir confiança e proteger o seu legado”, sublinha Rosa Areias, líder da área fiscal e de empreendedorismo da PwC.
84% TEM UM PROPÓSITO CLARO
A verdade é que, de acordo com este inquérito, que abrangeu 2043 empresas de 82 países, as questões relativas ao ambiente, componente social, governação, diversidade e inclusão ainda não são parte da agenda das empresas familiares: apenas 14% admite estar “muito focada” nos temas da sustentabilidade e só 34% têm uma pessoa ou equipa responsável por estes temas.
Mesmo assim, 86% das empresas inquiridas dizem existir uma oportunidade para liderar nas práticas empresariais sustentáveis, quando a percentagem a nível global fica nos 64%.
“As empresas familiares portuguesas são propensas a acreditar que se encontram mais desenvolvidas num conjunto de áreas, incluindo a capacidade de adaptação”, nota a PwC, atenta ao facto de 63% dos inquiridos em Portugal assumir ter capacidade para uma rápida tomada de decisões para adaptação às mudanças, contra uma percentagem próxima dos 55% a nível global.
E quantos afirmam ter um propósito claro para a sua empresa? 84% em Portugal face a 79% a nível global. No entanto, nota a PwC, “muitos não tomam as medidas necessárias para garantir a eficácia desse propósito”, o que significa, em termos percentuais, que apenas 65% garante que os funcionários entendem o significado desse propósito e 21% assume que o alinhamento com o propósito e os valores é parte da avaliação da gestão.
16.5.23
ONU quer “fechar a torneira” da poluição por plástico em 80% até 2040. Será possível?
Clara Barata, in Público
Reutilizar, reciclar, reorientar e diversificar. Estas são as mudanças necessárias para criar uma economia verdadeiramente circular, diz o Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
Produzem-se 430 milhões de toneladas de plásticos todos os anos e dois terços são produtos com uma vida útil curta, que rapidamente se transformam em lixo, uma grande parte dele não-tratado, que se deposita na natureza e até nos nossos corpos, com consequências para a nossa saúde e a do ambiente. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) apresentado nesta terça-feira oferece uma “bússola” para conseguirmos reduzir em 80% até 2040 a poluição por plástico.
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Reutilizar, reciclar, reorientar e diversificar. Estas são as mudanças necessárias para criar uma economia verdadeiramente circular, diz o Programa das Nações Unidas para o Ambiente.
Produzem-se 430 milhões de toneladas de plásticos todos os anos e dois terços são produtos com uma vida útil curta, que rapidamente se transformam em lixo, uma grande parte dele não-tratado, que se deposita na natureza e até nos nossos corpos, com consequências para a nossa saúde e a do ambiente. Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) apresentado nesta terça-feira oferece uma “bússola” para conseguirmos reduzir em 80% até 2040 a poluição por plástico.
10.5.23
Há quem contorne a seca no Algarve com uma agricultura que regenera
Idálio Revez, in Público online
“Temos de permitir que a natureza faça o seu caminho, e abandonar as plantas mais exigentes em água.” Há agricultores no Algarve que optaram por respeitar os escassos recursos existentes. Com sucesso.
Na Quinta do Freixo, onde não há falta de água, não se plantaram pomares de abacateiros, como seria de esperar. “Essa seria a opção fácil”, diz o sócio-gerente da empresa agrícola, Luís Silva, defensor de uma visão holística para o futuro do mundo rural, em que todas as suas componentes – vegetais e animais – desempenham um papel fundamental. Assim sendo, como é que as ovelhas e outros animais podem ajudar a manter o ecossistema e a terra fértil? A resposta a esta questão serviu de tema para um congresso internacional, realizado no final de Abril e que contou com a presença de 110 pessoas oriundas de 30 países, desde a Nova Zelândia aos EUA, passando pela vizinha Espanha.
A Quinta do Freixo, uma propriedade com 700 hectares situada no interior do concelho de Loulé, foi o local escolhido para juntar agricultores e investigadores preocupados com futuro do planeta. “Estamos numa zona que não é o Alentejo da moda, nem o Algarve do turismo clássico”, diz o sócio-gerente de uma exploração que não segue as linhas clássicas da agricultura. Luís Silva mostra o resultado, no território, do trabalho de um rebanho com mil ovelhas e 600 borregos. “Comem as ervas e deixam o estrume.” O solo agradece o fertilizante natural nele depositado e a regeneração das sementes, sublinha, faz-se de forma espontânea. “A matéria orgânica comporta-se como uma esponja na absorção da humidade” e, a partir daí, tendo a água garantida, todos os seres – animais e vegetais – entram na cadeia reprodutiva, assegurando que a vida pulsa neste espaço.
O que é a agricultura regenerativa?
As alterações climáticas evidenciam os velhos problemas dos países da bacia do Mediterrâneo: chuvas cada vez menos frequentes e mais intensas. “O solo é o maior reservatório, mas para funcionar com esse objectivo precisa de ter práticas agrícolas compatíveis com a preservação dos ecossistemas”, diz o director Regional de Agricultura do Algarve, Pedro Monteiro, destacando a importância da agricultura regenerativa. O conceito, reconhece, “não sendo novo, está a ter uma nova abordagem pela necessidade de encontrar novas soluções para o problema da seca”. No país, adianta, são pouco mais de meia dúzia de projectos a serem ensaiados, dois dos quais estão no Algarve
Os solos em Portugal, diz Pedro Monteiro, também professor da Universidade do Algarve, são pobres e, como tal, têm pouca capacidade de retenção da água. O que a agricultura regenerativa preconiza é aumentar a matéria orgânica na terra para esta criar as condições para uma maior absorção da chuva. A pastorícia, tal como se fazia nos métodos tradicionais da agricultura, está no centro do processo, onde nada se perde e tudo se transforma. Os animais ficam durante um período de tempo numa parcela e ao deixarem na terra os dejectos proporcionam o fermento para que todo o ecossistema renasça. Depois, o gado roda para outro sítio e assim se vai formando um mosaico de biodiversidade, com a natureza a ganhar novas formas e cores.
O tipo de culturas utilizado na agricultura regenerativa é outra das formas de encarar os desafios que se colocam a um território, cada vez mais dependente dos escassos recursos hídricos. A figueira e a alfarrobeira, árvores pouco exigentes em água, readquiriram, neste contexto, uma nova importância e não apenas económica. Os pomares intensivos de citrinos e abacateiros estão nas antípodas do novo conceito que está a ser trilhado: A terra só dá ao homem se ele a souber cuidar e alimentar. Até agora, o recurso aos adubos químicos tem sido prática corrente, para garantir a política da produção máxima a custos menores. Mas até quando?
Os visitantes são convidados a subir para os reboques dos tractores. Os assentos, improvisados, são fardos de palha, amarrados por cordas. “O transporte está homologado [condições de segurança]?”, graceja o representante da Direcção Regional de Agricultura, João Santana. O veículo segue em velocidade lenta. Junto a uma mina de água, Gustavo Alés, espanhol, chama a atenção para a importância dos animais selvagens – raposas e javalis – para manter o equilíbrio das espécies. “Javalis?”, questiona a professora da Universidade do Algarve, Emília Madeira, considerando que os porcos selvagens “são uma praga” devido ao descontrolo da espécie que se verifica por várias regiões do país. “Tenho um vídeo de uma raposa que entrou pelo restaurante adentro”, revela Luís Silva, lembrando que os “animais andam a vaguear” pela quinta, em harmonia com os outros seres. Ao fim e ao cabo, explica, “a gestão holística é perceber como funciona a relação das plantas com os animais e as milhares de ligações que se estabelecem. Não podemos estar contra a natureza, que é o que temos feito”, sublinha.
O tractor sobe a encosta e os adeptos da visão “holística” aplicada ao mundo rural são convidados a observar o desempenho das ovelhas, enquanto estas se alimentam. Os animais, diz Gustavo Alés, “são indissociáveis da actividade do agricultor como sucede há milhares de anos”. O que há de novo, prossegue o consultor do projecto Quinta do Freixo, é o maneio dos animais.
O rebanho (1600 cabeças) fica confinado a 1,5 hectares durante uma semana, ao invés do que se passava no passado, em que se dispersava por dezenas hectares. Na semana seguinte, passa para outra parcela. De princípio, explica, os animais comem as ervas mais apetitosas, como se estivessem num restaurante self-service. “Uma refeição gourmet”, diz o agrónomo Luís Silva. Porém, o método ensaiado foi concebido para levar os animais a diversificar a alimentação, sem direito a escolha de ementa. Numa perspectiva de conservação do ecossistema, diz, não é aconselhável lavrar a terra e mandar abaixo as ervas. Por outro lado, a exposição da terra nua ao sol, enfatiza Luís Silva, “descontrola por completo a microbiologia”. Durante o Verão, exemplifica, a superfície da terra nesta zona algarvia chega a atingir os 50 a 60 graus. Se houver cobertura vegetal, “a temperatura reduz 15 a 20 graus”. As conclusões surgem a partir do resultado das amostras recolhidas em 20 pontos, onde é feita a análise do solo e avaliada a diversidade faunística.
O facto de a quinta se localizar junto ao sítio de Paisagem Protegida da Rocha da Pena e perto da Fonte Grande (Alte) confere-lhe uma situação privilegiada em recursos hídricos. No entanto, a área de regadio é feita com parcimónia. Do conjunto dos 700 hectares da propriedade, 300 são utilizados para pastagens e produção hortícola. Nas restantes parcelas, extrai-se o figo, alfarroba e cortiça. A exploração completa-se com sector da transformação: produção de compotas, queijo de figo e aguardente e ainda há uma unidade de alojamento de agro-turismo com 16 quartos. Do conjunto dos clientes regulares, diz o proprietário, destacam-se os amantes do birdwatching, percursos pedestres e cicloturistas.
O método da gestão holística, que se ensaia nesta quinta há três anos, leva mais de 50 anos de prática noutros países; porém, durante décadas os agricultores estiveram divorciados da academia. Com as alterações climáticas e a terra a dar sinais de cansaço, a “aproximação entre cientistas e agricultores tornou-se imprescindível”. Essa foi a conclusão do congresso, que contou com a presença de Allan Savory, de 88 anos de idade, presidente do Instituto Savory, com sede no Colorado (EUA), bem como alunos e investigadores da Universidade do Algarve.
A agricultura regenerativa, do ponto de vista técnico, disse Allan, “tem conhecidos benefícios ambientais – falta é convencer os políticos”. A Quinta do Freixo, entretanto, anunciou que, graças a este método, recuperou seis hectares de zona de mato (esteva) para pastagem e vai prosseguir com o projecto. No próximo ano, pretende alargar a experiência a mais duas dezenas de hectares, introduzindo a criação de porcos, galinhas e vacas. “Temos de permitir que a natureza faça o seu caminho, e ao mesmo tempo abandonar as plantas mais exigentes em água”, rematou Luís Silva. E deixou uma nota de satisfação: “O nosso carneiro Zambujo voltou a receber (pela segunda vez) a distinção do melhor exemplar da raça campaniça na Ovibeja.”
Sem recorrer ao regadio, Rosa produz os primeiros figos maduros da Europa
Os pássaros namoram os figos que vão crescendo. A fruta, ainda verde, daqui por um mês já estará madura é à venda nos mercados de Paris. “Tudo o que produzo é para exportação, somos os primeiros produtores a chegar à Europa com figos biológicos.” A jovem agricultora Rosa Dias, da Quinta da Fornalha (Castro Marim), decidiu trilhar um percurso contrário àquele que é seguido pelos vizinhos espanhóis do outro lado do Guadiana, onde não há água que chegue para tanto regadio. “Aprendi a fazer aquilo que os meus avós faziam: cultivar a terra respeitando a natureza.” A quinta, de 30 hectares, é outro dos exemplos, a juntar à Quinta do Freixo, onde se pratica a agricultura regenerativa. “Só não tenho é o rebanho das ovelhas”, comenta.
Rosa Dias, licenciada em Psicologia Social, não se deixou seduzir pela cultura dos campos de abacateiros e citrinos como se vê em redor da sua propriedade, exigentes em rega. Por isso optou pelas culturas tradicionais, de sequeiro. “A água é escassa, estamos no clima mediterrânico, ouvimos e lemos, mas ignora-se o que a história nos ensina”, enfatiza. Nesta altura, com mais um ano consecutivo de seca severa, diz, “devíamos estar a conservar a pouca humidade que existe no solo, em vez de aumentar as áreas de regadio”. Ali, à beirinha do rio, chegam as brisas do Guadiana, bênção divina nos dias de calor tórrido. No entanto, a suavidade do vento não chega para matar a sede da terra. Por vezes, sente-se um sopro de ar quente que vem do interior da serra do Nordeste algarvio, como se fosse um prenúncio de incêndio. A diferença de temperaturas entre o dia e a noite, dizem os agricultores, calibra os açúcares da fruta, quando o stress hídrico não deita tudo a perder.
“O figo-lampo, preto, nos finais de Maio já está a sair.” As primeiras colheitas, recorda, podem atingir os 8 euros/quilo nos mercados de França e Alemanha. No pico da produção, Rosa Dias exporta, em média, uma tonelada por semana. “Se tivesse ficado em Lisboa, provavelmente, seria mais uma a fazer estudos de mercado”, diz, a olhar para o verde-escuro das folhas das figueiras. “Os figos são a minha cara”, diz a sorrir.
O regresso à terra onde nasceu, recorda, fê-la reviver os sonhos de criança. “Sou um bocadinho romântica”, admite. Sublinha que aprendeu também a ser gestora: “A quinta estava na falência, a exploração do meu pai não correu bem.” Livrou-se do garrote dos bancos, em 2016, ao fim de seis anos de actividade. A partir daí lançou-se num novo desafio. Em complemento à exploração agrícola, criou um alojamento local para 11 famílias. “Estamos a construir [literalmente] um projecto pedra a pedra.”
As folhas das árvores vão caindo, precipitadas por uma Primavera anormalmente quente. “Já o meu avô dizia: o solo precisa de ser alimentado e a água é vital.” A neta aprendeu a lição.
“Natureza em profundo sofrimento”
Quando chega o mês de Agosto, o Algarve turístico não se dá conta do que se passa na maior parte do território. A pouco mais de meia dúzia de quilómetros de distância das grandes cadeias de hotéis, mais para o interior, a água não corre nas torneiras como se fosse um bem infinito: “A natureza está em profundo sofrimento.” O stress hídrico, lembra Rosa Dias, faz parte da história dos povos do Sul, mas a aceleração do problema, obrigando todo o ecossistema a reagir causa apreensão. “Costumo dizer que, no Verão, vivemos a hibernação ao contrário: as cobras, sapos e outros bichos enfiam-se na terra para se protegerem do calor.”
Na quinta, mostra o pequeno bosque em redor da casa, como se fosse uma bolsa de oxigénio e frescura. As árvores, plantadas de forma a delinear percursos pedestres, têm apenas uma função: criar sombras e amenizar o clima.
A época dos fogos avizinha-se, como se fosse uma fatalidade que se repete ano após ano. O investimento nos meios de combate a incêndios, observa, não resolve todos os problemas. “Não se discutem as más práticas agrícolas, nem formas de melhorar a gestão do território.” As verbas do fundo ambiental, sugere, deveriam ser aplicadas em equipamentos públicos para triturar os sobrantes das podas, fornecendo assim mais matéria para fertilizar o solo. Na falta desse tipo de intervenção, critica, os agricultores, “fazem queimas ou oferecem [a madeira] aos espanhóis que a transportam para Huelva, transformando-a em pellets”.
A Quinta da Fornalha está integrada no perímetro de rega do sotavento algarvio, com água fornecida pelo sistema de barragens Beliche-Odeleite. A agricultura faz-se nas várzeas, seguindo a tradição da localidade. No resto da propriedade, além das culturas das leguminosas (ervilhas e favas), predomina o pomar de sequeiro (figueiras, oliveiras, alfarrobeiras) e ainda uma pequena parcela de citrinos. A quinta possui uma barragem com cerca de um hectare, que não está a ser utilizada. A função é servir de “reserva” e um lugar de repouso de aves e outros animais que ali encontram o seu habitat, como se fossem turistas a gozar férias.
“Temos de permitir que a natureza faça o seu caminho, e abandonar as plantas mais exigentes em água.” Há agricultores no Algarve que optaram por respeitar os escassos recursos existentes. Com sucesso.
Na Quinta do Freixo, onde não há falta de água, não se plantaram pomares de abacateiros, como seria de esperar. “Essa seria a opção fácil”, diz o sócio-gerente da empresa agrícola, Luís Silva, defensor de uma visão holística para o futuro do mundo rural, em que todas as suas componentes – vegetais e animais – desempenham um papel fundamental. Assim sendo, como é que as ovelhas e outros animais podem ajudar a manter o ecossistema e a terra fértil? A resposta a esta questão serviu de tema para um congresso internacional, realizado no final de Abril e que contou com a presença de 110 pessoas oriundas de 30 países, desde a Nova Zelândia aos EUA, passando pela vizinha Espanha.
A Quinta do Freixo, uma propriedade com 700 hectares situada no interior do concelho de Loulé, foi o local escolhido para juntar agricultores e investigadores preocupados com futuro do planeta. “Estamos numa zona que não é o Alentejo da moda, nem o Algarve do turismo clássico”, diz o sócio-gerente de uma exploração que não segue as linhas clássicas da agricultura. Luís Silva mostra o resultado, no território, do trabalho de um rebanho com mil ovelhas e 600 borregos. “Comem as ervas e deixam o estrume.” O solo agradece o fertilizante natural nele depositado e a regeneração das sementes, sublinha, faz-se de forma espontânea. “A matéria orgânica comporta-se como uma esponja na absorção da humidade” e, a partir daí, tendo a água garantida, todos os seres – animais e vegetais – entram na cadeia reprodutiva, assegurando que a vida pulsa neste espaço.
O que é a agricultura regenerativa?
As alterações climáticas evidenciam os velhos problemas dos países da bacia do Mediterrâneo: chuvas cada vez menos frequentes e mais intensas. “O solo é o maior reservatório, mas para funcionar com esse objectivo precisa de ter práticas agrícolas compatíveis com a preservação dos ecossistemas”, diz o director Regional de Agricultura do Algarve, Pedro Monteiro, destacando a importância da agricultura regenerativa. O conceito, reconhece, “não sendo novo, está a ter uma nova abordagem pela necessidade de encontrar novas soluções para o problema da seca”. No país, adianta, são pouco mais de meia dúzia de projectos a serem ensaiados, dois dos quais estão no Algarve
Os solos em Portugal, diz Pedro Monteiro, também professor da Universidade do Algarve, são pobres e, como tal, têm pouca capacidade de retenção da água. O que a agricultura regenerativa preconiza é aumentar a matéria orgânica na terra para esta criar as condições para uma maior absorção da chuva. A pastorícia, tal como se fazia nos métodos tradicionais da agricultura, está no centro do processo, onde nada se perde e tudo se transforma. Os animais ficam durante um período de tempo numa parcela e ao deixarem na terra os dejectos proporcionam o fermento para que todo o ecossistema renasça. Depois, o gado roda para outro sítio e assim se vai formando um mosaico de biodiversidade, com a natureza a ganhar novas formas e cores.
O tipo de culturas utilizado na agricultura regenerativa é outra das formas de encarar os desafios que se colocam a um território, cada vez mais dependente dos escassos recursos hídricos. A figueira e a alfarrobeira, árvores pouco exigentes em água, readquiriram, neste contexto, uma nova importância e não apenas económica. Os pomares intensivos de citrinos e abacateiros estão nas antípodas do novo conceito que está a ser trilhado: A terra só dá ao homem se ele a souber cuidar e alimentar. Até agora, o recurso aos adubos químicos tem sido prática corrente, para garantir a política da produção máxima a custos menores. Mas até quando?
Os visitantes são convidados a subir para os reboques dos tractores. Os assentos, improvisados, são fardos de palha, amarrados por cordas. “O transporte está homologado [condições de segurança]?”, graceja o representante da Direcção Regional de Agricultura, João Santana. O veículo segue em velocidade lenta. Junto a uma mina de água, Gustavo Alés, espanhol, chama a atenção para a importância dos animais selvagens – raposas e javalis – para manter o equilíbrio das espécies. “Javalis?”, questiona a professora da Universidade do Algarve, Emília Madeira, considerando que os porcos selvagens “são uma praga” devido ao descontrolo da espécie que se verifica por várias regiões do país. “Tenho um vídeo de uma raposa que entrou pelo restaurante adentro”, revela Luís Silva, lembrando que os “animais andam a vaguear” pela quinta, em harmonia com os outros seres. Ao fim e ao cabo, explica, “a gestão holística é perceber como funciona a relação das plantas com os animais e as milhares de ligações que se estabelecem. Não podemos estar contra a natureza, que é o que temos feito”, sublinha.
O tractor sobe a encosta e os adeptos da visão “holística” aplicada ao mundo rural são convidados a observar o desempenho das ovelhas, enquanto estas se alimentam. Os animais, diz Gustavo Alés, “são indissociáveis da actividade do agricultor como sucede há milhares de anos”. O que há de novo, prossegue o consultor do projecto Quinta do Freixo, é o maneio dos animais.
O rebanho (1600 cabeças) fica confinado a 1,5 hectares durante uma semana, ao invés do que se passava no passado, em que se dispersava por dezenas hectares. Na semana seguinte, passa para outra parcela. De princípio, explica, os animais comem as ervas mais apetitosas, como se estivessem num restaurante self-service. “Uma refeição gourmet”, diz o agrónomo Luís Silva. Porém, o método ensaiado foi concebido para levar os animais a diversificar a alimentação, sem direito a escolha de ementa. Numa perspectiva de conservação do ecossistema, diz, não é aconselhável lavrar a terra e mandar abaixo as ervas. Por outro lado, a exposição da terra nua ao sol, enfatiza Luís Silva, “descontrola por completo a microbiologia”. Durante o Verão, exemplifica, a superfície da terra nesta zona algarvia chega a atingir os 50 a 60 graus. Se houver cobertura vegetal, “a temperatura reduz 15 a 20 graus”. As conclusões surgem a partir do resultado das amostras recolhidas em 20 pontos, onde é feita a análise do solo e avaliada a diversidade faunística.
O facto de a quinta se localizar junto ao sítio de Paisagem Protegida da Rocha da Pena e perto da Fonte Grande (Alte) confere-lhe uma situação privilegiada em recursos hídricos. No entanto, a área de regadio é feita com parcimónia. Do conjunto dos 700 hectares da propriedade, 300 são utilizados para pastagens e produção hortícola. Nas restantes parcelas, extrai-se o figo, alfarroba e cortiça. A exploração completa-se com sector da transformação: produção de compotas, queijo de figo e aguardente e ainda há uma unidade de alojamento de agro-turismo com 16 quartos. Do conjunto dos clientes regulares, diz o proprietário, destacam-se os amantes do birdwatching, percursos pedestres e cicloturistas.
O método da gestão holística, que se ensaia nesta quinta há três anos, leva mais de 50 anos de prática noutros países; porém, durante décadas os agricultores estiveram divorciados da academia. Com as alterações climáticas e a terra a dar sinais de cansaço, a “aproximação entre cientistas e agricultores tornou-se imprescindível”. Essa foi a conclusão do congresso, que contou com a presença de Allan Savory, de 88 anos de idade, presidente do Instituto Savory, com sede no Colorado (EUA), bem como alunos e investigadores da Universidade do Algarve.
A agricultura regenerativa, do ponto de vista técnico, disse Allan, “tem conhecidos benefícios ambientais – falta é convencer os políticos”. A Quinta do Freixo, entretanto, anunciou que, graças a este método, recuperou seis hectares de zona de mato (esteva) para pastagem e vai prosseguir com o projecto. No próximo ano, pretende alargar a experiência a mais duas dezenas de hectares, introduzindo a criação de porcos, galinhas e vacas. “Temos de permitir que a natureza faça o seu caminho, e ao mesmo tempo abandonar as plantas mais exigentes em água”, rematou Luís Silva. E deixou uma nota de satisfação: “O nosso carneiro Zambujo voltou a receber (pela segunda vez) a distinção do melhor exemplar da raça campaniça na Ovibeja.”
Sem recorrer ao regadio, Rosa produz os primeiros figos maduros da Europa
Os pássaros namoram os figos que vão crescendo. A fruta, ainda verde, daqui por um mês já estará madura é à venda nos mercados de Paris. “Tudo o que produzo é para exportação, somos os primeiros produtores a chegar à Europa com figos biológicos.” A jovem agricultora Rosa Dias, da Quinta da Fornalha (Castro Marim), decidiu trilhar um percurso contrário àquele que é seguido pelos vizinhos espanhóis do outro lado do Guadiana, onde não há água que chegue para tanto regadio. “Aprendi a fazer aquilo que os meus avós faziam: cultivar a terra respeitando a natureza.” A quinta, de 30 hectares, é outro dos exemplos, a juntar à Quinta do Freixo, onde se pratica a agricultura regenerativa. “Só não tenho é o rebanho das ovelhas”, comenta.
Rosa Dias, licenciada em Psicologia Social, não se deixou seduzir pela cultura dos campos de abacateiros e citrinos como se vê em redor da sua propriedade, exigentes em rega. Por isso optou pelas culturas tradicionais, de sequeiro. “A água é escassa, estamos no clima mediterrânico, ouvimos e lemos, mas ignora-se o que a história nos ensina”, enfatiza. Nesta altura, com mais um ano consecutivo de seca severa, diz, “devíamos estar a conservar a pouca humidade que existe no solo, em vez de aumentar as áreas de regadio”. Ali, à beirinha do rio, chegam as brisas do Guadiana, bênção divina nos dias de calor tórrido. No entanto, a suavidade do vento não chega para matar a sede da terra. Por vezes, sente-se um sopro de ar quente que vem do interior da serra do Nordeste algarvio, como se fosse um prenúncio de incêndio. A diferença de temperaturas entre o dia e a noite, dizem os agricultores, calibra os açúcares da fruta, quando o stress hídrico não deita tudo a perder.
“O figo-lampo, preto, nos finais de Maio já está a sair.” As primeiras colheitas, recorda, podem atingir os 8 euros/quilo nos mercados de França e Alemanha. No pico da produção, Rosa Dias exporta, em média, uma tonelada por semana. “Se tivesse ficado em Lisboa, provavelmente, seria mais uma a fazer estudos de mercado”, diz, a olhar para o verde-escuro das folhas das figueiras. “Os figos são a minha cara”, diz a sorrir.
O regresso à terra onde nasceu, recorda, fê-la reviver os sonhos de criança. “Sou um bocadinho romântica”, admite. Sublinha que aprendeu também a ser gestora: “A quinta estava na falência, a exploração do meu pai não correu bem.” Livrou-se do garrote dos bancos, em 2016, ao fim de seis anos de actividade. A partir daí lançou-se num novo desafio. Em complemento à exploração agrícola, criou um alojamento local para 11 famílias. “Estamos a construir [literalmente] um projecto pedra a pedra.”
As folhas das árvores vão caindo, precipitadas por uma Primavera anormalmente quente. “Já o meu avô dizia: o solo precisa de ser alimentado e a água é vital.” A neta aprendeu a lição.
“Natureza em profundo sofrimento”
Quando chega o mês de Agosto, o Algarve turístico não se dá conta do que se passa na maior parte do território. A pouco mais de meia dúzia de quilómetros de distância das grandes cadeias de hotéis, mais para o interior, a água não corre nas torneiras como se fosse um bem infinito: “A natureza está em profundo sofrimento.” O stress hídrico, lembra Rosa Dias, faz parte da história dos povos do Sul, mas a aceleração do problema, obrigando todo o ecossistema a reagir causa apreensão. “Costumo dizer que, no Verão, vivemos a hibernação ao contrário: as cobras, sapos e outros bichos enfiam-se na terra para se protegerem do calor.”
Na quinta, mostra o pequeno bosque em redor da casa, como se fosse uma bolsa de oxigénio e frescura. As árvores, plantadas de forma a delinear percursos pedestres, têm apenas uma função: criar sombras e amenizar o clima.
A época dos fogos avizinha-se, como se fosse uma fatalidade que se repete ano após ano. O investimento nos meios de combate a incêndios, observa, não resolve todos os problemas. “Não se discutem as más práticas agrícolas, nem formas de melhorar a gestão do território.” As verbas do fundo ambiental, sugere, deveriam ser aplicadas em equipamentos públicos para triturar os sobrantes das podas, fornecendo assim mais matéria para fertilizar o solo. Na falta desse tipo de intervenção, critica, os agricultores, “fazem queimas ou oferecem [a madeira] aos espanhóis que a transportam para Huelva, transformando-a em pellets”.
A Quinta da Fornalha está integrada no perímetro de rega do sotavento algarvio, com água fornecida pelo sistema de barragens Beliche-Odeleite. A agricultura faz-se nas várzeas, seguindo a tradição da localidade. No resto da propriedade, além das culturas das leguminosas (ervilhas e favas), predomina o pomar de sequeiro (figueiras, oliveiras, alfarrobeiras) e ainda uma pequena parcela de citrinos. A quinta possui uma barragem com cerca de um hectare, que não está a ser utilizada. A função é servir de “reserva” e um lugar de repouso de aves e outros animais que ali encontram o seu habitat, como se fossem turistas a gozar férias.
8.5.23
Upcycling: renovar o guarda-roupa é mais fácil (e barato) do que parece
Paula Cordeiro, opinião, in Público
A reinvenção ou upcycling é também uma forma de slow fashion, uma forma de viver a moda que dá prioridade à sustentabilidade e ética.
Na maior parte das vezes em que ouvimos falar de upcycling associado à moda, ou seja, reinventar peças de roupa, o contexto é alternativo, associado a uma, ou várias, subculturas da moda e do estilo que são também representação de movimentos sociais. Simplificando, a moda alternativa representa uma multiplicidade de estilos e foge ao estilo comercial das maiores marcas e cadeias de lojas de moda. Tem sempre uma componente artística ou artesanal, é independente ou de artesãos e desafia as concepções gerais associadas à moda ou ao estilo. Por isso o upcycling está-lhe tantas vezes associado.
E se pegarmos naquilo que é comercial e o transformarmos? É também upcycling?
Nos últimos anos a indústria da moda tem estado debaixo de fogo, e ainda bem, por causa do seu impacto ambiental. A fast fashion, com as suas práticas de produção rápida e barata, definindo e redefinindo tendências a cada semana criou uma cultura de desperdício na qual muitas peças de roupa são usadas uma vez. Por vezes nem deixam de ter a etiqueta porque foram compradas e nunca chegaram a ser usadas. A tendência das tendências é esta: uma abordagem mais sustentável à moda e à forma como vestimos a moda poupando a todos os níveis, incluindo o ambiente. É aqui que entra a ideia de upcycling ou de reinventar, reinventando o que já temos.
Upcycling quer dizer o quê?
Nos últimos anos, a sustentabilidade tornou-se uma palavra na moda e que a indústria da moda tem usado a seu favor. Se por um lado há cada vez mais consumidores que procuram alternativas à fast fashion, por outro a fast fashion tem usado e abusado da palavra, criando conceitos que de sustentável, provavelmente nem o nome. Por isso, abordagens alternativas têm tanta importância. Upcycling é também uma das tendências, um processo de transformação do velho em novo.
Upcycling corresponde a um processo e por isso, a palavra não se traduz facilmente. Corresponde à utilização de materiais que poderiam ser descartados, transformando-os em algo que voltamos a usar. Aplica-se a tudo, desde a transformação do lixo em novas peças que usamos (a nova marca Coachtopia é disso um exemplo), à reinvenção de peças de roupa. Difere da reciclagem porque não degradamos os materiais, usamo-los tal como os encontramos, dando-lhes uma nova vida. É uma opção sustentável, sobretudo para diminuir o impacto da fast fashion. Como?
Se reinventarmos as nossas peças de roupa, reduzimos drasticamente o número de peças que acabam nos aterros. Porque sim, quando doamos, quando entregamos nos caixotes que estão na esquina da nossa rua, não é garantido que o seu destino final seja a doação. Algumas, muitas peças, acabam por ser descartadas. Pensem sempre: se vocês não querem, por que razão hão-de outros querer? As peças de roupa, sobretudo as que são feitas de fibras têxteis artificiais e sintéticas, demoram centenas de anos para se decomporem por serem resultado da produção da indústria química, recorrendo a recursos não renováveis, como o petróleo. A sua degradação também produz gases com efeito de estufa. O que quer dizer que, não só a produção é prejudicial, como o seu descarte impacta negativamente o ambiente, num processo de degradação que pode levar até 400 anos para se completar.
A reinvenção também reduz a utilização de energias não renováveis e a energia usada para a produção de cada peça. Se vamos usar energia para reinventar? O impacto é consideravelmente inferior, a uma escala local e individual, sem comparação com processos de produção industrial.
Reinventar é (re)criar porque permite desenvolver uma abordagem criativa e individual à moda. Se reinventarmos as roupas que já temos vamos ter peças únicas que reflectem o nosso estilo pessoal e que, apesar de poderem ser resultado da fast fashion, transformaram-se em slow fashion. E numa espécie de manifesto pró-ambiente.
Esta é também uma forma de reutilizar os recursos já existentes e reduzir quer a produção de lixo quer o descarte de materiais. Mas é também uma forma muito eficaz de renovar o nosso guarda-roupa praticamente sem gastar dinheiro. Além deste benefício individual, tem outros porque permite o recurso a mercados de trocas, lojas em segunda mão, para encontrar peças que podemos adaptar. Estas passam a ser 100% nossas e parecem novas. São novas! Também estimulamos a economia local, artesãos e costureiras. Valorizar o trabalho das costureiras é também uma forma de contrariar a fast fashion.
Como começar?
Escolher as peças: devem estar em boas condições, independente de ainda servirem (tamanho) ou de serem tendência de moda. A ideia é imaginar e transformar, não seguir o que está a dar. Ou usar a tendência a nossa favor.
Dar asas à imaginação, que também se treina, olhando para a peça que temos, observando as tendências, analisando o que gostamos e com o que nos identificamos para, depois, cortar, acrescentar, tingir, alterar (mudar os botões também é upcycling, por exemplo).
Misturar padrões para criar algo nosso que assenta na perfeição e é diferente do que está nas lojas.
Dar retoques também é upcycling: mudar os punhos, alterar o colarinho para fazer um novo ou eliminá-lo por completo, apertar uma saia com botões e adicionar um fecho — tudo isto são exemplos simples que transformam uma peça de roupa.
Como reinventar e dar um up ao nosso guarda-roupa?
A imaginação é o limite! Há uns anos comprei um vestido à minha filha, na altura com 10 anos. Nunca o usou. Gostou mas depois decidiu que era demasiado feminino. Na verdade quem o quis comprar fui eu, pelo estilo boho e a combinação de tecidos. Deixou de lhe servir e pensei, vou tentar usá-lo. Era possível, desde que vestisse uma camisola por cima para não se ver que o fecho ficava completamente aberto nas costas. Como nunca quis andar na rua assim, decidi transformá-lo numa saia. Correu mal porque o trabalho não resultou como esperado. Erro de principiante.
Por ser uma peça transformada não o podia vender online ou levar para mercados de trocas. Doei. Entretanto, já reinventei outras peças de roupa. As mais recentes são um casaco estilo militar em tecido de algodão que passou de azul cerúleo a azul-escuro. Bastou comprar tinta no supermercado para o tingir e ficou perfeito. Aproveitei e ainda tingi umas calças que estavam muito gastas. Ficaram novas. Também consegui um novo casaco, único, porque o tecido ficou azul muito escuro e as costuras mantiveram a cor azul original.
Também transformei um vestido cujo padrão me apaixona mas cujo folho já enjoava. Simples: foi retirar o folho e fazer a bainha, passando de vestido meio boho com um toque urbano para um vestido 100% urbano, com um padrão tartan que tem tanto de tradicional como de punk e grunge. Mais recentemente, um vestido de algodão preto e uma blusa fast fashion branca em bordado inglês resultaram num mix inovador. O vestido passou a ser uma saia e a parte de cima foi combinada com a blusa. Tenho uma blusa preta e branca, misturando o romantismo do bordado com a simplicidade do algodão preto. A blusa tinha uma nódoa impossível de tirar. A parte de cima do vestido ficava demasiado curta para poder usar, desta combinação resultou uma blusa única.
A reinvenção ou upcycling é também uma forma de slow fashion, uma forma de viver a moda que dá prioridade à sustentabilidade e ética. É sobre comprar menos e comprar melhor, escolher peças que foram desenhadas a criadas para durar, evitando a lógica do comprar, usar e deitar fora. A slow fashion é uma extensão de uma abordagem slow à vida, mais consciente e com hábitos de consumo que procuram o menor impacto ambiental e que, se deixarmos, se transforma num estilo de vida do qual não queremos abdicar.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990
A reinvenção ou upcycling é também uma forma de slow fashion, uma forma de viver a moda que dá prioridade à sustentabilidade e ética.
Na maior parte das vezes em que ouvimos falar de upcycling associado à moda, ou seja, reinventar peças de roupa, o contexto é alternativo, associado a uma, ou várias, subculturas da moda e do estilo que são também representação de movimentos sociais. Simplificando, a moda alternativa representa uma multiplicidade de estilos e foge ao estilo comercial das maiores marcas e cadeias de lojas de moda. Tem sempre uma componente artística ou artesanal, é independente ou de artesãos e desafia as concepções gerais associadas à moda ou ao estilo. Por isso o upcycling está-lhe tantas vezes associado.
E se pegarmos naquilo que é comercial e o transformarmos? É também upcycling?
Nos últimos anos a indústria da moda tem estado debaixo de fogo, e ainda bem, por causa do seu impacto ambiental. A fast fashion, com as suas práticas de produção rápida e barata, definindo e redefinindo tendências a cada semana criou uma cultura de desperdício na qual muitas peças de roupa são usadas uma vez. Por vezes nem deixam de ter a etiqueta porque foram compradas e nunca chegaram a ser usadas. A tendência das tendências é esta: uma abordagem mais sustentável à moda e à forma como vestimos a moda poupando a todos os níveis, incluindo o ambiente. É aqui que entra a ideia de upcycling ou de reinventar, reinventando o que já temos.
Upcycling quer dizer o quê?
Nos últimos anos, a sustentabilidade tornou-se uma palavra na moda e que a indústria da moda tem usado a seu favor. Se por um lado há cada vez mais consumidores que procuram alternativas à fast fashion, por outro a fast fashion tem usado e abusado da palavra, criando conceitos que de sustentável, provavelmente nem o nome. Por isso, abordagens alternativas têm tanta importância. Upcycling é também uma das tendências, um processo de transformação do velho em novo.
Upcycling corresponde a um processo e por isso, a palavra não se traduz facilmente. Corresponde à utilização de materiais que poderiam ser descartados, transformando-os em algo que voltamos a usar. Aplica-se a tudo, desde a transformação do lixo em novas peças que usamos (a nova marca Coachtopia é disso um exemplo), à reinvenção de peças de roupa. Difere da reciclagem porque não degradamos os materiais, usamo-los tal como os encontramos, dando-lhes uma nova vida. É uma opção sustentável, sobretudo para diminuir o impacto da fast fashion. Como?
Se reinventarmos as nossas peças de roupa, reduzimos drasticamente o número de peças que acabam nos aterros. Porque sim, quando doamos, quando entregamos nos caixotes que estão na esquina da nossa rua, não é garantido que o seu destino final seja a doação. Algumas, muitas peças, acabam por ser descartadas. Pensem sempre: se vocês não querem, por que razão hão-de outros querer? As peças de roupa, sobretudo as que são feitas de fibras têxteis artificiais e sintéticas, demoram centenas de anos para se decomporem por serem resultado da produção da indústria química, recorrendo a recursos não renováveis, como o petróleo. A sua degradação também produz gases com efeito de estufa. O que quer dizer que, não só a produção é prejudicial, como o seu descarte impacta negativamente o ambiente, num processo de degradação que pode levar até 400 anos para se completar.
A reinvenção também reduz a utilização de energias não renováveis e a energia usada para a produção de cada peça. Se vamos usar energia para reinventar? O impacto é consideravelmente inferior, a uma escala local e individual, sem comparação com processos de produção industrial.
Reinventar é (re)criar porque permite desenvolver uma abordagem criativa e individual à moda. Se reinventarmos as roupas que já temos vamos ter peças únicas que reflectem o nosso estilo pessoal e que, apesar de poderem ser resultado da fast fashion, transformaram-se em slow fashion. E numa espécie de manifesto pró-ambiente.
Esta é também uma forma de reutilizar os recursos já existentes e reduzir quer a produção de lixo quer o descarte de materiais. Mas é também uma forma muito eficaz de renovar o nosso guarda-roupa praticamente sem gastar dinheiro. Além deste benefício individual, tem outros porque permite o recurso a mercados de trocas, lojas em segunda mão, para encontrar peças que podemos adaptar. Estas passam a ser 100% nossas e parecem novas. São novas! Também estimulamos a economia local, artesãos e costureiras. Valorizar o trabalho das costureiras é também uma forma de contrariar a fast fashion.
Como começar?
Escolher as peças: devem estar em boas condições, independente de ainda servirem (tamanho) ou de serem tendência de moda. A ideia é imaginar e transformar, não seguir o que está a dar. Ou usar a tendência a nossa favor.
Dar asas à imaginação, que também se treina, olhando para a peça que temos, observando as tendências, analisando o que gostamos e com o que nos identificamos para, depois, cortar, acrescentar, tingir, alterar (mudar os botões também é upcycling, por exemplo).
Misturar padrões para criar algo nosso que assenta na perfeição e é diferente do que está nas lojas.
Dar retoques também é upcycling: mudar os punhos, alterar o colarinho para fazer um novo ou eliminá-lo por completo, apertar uma saia com botões e adicionar um fecho — tudo isto são exemplos simples que transformam uma peça de roupa.
Como reinventar e dar um up ao nosso guarda-roupa?
A imaginação é o limite! Há uns anos comprei um vestido à minha filha, na altura com 10 anos. Nunca o usou. Gostou mas depois decidiu que era demasiado feminino. Na verdade quem o quis comprar fui eu, pelo estilo boho e a combinação de tecidos. Deixou de lhe servir e pensei, vou tentar usá-lo. Era possível, desde que vestisse uma camisola por cima para não se ver que o fecho ficava completamente aberto nas costas. Como nunca quis andar na rua assim, decidi transformá-lo numa saia. Correu mal porque o trabalho não resultou como esperado. Erro de principiante.
Por ser uma peça transformada não o podia vender online ou levar para mercados de trocas. Doei. Entretanto, já reinventei outras peças de roupa. As mais recentes são um casaco estilo militar em tecido de algodão que passou de azul cerúleo a azul-escuro. Bastou comprar tinta no supermercado para o tingir e ficou perfeito. Aproveitei e ainda tingi umas calças que estavam muito gastas. Ficaram novas. Também consegui um novo casaco, único, porque o tecido ficou azul muito escuro e as costuras mantiveram a cor azul original.
Também transformei um vestido cujo padrão me apaixona mas cujo folho já enjoava. Simples: foi retirar o folho e fazer a bainha, passando de vestido meio boho com um toque urbano para um vestido 100% urbano, com um padrão tartan que tem tanto de tradicional como de punk e grunge. Mais recentemente, um vestido de algodão preto e uma blusa fast fashion branca em bordado inglês resultaram num mix inovador. O vestido passou a ser uma saia e a parte de cima foi combinada com a blusa. Tenho uma blusa preta e branca, misturando o romantismo do bordado com a simplicidade do algodão preto. A blusa tinha uma nódoa impossível de tirar. A parte de cima do vestido ficava demasiado curta para poder usar, desta combinação resultou uma blusa única.
A reinvenção ou upcycling é também uma forma de slow fashion, uma forma de viver a moda que dá prioridade à sustentabilidade e ética. É sobre comprar menos e comprar melhor, escolher peças que foram desenhadas a criadas para durar, evitando a lógica do comprar, usar e deitar fora. A slow fashion é uma extensão de uma abordagem slow à vida, mais consciente e com hábitos de consumo que procuram o menor impacto ambiental e que, se deixarmos, se transforma num estilo de vida do qual não queremos abdicar.
A autora escreve segundo o Acordo Ortográfico de 1990
28.4.23
“Talvez, nos próximos anos, a nossa praia já não esteja lá”
Andréia Azevedo Soares (texto), Gabriela Gómez (infografia) e
Tiago Bernardo Lopes (fotografia), in PúblicoCientistas defendem a adopção rápida de planos de adaptação à subida do mar e de sistemas de aviso precoce de inundações costeiras. O programa europeu Copérnico já está a testar um projecto-piloto.
Quando pensamos em cidades costeiras, desejamos um litoral estanque, uma linha firme, inalterada no tempo. A praia da infância com o mesmo areal, os bares de apoio no sítio do costume e todas construções seguras, anos a fio, apesar de debruçadas sobre o mar. É um sonho inalcançável, sobretudo agora, em tempos de alterações climáticas: o degelo dos glaciares e a expansão térmica do oceano já estão a contribuir para a subida do nível médio do mar. E, por inércia do sistema, assim continuarão. Daí precisarmos com urgência, garantem os cientistas, de planos de adaptação e sistemas de monitorização e aviso precoce.
Ao longo dos últimos dois anos, a investigadora italiana Clara Armaroli liderou um projecto europeu precisamente para criar um mecanismo de aviso precoce capaz de aumentar a resiliência costeira. Chama-se Sistema Europeu de Sensibilização para as Inundações do Copérnico (ECFAS, na sigla em inglês) e envolveu vários países, incluindo Portugal e Espanha. A iniciativa recorre a ferramentas e dados fornecidos pelos satélites europeus do Copérnico, o programa europeu de observação terrestre.
“Desenvolvemos um instrumento que pode ser um candidato a um sistema de aviso precoce costeiro europeu. Está concluído, mas agora precisa de passar por várias etapas antes de uma possível e futura implantação. Criámos várias ferramentas algorítmicas e produtos que vão ser entregues em breve, após esta fase final de revisão do projecto”, explica ao PÚBLICO Clara Armaroli, professora do Departamento de Geologia da Universidade de Bolonha, em Itália, especializada em Geomorfologia e Dinâmica da Costa. Quando começou a liderar o projecto europeu, a investigadora ainda trabalhava na Escola Universitária de Estudos Avançados de Pavia, Itália, que é a instituição responsável pela coordenação do ECFAS.
Os satélites do programa Copérnico já fornecem hoje dados sobre a iminência de eventos climáticos extremos, tais como episódios de seca hidrológica, incêndios florestais e até inundações fluviais. Contudo, o sistema europeu ainda não contempla a previsão de inundações costeiras. E é neste ponto que o trabalho coordenado por Clara Armaroli pode fazer a diferença.
“O sistema já está a funcionar, mas ainda não está aberto ao público. Acreditamos que este é um passo muito importante, é o primeiro sistema do género ao nível europeu. Existem sistemas de aviso precoce, mas tendem a focar-se apenas na parte marinha, ao passo em que o ECFAS vai um pouco mais longe: olhamos para a dimensão e o impacto da tempestade, a área propensa a ser inundada se ocorrer uma tempestade marinha e, por fim, o efeito da erosão”, explica Clara Armaroli numa videochamada.
O objectivo é que as pessoas que residam, ou trabalhem, numa determinada zona em risco possam ser avisadas da probabilidade de cheias com cinco dias de antecedência. O aviso permite uma evacuação planeada das áreas inundáveis, sem sobressaltos. Uma vez que os eventos climáticos extremos tendem a ficar mais intensos e frequentes, os sistemas de aviso precoce passam a ser um instrumento crucial para enfrentar os desafios da mudança do clima.
Calcula-se que cerca de 100 mil pessoas na União Europeia estejam anualmente expostas a inundações costeiras. Estes fenómenos podem significar, em média, custos anuais de 1,4 mil milhões de euros. Se nada fizermos no que toca a medidas de adaptação, os impactos até 2100 podem afectar mais de 1,6 milhões de pessoas e causar prejuízos superiores a 210 mil milhões de euros, indicam dados europeus.
“Os sistemas de aviso precoce têm estado no centro de acontecimentos importantes como a Cimeira do Clima [que decorreu no Egipto em 2022]. Quando estes instrumentos estão a funcionar, é possível prepararmo-nos para manter a população segura. As pessoas sabem que um desastre está prestes a ocorrer, podem mudar-se para outro sítio e [as autoridades] podem tomar medidas de protecção. Se trabalharmos na preparação, as pessoas saberão comportar-se perante de um desastre”, explica a investigadora italiana.
A ideia deste futuro sistema não é que este se sobreponha aos instrumentos de protecção civil locais, mas que forneça previsões para apoiar os sistemas regionais e nacionais que já existem nos países na União Europeia, a exemplo do que acontece com as demais previsões do serviço de gestão de emergências do programa Copérnico.
Estuários, o calcanhar de Aquiles
Da foz do rio Minho à do Guadiana, Portugal conta com cerca de 950 quilómetros de costa. Com a subida do nível do mar, o litoral enfrenta riscos acrescidos no que toca à erosão costeira, à perda de território e aumento das inundações. O investigador João Miguel Dias, professor catedrático da Universidade de Aveiro, acredita que o calcanhar de Aquiles português não será tanto as praias, mas as zonas estuarinas.
O cientista do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) recorda que, no cenário mais pessimista para 2100, a subida do nível médio do mar prevista pelo sexto ciclo de avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para a costa portuguesa é de 79 centímetros – o que equivaleria à altura de um bebé de 18 meses. E, no melhor dos cenários, 43 centímetros (ambas as estimativas têm como cenário-base 1995-2014).
“Isto não vai trazer uma grande perda de território em termos de praias, porque estas já estão a sofrer uma erosão a uma taxa muito superior. Não é uma situação de drama e horror. É preocupante, sim, mas que já existe sem as alterações
climáticas”, defende João Miguel Dias, especialista em Inundações Costeiras e Hidrodinâmica Estuarina.
Em Portugal, refere o cientista do CESAM, temos como zonas com maior risco o estuário da ria de Aveiro, da ria Formosa, do Mondego, do Tejo e do Sado. “Estes cinco estuários/lagunas estarão mais em risco porque estão rodeados por zonas topográficas com um relevo muito baixo, ou seja, zonas marginais planas. Aqueles tais 79 centímetros podem ser suficientes para alagar parte destas zonas”, afirma João Miguel Dias, referindo-se ao pior cenário do IPCC.
Um estudo do CESAM, publicado em 2022 na revista científica Scientific Reports (do grupo Nature), mostra que “inundações com período de retorno de 100 anos podem impactar directamente quase 23.000 e 35.000 moradores no horizonte de médio e longo prazos, respectivamente”, nos cinco estuários de maior risco. Dessa população, a maior parte (77%) mora nas regiões próximas à ria de Aveiro e Tejo (51% e 26%, respectivamente), ao passo que os restantes 23% vivem nas margens do Sado, da ria Formosa e do Mondego.
Nos cenários desenhados no estudo, grande parte do território inundável está hoje vocacionado para a agricultura. “Nos sistemas estuarinos das rias de Aveiro, do Tejo, Sado e Mondego, as cheias afectam maioritariamente as áreas agrícolas (63%, 65%, 73% e 85% da área total, respectivamente), ao passo que, na ria Formosa, a categoria áreas florestais e seminaturais é a mais afectada (68%)”, refere o estudo do qual João Miguel Dias é co-autor, sendo a cientista Carina Lopes a primeira autora.
A subida do nível médio do mar não é o único factor a ter em conta em possíveis cenários de inundação.
João Miguel Dias recorda que os sistemas estuarinos estão condicionados pela maré, por exemplo, e também pela descarga fluvial – que, como depende das operações nas barragens, traz uma componente de incerteza.
E é essa incógnita, garante o docente, que dificulta que se faça uma monitorização em tempo real da água.
“Temos de estar cientes disso: a maior parte dos estuários portugueses não tem qualquer sistema de monitorização, não tem estações permanentes de medição do nível da água, muitos não têm estações permanentes de medição em tempo real da descarga fluvial (que é um factor muito importante). Estes dados não estão disponíveis. Obviamente que, depois, se torna muito difícil ter qualquer modelo em cima do estuário, considerando que não há informação sobre um factor importante, que é a descarga”, afirma o professor catedrático da Universidade de Aveiro.
Carina Lopes sublinha ainda a importância de haver um sistema capaz de avisar a população. “O território artificializado [com construções urbanas] ameaçado não é muito extenso, mas acaba por ter mais valor, porque tem valor social. Nos estuários, não é [expectável] uma perda permanente [de território], mas poderá colocar pessoas em risco”, afirma a cientista, numa videochamada com o PÚBLICO.
A intrusão salina
Além da importância da instalação de estações de monitorização de sistemas – uma “cruzada” que João Miguel Dias diz travar “há quase 20 anos” –, a equipa da Universidade de Aveiro mostra-se preocupada com um aspecto “negligenciado” quando o assunto é a subida do nível médio do mar: a intrusão salina.
Os estuários são o lugar onde os rios se encontram com o mar ou, por outras palavras, zonas de mistura de água doce e água salgada. Se no futuro vai subir o nível médio do mar – e as previsões científicas são categóricas sobre isso –, tudo indica que passe a entrar mais água salgada nos estuários, que tende a avançar mais em direcção ao interior. Havendo alagamento de zonas marginais, os solos afectados tendem a ficar salinizados e inférteis.
A intrusão salina também tem impacto na biodiversidade. Se vamos ter no futuro uma alteração no gradiente de salinidade, as zonas estuarinas que tipicamente são banhadas por água salobra passarão a receber água mais salgada. Ou seja, as zonas de água doce e salobra passarão a ser muito exíguas nesses estuários, o que constitui uma péssima notícia para as espécies estuarinas. Os animais com menor tolerância à salinidade “estarão claramente em risco e ficarão confinados a zonas muito restritas”, sublinha João Miguel Dias.
Ao contrário das populações e das actividades económicas, que podem beneficiar de sistemas de aviso precoces e medidas de protecção, as diferentes espécies que habitam os estuários não têm para onde fugir. Acabam por ser, de algum modo, o elo mais fraco da subida do nível médio do mar.
“No caso da intrusão salina, não vejo nada que impeça que ela aumente no futuro. Podemos proteger campos agrícolas, mas em termos de ecologia de estuários não vejo forma de haver protecção [contra a subida do nível médio do mar]”, lamenta o professor da Universidade de Aveiro.
Mas a erosão não é natural?
A subida do nível do mar está longe de ser a causa principal da erosão costeira, embora a aceleração deste fenómeno seja mais uma das consequências da mudança do clima. “O problema principal da erosão costeira em Portugal não são as alterações climáticas. As alterações climáticas poderão acelerar ligeiramente – e aqui estou a falar de 5 a 10% – a erosão costeira. Mas apenas ligeiramente. A perda de território acontece na nossa costa Oeste devido ao défice sedimentar provocado pelas barragens e pela artificialização de todo o rio”, explica João Miguel Dias.
A erosão é um fenómeno natural – o mar avança e recua e causa um desgaste natural. Até aí, não há grande novidade. O oceano sempre foi este “ser antigo e violento” que “rói os pilares da terra”, como escreveu, nos anos 60, o escritor argentino Jorge Luís Borges.
Contudo, com a ocupação humana maciça – da habitação à agricultura, passando por infra-estruturas turísticas, industriais e portuárias –, surgiram desequilíbrios que agravaram a erosão da costa. Quando construímos uma barragem, quando varremos o fundo de um rio à procura de areia, quando desviamos cursos de água, quando erguemos um equipamento portuário, estamos a alterar a movimentação de sedimentos em direcção à costa.
As barragens, como o próprio nome sugere, constituem grandes obstáculos não só à vida aquática, mas também ao transporte de inertes. Areias que são filtradas pelas barragens são, na prática, materiais que deixaram de ser depositados no litoral. Se tivermos em mente que Portugal possui cerca de 260 barragens ao longo dos cursos fluviais, não é muito difícil imaginar a montanha de areia que deixa de chegar ao litoral.
O problema da erosão costeira não se resume às barragens, claro está. É um fenómeno complexo e que envolve vários factores. Há também, por exemplo, dragagem de areias em estuários e zonas junto à foz de rios próximos de portos com grande actividade. O objectivo é garantir navegabilidade e segurança das operações portuárias. Os inertes “roubados” à foz dos rios seguem, na maioria das vezes, para o sector da construção, contribuindo ainda mais para o “empobrecimento” da costa.
Alimentar as praias
Quando a erosão chega a um ponto preocupante, é possível avançar com a reposição artificial de inertes. Foi precisamente o que aconteceu, em 2008, na Costa da Caparica, onde foi despejado um milhão de metros cúbicos de areias dragadas na Foz do Tejo. Ou na Figueira da Foz, mais recentemente. Estas soluções não são definitivas. Com o tempo, o areal vai voltar a emagrecer e é necessário realimentar as praias.
Entre 1950 e 2017, houve 134 intervenções de alimentação de praias, a maioria com o objectivo de “melhorar a estabilidade do litoral, como medida de mitigação da erosão costeira, e para aumentar a largura da praia para uso recreativo”, refere um estudo que tem como primeiro autor o geólogo costeiro Celso Aleixo Pinto.
O problema desta medida de mitigação é que, de algum modo, despejar areia numa praia hoje equivale a uma tarefa de Sísifo: é um esforço contínuo. As alterações climáticas só vêm acrescentar mais uma camada de complexidade ao problema: com a subida do nível médio do mar, que deve acelerar nas próximas décadas, o areal tende a desaparecer mais rapidamente. Podemos ganhar tempo, mas é irrealista querer fixar o areal.
“Precisamos de pensar na areia como um recurso não-renovável. Encontrar areia para nutrir as praias não é uma tarefa fácil, o reservatório não é finito e podemos ter muita dificuldade em encontrar a areia certa a um preço que possamos pagar. Não se pode usar qualquer tipo de areia para todas as costas – umas são compatíveis e outras não. Os governos devem considerar investir cada vez mais na alimentação das praias, pois as tempestades intensas estão a tornar-se mais frequentes devido às alterações climáticas. Não é apenas uma questão de magnitude, é de frequência também”, avisa Clara Armaroli.
Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), concorda que esta medida tenderá a ficar cada vez mais cara e escassa. E sublinha que, em Portugal, continua a ser uma das mais apreciadas entre os decisores políticos porque não exige decisões impopulares como a relocalização de edifícios.
“Resolver o problema da praia é fácil. Actualmente, estamos a usar areia que é extraída da dragagem do rio Tejo, mas vai começar a haver cada vez menos disponibilidade. Quando não for suficiente, vamos ter de ir offshore buscar areia ao fundo do mar, o que vai ser ainda mais custoso. Mas ainda temos alguma solução para a zona costeira, a parte difícil será a das zonas de águas interiores”, acredita o professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da FCUL, que liderou o projecto SNM Portugal.
O docente destaca o problema de lidar com áreas inundáveis onde há uma malha urbana densa, incluindo casas de primeira habitação e prédios de propriedade horizontal, o que pode envolver múltiplos proprietários, contratos de longa duração e empréstimos a algumas décadas. “Demolir um edifício e deslocar aquelas pessoas dali é extremamente complicado, até do ponto de vista jurídico. Deslocar alguns pescadores, como se fez em Esmoriz, é fácil, são habitações unifamiliares de baixo custo”, afirma Carlos Antunes.
O cientista da FCUL defende que, “face a ameaças incertas, a melhor estratégia é a acção imediata.” São “urgentes”, portanto, planos de adaptação para as zonas baixas e rasas que estão muito expostas. Por exposição, os cientistas querem dizer locais que estejam simultaneamente vulneráveis e densamente ocupados (seja por pessoas, seja por património edificado).
Ciclos políticos curtos não travam as águas
Carlos Antunes dá como exemplo o centro histórico de Olhão, no Algarve, uma zona que necessita “urgentemente” de medidas de mitigação que, segundo o cientista, “não têm sido equacionadas nos últimos anos, visto que estas zonas sofreram grandes obras de requalificação sem considerarem esta perigosidade”. Os ciclos políticos de quatro anos, contudo, condicionam a tomada de decisões impopulares ou onerosas.
“A subida das águas não vai parar em 2100, nem nos próximos séculos. Precisamos muito de planos de adaptação a longo prazo, mas temos o problema de ciclos políticos curtos. Nenhum político quer colocar restrições de novas construções no Plano Director Municipal tendo em mente um evento que só vai acontecer daqui a 50, 100 anos”, afirma ao PÚBLICO numa videochamada.
Depois de produzir uma cartografia de vulnerabilidade costeira, que permite visualizar os pontos frágeis da costa, a equipa de Carlos Antunes quer agora compreender melhor como as populações podem ser afectadas pela subida do nível do mar. No mapa interactivo do projecto SNM Portugal, concluído há seis anos, estimava-se que cerca de 225.000 pessoas viveriam em áreas costeiras vulneráveis à subida do nível médio do mar, em Portugal continental, num cenário probabilístico para 2100. Mas este valor pode ser bem maior, uma vez que os cálculos se basearam em dados oriundos dos censos de 2011.
“Estamos a pegar em todos os dados do INE [Instituto Nacional de Estatística] e a fazer projecções demográficas para o futuro, já com base nos censos de 2021. Nós sabemos que as populações estão a migrar do interior para o litoral. E, portanto, nós vamos ter muito mais edifícios, existindo uma pressão muito maior nestas zonas que já estão sobrecarregadas de malha urbana, e que nós já identificámos como susceptíveis de inundação”, explica Carlos Antunes, especialista em avaliação da vulnerabilidade e do risco costeiro.
Se olharmos para o mapa de Portugal, à luz dos cálculos da equipa de Carlos Antunes, conseguimos identificar rapidamente onde estão as áreas mais vulneráveis: os distritos de Lisboa, Aveiro e Faro lideram a lista de risco de inundação. O cientista argumenta que estes dados científicos já deviam estar a apoiar tomadas de decisão nas autarquias, a exemplo do trabalho que já está a ser feito em Lisboa, Loulé e, agora, Almada.
“Lisboa já proibiu a construção de edifícios junto à zona ribeirinha que tenham a cota soleira abaixo dos 3,80 metros. O próprio terreno do Hospital da CUF já foi elevado, mas há outros edifícios. Mas, se mudar a cor da câmara, já não sei o que os outros vão fazer no futuro. Precisamos de um pacto político nacional, com todas as forças políticas e a sociedade, primeiro para nos comprometermos a não aumentar a ocupação das zonas já identificadas como vulneráveis e, depois, para ter planos para adaptar sobre o que lá está”, defende o cientista da Universidade de Lisboa.
Perante a informação facultada pelos cientistas, os decisores políticos têm de fazer contas e escolhas. Investe-se em custos de realojamento? Compensa-se o encerramento de uma actividade económica da qual dependem muitas famílias? Aposta-se na protecção através de obras de engenharia (o que acarreta perda de património natural)? “No fim de contas, é sempre uma decisão política”, conclui Carlos Antunes.
Entre as medidas de adaptação disponíveis estão as de recuo ou relocalização das infra-estruturas – a menos adoptada –, ou então medidas de protecção que podem ser tanto ligeiras como pesadas. A ligeira consiste na alimentação artificial da praia ou de cordões dunares, enquanto a outra forma de protecção passa pela construção de paredões, enrocamentos, esporões ou molhes portuários.
Soluções inspiradas na natureza
Existem ainda soluções baseadas na natureza, que são aquelas que permitem que a vegetação ou mecanismos naturais sejam, eles próprios, uma barreira ou estrutura de protecção. Através da restauração de sistemas naturais junto à costa, como lagoas ou outros ecossistemas que funcionem como um “escudo” entre a linha de mar e a zona construída, é possível lidar com a subida do nível médio do mar com maior flexibilidade.
“Estas estruturas baseadas na natureza são muito importantes no combate às alterações climáticas. Além de aumentar a resiliência das zonas costeiras, são um sumidouro de carbono, conseguem armazenar por metro quadrado mais do que as florestas tropicais. Ao contribuir para a protecção dos sapais, por exemplo, estamos a proteger as nossas áreas marginais e a reter carbono que, de outro modo, iria para a atmosfera. Na ria de Aveiro, isto é muito importante porque os sapais têm sido degradados. Estas plantas têm sido cada vez mais danificadas e têm desaparecido”, explica ao PÚBLICO a investigadora Carina Lopes.
Clara Armaroli também faz o elogio das soluções inspiradas na natureza. “Enquanto cientista costeira, a minha opinião é: o que é possível deslocar-se para outro sítio, deve ser deslocado, para que a natureza se desenvolva livremente e para evitar a construção de infra-estruturas ao longo da costa”, refere a investigadora italiana, avisando, contudo, que “a natureza precisa de tempo”.
Se queremos ter uma duna, temos de dar tempo à natureza para agir. Os sistemas naturais como medidas de protecção têm de ser planeados, e isso exige que diferentes gerações de decisores políticos abracem estas soluções. E que saibam esperar. “Esta é a única maneira de de agir perante a subida do nível do mar e as mudanças climáticas. Claro que a alimentação das praias é sempre uma opção melhor do que erguer um paredão, mas a areia não é eterna. E a boa areia não estará disponível para sempre”, recorda Clara Armaroli.
A areia não dura para sempre, do mesmo modo que nenhuma paisagem é perpétua. O mar não vai parar de subir; a praia a que nos habituamos vai mudar. Para Clara Armaroli, esta é uma aprendizagem que todos nós precisamos de reter.
“As pessoas vão à praia como se o areal nunca fosse mudar. Todos os anos, no Verão, esperam encontrar as mesmas pessoas, a mesma praia e as mesmas actividades de lazer. Essa perspectiva tem de mudar. Talvez, nos próximos anos, a nossa praia já não esteja lá. As pessoas precisam entender que o nosso relacionamento com a costa se está a transformar. Há décadas que o homem vem afectando as áreas costeiras de diferentes formas – e, aqui, falo do ponto de vista geomorfológico. Não vamos poder segurar a linha de costa para sempre”, remata a cientista.
27.3.23
Europa. Regulamento novo obriga a repensar as futuras embalagens
in Expresso
As declarações dos protagonistas do evento realizado no âmbito da nova edição do Novo Verde Packaging Enterprise Award sobre as novas medidas propostas pela União Europeia para fazer face ao desperdício de embalagens
“A grande tentativa da Comissão Europeia com este novo regulamento é subir na hierarquia de resíduos”, explica Ana Cristina Carrola, vogal do Conselho Diretivo da Agência Portuguesa do Ambiente (APA)
“Este é um enorme desafio porque sabemos que os diversos Estados-membros estão em níveis diferentes no que diz respeito à gestão de resíduos”, garante Nuno Aguiar, diretor técnico da Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP)
“Acho que a nova regulamentação europeia pode significar uma melhor educação do consumidor”, considera Paulo Sousa, CEO da COLEP
“Este regulamento pretende fomentar uma maior incorporação de plástico reciclado na composição do packaging”, diz Paulo Serra, diretor da região oeste da SAICA
“Este prémio permite inspirar o surgimento de novas candidaturas que têm que ser submetidas até ao próximo dia 31 de março", lembra Pedro Simões, diretor geral da Novo Verde
“Não podemos standardizar as embalagens para todos os produtos porque estas também acrescentam valor ao produto”, defende Tiago Moreira da Silva, coordenador da plataforma Vidro+
“A parte mais desafiante poderão ser os novos requisitos para as embalagens em plástico”, afirma Thomas Fisher, head of Market Intelligence and Governmental Affairs do Grupo Landbell AG
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