Isabel Corrêa da Silva, opinião, in Público
Com os contratos da norma transitória a chegarem ao último ano, as universidades perspectivam-se com o ónus de cumprir a lei, sem meios financeiros para tal. O Ministério da Ciência mantém-se mudo.
No final de Agosto de 2016, o Governo fresquinho da chamada “Geringonça” publicou um diploma para o estímulo ao emprego científico, considerando que, desde as reformas de Mariano Gago na década de 90, haviam sido estabelecidas as bases de um sistema científico nacional, mas que era urgente enquadrar os recursos humanos que o compunham. Ou seja, promover contratos de trabalho e possibilidades de carreira às pessoas que davam forma a esse mesmo sistema científico. Até aqui tudo bem.
Este decreto-lei vinha acompanhado de uma “norma transitória” (NT) estipulando um lapso temporal (em si mesmo questionável), que definia quem era elegível para beneficiar de imediato desta política. Os “sortudos” que encaixaram no critério foram, através de concursos, enquadrados em contrato de seis anos com a expectativa de ao fim desse tempo serem integrados no quadro das instituições onde desenvolviam o seu trabalho.
Pouco tempo depois, essa expectativa passou mesmo a compromisso legal com a alteração do dito diploma através da introdução de uma cláusula onde se dizia explicitamente que, antes de terminarem os ditos seis anos de contrato, as instituições tinham obrigação de abrir concurso para o provimento do lugar desse investigador. Tudo a ganhar forma e a sugerir planeamento a mais longo prazo.
[...]
Estamos ainda longe de poder afirmar que exista em Portugal uma comunidade científica coesa e responsável. Na ausência de uma política científica coerente, as universidades acabaram por se habituar à lógica instrumentalista e rotativa do uso do trabalho precário.
[...]
A principal razão é porque não se pode dizer que exista uma política científica em Portugal. Desde a publicação do diploma de 2016 até hoje, não houve da parte do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior nenhuma medida que viabilizasse o cumprimento da prometida integração dos investigadores da norma transitória. Na verdade, desde então os sucessivos governos continuaram a estimular o emprego científico precário e não criaram as condições financeiras para as universidades absorverem estas pessoas na longa duração.
Pelo contrário, o orçamento das universidades portuguesas tem vindo a ser reduzido na última década, impossibilitando novas contratações. Pelo que se é levado a pensar uma de duas coisas: ou o diploma de 2016 se tratou apenas de uma manobra de diversão e nunca teve a intenção de ser cumprido, o que é gravíssimo; ou o “emprego científico” é mais um dos muitos assuntos para os quais o Governo não tem um planeamento estratégico e vai arranjando soluções de improviso. Em qualquer dos casos, a irresponsabilidade política é angustiante.
[...]
As universidades têm neste momento perante si a oportunidade de mostrar a sua força e o seu lugar no processo de regularização do emprego científico.
As centenas de contratos de trabalho que estão em jogo nos próximos meses serão apenas a primeira peça do desmoronar de uma alegada bolha de especulação dos últimos 40 anos que o Governo está agora empenhado em fazer desinchar? Se assim é, como explicar que apenas há seis anos afirmasse que “a aposta no conhecimento constitui um desígnio central do programa do XXI Governo Constitucional, reflectindo a relevância que o emprego científico assume na sociedade portuguesa”? Estava o Governo iludido? Ou esteve sempre a iludir-nos? Ou estaremos perante mais um caso de desalinhamento e alheamento ministerial?
[...]
Uma coisa é certa, as universidades têm neste momento perante si a oportunidade de mostrar a sua força e o seu lugar no processo de regularização do emprego científico. Mantêm-se passivas face ao silêncio que ameaça pôr em causa o seu funcionamento regular e parece anunciar o desmantelamento do sistema científico nacional. Ou mobilizam-se pela defesa dos seus investigadores, sabendo, melhor que ninguém, que sem eles não há ciência.
Investigadora auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (contratada ao abrigo da norma transitória)
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17.7.23
22.6.23
Investigadores portugueses criam "vacina" para proteger frutos e legumes de doenças fúngicas
SIC Notícias e Lusa
A podridão cinzenta, oídio, míldio, antracnose e cladosporiose são o grupo-alvo de doenças fúngicas sobre as quais os investigadores se vão debruçar para diminuir as "quebras acentuadas de produção" e um "elevado desperdício alimentar".
Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão a desenvolver uma "espécie de vacina" à base de substâncias naturais para aplicar e proteger frutos e legumes de doenças fúngicas, surgindo como alternativa aos pesticidas químicos.
Em comunicado, a FCUP destaca que "há cada vez mais doenças fúngicas em frutos e legumes", muitas das vezes provocadas pelas alterações climáticas, que originam "quebras acentuadas de produção" e um "elevado desperdício alimentar".
Para evitar as quebras de produção e o desperdício, os produtores usam, frequentemente, fungicidas sintéticos, mas a eficácia destes produtos "é cada vez mais reduzida devido às resistências desenvolvidas pelos fungos patogénicos", tendo também um impacto negativo na saúde humana e nos ecossistemas.
Com o intuito de desenvolver uma "alternativa" a estes pesticidas químicos, os investigadores da FCUP estão a trabalhar numa "espécie de vacina" baseada em substâncias naturais, no âmbito do projeto "BFree: Biocontrolo de Frutos e de Legumes".
"O nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento e implementação de um conjunto de produtos naturais à base de micro-organismos endófitos [isolados de frutos] como agentes de biocontrolo", afirma, citada no comunicado, a coordenadora do projeto e investigadora do GreenUPorto -Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável, Susana Carvalho.
Ao longo do projeto, os investigadores vão desenvolver "ferramentas sustentáveis" para diminuir o uso de produtos fitofarmacêuticos que "têm sido detetados com maior frequência nos produtos e legumes que chegam ao consumidor".
A podridão cinzenta, oídio, míldio, antracnose e cladosporiose são o grupo-alvo de doenças fúngicas sobre as quais os investigadores se vão debruçar.
Neste momento, a equipa está a trabalhar nos micro-organismos antagonistas, tendo já selecionado os que têm "maior potencial antifúngico sobre os agentes patogénicos que levam às principais doenças".
"Chegaram, aliás, a 12 diferentes formulações de diferentes micro-organismos", destaca a instituição, esclarecendo que os investigadores pretendem agora analisar o efeito destas formulações em campo e aplicando-as diretamente nas plantas por forma a perceber a interação entre o micro-organismo e o agente patogénico.
Numa segunda fase do projeto, a equipa vai monitorizar a eficácia destas formulações na prevenção e tratamento de doenças fúngicas ao longo do ciclo natural de diversas culturas como o morango, framboesa, mirtilo e tomate.
Já a terceira e última etapa do projeto visa o desenvolvimento das soluções encontradas "para condições comerciais", tendo como objetivo alcançar cerca de 135 produtores hortofrutícolas distribuídos pelo território nacional.
Susana Carvalho destaca ainda que a aplicação de agentes de biocontrolo "tem vindo a despertar uma elevada atenção" tanto no meio científico, como no meio empresarial "como uma alternativa promissora e sustentável às abordagens convencionais para a gestão de pragas e doenças".
Com um financiamento de 860 mil euros do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), o projeto conta com a colaboração do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Centro Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), a Proenol - Indústria Biotecnológica e mais 10 pequenas e médias empresas, nas quais se incluem organizações de produtores e produtores individuais.
Investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) estão a desenvolver uma "espécie de vacina" à base de substâncias naturais para aplicar e proteger frutos e legumes de doenças fúngicas, surgindo como alternativa aos pesticidas químicos.
Em comunicado, a FCUP destaca que "há cada vez mais doenças fúngicas em frutos e legumes", muitas das vezes provocadas pelas alterações climáticas, que originam "quebras acentuadas de produção" e um "elevado desperdício alimentar".
Para evitar as quebras de produção e o desperdício, os produtores usam, frequentemente, fungicidas sintéticos, mas a eficácia destes produtos "é cada vez mais reduzida devido às resistências desenvolvidas pelos fungos patogénicos", tendo também um impacto negativo na saúde humana e nos ecossistemas.
Com o intuito de desenvolver uma "alternativa" a estes pesticidas químicos, os investigadores da FCUP estão a trabalhar numa "espécie de vacina" baseada em substâncias naturais, no âmbito do projeto "BFree: Biocontrolo de Frutos e de Legumes".
"O nosso objetivo é contribuir para o desenvolvimento e implementação de um conjunto de produtos naturais à base de micro-organismos endófitos [isolados de frutos] como agentes de biocontrolo", afirma, citada no comunicado, a coordenadora do projeto e investigadora do GreenUPorto -Centro de Investigação em Produção Agroalimentar Sustentável, Susana Carvalho.
Ao longo do projeto, os investigadores vão desenvolver "ferramentas sustentáveis" para diminuir o uso de produtos fitofarmacêuticos que "têm sido detetados com maior frequência nos produtos e legumes que chegam ao consumidor".
A podridão cinzenta, oídio, míldio, antracnose e cladosporiose são o grupo-alvo de doenças fúngicas sobre as quais os investigadores se vão debruçar.
Neste momento, a equipa está a trabalhar nos micro-organismos antagonistas, tendo já selecionado os que têm "maior potencial antifúngico sobre os agentes patogénicos que levam às principais doenças".
"Chegaram, aliás, a 12 diferentes formulações de diferentes micro-organismos", destaca a instituição, esclarecendo que os investigadores pretendem agora analisar o efeito destas formulações em campo e aplicando-as diretamente nas plantas por forma a perceber a interação entre o micro-organismo e o agente patogénico.
Numa segunda fase do projeto, a equipa vai monitorizar a eficácia destas formulações na prevenção e tratamento de doenças fúngicas ao longo do ciclo natural de diversas culturas como o morango, framboesa, mirtilo e tomate.
Já a terceira e última etapa do projeto visa o desenvolvimento das soluções encontradas "para condições comerciais", tendo como objetivo alcançar cerca de 135 produtores hortofrutícolas distribuídos pelo território nacional.
Susana Carvalho destaca ainda que a aplicação de agentes de biocontrolo "tem vindo a despertar uma elevada atenção" tanto no meio científico, como no meio empresarial "como uma alternativa promissora e sustentável às abordagens convencionais para a gestão de pragas e doenças".
Com um financiamento de 860 mil euros do Programa de Recuperação e Resiliência (PRR), o projeto conta com a colaboração do Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, o Centro Tecnológico Hortofrutícola Nacional (COTHN), a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas (FNOP), a Proenol - Indústria Biotecnológica e mais 10 pequenas e médias empresas, nas quais se incluem organizações de produtores e produtores individuais.
19.6.23
Julian Thayer: “Temos de ter compaixão” — esse será o nosso “segredo para sobreviver”
Filipa Almeida Mendes (texto) e Rui Gaudêncio (fotografia), in Público
Especialista em psicofisiologia, com mais de 450 artigos publicados, Julian Thayer explica-nos qual a relação da compaixão com o nervo vago e a variabilidade da frequência cardíaca.
Compaixão: não será certamente difícil recordar a última vez que ouvimos a palavra. Mas quais são as bases fisiológicas da compaixão? O que sabe a ciência sobre este ramo da saúde mental?
Julian Thayer, professor na Universidade da Califórnia e na Universidade Estadual do Ohio (EUA), é especialista em fisiologia humana da compaixão. Várias vezes premiado pelas contribuições no campo da medicina psicossomática, foi também identificado pelo site Web of Science como um “investigador altamente citado”, somando mais de 450 artigos científicos publicados.
Em entrevista ao PÚBLICO, no âmbito de uma conferência a propósito das comemorações do 10.º aniversário do curso de Psicologia da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, o especialista em psicofisiologia fala sobre a relação da compaixão com o sistema nervoso autónomo, especificamente com o nervo vago (o maior nervo craniano), e com a variabilidade da frequência cardíaca.
Como é que surgiu este seu interesse pela fisiologia humana da compaixão?
Estamos a viver tempos conturbados e penso que muitas pessoas têm a ideia de que “a sobrevivência do mais apto” e a agressividade podem ser a melhor forma de encarar a vida. Mas, de facto, estudos recentes sugerem que temos de ter compaixão e que esse será o nosso segredo para sobreviver.
Qual é a relação entre o nervo vago e a variabilidade da frequência cardíaca?
A palavra “vago” deriva da mesma palavra que “errante”. Portanto, é o “nervo errante” e pode pensar-se nele como o regulador de todo o organismo.
Pode dizer-se que a actividade do nervo vago está associada à segurança e ao bem-estarJulian Thayer
No que diz respeito ao coração, em particular, quando inspiramos, o nosso ritmo cardíaco tende a aumentar e, quando expiramos, tende a diminuir — chama-se a isto arritmia sinusal respiratória e representa um bloqueio da actividade do nervo vago. Quando o nervo vago está activo, o coração abranda e, quando está menos activo, o coração acelera.
O nervo vago tem um papel importante a desempenhar na compaixão?
Sem dúvida. Por exemplo, para adormecermos à noite temos de nos sentir seguros e a actividade do nervo vago aumenta à noite (quando o organismo se sente seguro). Por isso, é por vezes chamado o sistema de descanso e digestão porque para comer e descansar temos de nos sentir seguros. Por isso, pode dizer-se que a actividade do nervo vago está associada à segurança e ao bem-estar.
A variabilidade da frequência cardíaca é mais elevada nas pessoas com melhores relações?
Sim, tende a ser mais elevada nas pessoas com melhores relações. Mas se estivermos a tentar gerir e regular as nossas relações, a actividade do nervo vago também será mais elevada.
Por exemplo, juntamente com o meu colega Tim Smith, da Universidade do Utah, fizemos um estudo em que levámos pessoas casadas para o laboratório e as pusemos a discutir tópicos positivos, negativos e sobre um problema na sua relação. Em resposta à discussão deste problema na relação, a variabilidade da frequência cardíaca nas mulheres aumentou, o que demonstrou estar associado à regulação das emoções negativas do parceiro. Ou seja, a variabilidade da frequência cardíaca pode aumentar quando nos sentimos bem, mas também quando estamos a regular activamente as emoções.
Historicamente, o nervo vago já era conhecido. No livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, Charles Darwin fala sobre o trabalho do fisiologista francês Claude Bernard e diz que o coração e o cérebro estão ligados através do nervo vago. Depois, durante mais de 100 anos, não se fez muita investigação sobre o nervo vago — em parte, porque era um pouco difícil de estudar.
Por volta do final da década de 1970, os investigadores descobriram que, se estudássemos a variabilidade da frequência cardíaca do feto, poderíamos saber quando o feto estava em sofrimento e quando fazer uma cesariana e esse tipo de coisas. Foi nessa altura que começaram os estudos modernos sobre a variabilidade da frequência cardíaca e, ao longo desse período de tempo relativamente curto, foram efectuados vários avanços metodológicos.
Penso que uma das descobertas recentes mais importantes são os estudos que envolvem a estimulação eléctrica do nervo vago e o meu colega Vaughan Macefield, na Austrália, conseguiu agora registar directamente a actividade do nervo vago em seres humanos vivos. A variabilidade da frequência cardíaca é, obviamente, uma medida indirecta, mas o Vaughan conseguiu colocar um pequeno eléctrodo no pescoço e estudar e registar directamente a actividade do nervo vago. Penso que é um grande avanço.
Quais são as bases fisiológicas da compaixão?
Aquela ideia da “sobrevivência do mais apto” e a postura mais agressiva podem não ser verdadeiras e uma das maneiras pelas quais as pessoas têm olhado para isso é em termos do que é chamado a “teoria da autodomesticação” — a ideia de que os humanos anatomicamente modernos são autodomesticados.
Um colega meu, na Suécia, Mats Fredricksson, e alguns outros, fizeram um estudo sobre coelhos domesticados e selvagens e descobriram que os coelhos selvagens eram mais stressados e, de certa forma, mostravam-se mais ansiosos em relação a uma ameaça. Porém, quando estes animais foram domesticados, as áreas do seu cérebro associadas à segurança aumentaram e as áreas associadas à ameaça diminuíram — portanto, o seu córtex pré-frontal aumentou e a amígdala diminuiu. Além disso, esses animais domesticados também tinham uma resposta ao medo mais pequena ou atenuada.
O livro Sobrevivência do Mais Amigável: Compreender as Nossas Origens e Redescobrir a Nossa Humanidade Comum [de Brian Hare e Vanessa Woods] sugere que este tipo de interacção entre pessoas requer que nos sintamos seguros. A ideia é que quando os humanos anatomicamente modernos começaram a interagir com os neandertais, para que não se matassem uns aos outros, tinham de ter alguma base de compaixão, associação e representação.Até hoje, continua a ser um mistério para mim como é que Darwin e Claude Bernard sabiam, em meados de 1800, que o coração e o cérebro estavam ligados pelo nervo vago
Julian Thayer
Como define a compaixão?
Um investigador chamado Paul Gilbert, do Reino Unido, fala da compaixão em termos de “uma sensibilidade ao sofrimento em si e nos outros e um compromisso para aliviar o sofrimento”. Eu seguiria provavelmente a mesma definição.
Portanto, envolve duas coisas. Primeiro, temos de reconhecer o sofrimento e, em segundo lugar, temos de fazer um esforço para o tentar aliviar. Se apenas reconhecermos o sofrimento, isso não é suficiente e se apenas tentarmos ajudar aleatoriamente, isso também pode não ser suficiente.
O que pode influenciar a compaixão?
Alguns estudos sugerem que, quando nos sentimos ameaçados, temos menos compaixão. Isto está relacionado com a região pré-frontal do cérebro e este circuito de ameaça na amígdala. Ou seja, quando a actividade pré-frontal é maior, sentimo-nos mais seguros. Com o stress, a actividade do córtex pré-frontal diminui e a actividade da amígdala aumenta — o que significa que o stress pode ter impacto na compaixão, alterando o circuito cerebral.
E a idade?
Participei num estudo com a minha colega Mara Mather, da Universidade do Sul da Califórnia, que analisou a conectividade destas duas regiões cerebrais [amígdala e região pré-frontal] e a sua relação com a variabilidade do ritmo cardíaco e descobrimos que, tanto em jovens como em idosos, a correlação era mais ou menos idêntica. Por isso, é possível ter, naturalmente, uma grande compaixão (talvez até mais) quando se envelhece.
Poderemos dizer que há algo de involuntário na compaixão?
Sim. Nós não pensamos em muitas destas regulações emocionais que fazemos. É tudo mais ou menos automático. Por isso, aquilo a que chamamos “regulação emocional implícita” é, na minha opinião, a principal forma de regulação das emoções em que todos nós nos envolvemos de forma mais ou menos inconsciente e a toda a hora.
Qual é o papel da oxitocina em tudo isto?
Publicámos um estudo, há alguns anos, do qual fez parte um grupo internacional de investigadores, em que analisámos o gene da oxitocina e descobrimos que as pessoas que tinham um determinado genótipo apresentavam uma maior variabilidade da frequência cardíaca e que o apoio social era mais eficaz para as pessoas com este polimorfismo genético específico.
Há alguma controvérsia sobre a administração de oxitocina exógena às pessoas (através de um spray nasal ou algo do género). Mas sabemos que pelo menos a oxitocina endógena está associada a alguns neurónios no cérebro, os neurónios oxitocinérgicos, que regulam o coração e a função cardíaca, particularmente durante o stress. Isto sugere que ter apoio social, particularmente durante um período de stress, pode activar estes neurónios no cérebro e, por conseguinte, levar a uma fisiologia mais tranquila.
Qual é a relação entre a compaixão, o perdão e a culpa?
Há alguns estudos que sugerem que as pessoas com maior variabilidade da frequência cardíaca têm maior tendência para perdoar. Portanto, mais uma vez, o nervo vago está envolvido porque temos de nos sentir seguros e confiantes em nós próprios e no nosso próprio bem-estar para sermos capazes de perdoar a outra pessoa.
Penso que funciona mais ou menos nos dois sentidos, ou seja, o nervo vago está envolvido na capacidade de perdoar os outros indivíduos e, quando os perdoamos, penso que isso também aumenta a actividade do nervo vago.
Como descreveria a relação entre o coração e o cérebro? Qual deles comanda o outro?
Fizemos alguns estudos, ao longo dos anos, sobre a relação entre a actividade do coração e a actividade do cérebro e tentámos ver qual delas vem primeiro.
[Artigo exclusivo para assinantes]
28.4.23
“Talvez, nos próximos anos, a nossa praia já não esteja lá”
Andréia Azevedo Soares (texto), Gabriela Gómez (infografia) e
Tiago Bernardo Lopes (fotografia), in PúblicoCientistas defendem a adopção rápida de planos de adaptação à subida do mar e de sistemas de aviso precoce de inundações costeiras. O programa europeu Copérnico já está a testar um projecto-piloto.
Quando pensamos em cidades costeiras, desejamos um litoral estanque, uma linha firme, inalterada no tempo. A praia da infância com o mesmo areal, os bares de apoio no sítio do costume e todas construções seguras, anos a fio, apesar de debruçadas sobre o mar. É um sonho inalcançável, sobretudo agora, em tempos de alterações climáticas: o degelo dos glaciares e a expansão térmica do oceano já estão a contribuir para a subida do nível médio do mar. E, por inércia do sistema, assim continuarão. Daí precisarmos com urgência, garantem os cientistas, de planos de adaptação e sistemas de monitorização e aviso precoce.
Ao longo dos últimos dois anos, a investigadora italiana Clara Armaroli liderou um projecto europeu precisamente para criar um mecanismo de aviso precoce capaz de aumentar a resiliência costeira. Chama-se Sistema Europeu de Sensibilização para as Inundações do Copérnico (ECFAS, na sigla em inglês) e envolveu vários países, incluindo Portugal e Espanha. A iniciativa recorre a ferramentas e dados fornecidos pelos satélites europeus do Copérnico, o programa europeu de observação terrestre.
“Desenvolvemos um instrumento que pode ser um candidato a um sistema de aviso precoce costeiro europeu. Está concluído, mas agora precisa de passar por várias etapas antes de uma possível e futura implantação. Criámos várias ferramentas algorítmicas e produtos que vão ser entregues em breve, após esta fase final de revisão do projecto”, explica ao PÚBLICO Clara Armaroli, professora do Departamento de Geologia da Universidade de Bolonha, em Itália, especializada em Geomorfologia e Dinâmica da Costa. Quando começou a liderar o projecto europeu, a investigadora ainda trabalhava na Escola Universitária de Estudos Avançados de Pavia, Itália, que é a instituição responsável pela coordenação do ECFAS.
Os satélites do programa Copérnico já fornecem hoje dados sobre a iminência de eventos climáticos extremos, tais como episódios de seca hidrológica, incêndios florestais e até inundações fluviais. Contudo, o sistema europeu ainda não contempla a previsão de inundações costeiras. E é neste ponto que o trabalho coordenado por Clara Armaroli pode fazer a diferença.
“O sistema já está a funcionar, mas ainda não está aberto ao público. Acreditamos que este é um passo muito importante, é o primeiro sistema do género ao nível europeu. Existem sistemas de aviso precoce, mas tendem a focar-se apenas na parte marinha, ao passo em que o ECFAS vai um pouco mais longe: olhamos para a dimensão e o impacto da tempestade, a área propensa a ser inundada se ocorrer uma tempestade marinha e, por fim, o efeito da erosão”, explica Clara Armaroli numa videochamada.
O objectivo é que as pessoas que residam, ou trabalhem, numa determinada zona em risco possam ser avisadas da probabilidade de cheias com cinco dias de antecedência. O aviso permite uma evacuação planeada das áreas inundáveis, sem sobressaltos. Uma vez que os eventos climáticos extremos tendem a ficar mais intensos e frequentes, os sistemas de aviso precoce passam a ser um instrumento crucial para enfrentar os desafios da mudança do clima.
Calcula-se que cerca de 100 mil pessoas na União Europeia estejam anualmente expostas a inundações costeiras. Estes fenómenos podem significar, em média, custos anuais de 1,4 mil milhões de euros. Se nada fizermos no que toca a medidas de adaptação, os impactos até 2100 podem afectar mais de 1,6 milhões de pessoas e causar prejuízos superiores a 210 mil milhões de euros, indicam dados europeus.
“Os sistemas de aviso precoce têm estado no centro de acontecimentos importantes como a Cimeira do Clima [que decorreu no Egipto em 2022]. Quando estes instrumentos estão a funcionar, é possível prepararmo-nos para manter a população segura. As pessoas sabem que um desastre está prestes a ocorrer, podem mudar-se para outro sítio e [as autoridades] podem tomar medidas de protecção. Se trabalharmos na preparação, as pessoas saberão comportar-se perante de um desastre”, explica a investigadora italiana.
A ideia deste futuro sistema não é que este se sobreponha aos instrumentos de protecção civil locais, mas que forneça previsões para apoiar os sistemas regionais e nacionais que já existem nos países na União Europeia, a exemplo do que acontece com as demais previsões do serviço de gestão de emergências do programa Copérnico.
Estuários, o calcanhar de Aquiles
Da foz do rio Minho à do Guadiana, Portugal conta com cerca de 950 quilómetros de costa. Com a subida do nível do mar, o litoral enfrenta riscos acrescidos no que toca à erosão costeira, à perda de território e aumento das inundações. O investigador João Miguel Dias, professor catedrático da Universidade de Aveiro, acredita que o calcanhar de Aquiles português não será tanto as praias, mas as zonas estuarinas.
O cientista do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar (CESAM) recorda que, no cenário mais pessimista para 2100, a subida do nível médio do mar prevista pelo sexto ciclo de avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) para a costa portuguesa é de 79 centímetros – o que equivaleria à altura de um bebé de 18 meses. E, no melhor dos cenários, 43 centímetros (ambas as estimativas têm como cenário-base 1995-2014).
“Isto não vai trazer uma grande perda de território em termos de praias, porque estas já estão a sofrer uma erosão a uma taxa muito superior. Não é uma situação de drama e horror. É preocupante, sim, mas que já existe sem as alterações
climáticas”, defende João Miguel Dias, especialista em Inundações Costeiras e Hidrodinâmica Estuarina.
Em Portugal, refere o cientista do CESAM, temos como zonas com maior risco o estuário da ria de Aveiro, da ria Formosa, do Mondego, do Tejo e do Sado. “Estes cinco estuários/lagunas estarão mais em risco porque estão rodeados por zonas topográficas com um relevo muito baixo, ou seja, zonas marginais planas. Aqueles tais 79 centímetros podem ser suficientes para alagar parte destas zonas”, afirma João Miguel Dias, referindo-se ao pior cenário do IPCC.
Um estudo do CESAM, publicado em 2022 na revista científica Scientific Reports (do grupo Nature), mostra que “inundações com período de retorno de 100 anos podem impactar directamente quase 23.000 e 35.000 moradores no horizonte de médio e longo prazos, respectivamente”, nos cinco estuários de maior risco. Dessa população, a maior parte (77%) mora nas regiões próximas à ria de Aveiro e Tejo (51% e 26%, respectivamente), ao passo que os restantes 23% vivem nas margens do Sado, da ria Formosa e do Mondego.
Nos cenários desenhados no estudo, grande parte do território inundável está hoje vocacionado para a agricultura. “Nos sistemas estuarinos das rias de Aveiro, do Tejo, Sado e Mondego, as cheias afectam maioritariamente as áreas agrícolas (63%, 65%, 73% e 85% da área total, respectivamente), ao passo que, na ria Formosa, a categoria áreas florestais e seminaturais é a mais afectada (68%)”, refere o estudo do qual João Miguel Dias é co-autor, sendo a cientista Carina Lopes a primeira autora.
A subida do nível médio do mar não é o único factor a ter em conta em possíveis cenários de inundação.
João Miguel Dias recorda que os sistemas estuarinos estão condicionados pela maré, por exemplo, e também pela descarga fluvial – que, como depende das operações nas barragens, traz uma componente de incerteza.
E é essa incógnita, garante o docente, que dificulta que se faça uma monitorização em tempo real da água.
“Temos de estar cientes disso: a maior parte dos estuários portugueses não tem qualquer sistema de monitorização, não tem estações permanentes de medição do nível da água, muitos não têm estações permanentes de medição em tempo real da descarga fluvial (que é um factor muito importante). Estes dados não estão disponíveis. Obviamente que, depois, se torna muito difícil ter qualquer modelo em cima do estuário, considerando que não há informação sobre um factor importante, que é a descarga”, afirma o professor catedrático da Universidade de Aveiro.
Carina Lopes sublinha ainda a importância de haver um sistema capaz de avisar a população. “O território artificializado [com construções urbanas] ameaçado não é muito extenso, mas acaba por ter mais valor, porque tem valor social. Nos estuários, não é [expectável] uma perda permanente [de território], mas poderá colocar pessoas em risco”, afirma a cientista, numa videochamada com o PÚBLICO.
A intrusão salina
Além da importância da instalação de estações de monitorização de sistemas – uma “cruzada” que João Miguel Dias diz travar “há quase 20 anos” –, a equipa da Universidade de Aveiro mostra-se preocupada com um aspecto “negligenciado” quando o assunto é a subida do nível médio do mar: a intrusão salina.
Os estuários são o lugar onde os rios se encontram com o mar ou, por outras palavras, zonas de mistura de água doce e água salgada. Se no futuro vai subir o nível médio do mar – e as previsões científicas são categóricas sobre isso –, tudo indica que passe a entrar mais água salgada nos estuários, que tende a avançar mais em direcção ao interior. Havendo alagamento de zonas marginais, os solos afectados tendem a ficar salinizados e inférteis.
A intrusão salina também tem impacto na biodiversidade. Se vamos ter no futuro uma alteração no gradiente de salinidade, as zonas estuarinas que tipicamente são banhadas por água salobra passarão a receber água mais salgada. Ou seja, as zonas de água doce e salobra passarão a ser muito exíguas nesses estuários, o que constitui uma péssima notícia para as espécies estuarinas. Os animais com menor tolerância à salinidade “estarão claramente em risco e ficarão confinados a zonas muito restritas”, sublinha João Miguel Dias.
Ao contrário das populações e das actividades económicas, que podem beneficiar de sistemas de aviso precoces e medidas de protecção, as diferentes espécies que habitam os estuários não têm para onde fugir. Acabam por ser, de algum modo, o elo mais fraco da subida do nível médio do mar.
“No caso da intrusão salina, não vejo nada que impeça que ela aumente no futuro. Podemos proteger campos agrícolas, mas em termos de ecologia de estuários não vejo forma de haver protecção [contra a subida do nível médio do mar]”, lamenta o professor da Universidade de Aveiro.
Mas a erosão não é natural?
A subida do nível do mar está longe de ser a causa principal da erosão costeira, embora a aceleração deste fenómeno seja mais uma das consequências da mudança do clima. “O problema principal da erosão costeira em Portugal não são as alterações climáticas. As alterações climáticas poderão acelerar ligeiramente – e aqui estou a falar de 5 a 10% – a erosão costeira. Mas apenas ligeiramente. A perda de território acontece na nossa costa Oeste devido ao défice sedimentar provocado pelas barragens e pela artificialização de todo o rio”, explica João Miguel Dias.
A erosão é um fenómeno natural – o mar avança e recua e causa um desgaste natural. Até aí, não há grande novidade. O oceano sempre foi este “ser antigo e violento” que “rói os pilares da terra”, como escreveu, nos anos 60, o escritor argentino Jorge Luís Borges.
Contudo, com a ocupação humana maciça – da habitação à agricultura, passando por infra-estruturas turísticas, industriais e portuárias –, surgiram desequilíbrios que agravaram a erosão da costa. Quando construímos uma barragem, quando varremos o fundo de um rio à procura de areia, quando desviamos cursos de água, quando erguemos um equipamento portuário, estamos a alterar a movimentação de sedimentos em direcção à costa.
As barragens, como o próprio nome sugere, constituem grandes obstáculos não só à vida aquática, mas também ao transporte de inertes. Areias que são filtradas pelas barragens são, na prática, materiais que deixaram de ser depositados no litoral. Se tivermos em mente que Portugal possui cerca de 260 barragens ao longo dos cursos fluviais, não é muito difícil imaginar a montanha de areia que deixa de chegar ao litoral.
O problema da erosão costeira não se resume às barragens, claro está. É um fenómeno complexo e que envolve vários factores. Há também, por exemplo, dragagem de areias em estuários e zonas junto à foz de rios próximos de portos com grande actividade. O objectivo é garantir navegabilidade e segurança das operações portuárias. Os inertes “roubados” à foz dos rios seguem, na maioria das vezes, para o sector da construção, contribuindo ainda mais para o “empobrecimento” da costa.
Alimentar as praias
Quando a erosão chega a um ponto preocupante, é possível avançar com a reposição artificial de inertes. Foi precisamente o que aconteceu, em 2008, na Costa da Caparica, onde foi despejado um milhão de metros cúbicos de areias dragadas na Foz do Tejo. Ou na Figueira da Foz, mais recentemente. Estas soluções não são definitivas. Com o tempo, o areal vai voltar a emagrecer e é necessário realimentar as praias.
Entre 1950 e 2017, houve 134 intervenções de alimentação de praias, a maioria com o objectivo de “melhorar a estabilidade do litoral, como medida de mitigação da erosão costeira, e para aumentar a largura da praia para uso recreativo”, refere um estudo que tem como primeiro autor o geólogo costeiro Celso Aleixo Pinto.
O problema desta medida de mitigação é que, de algum modo, despejar areia numa praia hoje equivale a uma tarefa de Sísifo: é um esforço contínuo. As alterações climáticas só vêm acrescentar mais uma camada de complexidade ao problema: com a subida do nível médio do mar, que deve acelerar nas próximas décadas, o areal tende a desaparecer mais rapidamente. Podemos ganhar tempo, mas é irrealista querer fixar o areal.
“Precisamos de pensar na areia como um recurso não-renovável. Encontrar areia para nutrir as praias não é uma tarefa fácil, o reservatório não é finito e podemos ter muita dificuldade em encontrar a areia certa a um preço que possamos pagar. Não se pode usar qualquer tipo de areia para todas as costas – umas são compatíveis e outras não. Os governos devem considerar investir cada vez mais na alimentação das praias, pois as tempestades intensas estão a tornar-se mais frequentes devido às alterações climáticas. Não é apenas uma questão de magnitude, é de frequência também”, avisa Clara Armaroli.
Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), concorda que esta medida tenderá a ficar cada vez mais cara e escassa. E sublinha que, em Portugal, continua a ser uma das mais apreciadas entre os decisores políticos porque não exige decisões impopulares como a relocalização de edifícios.
“Resolver o problema da praia é fácil. Actualmente, estamos a usar areia que é extraída da dragagem do rio Tejo, mas vai começar a haver cada vez menos disponibilidade. Quando não for suficiente, vamos ter de ir offshore buscar areia ao fundo do mar, o que vai ser ainda mais custoso. Mas ainda temos alguma solução para a zona costeira, a parte difícil será a das zonas de águas interiores”, acredita o professor do Departamento de Engenharia Geográfica, Geofísica e Energia da FCUL, que liderou o projecto SNM Portugal.
O docente destaca o problema de lidar com áreas inundáveis onde há uma malha urbana densa, incluindo casas de primeira habitação e prédios de propriedade horizontal, o que pode envolver múltiplos proprietários, contratos de longa duração e empréstimos a algumas décadas. “Demolir um edifício e deslocar aquelas pessoas dali é extremamente complicado, até do ponto de vista jurídico. Deslocar alguns pescadores, como se fez em Esmoriz, é fácil, são habitações unifamiliares de baixo custo”, afirma Carlos Antunes.
O cientista da FCUL defende que, “face a ameaças incertas, a melhor estratégia é a acção imediata.” São “urgentes”, portanto, planos de adaptação para as zonas baixas e rasas que estão muito expostas. Por exposição, os cientistas querem dizer locais que estejam simultaneamente vulneráveis e densamente ocupados (seja por pessoas, seja por património edificado).
Ciclos políticos curtos não travam as águas
Carlos Antunes dá como exemplo o centro histórico de Olhão, no Algarve, uma zona que necessita “urgentemente” de medidas de mitigação que, segundo o cientista, “não têm sido equacionadas nos últimos anos, visto que estas zonas sofreram grandes obras de requalificação sem considerarem esta perigosidade”. Os ciclos políticos de quatro anos, contudo, condicionam a tomada de decisões impopulares ou onerosas.
“A subida das águas não vai parar em 2100, nem nos próximos séculos. Precisamos muito de planos de adaptação a longo prazo, mas temos o problema de ciclos políticos curtos. Nenhum político quer colocar restrições de novas construções no Plano Director Municipal tendo em mente um evento que só vai acontecer daqui a 50, 100 anos”, afirma ao PÚBLICO numa videochamada.
Depois de produzir uma cartografia de vulnerabilidade costeira, que permite visualizar os pontos frágeis da costa, a equipa de Carlos Antunes quer agora compreender melhor como as populações podem ser afectadas pela subida do nível do mar. No mapa interactivo do projecto SNM Portugal, concluído há seis anos, estimava-se que cerca de 225.000 pessoas viveriam em áreas costeiras vulneráveis à subida do nível médio do mar, em Portugal continental, num cenário probabilístico para 2100. Mas este valor pode ser bem maior, uma vez que os cálculos se basearam em dados oriundos dos censos de 2011.
“Estamos a pegar em todos os dados do INE [Instituto Nacional de Estatística] e a fazer projecções demográficas para o futuro, já com base nos censos de 2021. Nós sabemos que as populações estão a migrar do interior para o litoral. E, portanto, nós vamos ter muito mais edifícios, existindo uma pressão muito maior nestas zonas que já estão sobrecarregadas de malha urbana, e que nós já identificámos como susceptíveis de inundação”, explica Carlos Antunes, especialista em avaliação da vulnerabilidade e do risco costeiro.
Se olharmos para o mapa de Portugal, à luz dos cálculos da equipa de Carlos Antunes, conseguimos identificar rapidamente onde estão as áreas mais vulneráveis: os distritos de Lisboa, Aveiro e Faro lideram a lista de risco de inundação. O cientista argumenta que estes dados científicos já deviam estar a apoiar tomadas de decisão nas autarquias, a exemplo do trabalho que já está a ser feito em Lisboa, Loulé e, agora, Almada.
“Lisboa já proibiu a construção de edifícios junto à zona ribeirinha que tenham a cota soleira abaixo dos 3,80 metros. O próprio terreno do Hospital da CUF já foi elevado, mas há outros edifícios. Mas, se mudar a cor da câmara, já não sei o que os outros vão fazer no futuro. Precisamos de um pacto político nacional, com todas as forças políticas e a sociedade, primeiro para nos comprometermos a não aumentar a ocupação das zonas já identificadas como vulneráveis e, depois, para ter planos para adaptar sobre o que lá está”, defende o cientista da Universidade de Lisboa.
Perante a informação facultada pelos cientistas, os decisores políticos têm de fazer contas e escolhas. Investe-se em custos de realojamento? Compensa-se o encerramento de uma actividade económica da qual dependem muitas famílias? Aposta-se na protecção através de obras de engenharia (o que acarreta perda de património natural)? “No fim de contas, é sempre uma decisão política”, conclui Carlos Antunes.
Entre as medidas de adaptação disponíveis estão as de recuo ou relocalização das infra-estruturas – a menos adoptada –, ou então medidas de protecção que podem ser tanto ligeiras como pesadas. A ligeira consiste na alimentação artificial da praia ou de cordões dunares, enquanto a outra forma de protecção passa pela construção de paredões, enrocamentos, esporões ou molhes portuários.
Soluções inspiradas na natureza
Existem ainda soluções baseadas na natureza, que são aquelas que permitem que a vegetação ou mecanismos naturais sejam, eles próprios, uma barreira ou estrutura de protecção. Através da restauração de sistemas naturais junto à costa, como lagoas ou outros ecossistemas que funcionem como um “escudo” entre a linha de mar e a zona construída, é possível lidar com a subida do nível médio do mar com maior flexibilidade.
“Estas estruturas baseadas na natureza são muito importantes no combate às alterações climáticas. Além de aumentar a resiliência das zonas costeiras, são um sumidouro de carbono, conseguem armazenar por metro quadrado mais do que as florestas tropicais. Ao contribuir para a protecção dos sapais, por exemplo, estamos a proteger as nossas áreas marginais e a reter carbono que, de outro modo, iria para a atmosfera. Na ria de Aveiro, isto é muito importante porque os sapais têm sido degradados. Estas plantas têm sido cada vez mais danificadas e têm desaparecido”, explica ao PÚBLICO a investigadora Carina Lopes.
Clara Armaroli também faz o elogio das soluções inspiradas na natureza. “Enquanto cientista costeira, a minha opinião é: o que é possível deslocar-se para outro sítio, deve ser deslocado, para que a natureza se desenvolva livremente e para evitar a construção de infra-estruturas ao longo da costa”, refere a investigadora italiana, avisando, contudo, que “a natureza precisa de tempo”.
Se queremos ter uma duna, temos de dar tempo à natureza para agir. Os sistemas naturais como medidas de protecção têm de ser planeados, e isso exige que diferentes gerações de decisores políticos abracem estas soluções. E que saibam esperar. “Esta é a única maneira de de agir perante a subida do nível do mar e as mudanças climáticas. Claro que a alimentação das praias é sempre uma opção melhor do que erguer um paredão, mas a areia não é eterna. E a boa areia não estará disponível para sempre”, recorda Clara Armaroli.
A areia não dura para sempre, do mesmo modo que nenhuma paisagem é perpétua. O mar não vai parar de subir; a praia a que nos habituamos vai mudar. Para Clara Armaroli, esta é uma aprendizagem que todos nós precisamos de reter.
“As pessoas vão à praia como se o areal nunca fosse mudar. Todos os anos, no Verão, esperam encontrar as mesmas pessoas, a mesma praia e as mesmas actividades de lazer. Essa perspectiva tem de mudar. Talvez, nos próximos anos, a nossa praia já não esteja lá. As pessoas precisam entender que o nosso relacionamento com a costa se está a transformar. Há décadas que o homem vem afectando as áreas costeiras de diferentes formas – e, aqui, falo do ponto de vista geomorfológico. Não vamos poder segurar a linha de costa para sempre”, remata a cientista.
8.3.23
Uma nova era
Arlindo Oliveira, in Fundação Francisco Manuel dos Santos
O aparecimento da plataforma ChatGPT, lançada pela OpenAI, apanhou de surpresa muitas pessoas que desconheciam os mais recentes avanços da inteligência artificial. Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios, escreve o professor Arlindo Oliveira.
O aparecimento da plataforma ChatGPT, lançada pela OpenAI, apanhou de surpresa muitas pessoas que desconheciam os mais recentes avanços da inteligência artificial. Porém, o ChatGPT representa uma clara evolução na continuidade de uma linha de investigação em inteligência artificial que, desde há alguns anos, tem conseguido resultados notáveis, escreve o professor Arlindo Oliveira.
O ChatGPT pode ser visto como a mais recente encarnação de modelo da grande família de grandes modelos de linguagem, também chamados de modelos fundacionais. Estes modelos resultam da combinação de dois factores importantes: a utilização de uma família de arquitecturas de redes neuronais artificiais (transformadores ou transformers, em inglês) e a aplicação de uma metodologia que consiste em treinar estas arquitecturas com grandes volumes de dados extraídos da Internet. Alguns destes modelos são treinados também com imagens, permitindo associar textos e imagens e executar tarefas relacionadas, tais como gerar uma imagem a partir de um texto.
Este tipo de arquitectura, o transformador, foi proposto por um artigo científico publicado em 2017 e teve um impacto quase imediato na comunidade científica. Esta arquitectura de redes neuronais faz um uso muito eficaz do tipo de computadores mais usados para treinar estas redes (GPUs, ou graphics processing units) e foi originalmente desenvolvida para permitir que as redes neuronais pudessem relacionar palavras distantes entre si numa frase ou fragmento de texto. Os transformadores vieram a revelar-se muito eficazes em tarefas relacionadas com linguagem, tais como responder a uma pergunta, ou prever uma palavra oculta numa frase.
No entanto, o verdadeiro potencial desta arquitectura revelou-se apenas quando estes modelos começaram a ser treinados com grandes volumes de dados retirados da Internet.
Um dos maiores destes modelos, o GPT-3, disponibilizado em 2020, foi treinado em textos que um ser humano demoraria 5000 anos a ler, se lesse durante 24 horas por dia. O GPT-3 (Generative Pre-Trained Transformer), o terceiro da sua linhagem, é usado pelo ChatGPT e foi treinado para prever a próxima palavra numa sequência de palavras, uma capacidade que lhe permite, por exemplo, responder a perguntas, completar textos ou elaborar artigos. Dada uma sequência de palavras, o GPT-3 consegue adivinhar quais as palavras mais prováveis que se seguem e, escolhendo uma destas palavras, pode gerar textos longos, simplesmente olhando para as palavras anteriores e prevendo as próximas.
O verdadeiro potencial revelou-se quando estes modelos começaram a ser treinados com grandes volumes de dados retirados da Internet. O GPT-3, disponibilizado em 2020, foi treinado em textos que um ser humano demoraria 5000 anos a ler, se lesse durante 24 horas por dia
Arlindo Oliveira
A complexidade destes modelos mede-se pelo número de parâmetros que têm, sendo que o GPT-3 usa 175 mil milhões de parâmetros. Cada um dos parâmetros de uma destas redes representa o peso de uma ligação entre dois neurónios da rede neuronal artificial, um pouco como as sinapses que interligam os neurónios biológicos que temos no nosso cérebro. Por enquanto, os cérebros humanos ainda são muito mais complexos que estes modelos. Estimam-se que existam cerca de mil biliões de sinapses (existe grande incerteza sobre este número) num cérebro humano, um número mais de mil vezes superior ao número de parâmetros dos maiores modelos de linguagem de hoje. Mas uma comparação directa entre o cérebro humano e estes modelos acaba por ter pouco significado, porque os princípios de funcionamento e a forma como aprendem são muito diferentes.
Como funciona, afinal, o ChatGPT e qual a razão porque atingiu tão rapidamente a fama, sendo hoje a plataforma de inteligência artificial mais conhecida do planeta? O ChatGPT representa, de facto, uma pequena mas significativa alteração ao GPT-3, que é o modelo de linguagem subjacente que é usado pelo ChatGPT. Quando se interage directamente com o GPT-3, ele tem tendência a gerar respostas que não são o que esperávamos, inventando frequentemente factos inexistentes ou divergindo de formas inesperadas. O ChatGPT foi treinado para analisar as sugestões de textos feitas pelo GPT-3 e, de entre as várias possibilidades (existe sempre mais de uma palavra possível para completar uma frase), gerar aquelas que parecem mais naturais para um ser humano.
Dezenas de pessoas trabalharam intensamente para escolher de entre as diversas possibilidades de resposta geradas pelo GPT-3 quais as mais adequadas e estas preferências foram introduzidas no ChatGPT, usando um mecanismo conhecido como aprendizagem por reforço baseado nas preferências humanas. A aprendizagem por reforço é o mesmo mecanismo que permitiu desenvolver o sistema que é hoje o melhor jogador de Xadrez e Go, o AlphaZero, desenvolvido pela DeepMind, uma empresa do grupo Google. De entre as miríades de possibilidades de completar uma frase, ou responder a uma pergunta, propostas pelo GPT-3, o ChatGPT foi treinado para escolher aquelas que são preferidas pelos seres humanos.
Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios.
Arlindo Oliveira
A complexidade destes modelos mede-se pelo número de parâmetros que têm, sendo que o GPT-3 usa 175 mil milhões de parâmetros. Cada um dos parâmetros de uma destas redes representa o peso de uma ligação entre dois neurónios da rede neuronal artificial, um pouco como as sinapses que interligam os neurónios biológicos que temos no nosso cérebro. Por enquanto, os cérebros humanos ainda são muito mais complexos que estes modelos. Estimam-se que existam cerca de mil biliões de sinapses (existe grande incerteza sobre este número) num cérebro humano, um número mais de mil vezes superior ao número de parâmetros dos maiores modelos de linguagem de hoje. Mas uma comparação directa entre o cérebro humano e estes modelos acaba por ter pouco significado, porque os princípios de funcionamento e a forma como aprendem são muito diferentes.
Como funciona, afinal, o ChatGPT e qual a razão porque atingiu tão rapidamente a fama, sendo hoje a plataforma de inteligência artificial mais conhecida do planeta? O ChatGPT representa, de facto, uma pequena mas significativa alteração ao GPT-3, que é o modelo de linguagem subjacente que é usado pelo ChatGPT. Quando se interage directamente com o GPT-3, ele tem tendência a gerar respostas que não são o que esperávamos, inventando frequentemente factos inexistentes ou divergindo de formas inesperadas. O ChatGPT foi treinado para analisar as sugestões de textos feitas pelo GPT-3 e, de entre as várias possibilidades (existe sempre mais de uma palavra possível para completar uma frase), gerar aquelas que parecem mais naturais para um ser humano.
Dezenas de pessoas trabalharam intensamente para escolher de entre as diversas possibilidades de resposta geradas pelo GPT-3 quais as mais adequadas e estas preferências foram introduzidas no ChatGPT, usando um mecanismo conhecido como aprendizagem por reforço baseado nas preferências humanas. A aprendizagem por reforço é o mesmo mecanismo que permitiu desenvolver o sistema que é hoje o melhor jogador de Xadrez e Go, o AlphaZero, desenvolvido pela DeepMind, uma empresa do grupo Google. De entre as miríades de possibilidades de completar uma frase, ou responder a uma pergunta, propostas pelo GPT-3, o ChatGPT foi treinado para escolher aquelas que são preferidas pelos seres humanos.
Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios.
Arlindo Oliveira
O resultado final foi um sistema que, pela primeira vez, é convincente de um ponto de vista das respostas que gera e dos textos que escreve. Embora seja possível, e não muito difícil, fazer com que o ChatGPT erre ou gere informação errada, de uma forma geral os textos e as respostas são adequados, convincentes e esclarecedores. Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios. Combinando este facto com a enorme quantidade de informação que foi usada para treinar o modelo de linguagem subjacente resultou num sistema que, embora puramente estatístico, contém uma enorme quantidade de conhecimento e é capaz de o usar para responder aos mais diversos tipos de solicitações.
O ChatGPT não passa, ainda, o teste de Turing, e talvez nunca nenhuma máquina venha a consegui-lo. Muitos investigadores acreditam, de resto, que esse não será um objectivo particularmente relevante. Mas isso não significa que o ChatGPT não seja uma ferramenta útil e impressionante. Modelos deste tipo irão tornar-se progressivamente mais comuns e irão, seguramente, mudar a forma como interagimos uns com os outros e com os computadores. Podemos estar a assistir ao começo de uma nova era na forma como usamos e interagimos com as máquinas.
Autor
Arlindo Oliveira
Professor catedrático e especialista em inteligência artificial
O aparecimento da plataforma ChatGPT, lançada pela OpenAI, apanhou de surpresa muitas pessoas que desconheciam os mais recentes avanços da inteligência artificial. Porém, o ChatGPT representa uma clara evolução na continuidade de uma linha de investigação em inteligência artificial que, desde há alguns anos, tem conseguido resultados notáveis, escreve o professor Arlindo Oliveira.
O ChatGPT pode ser visto como a mais recente encarnação de modelo da grande família de grandes modelos de linguagem, também chamados de modelos fundacionais. Estes modelos resultam da combinação de dois factores importantes: a utilização de uma família de arquitecturas de redes neuronais artificiais (transformadores ou transformers, em inglês) e a aplicação de uma metodologia que consiste em treinar estas arquitecturas com grandes volumes de dados extraídos da Internet. Alguns destes modelos são treinados também com imagens, permitindo associar textos e imagens e executar tarefas relacionadas, tais como gerar uma imagem a partir de um texto.
Este tipo de arquitectura, o transformador, foi proposto por um artigo científico publicado em 2017 e teve um impacto quase imediato na comunidade científica. Esta arquitectura de redes neuronais faz um uso muito eficaz do tipo de computadores mais usados para treinar estas redes (GPUs, ou graphics processing units) e foi originalmente desenvolvida para permitir que as redes neuronais pudessem relacionar palavras distantes entre si numa frase ou fragmento de texto. Os transformadores vieram a revelar-se muito eficazes em tarefas relacionadas com linguagem, tais como responder a uma pergunta, ou prever uma palavra oculta numa frase.
No entanto, o verdadeiro potencial desta arquitectura revelou-se apenas quando estes modelos começaram a ser treinados com grandes volumes de dados retirados da Internet.
Um dos maiores destes modelos, o GPT-3, disponibilizado em 2020, foi treinado em textos que um ser humano demoraria 5000 anos a ler, se lesse durante 24 horas por dia. O GPT-3 (Generative Pre-Trained Transformer), o terceiro da sua linhagem, é usado pelo ChatGPT e foi treinado para prever a próxima palavra numa sequência de palavras, uma capacidade que lhe permite, por exemplo, responder a perguntas, completar textos ou elaborar artigos. Dada uma sequência de palavras, o GPT-3 consegue adivinhar quais as palavras mais prováveis que se seguem e, escolhendo uma destas palavras, pode gerar textos longos, simplesmente olhando para as palavras anteriores e prevendo as próximas.
O verdadeiro potencial revelou-se quando estes modelos começaram a ser treinados com grandes volumes de dados retirados da Internet. O GPT-3, disponibilizado em 2020, foi treinado em textos que um ser humano demoraria 5000 anos a ler, se lesse durante 24 horas por dia
Arlindo Oliveira
A complexidade destes modelos mede-se pelo número de parâmetros que têm, sendo que o GPT-3 usa 175 mil milhões de parâmetros. Cada um dos parâmetros de uma destas redes representa o peso de uma ligação entre dois neurónios da rede neuronal artificial, um pouco como as sinapses que interligam os neurónios biológicos que temos no nosso cérebro. Por enquanto, os cérebros humanos ainda são muito mais complexos que estes modelos. Estimam-se que existam cerca de mil biliões de sinapses (existe grande incerteza sobre este número) num cérebro humano, um número mais de mil vezes superior ao número de parâmetros dos maiores modelos de linguagem de hoje. Mas uma comparação directa entre o cérebro humano e estes modelos acaba por ter pouco significado, porque os princípios de funcionamento e a forma como aprendem são muito diferentes.
Como funciona, afinal, o ChatGPT e qual a razão porque atingiu tão rapidamente a fama, sendo hoje a plataforma de inteligência artificial mais conhecida do planeta? O ChatGPT representa, de facto, uma pequena mas significativa alteração ao GPT-3, que é o modelo de linguagem subjacente que é usado pelo ChatGPT. Quando se interage directamente com o GPT-3, ele tem tendência a gerar respostas que não são o que esperávamos, inventando frequentemente factos inexistentes ou divergindo de formas inesperadas. O ChatGPT foi treinado para analisar as sugestões de textos feitas pelo GPT-3 e, de entre as várias possibilidades (existe sempre mais de uma palavra possível para completar uma frase), gerar aquelas que parecem mais naturais para um ser humano.
Dezenas de pessoas trabalharam intensamente para escolher de entre as diversas possibilidades de resposta geradas pelo GPT-3 quais as mais adequadas e estas preferências foram introduzidas no ChatGPT, usando um mecanismo conhecido como aprendizagem por reforço baseado nas preferências humanas. A aprendizagem por reforço é o mesmo mecanismo que permitiu desenvolver o sistema que é hoje o melhor jogador de Xadrez e Go, o AlphaZero, desenvolvido pela DeepMind, uma empresa do grupo Google. De entre as miríades de possibilidades de completar uma frase, ou responder a uma pergunta, propostas pelo GPT-3, o ChatGPT foi treinado para escolher aquelas que são preferidas pelos seres humanos.
Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios.
Arlindo Oliveira
A complexidade destes modelos mede-se pelo número de parâmetros que têm, sendo que o GPT-3 usa 175 mil milhões de parâmetros. Cada um dos parâmetros de uma destas redes representa o peso de uma ligação entre dois neurónios da rede neuronal artificial, um pouco como as sinapses que interligam os neurónios biológicos que temos no nosso cérebro. Por enquanto, os cérebros humanos ainda são muito mais complexos que estes modelos. Estimam-se que existam cerca de mil biliões de sinapses (existe grande incerteza sobre este número) num cérebro humano, um número mais de mil vezes superior ao número de parâmetros dos maiores modelos de linguagem de hoje. Mas uma comparação directa entre o cérebro humano e estes modelos acaba por ter pouco significado, porque os princípios de funcionamento e a forma como aprendem são muito diferentes.
Como funciona, afinal, o ChatGPT e qual a razão porque atingiu tão rapidamente a fama, sendo hoje a plataforma de inteligência artificial mais conhecida do planeta? O ChatGPT representa, de facto, uma pequena mas significativa alteração ao GPT-3, que é o modelo de linguagem subjacente que é usado pelo ChatGPT. Quando se interage directamente com o GPT-3, ele tem tendência a gerar respostas que não são o que esperávamos, inventando frequentemente factos inexistentes ou divergindo de formas inesperadas. O ChatGPT foi treinado para analisar as sugestões de textos feitas pelo GPT-3 e, de entre as várias possibilidades (existe sempre mais de uma palavra possível para completar uma frase), gerar aquelas que parecem mais naturais para um ser humano.
Dezenas de pessoas trabalharam intensamente para escolher de entre as diversas possibilidades de resposta geradas pelo GPT-3 quais as mais adequadas e estas preferências foram introduzidas no ChatGPT, usando um mecanismo conhecido como aprendizagem por reforço baseado nas preferências humanas. A aprendizagem por reforço é o mesmo mecanismo que permitiu desenvolver o sistema que é hoje o melhor jogador de Xadrez e Go, o AlphaZero, desenvolvido pela DeepMind, uma empresa do grupo Google. De entre as miríades de possibilidades de completar uma frase, ou responder a uma pergunta, propostas pelo GPT-3, o ChatGPT foi treinado para escolher aquelas que são preferidas pelos seres humanos.
Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios.
Arlindo Oliveira
O resultado final foi um sistema que, pela primeira vez, é convincente de um ponto de vista das respostas que gera e dos textos que escreve. Embora seja possível, e não muito difícil, fazer com que o ChatGPT erre ou gere informação errada, de uma forma geral os textos e as respostas são adequados, convincentes e esclarecedores. Pela primeira vez, um sistema de inteligência artificial é capaz de dialogar com seres humanos sem cometer erros demasiado óbvios. Combinando este facto com a enorme quantidade de informação que foi usada para treinar o modelo de linguagem subjacente resultou num sistema que, embora puramente estatístico, contém uma enorme quantidade de conhecimento e é capaz de o usar para responder aos mais diversos tipos de solicitações.
O ChatGPT não passa, ainda, o teste de Turing, e talvez nunca nenhuma máquina venha a consegui-lo. Muitos investigadores acreditam, de resto, que esse não será um objectivo particularmente relevante. Mas isso não significa que o ChatGPT não seja uma ferramenta útil e impressionante. Modelos deste tipo irão tornar-se progressivamente mais comuns e irão, seguramente, mudar a forma como interagimos uns com os outros e com os computadores. Podemos estar a assistir ao começo de uma nova era na forma como usamos e interagimos com as máquinas.
Autor
Arlindo Oliveira
Professor catedrático e especialista em inteligência artificial
13.8.21
O populismo virou-se para a ciência e combater a desconfiança que semeou “exigirá um esforço a longo prazo”
Joana Gonçalves, in RR
“Os alicerces do populismo são semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração”, defende Jakob-Moritz Eberl, em entrevista à Renascença. Para o investigador austríaco, este é um problema que atinge sobretudo as gerações mais velhas e que dificilmente será combatido a curto prazo. Restabelecer a confiança dos cidadãos na ciência é o desafio.
Se no início da pandemia os portugueses se viraram para a ciência em busca de respostas e orientação, nos últimos meses parece ter aumentado um movimento de ceticismo e, nalguns casos, até, de reprovação e descrença perante os mesmos especialistas que, desde março de 2020, procuram respostas para pôr fim a esta crise.
As teorias da conspiração, que já antes circulavam sobre a Covid-19, ganharam um novo impulso com a chegada da vacina e a ciência, que há um ano triunfou, regrediu agora para um estatuto menos digno, aos olhos de alguns. Mas como se explica este fenómeno?
Para Jakob-Moritz Eberl, investigador da Universidade de Viena e membro do ACPP - Austrian Corona Panel Project, a resposta é simples: o populismo chegou à ciência.
Aos atores políticos e aos media, que eram até aqui os principais alvos do discurso populista, juntaram-se, recentemente, as instituições científicas e os académicos que as representam.
“Abrimos uma caixa de pandora”, defende o académico austríaco, em entrevista à Renascença. “Esta desconfiança que observamos agora [em relação à ciência] é a mesma a que assistimos contra os media e que aumentou significativamente depois da crise migratória de 2015. Temos de equacionar isto a longo prazo, e tentar compreender de que forma vamos recuperar essa confiança”.
Para o investigador, membro do Centro de Investigação Eleitoral de Viena, “os alicerces do populismo são, de certa forma, muito semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração” e a resposta não será alcançada no curto prazo, mas exigirá um esforço contínuo durante os próximos tempos, para lá do fim da pandemia.
Aumentar a literacia científica e promover o diálogo ciência-sociedade pode ser a solução.
Num artigo científico, de que é autor principal, defende que o “populismo científico” está no centro das teorias da conspiração sobre a pandemia da Covid-19. De que forma?
O que acho interessante é que, quando pensamos em populismo, na maioria das vezes, só nos ocorre o populismo político. Associamo-lo à noção de "adorar e zelar pelo povo" e em como as elites políticas são percepcionadas como “malévolas” ou “perversas”, com intenções próprias que só as beneficiam. Na maioria das vezes, também associamos, automaticamente, o populismo a uma ideologia nativista e de direita.
O que defendemos neste artigo é que temos de dar um passo atrás e olhar para as atitudes populistas dos eleitores, por um lado, independentemente da sua ideologia - não interessa se são de direita ou esquerda, mas sim se apresentam atitudes populistas, algumas associadas ao anti-elitismo, outras a uma visão maniqueísta do mundo - e, por outro lado, compreender esta crença de que os cidadãos representam boas intenções e sabem sempre o que é melhor para todos. Esta é a ideia chave do populismo.
Os alicerces do populismo são muito semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração"
Defendemos, por isso, que, especialmente nesta pandemia, o populismo não se centra apenas nas elites políticas, mas também nas elites científicas, representadas por académicos, especialistas e instituições científicas que detêm o poder sobre o que é verdade. E, uma vez mais, os populistas defendem que esta verdade está a ser utilizada contra o cidadão comum.
Crê que todas as pessoas que agora acreditam em teorias da conspiração relacionadas com a Covid-19 já antes apresentavam uma atitude anti-ciência, de ceticismo perante o conhecimento científico? Por exemplo, acredita que estes cidadãos são anti-vacinação? Ou não é possível identificar uma relação direta entre uma atitude prévia anti-ciência e a crença nestas teorias da conspiração, no contexto da pandemia?
Essa relação nunca é absoluta. Não é certo que todas as pessoas anti-ciência sejam anti-vacina, como também não há uma garantia de que todas as pessoas anti-vacina sejam, de forma generalizada, anti-ciência. Mas há uma correlação muito forte entre as duas.
A questão é: o que surgiu primeiro? E nós sabemos que já existiam movimentos populistas políticos antes de concebermos a ideia de populismo científico. Por isso, temos de olhar para os agentes que alimentam ideias populistas. O facto é que a fonte do populismo científico é a mesma do populismo político, tem origem nos mesmos atores políticos: partidos populistas de direita, na maioria dos países, e partidos populistas de esquerda, nalguns casos também. Apesar de que os populistas de esquerda tendem a defender uma visão tecnocrática, onde a ciência é vista como importante e fundamental.
Por isso, o que observamos é que o populismo científico provém, sobretudo, de partidos populistas de direita, que transitaram de uma ideia de que as elites políticas e os media são maus, para um novo discurso focado nas elites científicas, nos académicos.
Se ouves constantemente que os especialistas têm más intenções e que há uma complô académico, que une os media, os peritos e os políticos, num plano macabro que decidirá o destino da humanidade, então tendes a acreditar em teorias da conspiração, porque os alicerces do populismo são, de certa forma, muito semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração. Há sempre uma elite algures, mal intencionada, que nos tenta controlar. Esta é a essência do populismo e das teorias da conspiração.
Não deixa de ser curioso que, aparentemente, e no caso particular de Portugal, parte dos cidadãos que no início da pandemia se viraram para a ciência e para os académicos em busca de respostas, conselhos e orientações sobre como escapar ao vírus e controlar a pandemia, são também os mesmos que começam agora a duvidar das novas informações científicas e das decisões políticas tomadas com base nesses conhecimentos e orientações. Como é que se explica esta mudança na perceção dos cidadãos relativamente à ciência e aos especialistas?
Não conheço os dados para a população portuguesa em específico, mas na Áustria o que observamos é que são grupos muito distintos de pessoas. Mas, de forma geral, diria que é natural que tenhamos algum grau de ceticismo, tanto em relação ao Governo, como aos media e instituições científicas.
Contudo, o que é muito importante compreender é que há todo um processo até à aquisição de conhecimento. E neste processo vamos sempre encontrar um cientista, um especialista que nos dirá que as máscaras não são eficazes, que certas medidas não deveriam ser tomadas ou que o vírus não é perigoso. Porém, temos que ver as coisas em perspetiva e entender que neste caso há um grande grupo de cientistas que discordam, há um consenso científico do outro lado. O que pode nem sempre ser fácil de compreender por parte destas pessoas, mesmo que tenham o interesse de pesquisar sobre o que se passa.
É possível que caiam na armadilha do viés de confirmação, onde encontram uma pessoa que seja, pode até ser um investigador, que lhes diz que as máscaras não funcionam e, discordando pessoalmente do uso da máscara, optam por ouvir este especialista e é nele que depositam a sua confiança, mesmo que represente uma posição minoritária, na comunidade académica.
Temos de conseguir explicar as nossas dúvidas e incertezas, mas com o cuidado de as apresentar em perspectiva
Desvalorizar estas preocupações não é, por isso, a solução. Aumentar o contacto entre o público e a ciência pode ser o caminho? Acredita que esse esforço já está em curso?
Acho que o importante é que sejamos o mais transparentes possível. Isto também quer dizer que se houver efeitos secundários da vacina, devemos ser transparentes quanto a isso e não limitar-nos a dizer "és anti-vacina, só te focas nos efeitos secundários, não quero falar contigo, és maluco, um conspiracionista".
Temos de ser abertos e transparentes sobre estes efeitos secundários e temos de conversar com estas pessoas, procurar o diálogo. No fim de contas, a evidência é clara e cada vez mais precisa. No início da pandemia tínhamos informações com um elevado grau de incerteza e essa informação foi ficando cada vez mais clara. E este é, também, um processo que temos de explicar aos cidadãos, que ainda estamos a aprender, mas há coisas que por esta altura já sabemos e são cada vez mais evidentes.
Temos de conseguir explicar as nossas dúvidas e incertezas, mas com o cuidado de as apresentar em perspetiva. Até ao momento, é claro que o vírus continua a ser mais perigoso do que todas as alternativas que temos vindo a apresentar.
Em conversa com outros académicos, ouvi várias vezes que desistiram de tentar explicar os benefícios da vacinação a pessoas que se recusam a aceitar a vacina. Acredita que é possível alterar a perceção de um cidadão que é contra a vacinação, de forma a aumentar a confiança que este tem na ciência e, em último caso, a aceitar ser vacinado contra a Covid-19?
Não acredito que o consigamos fazer a curto prazo. Terá de ser um esforço a longo prazo e é algo que teremos de combater mesmo depois da pandemia terminar. E repare que não estou a dizer "se a pandemia terminar", mas "quando a pandemia terminar". O que significa que isto é uma espécie de "caixa de pandora" que abrimos.
Esta desconfiança que observamos agora é a mesma desconfiança a que assistimos contra os media e que aumentou significativamente depois da crise migratória de 2015. Temos de equacionar isto a longo prazo, e tentar compreender de que forma vamos recuperar essa confiança.
É algo que os media tentaram através do reforço da transparência e é algo que a academia, os governos e os media terão de fazer, juntos, durante a pandemia, mas também quando ela terminar, muito depois de terminar. Porque as pessoas não vão simplesmente parar de acreditar nestas teorias da conspiração e abandonar o ceticismo perante a ciência, quando a pandemia chegar ao fim.
Não sabemos se não virá outra pandemia, ou outra crise. Aliás, continuamos a ter que lidar com as alterações climáticas, que enfrentam o mesmo problema e as mesmas pessoas que tendem a desconfiar do conhecimento científico sobre o SARS-CoV-2 também desconfiam das evidências das alterações climáticas.
Por que motivo é acentuada essa tendência de desconfiança, hesitação e ceticismo relativamente a estes dois temas. O que têm em comum que parece promover este tipo de discursos populistas e anti-ciência, que contrariam a evidência científica?
É muito difícil apontar uma característica específica, mas o que observamos em ambos os discursos e nos dois casos é que se tratam de matérias internacionais, problemas a nível global que estão a ser discutidos ao nível das elites e de forma complexa. Não há respostas simples, respostas fáceis.
Para além disso, em ambos os casos, apesar de que a escalas diferentes, as consequências exatas da inação estão no futuro e são difíceis de antecipar e compreender. O que significa, por exemplo, que daqui a 30 anos podemos chegar a um ponto de não retorno com o clima? Ou como explicar o que poderia ter acontecido se não tivéssemos adotado medidas de controle da pandemia?
É algo muito difícil de comunicar, porque são coisas que ainda estão para acontecer e se as pessoas não estiverem realmente interessadas em entender estes fenómenos não vão ter uma reação emotiva ou empática e, por isso, também não compreenderão imediatamente a importância de agir de certa forma.
As redes sociais são mesmo as principais responsáveis pela emergência e divulgação destas teorias da conspiração?
A OMS alertou, muito cedo, para uma "infodemia" [isto é, uma pandemia de desinformação] que agravou o cenário já preocupante da pandemia da Covid-19, com informação incorreta e falaciosa a espalhar-se como um vírus. Isto é, definitivamente, algo que observamos nalguns grupos da população.
No entanto, a maioria da informação enganosa, aquela chega a mais pessoas e é lida e vista por mais cidadãos, vem de líderes políticos. Nos EUA foi divulgada, sobretudo, através do Presidente Donald Trump, que partilhou um número enorme de informação enganadora sobre o vírus. Isto é algo que vemos, também, em vários agentes populistas na Europa.
É, sobretudo, importante entender que este não é um problema das novas gerações"
Mas tudo é muito mais facilmente divulgado, através das redes sociais. Qualquer pessoa pode fazer uma alegação e são precisamente as mais descabidas e surpreendentes que recebem mais "gostos" e mais partilhas, aumentando assim a probabilidade de surgir no nosso feed, mesmo que não conheçamos essa pessoa.
É, definitivamente, um problema. Sabemos que estas grandes plataformas continuam a tentar encontrar uma forma de controlar este fenómeno, a questão que se coloca é se devemos depositar todas as nossas esperanças na tecnologia, quando foi precisamente a tecnologia que nos trouxe até aqui.
Não deveríamos, então, tentar aumentar o nível de literacia científica, mediática e política?
Sem dúvida. A literacia mediática, de saúde e política é definitivamente um aspecto em que temos que melhorar.
E é, sobretudo, importante entender que este não é um problema das novas gerações. É comum ouvirmos que os jovens não sabem o que se passa na internet, não entendem o mundo. Mas a verdade é que este também é um problema das gerações mais velhas, em particular das faixas etárias acima dos 60 anos, pessoas que provavelmente já estão reformadas e não são nativos digitais. É muito difícil para estas pessoas distinguir um site legítimo e oficial de uma página bem conseguida por um anónimo.
Como podemos, então, pôr fim à adesão do público a novas teorias da conspiração e aumentar a confiança dos cidadãos na ciência? Serão as instituições científicas, ainda, muito elitistas?
Acredito piamente que há várias soluções e não uma única resposta milagrosa. Mas há diversas formas de enfrentar este problema. Por um lado, acho que os especialistas e académicos têm que vir mais cá para fora, dar mais entrevistas e partilhar cada vez mais o seu conhecimento com o público em geral.
Também é importante que os partidos políticos no poder sejam mais inclusivos, de certa forma. É crucial que sejam mais transparentes relativamente aos fundamentos que estão na base das decisões que tomam, das políticas que implementam.
E no fim de contas, temos mesmo que ter uma conversa séria com os partidos e os agentes populistas e explicar-lhes - eles já o devem saber, mas pelo menos reforçar - as consequências reais destes sucessivos ataques às instituições científicas e democráticas. Eles diminuem a confiança dos cidadãos em instituições centrais para democracias liberais e só nos aproximam de democracias iliberais, onde a maioria dos cidadãos europeus não deseja viver.
“Os alicerces do populismo são semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração”, defende Jakob-Moritz Eberl, em entrevista à Renascença. Para o investigador austríaco, este é um problema que atinge sobretudo as gerações mais velhas e que dificilmente será combatido a curto prazo. Restabelecer a confiança dos cidadãos na ciência é o desafio.
Se no início da pandemia os portugueses se viraram para a ciência em busca de respostas e orientação, nos últimos meses parece ter aumentado um movimento de ceticismo e, nalguns casos, até, de reprovação e descrença perante os mesmos especialistas que, desde março de 2020, procuram respostas para pôr fim a esta crise.
As teorias da conspiração, que já antes circulavam sobre a Covid-19, ganharam um novo impulso com a chegada da vacina e a ciência, que há um ano triunfou, regrediu agora para um estatuto menos digno, aos olhos de alguns. Mas como se explica este fenómeno?
Para Jakob-Moritz Eberl, investigador da Universidade de Viena e membro do ACPP - Austrian Corona Panel Project, a resposta é simples: o populismo chegou à ciência.
Aos atores políticos e aos media, que eram até aqui os principais alvos do discurso populista, juntaram-se, recentemente, as instituições científicas e os académicos que as representam.
“Abrimos uma caixa de pandora”, defende o académico austríaco, em entrevista à Renascença. “Esta desconfiança que observamos agora [em relação à ciência] é a mesma a que assistimos contra os media e que aumentou significativamente depois da crise migratória de 2015. Temos de equacionar isto a longo prazo, e tentar compreender de que forma vamos recuperar essa confiança”.
Para o investigador, membro do Centro de Investigação Eleitoral de Viena, “os alicerces do populismo são, de certa forma, muito semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração” e a resposta não será alcançada no curto prazo, mas exigirá um esforço contínuo durante os próximos tempos, para lá do fim da pandemia.
Aumentar a literacia científica e promover o diálogo ciência-sociedade pode ser a solução.
Num artigo científico, de que é autor principal, defende que o “populismo científico” está no centro das teorias da conspiração sobre a pandemia da Covid-19. De que forma?
O que acho interessante é que, quando pensamos em populismo, na maioria das vezes, só nos ocorre o populismo político. Associamo-lo à noção de "adorar e zelar pelo povo" e em como as elites políticas são percepcionadas como “malévolas” ou “perversas”, com intenções próprias que só as beneficiam. Na maioria das vezes, também associamos, automaticamente, o populismo a uma ideologia nativista e de direita.
O que defendemos neste artigo é que temos de dar um passo atrás e olhar para as atitudes populistas dos eleitores, por um lado, independentemente da sua ideologia - não interessa se são de direita ou esquerda, mas sim se apresentam atitudes populistas, algumas associadas ao anti-elitismo, outras a uma visão maniqueísta do mundo - e, por outro lado, compreender esta crença de que os cidadãos representam boas intenções e sabem sempre o que é melhor para todos. Esta é a ideia chave do populismo.
Os alicerces do populismo são muito semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração"
Defendemos, por isso, que, especialmente nesta pandemia, o populismo não se centra apenas nas elites políticas, mas também nas elites científicas, representadas por académicos, especialistas e instituições científicas que detêm o poder sobre o que é verdade. E, uma vez mais, os populistas defendem que esta verdade está a ser utilizada contra o cidadão comum.
Crê que todas as pessoas que agora acreditam em teorias da conspiração relacionadas com a Covid-19 já antes apresentavam uma atitude anti-ciência, de ceticismo perante o conhecimento científico? Por exemplo, acredita que estes cidadãos são anti-vacinação? Ou não é possível identificar uma relação direta entre uma atitude prévia anti-ciência e a crença nestas teorias da conspiração, no contexto da pandemia?
Essa relação nunca é absoluta. Não é certo que todas as pessoas anti-ciência sejam anti-vacina, como também não há uma garantia de que todas as pessoas anti-vacina sejam, de forma generalizada, anti-ciência. Mas há uma correlação muito forte entre as duas.
A questão é: o que surgiu primeiro? E nós sabemos que já existiam movimentos populistas políticos antes de concebermos a ideia de populismo científico. Por isso, temos de olhar para os agentes que alimentam ideias populistas. O facto é que a fonte do populismo científico é a mesma do populismo político, tem origem nos mesmos atores políticos: partidos populistas de direita, na maioria dos países, e partidos populistas de esquerda, nalguns casos também. Apesar de que os populistas de esquerda tendem a defender uma visão tecnocrática, onde a ciência é vista como importante e fundamental.
Por isso, o que observamos é que o populismo científico provém, sobretudo, de partidos populistas de direita, que transitaram de uma ideia de que as elites políticas e os media são maus, para um novo discurso focado nas elites científicas, nos académicos.
Se ouves constantemente que os especialistas têm más intenções e que há uma complô académico, que une os media, os peritos e os políticos, num plano macabro que decidirá o destino da humanidade, então tendes a acreditar em teorias da conspiração, porque os alicerces do populismo são, de certa forma, muito semelhantes à base de qualquer teoria da conspiração. Há sempre uma elite algures, mal intencionada, que nos tenta controlar. Esta é a essência do populismo e das teorias da conspiração.
Não deixa de ser curioso que, aparentemente, e no caso particular de Portugal, parte dos cidadãos que no início da pandemia se viraram para a ciência e para os académicos em busca de respostas, conselhos e orientações sobre como escapar ao vírus e controlar a pandemia, são também os mesmos que começam agora a duvidar das novas informações científicas e das decisões políticas tomadas com base nesses conhecimentos e orientações. Como é que se explica esta mudança na perceção dos cidadãos relativamente à ciência e aos especialistas?
Não conheço os dados para a população portuguesa em específico, mas na Áustria o que observamos é que são grupos muito distintos de pessoas. Mas, de forma geral, diria que é natural que tenhamos algum grau de ceticismo, tanto em relação ao Governo, como aos media e instituições científicas.
Contudo, o que é muito importante compreender é que há todo um processo até à aquisição de conhecimento. E neste processo vamos sempre encontrar um cientista, um especialista que nos dirá que as máscaras não são eficazes, que certas medidas não deveriam ser tomadas ou que o vírus não é perigoso. Porém, temos que ver as coisas em perspetiva e entender que neste caso há um grande grupo de cientistas que discordam, há um consenso científico do outro lado. O que pode nem sempre ser fácil de compreender por parte destas pessoas, mesmo que tenham o interesse de pesquisar sobre o que se passa.
É possível que caiam na armadilha do viés de confirmação, onde encontram uma pessoa que seja, pode até ser um investigador, que lhes diz que as máscaras não funcionam e, discordando pessoalmente do uso da máscara, optam por ouvir este especialista e é nele que depositam a sua confiança, mesmo que represente uma posição minoritária, na comunidade académica.
Temos de conseguir explicar as nossas dúvidas e incertezas, mas com o cuidado de as apresentar em perspectiva
Desvalorizar estas preocupações não é, por isso, a solução. Aumentar o contacto entre o público e a ciência pode ser o caminho? Acredita que esse esforço já está em curso?
Acho que o importante é que sejamos o mais transparentes possível. Isto também quer dizer que se houver efeitos secundários da vacina, devemos ser transparentes quanto a isso e não limitar-nos a dizer "és anti-vacina, só te focas nos efeitos secundários, não quero falar contigo, és maluco, um conspiracionista".
Temos de ser abertos e transparentes sobre estes efeitos secundários e temos de conversar com estas pessoas, procurar o diálogo. No fim de contas, a evidência é clara e cada vez mais precisa. No início da pandemia tínhamos informações com um elevado grau de incerteza e essa informação foi ficando cada vez mais clara. E este é, também, um processo que temos de explicar aos cidadãos, que ainda estamos a aprender, mas há coisas que por esta altura já sabemos e são cada vez mais evidentes.
Temos de conseguir explicar as nossas dúvidas e incertezas, mas com o cuidado de as apresentar em perspetiva. Até ao momento, é claro que o vírus continua a ser mais perigoso do que todas as alternativas que temos vindo a apresentar.
Em conversa com outros académicos, ouvi várias vezes que desistiram de tentar explicar os benefícios da vacinação a pessoas que se recusam a aceitar a vacina. Acredita que é possível alterar a perceção de um cidadão que é contra a vacinação, de forma a aumentar a confiança que este tem na ciência e, em último caso, a aceitar ser vacinado contra a Covid-19?
Não acredito que o consigamos fazer a curto prazo. Terá de ser um esforço a longo prazo e é algo que teremos de combater mesmo depois da pandemia terminar. E repare que não estou a dizer "se a pandemia terminar", mas "quando a pandemia terminar". O que significa que isto é uma espécie de "caixa de pandora" que abrimos.
Esta desconfiança que observamos agora é a mesma desconfiança a que assistimos contra os media e que aumentou significativamente depois da crise migratória de 2015. Temos de equacionar isto a longo prazo, e tentar compreender de que forma vamos recuperar essa confiança.
É algo que os media tentaram através do reforço da transparência e é algo que a academia, os governos e os media terão de fazer, juntos, durante a pandemia, mas também quando ela terminar, muito depois de terminar. Porque as pessoas não vão simplesmente parar de acreditar nestas teorias da conspiração e abandonar o ceticismo perante a ciência, quando a pandemia chegar ao fim.
Não sabemos se não virá outra pandemia, ou outra crise. Aliás, continuamos a ter que lidar com as alterações climáticas, que enfrentam o mesmo problema e as mesmas pessoas que tendem a desconfiar do conhecimento científico sobre o SARS-CoV-2 também desconfiam das evidências das alterações climáticas.
Por que motivo é acentuada essa tendência de desconfiança, hesitação e ceticismo relativamente a estes dois temas. O que têm em comum que parece promover este tipo de discursos populistas e anti-ciência, que contrariam a evidência científica?
É muito difícil apontar uma característica específica, mas o que observamos em ambos os discursos e nos dois casos é que se tratam de matérias internacionais, problemas a nível global que estão a ser discutidos ao nível das elites e de forma complexa. Não há respostas simples, respostas fáceis.
Para além disso, em ambos os casos, apesar de que a escalas diferentes, as consequências exatas da inação estão no futuro e são difíceis de antecipar e compreender. O que significa, por exemplo, que daqui a 30 anos podemos chegar a um ponto de não retorno com o clima? Ou como explicar o que poderia ter acontecido se não tivéssemos adotado medidas de controle da pandemia?
É algo muito difícil de comunicar, porque são coisas que ainda estão para acontecer e se as pessoas não estiverem realmente interessadas em entender estes fenómenos não vão ter uma reação emotiva ou empática e, por isso, também não compreenderão imediatamente a importância de agir de certa forma.
As redes sociais são mesmo as principais responsáveis pela emergência e divulgação destas teorias da conspiração?
A OMS alertou, muito cedo, para uma "infodemia" [isto é, uma pandemia de desinformação] que agravou o cenário já preocupante da pandemia da Covid-19, com informação incorreta e falaciosa a espalhar-se como um vírus. Isto é, definitivamente, algo que observamos nalguns grupos da população.
No entanto, a maioria da informação enganosa, aquela chega a mais pessoas e é lida e vista por mais cidadãos, vem de líderes políticos. Nos EUA foi divulgada, sobretudo, através do Presidente Donald Trump, que partilhou um número enorme de informação enganadora sobre o vírus. Isto é algo que vemos, também, em vários agentes populistas na Europa.
É, sobretudo, importante entender que este não é um problema das novas gerações"
Mas tudo é muito mais facilmente divulgado, através das redes sociais. Qualquer pessoa pode fazer uma alegação e são precisamente as mais descabidas e surpreendentes que recebem mais "gostos" e mais partilhas, aumentando assim a probabilidade de surgir no nosso feed, mesmo que não conheçamos essa pessoa.
É, definitivamente, um problema. Sabemos que estas grandes plataformas continuam a tentar encontrar uma forma de controlar este fenómeno, a questão que se coloca é se devemos depositar todas as nossas esperanças na tecnologia, quando foi precisamente a tecnologia que nos trouxe até aqui.
Não deveríamos, então, tentar aumentar o nível de literacia científica, mediática e política?
Sem dúvida. A literacia mediática, de saúde e política é definitivamente um aspecto em que temos que melhorar.
E é, sobretudo, importante entender que este não é um problema das novas gerações. É comum ouvirmos que os jovens não sabem o que se passa na internet, não entendem o mundo. Mas a verdade é que este também é um problema das gerações mais velhas, em particular das faixas etárias acima dos 60 anos, pessoas que provavelmente já estão reformadas e não são nativos digitais. É muito difícil para estas pessoas distinguir um site legítimo e oficial de uma página bem conseguida por um anónimo.
Como podemos, então, pôr fim à adesão do público a novas teorias da conspiração e aumentar a confiança dos cidadãos na ciência? Serão as instituições científicas, ainda, muito elitistas?
Acredito piamente que há várias soluções e não uma única resposta milagrosa. Mas há diversas formas de enfrentar este problema. Por um lado, acho que os especialistas e académicos têm que vir mais cá para fora, dar mais entrevistas e partilhar cada vez mais o seu conhecimento com o público em geral.
Também é importante que os partidos políticos no poder sejam mais inclusivos, de certa forma. É crucial que sejam mais transparentes relativamente aos fundamentos que estão na base das decisões que tomam, das políticas que implementam.
E no fim de contas, temos mesmo que ter uma conversa séria com os partidos e os agentes populistas e explicar-lhes - eles já o devem saber, mas pelo menos reforçar - as consequências reais destes sucessivos ataques às instituições científicas e democráticas. Eles diminuem a confiança dos cidadãos em instituições centrais para democracias liberais e só nos aproximam de democracias iliberais, onde a maioria dos cidadãos europeus não deseja viver.
28.1.21
Presidência UE: Governo quer priorizar relação entre ciência e emprego
in Sapo24
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior destacou hoje a necessidade de priorizar a relação entre ciência e emprego, a investigação colaborativa aberta e a evolução de carreiras nas áreas da inovação e da investigação.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior destacou hoje a necessidade de priorizar a relação entre ciência e emprego, a investigação colaborativa aberta e a evolução de carreiras nas áreas da inovação e da investigação.
O ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, à sua chegada para a audição na Comissão de Orçamento e Finanças, no âmbito da apreciação na especialidade do Orçamento do Estado de 2021 (OE2021) que decorreu na na Assembleia da República, em Lisboa, 29 de outubro de 2020.
Manuel Heitor, que falava numa videoconferência sobre o futuro do setor da robótica a nível europeu, revelou que, na área da investigação e inovação, a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) procurará atuar em três eixos, nomeadamente nas “relações entre ciência e emprego”, na “investigação colaborativa aberta” e na “evolução de carreiras”.
Sobre o primeiro ponto, o ministro português acredita que “a crescente aposta na área de pesquisa e desenvolvimento, sobretudo nos sistemas de tecnologia de informação, precisa de ser feita a par da criação de oportunidades de emprego”.
Nesse sentido, Manuel Heitor apelou aos Estados-membros da UE para que criem “sinergias” entre os planos de recuperação económica pós-pandemia e o programa Horizonte Europa, o programa-quadro da UE para a investigação e inovação para o período de 2021 a 2027 e que será lançado em 02 de fevereiro.
Segundo o ministro, o Horizonte Europa é um “projeto particularmente importante para reunir essa ideia de mais pesquisa com melhores e mais empregos”, mas também para a “investigação colaborativa aberta, sobretudo através das novas fronteiras do conhecimento”.
“O novo equilíbrio que precisamos de adquirir requer novos conhecimentos, inovações institucionais, novos métodos de observação”, mas “isso só pode ser alcançado se realmente se enfrentar a robótica juntamente com a ação na transição verde”, considerou.
Para isso, “precisamos de ter a certeza de que desenvolvemos um futuro mais sustentável com um melhor equilíbrio entre a atividade económica e a natureza”, acrescentou Manuel Heitor.
Quanto à área de evolução da carreira, o ministro justificou a “preocupação” com o emprego e os salários futuros com a “disseminação dos robôs” e adiantou que a presidência portuguesa vai dar atenção ao desenvolvimento de carreiras de investigação europeia em todas as áreas do conhecimento, inclusive na robótica, “de forma a melhor promover a Europa como uma zona líder no mundo para fazer investigação e para fazer da investigação uma carreira longa no mundo empresarial e no setor privado”.
Manuel Heitor participou hoje numa conferência online promovida pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia sobre o futuro da robótica a nível europeu e o seu papel na recuperação das economias europeias em contexto pós-pandemia.
Manuel Heitor, que falava numa videoconferência sobre o futuro do setor da robótica a nível europeu, revelou que, na área da investigação e inovação, a presidência portuguesa do Conselho da União Europeia (UE) procurará atuar em três eixos, nomeadamente nas “relações entre ciência e emprego”, na “investigação colaborativa aberta” e na “evolução de carreiras”.
Sobre o primeiro ponto, o ministro português acredita que “a crescente aposta na área de pesquisa e desenvolvimento, sobretudo nos sistemas de tecnologia de informação, precisa de ser feita a par da criação de oportunidades de emprego”.
Nesse sentido, Manuel Heitor apelou aos Estados-membros da UE para que criem “sinergias” entre os planos de recuperação económica pós-pandemia e o programa Horizonte Europa, o programa-quadro da UE para a investigação e inovação para o período de 2021 a 2027 e que será lançado em 02 de fevereiro.
Segundo o ministro, o Horizonte Europa é um “projeto particularmente importante para reunir essa ideia de mais pesquisa com melhores e mais empregos”, mas também para a “investigação colaborativa aberta, sobretudo através das novas fronteiras do conhecimento”.
“O novo equilíbrio que precisamos de adquirir requer novos conhecimentos, inovações institucionais, novos métodos de observação”, mas “isso só pode ser alcançado se realmente se enfrentar a robótica juntamente com a ação na transição verde”, considerou.
Para isso, “precisamos de ter a certeza de que desenvolvemos um futuro mais sustentável com um melhor equilíbrio entre a atividade económica e a natureza”, acrescentou Manuel Heitor.
Quanto à área de evolução da carreira, o ministro justificou a “preocupação” com o emprego e os salários futuros com a “disseminação dos robôs” e adiantou que a presidência portuguesa vai dar atenção ao desenvolvimento de carreiras de investigação europeia em todas as áreas do conhecimento, inclusive na robótica, “de forma a melhor promover a Europa como uma zona líder no mundo para fazer investigação e para fazer da investigação uma carreira longa no mundo empresarial e no setor privado”.
Manuel Heitor participou hoje numa conferência online promovida pelo Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia sobre o futuro da robótica a nível europeu e o seu papel na recuperação das economias europeias em contexto pós-pandemia.
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