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13.7.22

Racismo nas polícias é estrutural e fica impune, diz perita

Mariana Oliveira, in Público

Quem o diz é Liz Fekete, directora do Instituto de Relações Raciais, um think tank sediado no Reino Unido, que alerta que em vários países europeus a “actividade de extrema-direita está a florescer na ala de segurança do Estado”.O racismo nas polícias europeias é um problema estrutural e não pontual, ao contrário do que as chefias tendem a defender, o que cria um problema de impunidade que potencia este fenómeno. Portugal não é uma excepção neste contexto. Quem o diz é Liz Fekete, directora do Instituto de Relações Raciais (IRR), um think tank sediado no Reino Unido há mais de meio século.

“Enquanto a liderança da polícia nega o racismo estrutural e procura atribuir atitudes racistas na polícia a elementos desonestos (as poucas maçãs podres) ou à cultura da cantina, o verdadeiro problema reside na falta de responsabilização”, afirma Liz Fekete no artigo de 43 páginas. E continua: “Uma cultura de impunidade está a ser reforçada por mecanismos de queixa burocráticos e falhados, além da aceitação das narrativas de vitimização [dos polícias] num quadro de negação institucional do racismo estrutural”.

No auge da sua influência, o Movimento Zero orgulhava-se de ter 78.000 seguidores no Facebook, com os sindicatos oficiais da polícia a não se distanciarem do mesmo Liz Fekete

Relativamente ao caso português, a directora do Instituto de Relações Raciais recorda uma carta aberta publicada no final de 2020, no PÚBLICO, assinada por mais de duas dezenas de organizações não-governamentais, na qual se defendia que o fenómeno da violência policial não corresponde apenas a “casos isolados de maus polícias” e se alertava para a relação “estruturalmente problemática” das forças policiais com comunidades racializadas, imigrantes e pobres.

A carta foi escrita no rescaldo da acusação de três inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras pela morte de Ihor Homenyuk, um imigrante ucraniano assassinado em Março desse ano no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, onde esteve manietado, numa sala, durante 15 horas. Os subscritores do artigo recordavam que nesse ano tinham sido condenados vários dos agentes envolvidos no caso da esquadra de Alfragide (apenas um com pena de prisão efectiva), destacando ainda outros casos tornados públicos na sequência da divulgação de vídeos nas redes sociais, como as agressões contra Cláudia Simões e membros da família Coxi, no Bairro da Jamaica.

Numa extensa análise publicada na última edição do jornal do instituto, Race & Class, Fekete reflecte sobre o racismo no interior das forças policiais europeias e a associação destas à extrema-direita. Alerta ainda para os perigos do uso das tecnologias de dados para criar modelos de “policiamento preditivo”, sistemas que já são uma realidade em alguns países europeus como o Reino Unido ou os Países Baixos, que, desde 2017, tem em funcionamento em todo o país o Sistema de Antecipação do Crime que cruza estatísticas criminais com dados socioeconómicos para direccionar os recursos policiais para locais específicos.

Denúncias de casos nas redes sociais

Para Liz Fekete, que já foi conselheira do Relator Especial das Nações Unidas sobre Racismo, é cada vez mais comum casos de violência desnecessária serem denunciados pela colocação de vídeos nas redes sociais, possíveis devido à fácil captura através de telemóveis. “Por toda a Europa, os líderes policiais estão a tentar minimizar os danos causados por estas revelações embaraçosas sobre a má conduta policial, utilizando variações do argumento ‘os nossos críticos não compreendem as realidades do policiamento’”, escreve a activista.

Talvez por isso, observa a autora, os polícias começaram frequentemente a fazer campanhas em torno do respeito que o público lhes deve demonstrar, associando a essa mensagem a cor azul, em contraponto ao movimento Black Lives Matter. Este grupo ganhou dimensão internacional após a morte de George Floyd assassinado nos Estados Unidos (Minneapolis) em Maio de 2020, estrangulado pelo joelho de um polícia branco que durante nove minutos e meio pressionou o pescoço do afro-americano, que múltiplas vezes se queixou de não conseguir respirar.

“Os polícias estão agora a mobilizar-se oficiosamente na base, formando frequentemente novos organismos que contornam ou complementam os sindicatos oficiais, que são vistos como demasiado lentos e adiados. Esta mobilização das bases é sustentada pela lógica de que a vida azul é uma forma de vida única que precisa de ser protegida”, afirma a estudiosa.

É neste contexto que a directora do IRR vê a criação do Movimento Zero, um movimento português formado nas redes sociais em 2019 por agentes descontentes no seio da PSP e da GNR. A autora recorda que o movimento angariou fundos para as famílias dos agentes da esquadra de Alfragide depois de estes terem sido condenados pelo rapto e agressões a jovens negros da Cova da Moura. “No auge da sua influência, o Movimento Zero orgulhava-se de ter 78.000 seguidores no Facebook, com os sindicatos oficiais da polícia a não se distanciarem do mesmo”, nota. A estudiosa refere ainda que quando o Observatório Português de Segurança, Crime Organizado e Terrorismo descreveu o movimento como “potencialmente perigoso”, os líderes da polícia parecem ter seguido uma estratégia de isolamento do mesmo, ao mesmo tempo que tranquilizam a hierarquia de que levavam a sério as suas queixas.

"A vitimização da polícia"

Para Fekete há uma tentativa de reenquadrar a história da brutalidade policial em relação aos afro-americanos, afirmando que a polícia é a verdadeira vítima da violência. “A criação de um mito urbano da vitimização da polícia e das suas famílias ajuda a isolar a polícia dos apelos à responsabilização e justifica a introdução de leis que reforçam ainda mais o seu poder”, sustenta a activista anti-racista. Neste aspecto, diz, Espanha tem sido o país da Europa mais explícito “na legitimação da abordagem do ‘crime de ódio’”, tendo tentando, em 2018, alargar a legislação sobre este tipo de crimes de modo a incluir a protecção da polícia.

Enquanto a liderança da polícia nega o racismo estrutural e procura atribuir atitudes racistas na polícia a elementos desonestos (as poucas maçãs podres) ou à cultura da cantina, o verdadeiro problema reside na falta de responsabilização Liz Fekete

Essa alteração não passou, mas a autora lembra que, em 2015, uma lei espanhola (popularmente conhecida como a "lei da mordaça") introduziu novos crimes de obstrução à autoridade, tendo a polícia dado poderes para emitir multas no local contra aqueles que “demonstrem falta de respeito”, e para multar aqueles (incluindo os media) que distribuam imagens não autorizadas da polícia.

A directora do IRR alerta para casos documentados que “revelam que a actividade de extrema-direita está a florescer na ala de segurança do Estado”. E realça: “Em certas partes da Europa, existe uma porta giratória entre a polícia, os militares e a extrema-direita”. Em países como França, Bélgica, Alemanha e Hungria, exemplifica, os candidatos a presidentes de câmara e deputados de extrema-direita têm sido antigos oficiais de alta patente. Também aqui Portugal não destoa.

30.3.16

Quando o Facebook é uma arma para os agressores na violência doméstica

Ana Cristina Pereira, in "Público"

Órgãos de investigação criminal lidam cada vez com mais casos de violência doméstica associada à Internet e às novas tecnologias.

Primeiro pensou que era engano. Depois percebeu que não. O ex-marido publicara um anúncio num site pornográfico com o nome e o número dela. O telemóvel a tocar, a tocar. Precipitou-se para a GNR. "Nem conseguia controlar as minhas fezes, nem a minha urina, de tal maneira estava alterada."
Dir-se-á que é um sinal dos tempos. "Ainda temos uma violência doméstica muito tradicional - um vai rebaixando o outro, muitas vezes, até chegar à violência física -, mas há cada vez mais recurso à Internet e às novas tecnologias", nota Teresa Morais, que no Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Porto coordena a secção que investiga este tipo de crimes.
Computadores, telemóveis, GPS podem fazer parte do arsenal usado por um agressor de qualquer idade, género ou orientação sexual, observa Vieira Pinto, chefe do Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR no Porto. Para aborrecer, intimidar ou controlar a vítima.
Isabel viveu dois anos de namoro e nove de casamento. "No início, passávamos muito tempo juntos. Ele tinha acabado de fazer uma desintoxicação, precisava de vigilância, não tinha amigos. Os amigos dele eram de outro tempo. Eu deixei de conviver com os meus amigos para estar com ele."
O mal-estar surgiu com o nascimento do filho. A vida de Isabel deixou de girar em torno do marido. "Eu deixei de ser a mãe dele, passei a ser a mãe do meu filho. Ele começou a andar mais alterado, a implicar com o que eu fazia. Exaltava-se. Dizia: "És uma merda, não vales nada, não serves para nada!""
Os ciclos repetiam-se: tensão, ataque, apaziguamento. "Eu nada dizia para o ambiente estar mais estável. Eu não queria que o miúdo assistisse a discussões, a berros." Encurtava o sossego. Cresciam a desconfiança, a violência. "Começou a controlar o meu telefone e o Facebook."
Isabel não percebia como ele adivinhava os seus movimentos. Só depois de apresentar queixa, soube que ele lhe montara um GPS no carro - a GNR apreendeu o aparelho e analisou os registos. Ele também monitorizava a actividade dela na Internet. Instalou um programa que lhe permitia aceder às palavras-passe, ler todas as mensagens entradas e saídas da caixa do correio electrónico ou do programa de conversação do Facebook, saber em que sites tinha navegado.
A violência sexual, diz, tornou-se comum. "Eu tinha de cumprir as minhas obrigações quer me apetecesse quer não me apetecesse. Estando ele bem, não queria saber se eu estava bem ou não. Se eu não cedesse, começava logo: "Só pensas em ti. És egoísta. Não vales nada!" Atacava-a também pela forma física. "És uma baleia. Pensas que és boa. Melhores do que tu tenho eu ao pontapé.""

Regresso ou inferno
Um dia, Isabel gritou "basta". "Ele pôs o televisor aos berros. Foi para a sala, pôs o televisor da sala aos berros. Eu desliguei o do quarto. Ele começou a ligar-me para o telemóvel. Eu desliguei o telemóvel. Ele começou a ligar para o telefone de casa. Eu pus o telefone fora do descanso. Ele pôs-se a berrar da sala para o quarto. O meu filho acordou. Peguei nele e saí de casa."
Eram três da manhã. Ela refugiou-se em casa da mãe. Ele seguiu-a, fincou pé à porta, ordenou-lhe que voltasse a casa, a menos que desejasse o inferno. "Eu disse-lhe que enquanto ele não se tratasse não valia a pena", conta. Divorciaram-se. Não conseguiram chegar a acordo sobre o apartamento comprado com recurso a empréstimo. Entregaram-no ao banco. Declararam insolvência.
Isabel arrendou um apartamento para morar só com o filho, mas acabou por partilhá-lo com o ex-marido. "Ele disse-me que estava a tratar-se, que não tinha para onde ir, para eu lhe dar uma oportunidade, que queria estar comigo e com o filho. E eu... burra... deixei-o vir." Sentia pena dele. E desejava que ele tivesse mudado. "Queria acreditar que as coisas podiam ser diferentes." Finda a fase de lua-de-mel, recomeçaram as alterações de humor, os insultos, o controlo. De nada serviu Isabel pedir-lhe que se fosse embora. "Ele disse: "Enquanto não organizar a minha vida, não saio daqui. E tu tens de continuar a ser minha mulher, tens de cumprir as tuas obrigações!""
Desatou a chantageá-la. "Quase todos os meus amigos eram amigos dele. Ele fazia questão de pedir amizade às pessoas que eram minhas amigas no Facebook. Ele dizia que ia falar de mim, publicar fotos íntimas, deixar a minha imagem na lama. Eu ia ficar na miséria, nem ia ter para dar de comer ao meu filho, porque ele ia dar cabo do meu emprego. Eu ia ter de sair daqui e de ir para longe, porque nem ia conseguir olhar para as pessoas." E, assim, "sob ameaça", ela ia tendo relações sexuais com ele.
Certo dia, um primo de outra cidade veio passar um fim-de-semana. "Pensavas que eu já cá não estava e que ias metê-lo na tua cama!", gritou o ex-marido de Isabel. "Para ele, eu dormia com toda a gente." Voltou a forçá-la a ter sexo. O primo percebeu. De manhã, levou-a à GNR. Os militares foram lá a casa dizer ao homem para sair. Ele pediu tempo para se organizar e eles deram-lhe dois dias.
Isabel aguardou em casa da mãe. "Ele tirou o que quis. Levou quase tudo. Ainda me exigiu dinheiro pelo que deixou - o frigorífico, a placa, os televisores." E instalou-se no apartamento ao lado. Isabel manteve-se em casa da mãe. "Ainda cheguei a dormir uma ou duas noites em casa para ver o que acontecia. Ele mandava-me mensagens a dizer: "Estou a ouvir-te. Não consegues dormir. Andas a pé." Queria que eu me sentisse assombrada, sei lá. Também mandava mensagens a dizer que me deixava em paz se eu fosse para a cama com ele mais uma vez."
Partilhou no Facebook uma fotografia de Isabel no banho e numerosos comentários maldosos. "Escreveu que me deitava com todos, que gostava de estar com não sei quantos ao mesmo tempo, que pedia dinheiro emprestado ao meu patrão e lhe pagava de joelhos. Chegou a usar o nome do meu falecido pai. "Coitado, que deve andar às voltas na cama com vergonha da filha que tem.""
Isabel afligia-se, sobretudo pelo filho, então com cinco anos. E se tudo aquilo lhe caísse em cima, um dia qualquer, na escola? "Os pais vêem, comentam em casa, os miúdos apercebem-se. A gente sabe como são os miúdos." Já bastava ela sentir-se olhada de lado na rua e no trabalho. Teve de falar com o empregador. "Quando ele o começou a meter ao barulho, tive de lhe contar para ele estar preparado." Medo, ansiedade, vergonha. "Não acabei com a minha vida porque pus o meu filho à frente do meu desespero", diz.
Subitamente, ele roubou a identidade dela e publicou um anúncio num site porno. O telefone tocou uma, dez, 20, 30 vezes. Ficou em estado de choque. Conduziu até à GNR. "Naquele dia, se ele se atravessasse à frente do meu carro, eu matava-o. Contactei o site a dizer que o anúncio era falso, para o retirarem imediatamente, que eu já tinha apresentado queixa, e eles retiraram."
A casuística, no Núcleo de Investigação e de Apoio a Vítimas Específicas da GNR, já mostra agressores capazes de retirar informação dos perfis das vítimas, de assumir a identidade delas e de, assim, publicar anúncios, fazer compras, enviar mensagens. E agressores capazes de enviar, de forma sistemática, mensagens abusivas. Ou de recorrer a GPS e a câmaras de vídeo para as vigiar.
"Pôr gravadores a gravar o que a pessoa diz ou câmaras escondidas para filmar cada movimento da pessoa é uma forma de manter uma dinâmica de poder, de controlo", diz a psicóloga forense Catarina Ribeiro, investigadora na Faculdade de Educação e Psicologia da Universidade Católica. Sempre existiram formas de controlo: ler a correspondência, vasculhar as gavetas, revistar a carteira. Com a evolução tecnológica, abrem-se possibilidades mais elaboradas.
Um centro de estudos britânico já enumerou quatro "A" que distinguem a violência relacionada com a tecnologia: anonimato, acessibilidade, acção à distância, automação. Embora possa ser intensa, não só é menos aparente a quem está de fora, como requer menos tempo e esforço para perpetrar.
A GNR encontrara o sistema de GPS que o ex-marido de Isabel usava. Apreendeu os equipamentos com mais de mil fotografias dela, de carácter íntimo ou mesmo sexual. Encheu mais de 400 páginas com mensagens que ele lhe enviou por diferentes meios. "Ele estava com uma pulseira electrónica, impedido de se aproximar de mim, de me contactar. No entanto, morava na casa ao lado, ligava-me centenas de vezes por dia, mandava-me centenas de mensagens."
A 19 de Março de 2015, Dia do Pai, ele ia jantar com o filho. Isabel foi a casa buscar roupas. "Bateram à porta. Era o meu filho. Eu abri. Vi que o meu ex-marido também estava lá fora. Segui as indicações da GNR: "Se você estiver à porta e ele aparecer, feche-se." Como o meu filho estava cá fora, fechei-me cá fora. Ele mandou o miúdo para o carro e agarrou-me nos braços. "Eu vou-te matar, vais aparecer numa valeta!" Tentou dar-me uma cabeçada e eu tive o reflexo de fugir para trás. Consegui soltar-me e empurrá-lo. Desatei a correr para o café que havia ao lado de minha casa. Era onde estaria gente, não é? Ele foi atrás de mim. Eu pus-me atrás do balcão. O dono do café disse-lhe: "Aqui não!" Chamei a GNR. Ele foi embora com o miúdo."
Isabel pediu a revisão das medidas de coacção enquanto o ex-marido aguarda o julgamento. A juíza estabeleceu um mês para ele mudar de casa. Disse-lhe que iria para a prisão se continuasse a violar a ordem para não contactar a ex-mulher. "Eu tenho um dispositivo que me avisa da proximidade dele. Não se pode aproximar da minha casa nem do meu trabalho. Está proibido de me contactar até por sinais de fumo." Passou um ano, mas Isabel ainda não anda descansada. As visitas da criança fazem-se com recurso a intermediário. "Tive de lhe pôr um processo por ele nunca ter pago pensão de alimentos. No fim de Fevereiro, descontaram-lhe [o valor] no ordenado. Tive medo, mas ele não fez nada."

Denúncias já são feitas pelas redes sociais

O uso da Internet e das novas tecnologias também está a gerar preocupação a quem acolhe mulheres e crianças vítimas de violência doméstica, como referiu ainda este mês Joana Sampaio, directora técnica da casa-abrigo gerida pela organização internacional de mulheres Soroptimist — Clube do Porto. Os agressores podem estar nas redes sociais a vigiar os perfis das vítimas, dos familiares e dos amigos em busca de informação que lhes permita localizá-las, intimidá-las ou mesmo agredi-las. Mas não são só más notícias. Só no ano passado, 45 casos chegaram à GNR através do Facebook, informa o major Marco António Ferreira da Cruz, chefe da divisão de comunicação e relações públicas da GNR. Os especialistas apontam outras vantagens: há maior acesso à informação sobre a legislação em vigor e as respostas existentes. Desde logo, por exemplo, sobre os núcleos de atendimento a vítimas.

26.10.15

Zuckerberg fundará escola com cuidados de saúde

In Exame

São Francisco - O bilionário fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, e a esposa revelaram planos para fundar uma escola particular em uma cidade desfavorecida do Vale do Silício, onde combinarão ensino e cuidados com a saúde.

Zuckerberg estava orgulhoso dos planos de sua esposa, Priscilla Chan, para a criação de uma escola primária na cidade operária de East Palo Alto.

Chan trabalha como pediatra e também foi professora. Ela viu em primeira mão como as pobres condições de saúde dificultam a educação entre os mais pobres, afirmou Zuckerberg.

"A saúde e a educação estão intimamente conectadas", afirmou Zuckerberg em publicação no Facebook.

"Quando as crianças não estão saudáveis, não conseguem aprender tão facilmente".

Apesar de estar localizada entre as duas ricas cidades de Palo Alto e Menlo Park, onde está a sede do Facebook, East Palo Alto tem há muito anos uma má reputação pelo crime, pelas gangs e pela pobreza.

"Ao oferecer cuidados de saúde e educação em um só lugar, o objetivo é apoiar as famílias e ajudar crianças de comunidades desfavorecidas a alcançar seu potencial máximo", disse o fundador do Facebook.

"É inspirador ver Priscilla crescer como empreendedora e líder".

Em junho do ano passado, Zuckerberg e Chan começaram a investir 120 milhões de dólares na área das escolas da baía de San Francisco.

"Melhorar a educação pública em nosso país e nossa comunidade é algo que Priscilla e eu realmente queremos", disse Zuckerberg.

24.11.14

Facebook: «Um catálogo de crianças» para pedófilos

Por: Élvio Carvalho Patrícia Pires / / Sofia Santana (Infografias), in TVI24

Novembro 21, 2014 às 1:00 pm | Na categoria A criança na comunicação social | Deixe o seu comentário

No dia em que se celebra o Dia mundial da Prevenção do abuso sexual contra crianças, falámos com especialistas para saber o que os pais podem fazer para «prevenir» que o seu filho ou filha seja uma vítima.

As redes sociais como o Facebook, são cada vez mais utilizadas por pedófilos para encontrar as suas vítimas. Esta é uma realidade dos dias atuais e os pais precisam de se adaptar a ela. Até porque, «é quase como se a rede social fosse um catálogo de crianças» para os pedófilos.

Este é o alerta deixado por Mauro Paulino, um psicólogo forense, colaborador do Instituto de Medicina Legal, que, em 2009, publicou o livro «Abusadores Sexuais de Crianças: A verdade escondida», ao fim de um ano de investigação, e trabalha diariamente com esta realidade.

O número de casos de abusos sexuais onde aparece escrita a palavra Facebook «é crescente», explica à TVI24. «Nos casos extrafamiliares (praticados por estranhos), mais associados à pedofilia, há um número crescente de casos. O Facebook, cada vez mais, tal como outras redes sociais, está a ser utilizado como meio. É quase como se a rede social fosse um catálogo de crianças em que o pedófilo se vai apercebendo de uma determinada característica física da criança, que valoriza, e tenta aproximar-se». Mauro Paulino admite que a expressão «pode ser forte», mas não a retira.

O psicólogo avisa que os pais devem estar atentos a esta nova realidade e devem interessar-se pelo que os filhos fazem nas «redes». Devem observar se a criança passa muito tempo na internet e com quem costuma falar porque, normalmente, estes indivíduos tentam criar uma relação de confiança com o menor, que por sua vez lhe traga segurança a si para poder cometer os atos, eliminando aos poucos os riscos de ser apanhado pelas autoridades.

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Apesar de recente, o problema «está identificado» e já «há alguns estudos feitos» que deixam «alertas», diz Mauro Paulino. Os pais, por exemplo, devem ter em «atenção que os pedófilos usam contas falsas e fazem pedidos de amizade às crianças. Não tentam marcar um encontro de um dia para o outro, é algo que demora tempo, porque há um estado de criação de amizade, tentam perceber o risco. Saber se o computador é só acedido pela criança, se está na sala, no quarto». A verdade é que a internet veio trazer outras questões e «os pais precisam evoluir nesse sentido».

No entanto, Marco Paulino sabe que é difícil que os menores, especialmente os pré-adolescentes e adolescentes, partilhem a sua vida «pessoal» com os progenitores, e isto acontece mesmo depois de casos de abuso sexual. Por isso, e porque a maioria dos casos de abuso sexual de menores acontece no seio familiar (e se o pai ou a mãe é o abusador, não há a quem contar), Paulino defende que deve existir uma terceira figura de confiança, a quem a criança possa recorrer.

Pais precisam de falar sobre sexo com os filhos

No dia em que se celebra o Dia mundial da Prevenção do abuso sexual contra crianças, Mauro Paulino defende que «é preciso ir para as creches e ensinar os “papás e as mamãs” que têm de falar sobre sexo com os filhos. Prepará-los para a sexualidade, dizer-lhes que não há mal em dizer “pénis” ou “vagina”.

Até porque, quando os pais tratam estes termos com naturalidade, as próprias crianças, se surgir algum problema, com menor ansiedade vão dizer “mexeram-me no pénis” ou “mexeram-me na vagina”». E qual a melhor idade? «Desde tenra idade, quatro, cinco anos, mesmo no pré-escolar». Mauro Paulino dá um exemplo de como se pode abordar o tema com crianças pequenas: «Fazer um desenho do corpo humano ou usar um desenho pré feito e mostrar à criança. Pintar a verde onde ela pode deixar tocar e pintar a vermelho as partes do corpo onde ela não pode deixar tocar».

O Conselho Europeu já tomou iniciativas neste sentido. O maior exemplo será, provavelmente, o website « aquininguemtoca.org» (underwearrule.org), que ensina dicas aos pais de como mostrar aos seus filhos as zonas do corpo onde não devem deixar ninguém tocar. No site é possível ver um filme animado que pode ser mostrado às crianças, e pode fazer-se download de um livro com os mesmos ensinamentos.

Em Portugal, o site « miudossegurosna.net», fundado por Tito de Morais, tenta uma abordagem de igual prevenção, embora direcionada para os perigos da internet para as crianças. Logo na sua página inicial, são expostos os principais perigos a que as crianças e jovens estão sujeitos ao frequentar o «online», e responde às perguntas frequentes sobre métodos de prevenção que podem ser feitos pelos pais, sem sair de casa.

Durante a Conferência que assinalou os 25 anos da Convenção dos Direitos da Criança, realizada a 20 e 21 de outubro na Assembleia da República, Tito de Morais já tinha alertado que é necessário educar os jovens desde cedo para os perigos, principalmente porque a internet vaio facilitar o acesso dos abusadores a potenciais vítimas.

«[É necessária] uma lei que torne obrigatório o ensino sobre [o problema] dos abusos sexuais. (…) Porque muitas vezes os pais só falam destes temas quando os jovens já têm 16 anos, e já é tarde. (…) «O toque hoje já não é só presencial. É o filmar, o fotografar e a partilha em sites de pedofilia. Mesmo as fotografias que são trocadas entre jovens namorados podem acabar num site desses», disse, durante a sua intervenção na conferência.

Crianças ensinadas a ter medo de monstros

Já para Filipa Carrola, mestre em psicologia clínica Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da UBI e atual psicóloga clínica e da Saúde do Gabinete do Sindicato Nacional da Polícia (SINAPOL) considera que para proteger as crianças não basta apenas ensiná-las sobre a sexualidade. É necessário estar atento, porque a pedofilia não tem rosto, e as crianças são ensinadas para terem medo dos «monstros».

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Entre 2010 e 2011, para a realização da sua tese de mestrado, a psicóloga a psicóloga contactou com mais de 60 acusados de abuso sexual de crianças, detidos em prisões nacionais, e comprovou que estes indivíduos não são um grupo homogéneo. Vêm de classes diferentes, têm escolaridades e profissões variadas, pelo que não existe um «perfil típico» de um abusador. Não há forma de os reconhecer em sociedade e o seu caráter muitas vezes sedutor é o que os torna perigosos para as crianças, que não os veem como uma ameaça. A investigação que levou a cabo culminou na publicação do livro «Sexo, crianças e abusadores».

São muitas vezes sujeitos que conhecem a mente das crianças e sabem como se aproximar. Por exemplo, durante as visitas a estabelecimentos prisionais na Guarda, Covilhã, Castelo Branco e Carregueira, Filipa encontrou alguns abusadores sexuais, provavelmente pedófilos, que gostavam de ver desenhos animados. A seu ver, alguns porque revelavam imaturidade, outros porque, assim, sabiam abordar os menores em relação ao tema.

«Para terem uma conversa com uma criança precisam estar em sintonia com ela. Muitos descrevem uma sintonia de interesses: “eu vejo o Noddy”, ou “gosto da Violeta”, entre outras coisas, e conseguem ter uma conversa de igual para igual. Há uma frase que eu gosto bastante, “monstros não se aproximam de crianças, homens gentis sim”. Nós educamos as crianças para terem medo dos monstros, para fugirem a sete pés, esses é que são os maus, os estranhos, mas esquecem-se que as crianças se virem um monstro fogem a sete pés. (…) [Mas] se virem uma pessoa simpática, se se souber aproximar, se essa pessoa souber conversar, se lhe oferecer prendas, é aí que vai haver [oportunidades]».

Os abusos sexuais de crianças em Portugal. Quem são as vítimas? Quem são os agressores?

ver a infografia Aqui

O que diferencia um abusador sexual e um pedófilo

Que tipo de abusadores sexuais existem? «Diferentes escolas de psicologia criminal que criaram vários perfis de abusadores sexuais. Mas aquele que é mais imediato e fácil de apreender, é a distinção entre abusador primário/pedófilo e abusador secundário/situacional», explica Mauro Paulino.

«O abuso primário ou pedófilo é uma compulsão para se relacionar sexualmente com crianças, uma procura dirigida para crianças, onde esta é um objeto de desejo e gratificação sexual», depois temos os «abusadores secundários ou situacionais, que estão mais relacionados com o incesto. Isto é, não existe uma propensão para abusar sexualmente de uma criança, aquilo que existe é uma circunstância, uma série de contingências, que naquele momento específico da vida ele(a) não conseguiu controlar o comportamento e acaba por abusar sexualmente de uma criança». Outra das diferenças está no facto da pedofilia ser «uma doença, uma parafilia».

Nas estatísticas deste crime, mesmo que a realidade esteja em grande parte «escondida», a maioria dos casos, acontece na família: pais, padrastos, tios, avós. Ou seja, a maioria dos abusadores são secundários. A percentagem de pedófilos é, na verdade, pequena. Apesar de serem «mais perigosos» e terem uma «taxa de reincidência mais elevada», são menos.

Mauro Paulino ressalva ainda que um abusador sexual não tem que ser um pedófilo e um pedófilo não tem que ser um abusador sexual.

«Os pedófilos são mais astutos», gostam da manipulação, de seduzir as crianças, de conquistar a família para terem acesso, «explorando as debilidades familiares». Por exemplo, um pedófilo pode dar-se ao trabalho de «selecionar uma mulher divorciada que tenha filhos, para ter acesso a eles».

30.7.12

Bragança: Facebook leva mensagens a idosos

in Agência Ecclesia

Fundação Betânia lançou desafio através da rede social para assinalar dia dos avós


A Fundação Betânia, em Bragança, vai proporcionar, hoje, dia dos avós, a “leitura de mensagens” vinda de familiares e pessoas próximas aos utentes da instituição, sendo uma delas do bispo da diocese, D. José Cordeiro.

Esta tarde, naquela Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) os responsáveis vão “ler as mensagens” vindas do exterior, depois do pedido feito através da rede social Facebook, onde se apelava à participação nesta iniciativa, revela à Agência ECCLESIA Paula Pimental, diretora de serviços da fundação.

D. José Cordeiro já publicou na sua página pessoal no Facebook a mensagem que vai ser lida: “No dia de São Joaquim e Santa Ana (pais de Nossa Senhora) e dia nacional dos avós, associo-me à iniciativa da Fundação Betânia, em Bragança, e a partir de Fátima, endereço a todas(os) os utentes e respetivas famílias, uma calorosa saudação em Cristo”.

Com cerca de 60 idosos na instituição e 30 no serviço de apoio domiciliário, Paula Pimentel sublinha que os utentes “têm um contacto permanente com a sociedade e conseguem acompanhar a evolução dos tempos”.

As pessoas da comunidade interagem com a instituição, “visitam os idosos, diariamente, e participam também nas atividades”, salienta a responsável.

É frequente, as visitas a locais do exterior e, a partir do momento que entram na instituição, “não ficam isolados”, acrescenta.

Em pleno Ano Europeu do Envelhecimento Ativo, a responsável da Fundação Betânia relata que a instituição tem várias propostas e destaca o “treino cognitivo, onde são desenvolvidas técnicas que ajudam a reativar a memória”.

Uma forma de colocar os idosos “mais ativos mentalmente”, onde não faltam “clubes e oficinas de trabalho: culinária, trabalhos manuais e reciclagem”, afirma.

A intenção é dar uma “vida nova” à terceira idade e de os motivar para “outras realidades”, conclui a responsável da instituição fundada por dois padres da Diocese de Bragança-Miranda.

LFS/OC