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7.8.23

Governo britânico anuncia parceria com redes sociais para “parar os barcos” de migrantes

António Saraiva Lima, in Público


Facebook, Twitter e TikTok vão colaborar com a Agência Nacional do Crime para remover conteúdo online que encoraje migrantes e requerentes de asilo a fazerem a travessia do canal da Mancha.

O Governo do Reino Unido anunciou este domingo uma “parceria voluntária” entre a Agência Nacional do Crime (NCA, na sigla em inglês) e várias empresas detentoras de redes sociais no âmbito do combate à imigração irregular. O objectivo da colaboração é identificar e remover conteúdo online que possa encorajar migrantes e requerentes de asilo a fazerem a travessia do canal da Mancha.


Segundo Downing Street, a parceria inclui a Meta (proprietária do Facebook e do Instagram), o X (antigo Twitter) e o TikTok e enquadra-se na política promovida com afinco pelo primeiro-ministro conservador, Rishi Sunak, e pela sua equipa, para diminuir a entrada de migrantes no país — uma das promessas dos promotores do “Brexit” — e para travar as redes de tráfico humano que operam na região.

“Embora os dados da NCA mostrem que mais de 90% do conteúdo online relacionado com o tráfico de seres humanos seja removido quando as empresas de redes sociais são notificadas, esta parceria entre as empresas tecnológicas e o Governo irá impulsionar os esforços para desmantelar as tácticas utilizadas pelos gangues criminosos que usam a Internet para aliciar as pessoas a pagarem pelas travessias”, lê-se no site do executivo britânico.

“Este conteúdo pode incluir ofertas de descontos para grupos, lugares vagos para crianças, ofertas de documentos falsos e garantias falsas de travessia segura”, exemplifica o Governo, acrescentando que este tipo de propostas “visam pessoas vulneráveis, para a obtenção de lucro, e põem vidas em risco com viagens perigosas e ilegais.”


Governo britânico anuncia parceria com redes sociais para “parar os barcos” de migrantes
A par da parceria — que se sustenta numa colaboração iniciada em 2021, que, segundo o executivo tory, já levou à remoção de 4700 páginas, publicações e contas em redes sociais — o Governo anunciou a criação de um novo centro especializado, liderado pela NCA e pelo Ministério do Interior, com financiamento de 11 milhões de libras (cerca de 12,8 milhões de euros), destinado a combater este tipo de conteúdo online.

“Stop the Boats”

Conhecida como “Stop the Boats” (“Parar os barcos”), a proposta política de redução da imigração, que tem como principais rostos o próprio Sunak e a ministra do Interior, Suella Braverman — dois descendentes de imigrantes — é uma das cinco grandes prioridades do Governo até às próximas eleições legislativas, previstas para 2024, e pretende responder ao número recorde de travessias no canal da Mancha (mais de 40 mil em 2022).



Muitos dos migrantes que fazem o trajecto vêm de países e regiões em conflito ou onde são alvo de perseguição, como o Afeganistão, a Síria ou o Norte de África; mas também há muita gente a chegar de países do Leste europeu, como a Albânia, que o Governo conservador trata como “migrantes económicos”.
A política “Stop the Boats” assenta, sobretudo, numa polémica lei, aprovada recentemente, que diz que os migrantes que cheguem ao país através do canal ou de outras vias consideradas “ilegais” podem ser detidos, expulsos e impedidos de pedir asilo político no Reino Unido, e que dá poderes ao Ministério do Interior para autorizar a sua transferência para os países de origem ou para “países terceiros seguros”.


Entre esses países “seguros” está o Ruanda, Estado africano localizado a mais de seis mil quilómetros do território britânico, que tem um historial conhecido de pouco respeito pelos direitos humanos, e que entrou nesta equação no âmbito de um programa negociado entre o antigo primeiro-ministro Boris Johnson e o Governo ruandês, no qual este aceitou acolher requerentes de asilo a troco de fundos de Downing Street.


Labirinto ruandês

Criticado por praticamente todos os partidos da oposição, pela Igreja Anglicana, pelas Nações Unidas, pela Comissão Europeia, por centenas de organizações de direitos humanos e de apoio aos refugiados e por alguns membros do Partido Conservador — como a antiga primeira-ministra Theresa May —, o programa foi, no entanto, declarado ilegal em Junho, depois de o Tribunal de Recurso de Inglaterra e do País de Gales ter revertido uma decisão do Tribunal Superior, após concluir que o Ruanda “não é seguro” e tem um sistema de asilo “deficiente”.

Enquanto aguarda pelo veredicto decisivo do Supremo Tribunal (a mais alta instância judicial do Reino Unido) para poder implementar o “plano Ruanda”, o Governo vai concebendo mais ferramentas políticas, legislativas e administrativas dissuasoras — como um acordo bilateral com França para a criação de um novo centro de detenção de migrantes e para o reforço do patrulhamento da costa francesa — e reforçando a mensagem de que as suas políticas estão a contribuir para a diminuição do número de travessias.

Em Junho, o primeiro-ministro britânico garantia que esse número tinha decrescido 20% nos primeiros cinco meses de 2023, face ao mesmo período no ano passado. Este domingo, a Sky News informa que, de acordo com os seus cálculos, quase 15 mil pessoas cruzaram o estreito de Dover em pequenas embarcações, o que representaria uma diminuição de 15% em comparação com 2022.

“Para parar os barcos, temos de combater o modelo de negócio dos contrabandistas infames na fonte. Isso significa acabar com as suas tentativas de aliciamento de pessoas para fazerem estas travessias ilegais, e de obterem lucros colocando vidas em risco”, afirmou Rishi Sunak, numa reacção à nova parceria. “Este novo compromisso com empresas tecnológicas permitir-nos-á redobrar os nossos esforços para combater estes criminosos.”


[artigo disponível na íntegra só para assinantes ]


13.7.22

Racismo nas polícias é estrutural e fica impune, diz perita

Mariana Oliveira, in Público

Quem o diz é Liz Fekete, directora do Instituto de Relações Raciais, um think tank sediado no Reino Unido, que alerta que em vários países europeus a “actividade de extrema-direita está a florescer na ala de segurança do Estado”.O racismo nas polícias europeias é um problema estrutural e não pontual, ao contrário do que as chefias tendem a defender, o que cria um problema de impunidade que potencia este fenómeno. Portugal não é uma excepção neste contexto. Quem o diz é Liz Fekete, directora do Instituto de Relações Raciais (IRR), um think tank sediado no Reino Unido há mais de meio século.

“Enquanto a liderança da polícia nega o racismo estrutural e procura atribuir atitudes racistas na polícia a elementos desonestos (as poucas maçãs podres) ou à cultura da cantina, o verdadeiro problema reside na falta de responsabilização”, afirma Liz Fekete no artigo de 43 páginas. E continua: “Uma cultura de impunidade está a ser reforçada por mecanismos de queixa burocráticos e falhados, além da aceitação das narrativas de vitimização [dos polícias] num quadro de negação institucional do racismo estrutural”.

No auge da sua influência, o Movimento Zero orgulhava-se de ter 78.000 seguidores no Facebook, com os sindicatos oficiais da polícia a não se distanciarem do mesmo Liz Fekete

Relativamente ao caso português, a directora do Instituto de Relações Raciais recorda uma carta aberta publicada no final de 2020, no PÚBLICO, assinada por mais de duas dezenas de organizações não-governamentais, na qual se defendia que o fenómeno da violência policial não corresponde apenas a “casos isolados de maus polícias” e se alertava para a relação “estruturalmente problemática” das forças policiais com comunidades racializadas, imigrantes e pobres.

A carta foi escrita no rescaldo da acusação de três inspectores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras pela morte de Ihor Homenyuk, um imigrante ucraniano assassinado em Março desse ano no Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, onde esteve manietado, numa sala, durante 15 horas. Os subscritores do artigo recordavam que nesse ano tinham sido condenados vários dos agentes envolvidos no caso da esquadra de Alfragide (apenas um com pena de prisão efectiva), destacando ainda outros casos tornados públicos na sequência da divulgação de vídeos nas redes sociais, como as agressões contra Cláudia Simões e membros da família Coxi, no Bairro da Jamaica.

Numa extensa análise publicada na última edição do jornal do instituto, Race & Class, Fekete reflecte sobre o racismo no interior das forças policiais europeias e a associação destas à extrema-direita. Alerta ainda para os perigos do uso das tecnologias de dados para criar modelos de “policiamento preditivo”, sistemas que já são uma realidade em alguns países europeus como o Reino Unido ou os Países Baixos, que, desde 2017, tem em funcionamento em todo o país o Sistema de Antecipação do Crime que cruza estatísticas criminais com dados socioeconómicos para direccionar os recursos policiais para locais específicos.

Denúncias de casos nas redes sociais

Para Liz Fekete, que já foi conselheira do Relator Especial das Nações Unidas sobre Racismo, é cada vez mais comum casos de violência desnecessária serem denunciados pela colocação de vídeos nas redes sociais, possíveis devido à fácil captura através de telemóveis. “Por toda a Europa, os líderes policiais estão a tentar minimizar os danos causados por estas revelações embaraçosas sobre a má conduta policial, utilizando variações do argumento ‘os nossos críticos não compreendem as realidades do policiamento’”, escreve a activista.

Talvez por isso, observa a autora, os polícias começaram frequentemente a fazer campanhas em torno do respeito que o público lhes deve demonstrar, associando a essa mensagem a cor azul, em contraponto ao movimento Black Lives Matter. Este grupo ganhou dimensão internacional após a morte de George Floyd assassinado nos Estados Unidos (Minneapolis) em Maio de 2020, estrangulado pelo joelho de um polícia branco que durante nove minutos e meio pressionou o pescoço do afro-americano, que múltiplas vezes se queixou de não conseguir respirar.

“Os polícias estão agora a mobilizar-se oficiosamente na base, formando frequentemente novos organismos que contornam ou complementam os sindicatos oficiais, que são vistos como demasiado lentos e adiados. Esta mobilização das bases é sustentada pela lógica de que a vida azul é uma forma de vida única que precisa de ser protegida”, afirma a estudiosa.

É neste contexto que a directora do IRR vê a criação do Movimento Zero, um movimento português formado nas redes sociais em 2019 por agentes descontentes no seio da PSP e da GNR. A autora recorda que o movimento angariou fundos para as famílias dos agentes da esquadra de Alfragide depois de estes terem sido condenados pelo rapto e agressões a jovens negros da Cova da Moura. “No auge da sua influência, o Movimento Zero orgulhava-se de ter 78.000 seguidores no Facebook, com os sindicatos oficiais da polícia a não se distanciarem do mesmo”, nota. A estudiosa refere ainda que quando o Observatório Português de Segurança, Crime Organizado e Terrorismo descreveu o movimento como “potencialmente perigoso”, os líderes da polícia parecem ter seguido uma estratégia de isolamento do mesmo, ao mesmo tempo que tranquilizam a hierarquia de que levavam a sério as suas queixas.

"A vitimização da polícia"

Para Fekete há uma tentativa de reenquadrar a história da brutalidade policial em relação aos afro-americanos, afirmando que a polícia é a verdadeira vítima da violência. “A criação de um mito urbano da vitimização da polícia e das suas famílias ajuda a isolar a polícia dos apelos à responsabilização e justifica a introdução de leis que reforçam ainda mais o seu poder”, sustenta a activista anti-racista. Neste aspecto, diz, Espanha tem sido o país da Europa mais explícito “na legitimação da abordagem do ‘crime de ódio’”, tendo tentando, em 2018, alargar a legislação sobre este tipo de crimes de modo a incluir a protecção da polícia.

Enquanto a liderança da polícia nega o racismo estrutural e procura atribuir atitudes racistas na polícia a elementos desonestos (as poucas maçãs podres) ou à cultura da cantina, o verdadeiro problema reside na falta de responsabilização Liz Fekete

Essa alteração não passou, mas a autora lembra que, em 2015, uma lei espanhola (popularmente conhecida como a "lei da mordaça") introduziu novos crimes de obstrução à autoridade, tendo a polícia dado poderes para emitir multas no local contra aqueles que “demonstrem falta de respeito”, e para multar aqueles (incluindo os media) que distribuam imagens não autorizadas da polícia.

A directora do IRR alerta para casos documentados que “revelam que a actividade de extrema-direita está a florescer na ala de segurança do Estado”. E realça: “Em certas partes da Europa, existe uma porta giratória entre a polícia, os militares e a extrema-direita”. Em países como França, Bélgica, Alemanha e Hungria, exemplifica, os candidatos a presidentes de câmara e deputados de extrema-direita têm sido antigos oficiais de alta patente. Também aqui Portugal não destoa.

5.7.22

Prisão perpétua passa a ser a pena máxima para maus tratos a crianças no Reino Unido: é a chamada Lei de Tony


Os pais biológicos de Tony Hudgell, rapaz que foi agredido quando era bebé e teve as suas pernas amputadas, poderiam agora enfrentar prisão perpétua, após uma alteração às penas de crimes cometidos contra crianças: lei que fica conhecida como "Lei de Tony" entra em vigor esta semana

Tony Hudgell, um rapaz britânico com sete anos, foi maltratado pela sua família biológica quando era bebé. Tanto a mãe como o pai da criança foram condenados à pena máxima de prisão no Reino Unido, em fevereiro de 2018: dez anos. Em casos semelhantes que aconteçam no futuro, ambos poderiam enfrentar prisão perpétua, após um agravamento das penas, segundo a imprensa do Reino Unido. A chamada Lei de Tony entra em vigor esta semana, escreve o tabloide “Mail Online”.

A família adotiva do rapaz e o deputado Tom Tugendhat, que tem acompanhado o caso, tinham pedido, no ano passado, que as penas aplicadas a quem causa ou permite a morte de uma criança a seu cargo passassem a ter a mesma moldura penal dos crimes contra adultos: prisão perpétua. O caso inspirou um projeto de lei no Reino Unido batizado com o nome Lei de Tony.

A alteração foi aprovada pelo ministro da Justiça e vice-primeiro-ministro britânico, Dominic Raab, na sequência do apelo dos pais adotivos de Tony Hudgell. Qualquer pessoa que agora cause ou permita a morte de uma criança ou adulto ao seu cuidado enfrentará prisão perpétua, em vez de 14 anos. E a pena máxima para crueldade infantil ou para quem permita danos físicos graves aumenta de dez para 14 anos.

Como explicou Tugendhat, na altura, Tony era demasiado novo para identificar quem o agredira, e não podia provar o crime de que os seus pais biológicos eram acusados. “Numa situação muito rara como esta — e sublinho que é extremamente rara —, perguntar quem foi o responsável é ridículo”, argumentou o deputado. Como explicou, a lei “assegura que a responsabilidade [pelos crimes] seja clara, mesmo que um bebé não possa fornecer provas”.

Tony tinha apenas 41 dias quando foi hospitalizado com falência múltipla de órgãos e septicemia (infeção generalizada), após ter sido agredido pelos seus pais biológicos, Jody e Tony Smith. Ao fim de seis semanas internado no hospital, as duas pernas do recém-nascido não sobreviveram às lesões e tiveram de ser amputadas do joelho para baixo.

O agravamento da pena também tinha sido defendido pela família adotiva do menino, Paula e Mark Hudgell. A atual sentença “simplesmente não reflete a gravidade dos crimes infligidos”, disseram os pais na altura, lembrando que “as crianças são as mais vulneráveis da sociedade” e por isso devem ser mais protegidas.

15.6.22

Tribunal Europeu obriga Reino Unido a cancelar deportação de migrantes

in Euronews

O Tribunal Europeu dos Direitos Humanos pronunciou-se e obrigou o Reino Unido a cancelar o voo que iria deportar requerentes de asilo para o Ruanda. A justiça considerou que a medida do governo de Boris Johnson poderia provocar "danos irreversíveis" aos refugiados.

O avião iria partir na noite desta terça-feira, com sete requerentes de asilo de várias nacionalidades. A medida chegou a ser aprovada pelo Tribunal de Recurso britânico e levou à rua centenas em protesto.

Apesar disso, o primeiro-ministro defendeu com força o plano que consiste em obrigar os migrantes que pedem asilo no Reino Unido a aguardar pela resposta em hotéis no Ruanda.

Boris johnson diz que é uma forma de evitar desastres no mar e de despromover o tráfico humano no Canal da Mancha.

A ONU e vários ativistas denunciaram a política como um ataque aos direitos dos refugiados que a maioria dos países reconhece desde o final da Segunda Guerra Mundial.

O governo britânico mantém a narrativa de querer controlar as fronteiras e de dar mais segurança a quem arrisca tudo para mudar de vida.



Reino Unido disponível para negociar com União Europeia solução para a Irlanda do Norte

in Expresso

Governo britânico avança com legislação que vai alterar unilateralmente o acordo do Brexit, garantindo que não será violado o direito internacional

A ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, manifestou esta segunda-feira disponibilidade para negociar com a União Europeia uma solução para a Irlanda do Norte, ao mesmo tempo que vai avançar com legislação que vai alterar unilateralmente o acordo do Brexit.

Num telefonema esta manhã com o vice-presidente da Comissão Europeia, Maroš Šefčovič, Liz Truss informou-o de que o Governo vai apresentar esta tarde no Parlamento legislação "para resolver os problemas com o Protocolo da Irlanda do Norte e restaurar a estabilidade política”.

A chefe da diplomacia britânica disse na rede social Twitter que a "preferência é uma solução negociada”, mas” insistiu que "a UE deve estar disposta a mudar o próprio Protocolo”.

Šefčovič respondeu que a UE "sempre prestou a máxima atenção ao impacto que o Brexit tem na Irlanda do Norte, oferecendo soluções viáveis” e avisou que “a ação unilateral é prejudicial à confiança mútua e uma fórmula para a incerteza”.

O Governo britânico vai apresentar esta segunda-feira uma proposta de lei para alterar unilateralmente o Protocolo da Irlanda do Norte, a qual garante que não vai violar o direito internacional.

A legislação vai dar aos ministros poderes para desaplicar partes do Protocolo, que foi desenhado entre o Reino Unido e UE como parte do Acordo de Saída do Reino Unido do bloco europeu para manter a fronteira terrestre na Irlanda aberta.

A ministra dos Negócios Estrangeiros britânica, Liz Truss, manifestou esta segunda-feira disponibilidade para negociar com a União Europeia uma solução para a Irlanda do Norte, ao mesmo tempo que vai avançar com legislação que vai alterar unilateralmente o acordo do Brexit.

Num telefonema esta manhã com o vice-presidente da Comissão Europeia, Maroš Šefčovič, Liz Truss informou-o de que o Governo vai apresentar esta tarde no Parlamento legislação "para resolver os problemas com o Protocolo da Irlanda do Norte e restaurar a estabilidade política”.

A chefe da diplomacia britânica disse na rede social Twitter que a "preferência é uma solução negociada”, mas” insistiu que "a UE deve estar disposta a mudar o próprio Protocolo”.

Šefčovič respondeu que a UE "sempre prestou a máxima atenção ao impacto que o Brexit tem na Irlanda do Norte, oferecendo soluções viáveis” e avisou que “a ação unilateral é prejudicial à confiança mútua e uma fórmula para a incerteza”.

O Governo britânico vai apresentar esta segunda-feira uma proposta de lei para alterar unilateralmente o Protocolo da Irlanda do Norte, a qual garante que não vai violar o direito internacional.

A legislação vai dar aos ministros poderes para desaplicar partes do Protocolo, que foi desenhado entre o Reino Unido e UE como parte do Acordo de Saída do Reino Unido do bloco europeu para manter a fronteira terrestre na Irlanda aberta.

MANTER NA PRÁTICA O MERCADO ÚNICO DE MERCADORIAS DA UE

O acordo assinado em 2020 introduz controlos e documentação adicional sobre mercadorias que circulam entre o Reino Unido e a província da Irlanda do Norte, atrito que foi criticado por empresas e pelos partidos unionistas, que são pró-britânicos.

O protocolo mantém na prática a Irlanda do Norte dentro do mercado único de mercadorias da UE, ficando o território sujeito a normas e leis europeias.

Preocupado com o afastamento económico e político da região do resto do país, o Partido Democrata Unionista (DUP) bloqueou em protesto a formação de um novo governo regional após as eleições de maio até que o Protocolo seja alterado.

Truss disse, em telefonema esta manhã com o homólogo irlandês, Simon Coveney, que a proposta de lei que vai "proteger a paz e a estabilidade na Irlanda do Norte e manter o Acordo de Belfast (Sexta-feira Santa)”.

"Continuamos abertos a negociações com a UE, mas não podemos esperar para resolver as questões que o povo da Irlanda do Norte enfrenta”, justificou

Embora não seja conhecido o conteúdo, a imprensa britânica avança que a legislação vai remover todos os processos alfandegários de mercadorias do Reino Unido destinados à Irlanda do Norte, mas mantém controlos aos bens que se destinam ao mercado único europeu.

13.6.22

Brexit e aumento de custo de vida deixa portugueses no limbo

in Notícias ao Minuto

O Brexit, a pandemia e a crise económica deixaram a comunidade portuguesa no limbo entre ficar no Reino Unido e regressar a Portugal, dizem dirigentes associativos e empresários na véspera da visita do Presidente da República a Londres.

Marcelo Rebelo de Sousa estará na capital britânica de 10 a 12 de junho por ocasião das celebrações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, numa altura em que muitos questionam a permanência no país de acolhimento.

"Nunca me senti imigrante, achei que era tratado como igual. Mas depois do Brexit já me sinto estrangeiro", confessou à agência Lusa o empresário e Conselheiro das Comunidades Madeirenses José Silva.

No Reino Unido há 40 anos, subiu a pulso e construiu um grupo económico com restaurantes e a importação de produtos alimentares portugueses.

Durante este tempo, viu o tipo de emigração portuguesa mudar, de pessoas menos qualificadas e com poucos conhecimentos da língua inglesa que se ficavam pelas limpezas, construção civil e restauração, para profissionais como médicos, engenheiros e arquitetos.

Depois do referendo de 2016, quando os britânicos votaram a saída da União Europeia (UE), o ambiente mudou.

"Não me tratam de maneira diferente, dizem 'tu és um bom estrangeiro'. Mas no fim do dia somos todos imigrantes", lamentou, desiludido.

Em Cardiff, o empresário Nuno Silva diz que milhares de portugueses deixaram nos últimos seis anos o País de Gales, país onde tinham chegado recrutados em grupo por agências para trabalhar em fábricas.

Alguns, explica, regressaram a Portugal porque não conseguiram o estatuto de residente, outros nem tentaram, desiludidos.

"Eu também quero ir daqui a uns dois anos. Desde o Brexit que nunca mais me senti à vontade", revelou à Lusa.

Ana Silva, presidente da Associação Portuguesa de Watford, nos arredores de Londres, relata que muitas famílias continuam a regressar a Portugal, não só por causa do Brexit, mas também, mais recentemente, devido ao impacto da pandemia e da crise económica.


"Em 2016 ninguém pensava voltar a Portugal", recordou, "mas depois as pessoas começaram a pensar", acrescentando à lista de queixas as dificuldades de viajar causadas pela pandemia e o aumento de custo de vida.

Numa altura em que o aumento da inflação já está a ter impacto nos orçamentos familiares, a solução para reduzir as despesas tem sido a separação de famílias.

"Algumas esposas estão a voltar a Portugal com os filhos para ver se se adaptam, e, se gostarem, ficam. Os maridos, ou ficam cá e passam a ir lá mais de férias, ou vão de vez", revela a organizadora de eventos.

Segundo José Manuel Sousa, dirigente do Grupo Desportivo Cultural, muitos emigrantes optam por ficar porque não querem deixar para trás filhos ou netos, a casa e uma vida construída ao longo de décadas.

Este cozinheiro de profissão vê algumas semelhanças entre a época em que chegou, em 1989, e o pós-Brexit: muita oferta de emprego, comprovada pela taxa de desemprego de 3,7%, o nível mais baixo desde 1974.

"Temos muitos trabalhos, mas não há pessoal. Tenho muitas pessoas da Madeira a pedirem-me para vir, mas com o Brexit é mais difícil contratar estrangeiros", exclama.

Domingos Cabeças, gerente da agência de recrutamento Netos em Londres, também nota a redução de portugueses à procura de emprego numa altura em que mais precisa.

"Antes do Brexit tinha 60-80 pessoas por dia, agora a média é de 10-15. Tenho empregadores que telefonam todos os dias a saber se há gente. Aumentaram salários e mesmo assim não há gente", conta.

No Reino Unido há 31 anos, Cabeças explica que os salários elevados, em alguns casos quatro vezes superiores aos praticados em Portugal, atraíram muitos emigrantes, que chegavam a acumular vários empregos para juntar economias.

Porém, além de despesas mais altas com alojamento e transportes, agravadas pelo aumento do custo de vida, a mentalidade da comunidade portuguesa mudou, para pessoas que querem aproveitar melhor a vida, acabando por voltar a Portugal.

"As pessoas já não querem ser escravas do dinheiro, vão comer fora, passear ao fim de semana. Chega a um ponto em já não vale a pena cá estarem, não conseguem juntar dinheiro. Em Portugal não ganham o mesmo, mas ao menos estão no país deles", resume.


22.2.22

Emigração desceu em 2021, mas remessas foram as mais altas desde o euro

Joana Gorjão Henriques, in Público on-line

A Suíça voltou a ser o principal país de remessas de emigrantes em 2021. Total atingiu quase os 3,7 mil milhões de euros, mais 1,8% do que no ano passado, mostram os dados do Banco de Portugal. 

No ano passado a emigração para o estrangeiro diminuiu, em grande parte resultado da pandemia e dos efeitos do Brexit, já que o Reino Unido era um dos destinos de eleição de portugueses e sofreu uma baixa de 70%.

Só que, mesmo assim, as remessas foram as mais altas desde que foi introduzida a moeda euro, mostram os dados do Banco de Portugal compilados pelo Observatório da Emigração: entraram no país 3.677.76 milhões de euros em remessas de emigrantes, mais 1.8% do que no ano passado, o que representa uma inversão da tendência de descida que se tinha registado no ano anterior.

O pico da emigração portuguesa atingiu as 120 mil saídas em 2013, e o das remessas aconteceu em 2001, ainda antes da introdução do euro, com um valor um pouco mais elevado do que o do ano passado, feita a correspondência para a nova moeda: 3.736.82 milhões de euros. Segundo mostra o Observatório da Emigração, entre 2001 a 2021 a variação no valor das remessas dos emigrantes recebidas em Portugal faz o desenho de uma curva em ‘U': desceu até 2009, e voltou a subir em 2010, com 2012 e 2013 a serem anos de destaque, ultrapassando a barreira dos 3 mil milhões neste último.

O Observatório da Emigração chama porém a atenção para o facto de as variações deverem ser analisadas “com cautela” já que, “em alguns casos, estas mudanças podem ser explicadas mais por variações cambiais do que por modificações na emigração”.

São os países onde vivem mais portugueses, mas também para onde mais portugueses emigraram, Suíça e França, que mais enviaram dinheiro para Portugal no ano passado: juntos, representaram mais de 56% do total em 2021. A Suíça continuou a ser o principal país de envio de remessas, com 28% do total, algo que repete a tendência do ano anterior. Foram viver para a Suíça no ano passado 7.542 portugueses, continuando este a ser o segundo país do mundo com mais emigrantes portugueses (eram 210.731 em 2020), depois de França com mais de meio milhão.

Já em relação ao Reino Unido a quebra na emigração foi muito significativa: tinham sido 20 mil os portugueses a ir viver para aquele país em 2020 e foram três vezes menos em 2021. Mesmo assim, o Reino Unido foi o terceiro principal país de envio de remessas, com 11,7%, ficando Angola em quarto com 6,8% e os Estados Unidos com a mesma percentagem. As remessas enviadas de Espanha, que era um dos países de eleição da emigração portuguesa e sofreu uma quebra de mais de 36%, foram quase metade das da Alemanha ficando estes dois países em sexto e sétimo lugar respectivamente.


16.6.21

Portugal ultrapassa a Grécia no ranking dos salários mínimos

in Negócios on-line

Com o aumento de 30 euros aplicado em 2021, o salário mínimo português ascendeu ao 11º lugar numa lista de 22 países europeus em que o valor é fixado por lei e que é liderada por Luxemburgo e Reino Unido.

Beneficiando dos cortes aplicados pela troika na Grécia e do congelamento do aumento que estava programado para este ano naquele país devido à pandemia – à imagem do que fizeram Espanha e Estónia –, Portugal ultrapassou os gregos na lista de países europeus em que o salário mínimo é fixado legalmente.

O ranking apresentado no mais recente relatório da Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho (Eurofound), citado pelo DV, mostra que o salário mínimo português, que aumentou 30 euros em 2021, para 665 euros mensais (776 euros, considerando 14 meses), passou assim a ser o 11.º mais elevado num grupo de 22 países.

No topo desta lista, à frente de Portugal, estão o Luxemburgo (2.202 euros), Reino Unido (1.903 euros), Irlanda (1.724 euros), Países Baixos (1.685 euros), Bélgica (1.626 euros), Alemanha (1.610 euros), França (1.555 euros), Eslovénia (1.110 euros), Espanha (1.108 euros) e Malta (785 euros).

Em países como Áustria, Dinamarca, Itália, Finlândia, Suécia e Noruega, os patamares mínimos de retribuição são estabelecidos em negociação coletiva.

Em termos percentuais, o aumento aplicado este ano em Portugal (4,7%) é o sétimo maior. Destacam-se as subidas registadas nos países do Leste europeu, com a Letónia a liderar por larga margem, com um crescimento de 16,3% face ao valor que tinha sido praticado em 2020.

Compensação até 9 julho e nova subida em 2022

O Governo português já admitiu um aumento de cerca de 6% no salário mínimo nacional em 2022, o equivalente a cerca de 40 euros, que passaria o valor dos atuais 665 euros para 705 euros. A estimativa é que um universo de mais de 800 mil pessoas, isto é, cerca de um quinto dos trabalhadores por conta de outrem, receba o salário mínimo em Portugal.

Como anunciado em maio pelo ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, o Estado vai pagar às empresas 84,5 euros por cada trabalhador que estivesse a receber salário mínimo a 31 de dezembro de 2020 e que ainda se mantenha nos quadros. Contas feitas, dá cerca de 84% do aumento do encargo com a TSU decorrente do aumento do salário mínimo nacional em 2021. As empresas podem pedir o pagamento desta compensação até 9 de julho.


27.4.21

Como pode ser a vida sexual depois dos 65? Feliz, mostra esta campanha

in Público on-line

A sexualidade pode manter-se até ao fim da vida e ganhar múltiplas formas, dizem as pessoas com mais de 65 anos fotografadas em momentos íntimos para uma campanha no Reino Unido.

Pessoas com mais de 65 anos a abraçarem-se, beijarem-se, usarem brinquedos sexuais ou a fazerem sexo. A organização Relate achou que o desejo sexual e a intimidade deixam de ser representados quando começa a velhice — o que não é o mesmo que dizer que pára de existir, respondem os cinco casais e a mulher solteira fotografados para a campanha no Reino Unido.

Desde um relacionamento de longa data até novas descobertas, as imagens mostram o “que muitas vezes é escondido” ou percepcionado como “desconfortável”. Segundo a Relate, uma organização sem fins lucrativos que presta serviços de terapia sexual, mediação e aconselhamento para casais, famílias e individuais, apenas “um quinto dos britânicos pensa que a sociedade não tem problemas em falar de sexo e intimidade entre pessoas com mais de 60 anos”. Quando lhes perguntaram a eles, cita a organização, menos de 10% dos com mais de 65 anos pensam que o tema não é tabu.

“Pode parecer que apenas jovens com corpos ‘perfeitos’ têm relacionamento sexual e são íntimos, mas é óbvio que isto não é verdade”, escreve Gail Thorne, terapeuta sexual da organização britânica. As fotografias de Rankin, conhecido fotógrafo de moda, foram transformadas em cartazes e estão a ser distribuídas por mupis no Reino Unido, acompanhadas por mensagens divertidas e positivas sobre sexualidade. Sozinha, uma mulher com uma expressão de prazer dá corpo ao trocadilho: “Nunca se é velha de mais para brincar com brinquedos.” Noutro, dois homens nus abraçam-se ao lado da frase: “Alguns homens descobrem que adoram golfe. Outros descobrem que adoram homens.”

“A família e os amigos ficaram espantados, mas foram muito encorajadores”, partilha Mark, um dos homens representados, numa relação com Andrew há 31 anos. “Os sobrinhos e sobrinhas mais novos já nos vêem como um casal de velhos excêntricos de qualquer maneira, e pensam que isto é apenas mais uma coisa estranha que fizemos. Provavelmente vão levar os amigos a ver-nos num painel publicitário”, diz, ao The Guardian.

Para expressarem diferentes formas de intimidade, as pessoas fotografadas trabalharam com um coordenador de intimidade, profissionais cada vez mais usados no teatro e na televisão para deixarem os actores e equipa mais confortáveis durante e após as gravações de cenas com nudez. Aos casais reais, foi pedido que representassem o que, para eles e naquele momento, significava ser íntimo e sexual.


20.5.20

Justiça britânica insiste em processar sem-abrigo por não se ter confinado

in RTP

O Ministério Público do Reino Unido quis levar a tribunal um sem-abrigo, acusando-o de não ter recolhido a sua casa, em obediência às ordens de combate à pandemia. O juiz a quem o caso foi distribuído pôs em dúvida o seu fundamento, mas a acusação insiste em seguir para tribunal.

O sem-abrigo Sultan Monsour, de 45 anos, foi detido pela polícia londrina em 5 de maio, na estação da rua de Liverpool. O Serviço de Procuradoria da Coroa britânica, equivalente à Procuradoria-Geral em regimes republicanos, acusou-o de se encontrar "fora do sítio onde vive, nomeadamente sem domicílio fixo".

O juiz Alexander Jacobs, do tribunal de comarca de Westminster, pôs em dúvida a legalidade de acusar um sem-abrigo de não estar confinado em sua casa, mas o procurador Malachy Pakenham anunciou a intenção de seguir com o caso e, segundo citação do diário The Guardian, explicou: "Ele foi começou por ser visto na estação da Rua de Liverpool, quando viajava, e foi avisado. O agente que o avisou voltou a vê-lo dez dias depois e perdeu a paciência".

O procurador justificou-se ainda argumentando que Monsour poderia ser julgado ao abrigo da lei do coronavírus, porque antes de identificar-se como sem-abrigo tinha começado por dizer que vivia em Stratford. E acrescentou que "viagem desnecessária constitui um delito. O facto é que ele disse à polícia que tinha um endereço".


Mas o juiz discordante lembra que "até o agente que fez a detenção disse: 'Detive-o por violar as disposições sobre o coronavírus, porque ele não tinha endereço".

28.4.20

Com menos covid-19 e mais desemprego, Velha Europa começa desconfinamento

Susana Salvador, in DN

À medida que as taxas de infeção vão caindo e aumentam as dificuldades económicas e a pressão das populações para o fim do confinamento, Espanha, França, Itália, Alemanha e Reino Unido dão passos para a nova normalidade.

Com os resultados do confinamento a que grande parte da população foi sujeita nas últimas semanas a começarem a sentir-se nos números divulgados diariamente de infetados e de mortes por novo coronavírus, ao mesmo tempo que os números da economia vão acentuando a ideia de crise, os governos começam a planear a seguinte fase: o desconfinamento. Mas se mandar toda a gente para casa foi fácil, permitir que saiam revela-se um processo muito mais complicado.

Na Velha Europa, Espanha e França apresentam nesta terça-feira as suas estratégias. Itália já o fez neste domingo, enquanto a Alemanha já começou na semana passada a tomar algumas medidas de abertura. O Reino Unido, que demorou mais tempo a optar pelo confinamento, está também mais atrasado.

De volta ao trabalho depois de ele próprio ter sido infetado, o primeiro-ministro Boris Johnson pede paciência e avisa que ainda é cedo para começar a levantar as restrições, admitindo sempre ter consciência do impacto que tal decisão tem para a economia.

Todos os planos vêm sempre acompanhados de alertas para eventuais segundas vagas de covid-19, que poderiam levar a novo confinamento. E uma das coisas que têm em comum é o facto de preverem todos o uso obrigatório de máscaras, nem que seja nos espaços públicos fechados e nos transportes.

A Organização Mundial de Saúde alertou para o risco de um desconfinamento precipitado poder ter um "impacto maior" a nível económico. "Os governos têm que pôr na balança as vidas e a economia. Mas sem dar passos demasiado rápidos, arriscam-se a sofrer um impacto maior na economia", disse o diretor executivo Mike Ryan.

Espanha

É o segundo país do mundo com mais casos de covid-19 confirmados, depois dos EUA, tendo o primeiro caso positivo sido detetado a 31 de janeiro. No balanço divulgado já esta terça-feira voltou a registar-se uma quebra no número de mortos - mais 301 em 24 horas, para um total de 23 822 desde o início da epidemia. Foram ainda registados mais 1308 casos, num total de 210 773. Destes, 102 548 estão curados. Na prática, isso significa pouco mais de 85 mil casos ativos. A taxa de infeção (R) é atualmente de 1.

O momento mais visível do início do desconfinamento foi a saída à rua, este domingo e pela primeira vez desde que foi decretado o estado de alarme a 14 de março, das crianças com menos de 14 anos. Segundo as regras, estas podem agora sair uma vez por dia, entre as 9.00 e as 21.00, mas num raio de um quilómetro das suas casas e sempre acompanhadas por um adulto.

MUNDO
Espanha. Um mês e meio depois, as crianças voltaram à rua (veja as fotos)
O desconfinamento começará contudo apenas a partir de 2 de maio, devendo ser aprovado esta terça-feira pelo governo espanhol. Uma coisa é certa, a aplicação não será igual em todo o território espanhol e, ao contrário do que queriam as diferentes comunidades autónomas, será coordenado pelo executivo.

Há comunidades autónomas que já têm os seus planos próprios, mas tudo vai depender do que o governo disser esta terça-feira, depois do conselho de ministros. O plano, disse Sánchez no fim de semana, está a ser preparado há três semanas, sendo que os líderes autonómicos foram ouvidos esta segunda, para darem as suas sugestões.

A ideia é a partir deste 2 de maio ser possível sair à rua para fazer desporto, sozinho ou com as pessoas com quem vive. Até agora, os adultos só podiam sair para ir trabalhar (se não o pudessem fazer através de teletrabalho), comprar comida, ir à farmácia ou ao médico, passear o cão ou ajudar familiares com necessidades.

Mas o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, reitera que é preciso ir com calma, aplicando medidas de prevenção e dando atenção especial à higiene. "Convém não subestimar o inimigo", referiu. O estado de alarme declarado a 14 de março, tendo a 28 de março sido proibidas todas as atividades não essenciais no país (que só levantou a 13 de abril). O estado de alarme já foi prorrogado em três ocasiões e tudo indica que será uma quarta vez, até 24 de maio.


ESPANHA
"Como é possível Portugal ter 700 mortos e nós mais de 20.000"? A pergunta da oposição a Pedro Sánchez
A nível económico, as previsões mais otimistas são para uma queda de 7% do PIB este ano, mas as mais pessimistas apontam para uma queda de 12,5%. Em Espanha, cerca de quatro milhões de trabalhadores em lay-off e mais de um milhão de trabalhadores por conta própria pediram ajuda por terem sido obrigados a suspender a atividade. A 20 de abril, havia ainda registo de 3,7 milhões de desempregados.

França

As autoridades francesas anunciaram mais 437 mortes por covid-19 esta segunda-feira, elevando para 23 293 o número de mortes desde o início da pandemia no país. Há 128 339 casos, dos quais 28 055 hospitalizados (menos 162 que na véspera).

O primeiro-ministro francês, Édouard Philippe, vai apresentar esta terça-feira às 15.00 (14.00 em Lisboa) o plano de desconfinamento, que deverá começar a ser implementando a partir de 11 de maio. Os franceses estão confinados desde 17 de março e, segundo uma sondagem da semana passada, já só 43% apoiam as medidas de confinamento -- menos oito pontos percentuais que na semana anterior.

A ideia é que o plano, apresentado por Philippe aos deputados, seja discutido e votado de seguida, apesar das queixas da oposição, por ter pouco tempo para o estudar. "Vou apresentar a estratégia nacional de desconfinamento esta terça-feira à tarde, na Assembleia Nacional, em volta de seis temas: a saúde (máscaras, testes, isolamento...), escola, trabalho, comércio, transportes e reuniões de pessoas", escreveu o primeiro-ministro no Twitter.

O plano será nacional, com o Palácio do Eliseu a ter rejeitado a ideia de um desconfinamento por região. Para proteção, o uso de máscaras será obrigatório, sendo que desde esta segunda-feira que as farmácias podem voltar a vendê-las (tinham sido todas confiscadas no início de março e estavam indisponíveis). A ideia é haver 26 milhões de máscaras disponíveis para o público em geral todas as semanas.

O objetivo do governo é que as crianças possam regressar progressivamente às creches e às escolas a partir de 11 de maio, indo contra o defendido pelo conselho científico, que queria um regresso apenas em setembro. Os pais que não queiram que os filhos voltem à escola estão obrigados a seguir com o ensino à distância, mas a medida enfrenta também a oposição de alguns professores.

Crianças transmitem o vírus? Novo estudo sobre caso em França levanta dúvidas
A nível do regresso ao trabalho e da abertura dos comércios, ainda não são conhecidos pormenores. A abertura progressiva da economia permitirá começar a lidar com a crise que o coronavírus trouxe. O governo prevê que o PIB caia 8% este ano.

França registou, esta segunda-feira, um aumento histórico no número de desempregados da categoria A (a maioritária, que inclui aqueles que são obrigados a uma procura ativa de emprego) em março: foram mais 246 100, isto é, 7,1%, para um total de 3,7 milhões de pessoas sem emprego nesta categoria no país. No total, nas categorias A a C (que inclui aqueles que fizeram trabalho temporário no último mês) o número dos sem emprego ascende a 5,7 milhões.

Itália

É o país europeu com maior número de mortos, ficando a nível global apenas atrás dos EUA. A Itália registou na segunda-feira mais 333 mortes, elevando para 26 977 o total desde o início da pandemia. Há ainda a registar mais 1739 casos, para os 199 414. Há ainda 66 624 recuperados. Os casos ativos são assim cerca de 105 mil.

As restrições impostas em Itália a 9 de março vão começar a ser levantadas a 4 de maio, mas o primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, já avisou que todos vão ter que usar máscaras em locais públicos e continuar com as medidas de distanciamento social. A Itália vai entrar numa era de "responsabilidade e coexistência com o vírus", disse o chefe de governo numa declaração à nação, no domingo.

Nessa mesma intervenção, Conte anunciou o cronograma de retoma da atividade económica. Já esta segunda-feira, as empresas consideradas "estratégicas", nomeadamente aquelas com atividades produtivas e industriais mais orientadas para a exportação (indústria automóvel e moda) puderam reabrir. Empresas de construção e fábricas podem retomar quando tiverem garantidas as condições de segurança para funcionários.

A 4 de maio, haverá a abertura de mais algumas atividades, podendo ser possível passeios nos parques (que vão reabrir) e visitar familiares (mantendo sempre as distâncias de segurança). As reuniões sociais continuam proibidas.

A celebração de funerais será retomada, mesmo que com apenas a presença de 15 pessoas (de preferência ao ar livre e sempre com máscara). A Igreja Católica já lamentou que no cronograma não haja referência ao retomar das cerimónias religiosas, com Conte a ouvir as críticas e a convocar os bispos para consultas.

A 18 de maio, a ideia é reabrir os comércios, museus, estabelecimentos culturais e bibliotecas, estando a reabertura completa de bares e restaurantes prevista para 1 de junho, quando também devem reabrir salões de beleza. As medidas de segurança têm sempre que ser respeitadas.

No desporto, os atletas de desportos individuais podem voltar aos treinos a 4 de maio, mas os de desportos coletivos só o podem fazer duas semanas depois, no dia 18. O que não agradou às equipas de futebol. As competições de futebol devem regressar em junho.

A reabertura das escolas será só em setembro.

A pandemia e as medidas de confinamento paralisaram a economia italiana. Segundo previsões do governo, o país deve entrar em recessão este ano, com uma queda de 8% do PIB. O défice público subirá para os 10,4% do PIB, contra os 2,2% que eram esperados antes do coronavírus, e a dívida pública deve saltar para 155,7% do PIB.

Alemanha

Regresso às aulas na Baviera.

Graças a uma estratégia de testagem alargada, a Alemanha conseguiu responder à pandemia, sem que o seu sistema de saúde ficasse sobrecarregado (ajudou até os países vizinhos), e mantendo os números de mortos controlados.

Esta segunda-feira, a Alemanha confirmou mais 1018 casos de covid-19, num total de 155 193 desde o início da pandemia, e o número de mortos subiu 110 para os 5750. A taxa de infeção caiu há duas semanas abaixo de 1, com o ministro da Saúde, Jens Spahn, a dizer que a pandemia estava controlada.

Mas esse controlo faz com que comecem a surgir críticas, pedindo um rápido levantar do confinamento para começar o mais rapidamente a travar a crise económica.

As restrições começaram a ser levantadas na semana passada, com a abertura dos comércios de até 800 metros quadrados, sendo que cada estado tem liberdade para implementar o calendário que quiser. E os especialistas temem que possa haver uma interpretação criativa das regras, levando a um novo pico.

O uso de máscaras é agora obrigatório nos transportes públicos e, nalguns estados, dentro das lojas, sendo que elas podem ser adquiridas em máquinas de venda automática.

A maior parte das crianças ainda vão continuar em casa, mas há alunos já de volta às aulas, sendo que os que se preparam para os exames vão voltar até dia 4. Nas escolas, as máscaras devem ser usadas nos corredores e durante os intervalos -- nas aulas as carteiras estão a uma distância de segurança umas das outras e é mais fácil a limpeza com desinfetante.

Livrarias, stands de automóveis e lojas de bicicletas também reabriram na semana passada. Os negócios que tinham sido fechados por não serem considerados essenciais, como por exemplo cabeleireiros, vão reabrir também a partir de dia 4.

Grandes eventos e ajuntamentos de pessoas continuam a ser proibidos, pelo menos até 31 de agosto. Restaurantes, cinemas e lojas de grandes dimensões também vão continuar para já fechadas.

Apesar de os alemães concordarem com as medidas de confinamento, e da chanceler Angela Merkel gozar de uma elevada aprovação na forma como lidou com a pandemia, começam a ouvir-se vozes de descontentamento, tanto da extrema-direita como da extrema-esquerda. Este fim de semana houve um protesto em Berlim a pedir "liberdade" e o fim do confinamento.

ALEMANHA
Merkel quer sair em 2021. Vai a pandemia mudar isso?
E os políticos também não poupam críticas. "Quando oiço que proteger vidas deve ser mais importante do que tudo o resto, não acho que seja totalmente verdade" disse o ex-ministro das Finanças e atual presidente do Parlamento alemão, Wolfgang Schäuble, numa entrevista ao Der Tagesspiegel. "Os efeitos enormes económicos, sociais, psicológicos e outros precisam de ser pesados", acrescentou.

O gigante europeu não está imune em termos económicos à pandemia, com as previsões a apontarem para uma contração da economia em 7% em 2020, com o país já tecnicamente em recessão.

No início de abril, havia registo de quase meio milhão de empresas a pedir o apoio do estado, estimando-se que quase nove milhões de trabalhadores estivessem em lay-off. Há especialistas que acreditam que o desemprego, em queda há anos na Alemanha, pode subir para os 6% (era de pouco mais de 3% em fevereiro).

Reino Unido

O país que começou por apostar na ideia de imunidade de grupo até perceber que esta podia implicar 250 mil mortes, não quer para já falar de desconfinamento. Mas aumenta a pressão sobre o governo britânico para apresentar os planos para uma reabertura da economia.

Esta segunda-feira, o Reino Unido anunciou mais 360 mortes por coronavírus nos hospitais, elevando para 21 092 o número total de óbitos desde o início da pandemia. Dados que não incluem, por exemplo, os "milhares de mortos" nos lares de idosos, segundo os trabalhadores da área.

No regresso ao trabalho após ter estado ele próprio infetado (e hospitalizado, com uma passagem pelos cuidados intensivos), Boris Johnson pediu aos britânicos para "conterem a impaciência". O confinamento começou a 23 de março no país.

Admitindo os problemas que o confinamento prolongado representa para a economia, o primeiro-ministro avisou contudo que é preciso "reconhecer o risco de um segundo pico, o risco de perder o controlo do vírus", porque isso "seria não apenas uma segunda vaga de morte e doença, mas um desastre económico".

REINO UNIDO
Boris: da "imunidade de grupo" ao medo do segundo pico
Só em duas semanas no final de março, perto de um milhão de pessoas concorreram a benefícios estatais para lidar com a perda de rendimentos, sendo que o governo implementou também um programa de ajuda às empresas que podem aplicar o lay-off.

As previsões são para uma queda do PIB de 6,8%, se as restrições à economia começarem a ser levantadas já em maio. Se estas continuarem até junho, a situação será ainda pior.

Johnson não se quer comprometer com uma data para o levantamento das medidas de restrição, mas agora que está de volta a Downing Street deverá começar a pensar no plano que poderá aplicar assim que a pandemia estiver mais contida.

O novo líder da oposição, Keir Starmer, quer contudo que o governo comece um diálogo para começar a desenhar o plano de saída do confinamento. O líder do Labour lembrou que o governo foi lento a entrar no confinamento, tem sido lento a fazer mais testes e lento a garantir a proteção necessária ao pessoal médico que está na linha da frente e que tem a oportunidade de corrigir a situação na hora de levantar as restrições.

Na semana passada, os governos autónomos da Escócia e País de Gales publicaram documentos com os princípios que vão guiar o desconfinamento nas regiões e esta segunda-feira a primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon, disse que revelar as diferentes opções existentes "nos próximos dias".

27.3.19

Sem-abrigo expulsos das imediações do Parlamento britânico

in DN

Os polícias terão evocado a Lei do sem-abrigo de 1824 e referido que era necessário limpar a área "para que os parlamentares possam trabalhar"

Um grupo de sem-abrigos foi expulso de túneis públicos junto ao Parlamento britânico, em Londres. O jornal The Independent conta que as autoridades terão obrigado os cidadãos a sair daquele local depois de uma alegada queixa de um deputado.

Os polícias terão evocado, segundo dois homens que ali dormiam, a Lei do sem-abrigo de 1824, que criminalizava quem dormisse nas ruas. Referiram ainda a necessidade de manter os túneis que ligam a estação de metro de Westminster ao Parlamento limpos "para que os parlamentares possam trabalhar".
"Eu estava no túnel a ler a minha bíblia. Tinha acabado de acordar e ainda estava a tentar aquecer-me. Os polícias mandaram-me levantar e sair. Um deles disse: 'estamos a retirar toda a gente dos túneis para que os parlamentares possam trabalhar'", disse ao jornal inglês Elliot, de 22 anos, que mora na rua desde os 16.


Isto acontece numa altura em que o partido trabalhista está a tentar pôr fim à lei sobre os sem-abrigo, por esta ser "cruel e desatualizada". "A notícia de que a Lei do sem-abrigo ainda está a ser utilizada para dissuadir pessoas vulneráveis perto de Westminster é vergonhosa. Temos de parar de usar essa lei ultrapassada", comentou Layla Moran, deputada liberal democrata.
Vários sem-abrigo indicaram que desde fevereiro que esta lei tem sido citada para os expulsar de locais públicos e até há quem tenha sido multado e preso pela condição de dormir nas ruas inglesas.

Sem-abrigo multados e detidos por pedirem esmola
Já o porta-voz da Polícia Metropolitana afirma em resposta a esta acusação que não foi feita nenhuma detenção desta vez e que as autoridades foram convidadas para trabalhar em conjunto com associações de apoio a sem-abrigo.

No ano passado, foram registados, pela organização de solidariedade Shelter 320 mil sem-abrigo na Grã-Bretanha. Mais 13 mil do que em 2017.

12.9.18

Uma em cada 12 jovens britânicas usa jornal como penso higiénico

Ana Regina Ramos, in JN

Uma em cada 12 raparigas no Reino Unido usam jornais ou roupas velhas durante a menstruação.

A medida, que inclui a distribuição de pensos higiénicos, tampões e copos menstruais em escolas básicas, secundárias e universidades, foi anunciada pelo governo escocês e entrará em vigor a partir deste mês. Abrangerá 395 mil estudantes de todo o país, com um custo de cerca de seis milhões de euros, segundo o jornal francês "Le Monde".

O governo escocês fez uma parceria com a associação de solidariedade social FareShare, que irá colaborar com diversas organizações e associações com vista à distribuição dos produtos. Além de estabelecimentos escolares, também será possível adquiri-los, pela população com mais dificuldades financeiras, nos centros de distribuição da FareShare ou em parceiros locais.

Cerca de metade das raparigas britânicas tem vergonha da menstruação
De acordo com a associação Plan International UK, milhares de estudantes britânicas faltam à escola mensalmente por não terem meios financeiros para adquirirem nenhum desses produtos de primeira necessidade e estima-se que uma rapariga em cada doze usa uma proteção improvisada, como roupas velhas ou jornais.

Ainda de acordo com as estatísticas que remontam a dezembro de 2017, uma em cada sete raparigas britânicas não sabia o que estava acontecer quando lhes apareceu a primeira menstruação.
Percebe-se ainda que cerca de metade das raparigas britânicas inquiridas, entre os 14 e os 21 anos, sentem-se envergonhadas por terem menstruação e a cerca de dez por cento das adolescentes foi dito para não falarem sobre este assunto com os pais.

Na Irlanda do Norte, Deirdre Kingston, porta-voz da igualdade do Partido Trabalhista pediu a implementação destas medidas no país.
Em 2015, o preço destes bens de primeira necessidade suscitaram uma mobilização na França, o que levou à redução do IVA neste país de 20 para 5,5%.

15.1.18

Cartazes incentivam pessoas a não ajudar os sem-abrigo e geram indignação

in Jornal de Notícias

A cidade de Gloucester, em Inglaterra, está a enfrentar diversas críticas depois de ter colocado vários cartazes que incentivam as pessoas a não darem dinheiro aos sem-abrigo. Ao invés, incentiva-as a doarem o dinheiro às instituições.

O cartaz em questão foi criado pelo município da cidade de Gloucester e tem a fotografia de um sem-abrigo a segurar um copo ao lado de um cartaz de papelão que diz: "A mudança é mais do que moedas. Pense antes de dar".
Em cima do homem pode ler-se ainda a frase "Está mesmo a ajudar os sem-abrigo? Em alguns casos, as pessoas que vê a dormir nas ruas não são sem-abrigo. Estão acomodadas, recebem apoio e têm benefícios".

O anúncio alerta assim para o facto de as pessoas poderem estar a dar dinheiro às pessoas que não vivem realmente na rua e com dificuldades.

O cartaz enfureceu os responsáveis do partido Trabalhista, que criticam a autarquia da cidade. "Isto é vergonhoso e demoniza o grupo de pessoas mais vulnerável da nossa sociedade, que precisa de cuidados e bondade", alega o partido que já exigiu a retirada dos cartazes que estão espalhados pela cidade.

Nas redes sociais, várias pessoas já demonstraram o seu desagrado.

27.1.17

Homem detido em investigação de abusos sexuais no desporto inglês

in Jornal de Notícias

Um homem de 70 anos foi preso no âmbito de uma investigação em curso sobre abuso sexual de menores no contexto dos escalões de formação, que tem abalado o desporto britânico.

O processo, de acordo com os dados revelados pelas autoridades, envolve já 248 clubes, dos mais variados escalões, que, de alguma forma, estão a ser inquiridos sobre os alegados abusos sexuais de menores perpetrados durante décadas.

O indivíduo em questão, ainda de acordo com a polícia inglesa, foi preso na sequência da investigação em curso por "suspeita de indecência com crianças" e "agressão indecente".

O número de alegadas vítimas envolvidos neste escândalo sexual no desporto britânico, dado que não é apenas no futebol que se verificam estes casos, ascende já a 526, na sua maior parte do sexo masculino, e 184 potenciais molestadores já estão identificados.

O processo foi desencadeado por declarações do ex-futebolista Andy Woodward, que admitiu ter sido molestado sexualmente em criança, quando jogava no modesto Crewe Alexandra.

O desabafo de Andy Woodward foi secundado por outros ex-futebolistas ingleses, que apontaram ainda o nome do 'olheiro' Eddie Heath, já falecido, que integrou a equipa técnica do Chelsea na década de 70, como um dos abusadores.

8.8.16

Resposta do banco central ao “Brexit” não evita mais 250 mil desempregados

Sérgio Aníbal, in Público on-line

Banco de Inglaterra anuncia primeira descida de taxas em sete anos e volta a ligar a “máquina de imprimir dinheiro”. A economia, mesmo assim, deve travar a fundo.

Antes do referendo, Mark Carney não teve dúvidas em desempenhar o seu papel na campanha, avisando para a possível recessão que poderia resultar de uma saída do Reino Unido da UE. Agora, depois de os britânicos terem decidido mesmo assim sair, o governador do Banco de Inglaterra deixou mais um alerta, desta vez quase sob a forma de uma sentença: a de que, apesar de o banco estar disposto a ir mais longe do que nunca no estímulo monetário à economia, isso não será suficiente para evitar uma travagem a fundo no próximo ano, com cerca de 250 mil pessoas a perder o seu emprego.

A generalidade das previsões já apontava para que a autoridade monetária britânica apresentasse projecções mais pessimistas para a economia e que anunciasse novas medidas para contrariar os efeitos negativos do “Brexit”, mas Mark Carney e os seus pares fizeram mesmo questão de garantir que ninguém ficava com dúvidas quando à gravidade da situação.

O banco central anunciou medidas nunca antes vistas nos seus 322 anos de história, mas ao mesmo tempo, nas suas novas projecções (que já levam em conta os estímulos monetários agora lançados), realizou o corte mais forte desde 1993 na sua estimativa de crescimento económico, deixando ainda aberta a possibilidade de a economia entrar em recessão.

"A conjuntura económica mudou profundamente", disse Mark Carney, o canadiano que foi nomeado para liderar a autoridade monetária britânica. Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião do comité de política monetária realizada nesta quinta-feira, o governador disse que os riscos que eram já identificados pela instituição antes do referendo se confirmam.

O Banco de Inglaterra reviu em baixa as suas previsões de crescimento, principalmente para o próximo ano. Se, para este ano, a estimativa de crescimento se manteve em 2%, para 2017, em vez da anterior projecção de variação do PIB de 2,3%, o banco aponta agora para apenas 0,8%. E para 2018, o ritmo volta a ser mais lento do que era previsto: 1,8% em vez de 2,3%.

O governador fez ainda questão de salientar, contudo, que estes são apenas os pontos centrais do intervalo de previsão, não excluindo a possibilidade de o país entrar em recessão.

Uma consequência do crescimento mais lento será a deterioração das condições no mercado de trabalho. O banco prevê que a taxa de desemprego suba dos 4,9% actuais para 5,5% durante os próximos dois anos, o que, de acordo com as contas de Mark Carney, corresponde ao surgimento no país de mais 250 mil desempregados.

Tudo isto acontece num cenário em que o banco central se prepara para colocar em prática medidas extraordinárias, em quatro grandes frentes. Em primeiro lugar, a taxa de juro de referência foi reduzida de 0,5% para 0,25%, um novo mínimo histórico para o Banco de Inglaterra.

A última descida de taxas realizada pela autoridade monetária britânica tinha ocorrido em Março de 2009, no auge da crise financeira. Desde aí, a opção tinha sido manter as taxas a um nível muito baixo, mas que ainda oferecia uma certa margem até ao nível zero. Agora, perante a ameaça de uma recessão, essa margem foi ainda mais reduzida.

Depois há um regresso da estratégia de “imprimir” mais dinheiro. O programa de compra de títulos de dívida pública posto em prática no auge da crise financeira internacional tinha ascendido a um total de 375 mil milhões de libras (cerca de 445 mil milhões de euros), estando parado desde 2012. Agora, o Banco de Inglaterra irá alargá-lo até aos 435 mil milhões de libras (cerca de 515 mil milhões de euros), um acréscimo de 60 mil milhões (cerca de 70 mil milhões de euros) que se destina a injectar mais liquidez na economia.

Em terceiro lugar, o Banco de Inglaterra anunciou que irá, à semelhança daquilo que foi feito pelo Banco Central Europeu, passar a comprar obrigações emitidas por empresas, num valor estimado de 10 mil milhões de libras (cerca de 11,8 mil milhões de euros), algo que nunca fez durante a crise.

Por último, o banco central anunciou ainda a criação de um novo "esquema de financiamento" para os bancos, que irá facilitar o acesso ao crédito a taxas de juro baixas do banco central, num montante total de 100 mil milhões de libras (cerca de 120 mil milhões de euros).

Ir ainda mais longe

Na conferência de imprensa que se seguiu à reunião, Mark Carney disse confiar que a resposta agora dada pode "reduzir a incerteza e limitar o abrandamento". Mas não quis criar ilusões. Uma das mensagens que mais repetiu, num recado claro ao Governo, foi a de que a política monetária tem os seus limites e que não vai conseguir contrariar totalmente o efeito negativo na actividade económica da decisão de saída da UE.

Questionado várias vezes sobre o que é que o Governo britânico deve fazer, Carney preferiu jogar à defesa, não dando conselhos específicos, nem ao nível da política orçamental, nem no que diz respeito à forma como deve ser negociado o “Brexit” com Bruxelas.

Mas, se é verdade que o governador deixou um apelo a que outros assumissem as suas responsabilidade, também fez questão de não deixar a imagem de estar, a partir de agora, de mãos atadas para fazer mais. Mark Carney garantiu que todas as medidas anunciadas nesta quinta-feira podem ser reforçadas, o que significa que o banco central está disposto a, se necessário, comprar mais dívida pública e empresarial e a colocar as taxas de juro a zero ou muito próximo.

Uma nova descida das taxas, que as colocaria no mínimo ainda mais coladas a zero, parece ser mesmo a opção mais óbvia no caso de o banco precisar de oferecer mais estímulos à economia. A decisão de cortar as taxas de juro foi adoptada pelos membros do comité de política monetária do Banco de Inglaterra por unanimidade e Carney revelou na conferência de imprensa que colocar as taxas a zero não é uma fronteira que não possa ser ultrapassada. Já a compra de obrigações do tesouro contou com seis votos a favor e três contra, ao passo que a compra de dívida das empresas teve oito votos a favor e um contra.

Nos mercados, as decisões do Banco de Inglaterra – e as suas novas previsões – tiveram como efeito imediato uma nova descida da libra face às outras divisas internacionais. As bolsas reagiram com grande moderação.

O Governo britânico aplaudiu o esforço do banco central para limitar os danos do “Brexit” na economia, mas entre os mais contestatários de um reforço das políticas expansionistas, a principal crítica ouvida foi a de que os aforradores acabam por sofrer perdas acentuadas. Em resposta, Mark Carney, que disse “não haver qualquer desculpa para os bancos não reflectirem a descida de taxas nos seus empréstimos”, deu a entender que, mais do que nos aforradores, esta é a altura para pensar noutro grupo: os desempregados.

22.7.16

Portugal na UE. E fora dela?

Gonçalo Carrilho, in Público on-line

Hoje mais do que nunca urge, como recentemente sugeriram Seixas da Costa, João Salgueiro e outros, lançar o debate nacional sobre “Portugal no mundo”. Façamo-lo enquanto há tempo.

Tenho o privilégio de fazer parte de uma geração neta de Abril e filha da União Europeia. Uma geração que teve a sorte de nascer depois de 1974 e a felicidade de crescer num Portugal europeu.

Olhemos para indicadores ao nível da saúde (taxa de mortalidade infantil é exemplo paradigmático), da educação (n.º de cidadãos a frequentar o ensino básico ou superior) ou mesmo da economia (destaco a abertura da economia ao mercado europeu como fator da sua sobrevivência) e só podemos concluir isso mesmo: sorte e felicidade a nossa… Na senda dos eurocéticos dir-se-á “podia ter sido melhor”. A isso respondo: no caso português, sem a União Europeia, “seria muito pior”; está, aliás, por demonstrar o contrário.

Pois bem, esta geração – que no Reino Unido votou maioritariamente “remain” – apreendeu e viveu a integração europeia num contexto único. Sem guerra, num ambiente europeu de defesa dos valores da dignidade humana, da liberdade, da democracia, da igualdade, da justiça ou da solidariedade. Sentiu, nomeadamente pelo “Erasmus”, a pertença a um espaço sem fronteiras, de livre circulação de pessoas, bens, serviços e capitais.

No entanto, ao contrário do que possa parecer, a gratidão ao projeto europeu não significa uma qualquer nuvem em torno das evidentes fragilidades desta União Europeia, nem perturba o sentimento de profunda desilusão dos cidadãos com o status quo europeu.

Na verdade, é cada vez mais claro e dececionante para todos que o modelo de governo estrategicamente delineado pelos grandes Estados – verdadeiro “desgoverno”, visível na panóplia de “Presidentes” de órgãos com relevo decisório – resulta no bloqueio da integração europeia, tendo em vista a garantia de controlo da política europeia por determinados países.

Sendo certo que, essa estratégia, acompanhada de uma política monetária errática e precipitada, sobretudo para os países do sul, vem arrastando a União Europeia para um caminho desconhecido. De tal forma que o inesperado aconteceu: o Reino Unido está prestes a abandonar a UE.

Perante este cenário, Portugal tem todas as razões para “ligar os alarmes”. É bom lembrar que os principais destinos das nossas exportações são Espanha, França, Alemanha, Reino Unido e ainda os Estados Unidos da América, por esta ordem. Assim, a eventual desintegração europeia – acelerada ou progressiva – não pode deixar de constituir uma preocupação nacional e uma hipótese a considerar, atenta a enorme exposição e dependência da economia portuguesa face à UE e seus Estados-Membros.

Neste contexto, e perante a realidade de facto com que nos deparamos, reveladora de uma inexplicável indiferença dos principais Estados e órgãos da UE ao descontentamento com a União, e nessa medida potenciadora de saídas de outros países como a Holanda, torna-se imperioso pensar uma estratégia nacional para a possibilidade de retrocesso da integração comunitária.

Nesse quadro, todas as hipóteses devem ser consideradas.

Sem prejuízo de, a curto prazo, se impor um reforço dos laços com os países para os quais mais exportamos, sem esquecer as ligações aos países da CPLP, importa desde já refletir sobre a aposta no Atlântico, concretamente o reforço da aproximação aos Estados Unidos da América, sob todos os pontos de vista (designadamente, económico, militar, financeiro).

Perante a hipotética desagregação da Europa, só nos EUA poderemos encontrar um aliado com dimensão e capacidade de resposta aos desafios de um mundo globalizado e ao “choque de civilizações”, antecipado na década de 90 por Samuel Huntington, hoje em implosão em diversos pontos do Mundo. Se ao nível militar só os EUA podem hoje garantir a efetiva proteção das democracias ocidentais perante as ameaças da Federação Russa, da Coreia do Norte ou do Estado Islâmico, deve também considerar-se que, no âmbito de uma desagregação da União, será nos EUA que, a Ocidente, encontraremos verdadeira robustez económica e financeira (veja-se já hoje a situação da banca norte-americana e europeia, com clara vantagem para a primeira ao nível da capitalização). Neste plano, para Portugal, deve igualmente estar em cima da “mesa reflexão” a ponderação da questão monetária! Não na perspetiva, defendida por alguns, de abandono imediato do EURO e regresso ao ESCUDO, porventura difícil nos tempos de hoje, mas, por exemplo, equacionando até a possibilidade de integração numa outra moeda – como o DÓLAR – em caso de rutura da União Europeia e da sua moeda.

Em suma, olhemos para o “Brexit” como uma forte ameaça ao enquadramento político, económico e financeiro em que nos encontramos desde 1986, daí retirando a premência de, ao nível nacional, preparar o futuro e definir uma estratégia.

Com efeito, hoje mais do que nunca urge, como recentemente sugeriram Seixas da Costa, João Salgueiro e outros, lançar o debate nacional sobre “Portugal no mundo”. Façamo-lo enquanto há tempo.

28.6.16

Europa não deve "desistir" do Reino Unido, diz patriarca de Lisboa

in RR

Se a Europa insistir em abordar o futuro com uma perspectiva "economicista", vai pagar "caro", adverte D. Manuel Clemente à Renascença. Adriano Moreira diz que o "Brexit" pode constituir um risco à paz na Europa.

O patriarca de Lisboa acredita que a Europa não deve desistir do Reino Unido. D. Manuel Clemente afirma à Renascença que se vai pagar "muito caro" o facto de a primeira discussão do resultado do referendo que ditou a saída do Reino Unido da União Europeia ter deixado de fora vários Estados-membros, incluindo Portugal.

D. Manuel Clemente lamenta que a primeira reunião pós-Brexit tenha incluído apenas os seis membros fundadores da União Europeia, tanto do ponto de vista “cultural” como económico.

“Se for [uma decisão] económica ou, pior, economicista, acontece o que está a acontecer. Mas isso, depois, paga-se muito caro, e não com lucros”, afirma.

O patriarca sublinha que o lugar do Reino Unido deve ficar em aberto, à espera. “Temos de entrar todos no projecto europeu, não é só a Grã-Bretanha, que, por agora, quis ficar de fora. Mas o futuro está em aberto, não vamos desistir de ninguém, vamo-nos encontrar mais à frente", afirma à Renascença.

“Se me perguntassem pessoalmente, preferia que essa procura fosse feita com o Reino Unido mais dentro. Ele ficou de fora, mas o lugar está cá, à espera”, diz D. Manuel Clemente, à margem do lançamento do livro “Portugal e a Crise Global” de Adriano Moreira, esta terça-feira à tarde no ISCSP em Lisboa.

Adriano Moreira considera que a saída do Reino Unido da União Europeia pode constituir um risco à paz na Europa. Em declarações à Renascença, o especialista em relações internacionais lembra que “Inglaterra é o maior poder militar da Europa” e que o resultado do referendo “põe em perigo a coroa britânica, por causa dos movimentos separatistas”.

27.6.16

Sair da UE “foi a melhor decisão que podíamos ter tomado”

Ana Fonseca Pereira (Londres), in Público on-line

Havering destoa no mapa de Londres – é uma das zonas mais eurocépticas do país e votou em massa pela saída da UE. Nas ruas, o sentimento anti-imigração fala mais alto do que a economia.

Havering, na ponta nordeste da área metropolitana de Londres, já foi chamada a capital do eurocepticismo britânico e, apesar de um certo exagero, a realidade não andará muito longe desta descrição. Em Fevereiro, foi classificada pelo instituto de sondagens YouGov como o círculo eleitoral mais anti-União Europeia de todo o Reino Unido; um mês antes, o município tornou-se o primeiro em todo o país a tomar uma posição a favor da saída, e nesta quinta-feira foi uma das únicas três circunscrições da região onde os defensores da permanência saíram derrotados. Nas ruas, o referendo que deixou boa parte da capital em estado de choque, é celebrado com um espírito de rebelião festiva.

Na manhã deste sábado, na mesma altura em que dezenas de milhares de londrinos se preparavam para a grande festa que é a Marcha de Orgulho Gay, os habitantes de Romford, a maior cidade do círculo de Havering, cumpriam o ritual bem mais tradicional de fazer compras no mercado local. Por entre vendedores e clientes, uma fanfarra militar atravessa a rua, engalanada com bandeiras britânicas, celebrando o Dia das Forças Armadas e carregando o ar de patriotismo. Voluntários das associações de apoio aos veteranos recolhem donativos e distribuem balões e bandeirinhas da Union Jack às crianças.

“Estou tão orgulhoso do meu país”, diz David, vendedor de roupa numa das dezenas de bancas que enchem a rua. Não quer dizer o apelido, nem a idade, mas não esconde que votou convicto pela saída da UE, ao contrário da maioria dos que vivem em Londres. “Se eu fosse rico votava como eles. As pessoas ricas não querem que nada mude porque estão a fazer montes de dinheiro. São os pobres que estão a sofrer”.

David queixa-se dos regulamentos europeus que não poupam os pequenos negócios como o seu, mas também das leis europeias que os eurocépticos – e os tablóides que os apoiam – culpam pela não extradição de estrangeiros condenados no Reino Unido. Mas o que mais o incomoda é a imigração – o elefante desta campanha que esmagou todos os argumentos a favor da UE apresentados pelo Governo de David Cameron. “Toda a gente dos países pobres quer vir para cá. A culpa não é deles, mas têm que ser os governos deles a resolver os problemas que têm”, diz.

Romford é uma cidade com cerca de 30 mil habitantes, que se orgulha de um mercado com quase 800 anos, e que ainda hoje atrai gente das localidades vizinhas às suas lojas e centros comerciais. Está a 20 minutos de comboio de Londres, mas a sua população está mais próxima do Essex rural do que da diversidade londrina – os censos de 2011 indicam que 82% dos habitantes eram brancos nascidos no país. Mas não é preciso andar muito pelas ruas para que o tema da imigração, e não apenas a europeia, salte ao caminho.

“As pessoas daqui não conseguem casas. Eu não tenho dinheiro para uma casa, nem sequer para arrendar, e procurar um emprego é cada vez mais difícil”, queixa-se Lucilia, de 24 anos, convicta que, para quem vem de fora, “é tudo de graça”. “Gente que não pertence cá e a quem o Governo deu tudo, deixando os ingleses a sofrer”.

Está no mercado, com a mãe e o namorado, a vender malas e outras peças de artesanato feitas por elas. E apesar de estar há meses à procura de um emprego mais bem pago do que o que tem agora, desvaloriza com um encolher de ombros os receios de que a incerteza dos próximos anos traga uma recessão económica. “Foi a melhor decisão que podíamos ter tomado. Vamos ter mais empregos e mais casas, seremos nós a decidir as nossas regras”, diz, rápida a acrescentar: “Nem sempre estivemos na UE e as pessoas também viviam."

Cidade em mudança

Jenny, a mãe, nasceu e cresceu em Romford. Conta que os pais, como milhares de londrinos que viviam no Leste da cidade, compraram casa ali depois de a capital ter sido bombardeada durante a II Guerra Mundial e explica que a zona “sempre foi muito patriótica”, “uma espécie de nicho” entre a cidade e o campo. Mas nos últimos anos, diz, a cidade mudou muito, sobretudo com a chegada dos que foram desalojados de Hackney, no Leste de Londres, pelas obras dos Jogos Olímpicos de 2012. Garante que não tem nada contra os imigrantes – “sou casada com um italiano, que está cá há 30 anos” – mas “quanto mais pessoas Londres tiver, mas gente vem para aqui”.

A habitação pública, com rendas mais baratas, que se tornou regra no Reino Unido no pós-guerra, não chega para a procura – os economistas atribuem culpas a décadas de desinvestimento, mas para quem dela depende a escassez está ligada aos imigrantes, sobretudo às centenas de milhares de europeus que chegaram na última década. O mesmo acontece com os serviços públicos.

“Quem tem filhos ou netos está preocupado porque eles não conseguem casa, não conseguem escola”, diz ao PÚBLICO um casal de idosos que aproveitam o sol de Junho sentados num banco de rua. Vivem numa localidade vizinha e, como 69,7% da população de Havering votaram a favor da saída. “A principal razão é que temos demasiados estrangeiros. Estamos sobrelotados”, garante o marido, enquanto a mulher conta que no Natal foi ao hospital e teve de esperar “mais de três horas”. “Pus-me a contar os estrangeiros e eram tantos e tão exigentes”.

E não temem que a economia do país se ressinta? “Já sobrevivemos a outras coisas antes”, ri-se ele.

Havering não conseguiu um lugar no top 5 dos círculos com maior percentagem de eleitores a favor do “Brexit”, onde só tiveram lugar cidades no Leste de Inglaterra, que é já considerado o bastião do partido antieuropeu UKIP. Aqui vota-se tradicionalmente nos conservadores, mas a influência dos populistas tem vindo a crescer – foi um conselheiro local do UKIP que apresentou a moção que o município aprovou em Janeiro a favor da saída da UE.

Mas nem todos se sentem confortáveis com o eurocepticismo militante da zona. “Sinto-me triste e deprimido por viver no meio de pessoas que pensam desta maneira”, confia Mark, que por trabalhar para o município olha por cima do ombro antes de falar. Vive em Romford desde sempre e assegura que o resultado da votação não o surpreendeu. “Esta é uma zona tacanha, não é nada como Londres”, diz, em voz baixa, atribuindo ao “preconceito contra os imigrantes” os números da votação. Um desconforto que não é único. Junto a uma banca que vende produtos agrícolas, uma cliente diz que prefere não falar: “Não sou uma pessoa típica daqui”, diz, sem tirar os olhos das sementes que veio comprar.

Quem não se sente intimidado é David, engenheiro de telecomunicações reformado, a comprar flores umas bancas mais acima. “Eu preferia que ficasse tudo como está, vamos ter instabilidade económica nos próximos anos”, diz. Acredita também que “foi o preconceito” que levou tanta gente a votar como votou, mas admite que muitos estão zangados “porque o que ganham não lhes permite ter uma vida decente”. Por ele preferia que o Reino Unido ficasse na UE, mas não pensa que a saída seja catastrófica. “Somos um país fantástico, vamos ficar bem. As nossas finanças vão sofrer uns anos, mas não vai passar de um pequeno revés.”

21.6.16

A União Europeia transformou a Europa num bordel

José Vítor Malheiros, in Público on-line

A saída do Reino Unido pode ser o toque a rebate democrático de que a UE precisa.

Era um dia de Primavera de 1995. Atravessei de carro a ponte sobre o rio Minho, ao pé de Valença, em direcção à cidade galega de Tuy, e não aconteceu absolutamente nada. Foi um dos momentos mais emocionantes da minha vida.

Eu estava habituado a entrar em Espanha depois de parar na fronteira, esperar numa bicha interminável de carros e camiões, mostrar o passaporte, responder a perguntas dos guardas e deixar o carro ser revistado antes de poder seguir caminho. E a travessia desta fronteira despertava sempre recordações de antes do 25 de Abril, onde a espera era ainda mais demorada, as perguntas mais agressivas, os polícias mais desagradáveis e as revistas mais rigorosas, principalmente para os jovens que tinham de apresentar os seus documentos militares em ordem e podiam estar a preparar-se para fugir à guerra colonial.

Foi por isso que atravessar a ponte e entrar em Espanha sem ver um único polícia, sem ver um posto de fronteira, sem mostrar um documento, foi uma experiência inesquecível.

Na altura eu era ainda um ingénuo adepto da União Europeia e aquilo era para mim a Europa. Não só a liberdade de circulação, mas a corporização da própria liberdade dos cidadãos, da confiança na sociedade, da cooperação e da solidariedade entre os estados.

Eu era então, como me considero ainda hoje, um europeu e um europeísta. Nascido entre dois países e duas línguas, educado entre quatro línguas, habituado a desconfiar de todos os nacionalismos, a ideia de uma Europa que transcende os seus países sempre me foi cara.

É por isso que, na próxima quinta-feira, quando conhecermos os resultados do referendo no Reino Unido, eu espero ardentemente que o resultado seja a vitória do “Brexit”.

Não porque penso que o Reino Unido vá ficar melhor fora da UE. Não porque pense que a UE vai ficar melhor sem o Reino Unido. Mas apenas porque espero que a saída do Reino Unido seja o choque que irá provocar o abalo político, o exame de consciência e o toque a rebate democrático de que a União Europeia precisa para se reformar de forma radical e para se reconstruir, num formato e com regras diferentes, sob o signo da decência. E não penso que isso seja possível sem uma vitória do “Brexit”.

O presidente do Parlamento Europeu, o socialista Martin Schulz, já disse: “Seja qual for o resultado [do referendo], teremos necessidade de uma reforma integral da União Europeia com regras claras.” Mas o problema é que já ouvimos dizer a mesma coisa noutras circunstâncias para tudo ficar na mesma. Ouvimo-lo dizer depois da guerra do Iraque, da crise financeira de 2008, da crise das dívidas soberanas, das políticas de austeridade, da crise dos refugiados. Mas sabemos que não podemos acreditar em nada do que sai da boca dos dirigentes da UE.

A questão é que a UE não é aquela associação entre iguais que nos venderam, empenhada no progresso de todos os países e no bem-estar de todos os cidadãos, no pleno emprego e na segurança dos trabalhadores, na paz mundial e na promoção da democracia.

A questão é que a UE é apenas uma máscara que disfarça o domínio de um grande grupo de países por um pequeno grupo de países, numa nova forma de ocupação que usa a finança como instrumento de submissão, como antes se usavam tanques.

A questão é que a UE é uma organização antidemocrática, que não só é governada por dirigentes não eleitos e não removíveis, da Comissão Europeia ao Banco Central Europeu, como construiu ardilosamente uma camisa de forças jurídica, sob a forma de tratados irreformáveis de facto, através da qual manieta e subjuga os Estados-membros e lhes impõe políticas que estes não escolheram, mas não podem recusar.

A questão é que a UE e as suas instituições se transformaram na tropa de choque do poder financeiro mundial e da ideologia neoliberal e, apesar das suas juras democráticas, impõem a agenda asfixiante da austeridade e proíbem de facto os países de prosseguir políticas nacionais progressistas mesmo quando elas são a escolha democrática dos seus povos.

A questão é que a UE, autoproclamado clube das democracias e dos direitos humanos, acolhe no seu seio sem um piscar de olhos países que desrespeitam os direitos mais básicos e adopta no plano internacional a Realpolitik de se submeter aos mais fortes, obedecer aos mais ricos e fechar os olhos aos desmandos dos mais agressivos.

A questão é que a UE perdeu o direito de reivindicar qualquer superioridade moral quando continuou a atirar refugiados para a morte mesmo depois de ter chorado lágrimas de crocodilo sobre a fotografia de uma criança afogada no Mediterrâneo. Hoje, tenho vergonha de pertencer a este clube e não gosto desse sentimento. Será isto isolacionismo? Pelo contrário. O que eu e muitos cidadãos europeus exigimos é a solidariedade entre países que a União se recusa a praticar.

Há pessoas pouco recomendáveis do lado do “Brexit”? Há. Mas do outro lado também. E na UE não faltam pessoas pouco recomendáveis, a começar pelo senhor Jean-Claude Juncker, símbolo da evasão fiscal e da imoralidade política.

A questão é que a União Europeia não é a Europa dos valores que sonhámos. A UE capturou essa Europa e transformou-a num bordel. O sonho transformou-se num pesadelo.

A questão é que a União Europeia se tornou o ninho da serpente e deve ser desmontada peça por peça. Espero que o referendo britânico possa ser o primeiro passo.