3.7.07

Bairro social da Meadela esquecido e ao abandono

Miguel Rodrigues, in Jornal de Notícias

No Bairro, construído há cerca de 30 anos, os 36 apartamentos são habitados por cidadãos de várias etnias


Foi construído há cerca de três décadas num local afastado da civilização. Com o crescimento da cidade e da freguesia, o bairro social da Meadela, em Viana do Castelo, co-habita agora com urbanizações que o rodearam e o deixam num dos centros principais da freguesia urbana. No largo, conhecido como o da Feira, por ali esta se ter realizado, durante muitos anos, e onde é colocada toda a diversão nas festas, existem dois mundos de um lado, a modernidade dos prédios e das lojas recentemente abertas, do outro um alinhamento de prédios completamente degradados e sem quaisquer condições.

Rachadelas exteriores e interiores, humidade a proliferar, a falta de pintura que deixa exposta a velhice dos edifícios são algumas das queixas bem visíveis feitas pelos moradores. Mas o rol não acaba aqui vidros partidos nas portas e partes comuns dos prédios, campainhas que não funcionam e ligações eléctricas expostas à tentação das crianças, colocando-as em risco, aparecem também nos lamentos dos residentes. As varandas partidas, com materiais improvisados no lugar de portas ou janelas viradas para a rua repleta de lixo completam o cenário de degradação.

"É uma injustiça. Todos os outros bairros sociais estão bem melhores que este. Todos tiveram obras e nós estamos para aqui esquecidos", afirma António Silva. "Houve um incêndio num dos prédios, ficou todo degradado e ninguém veio cá para ajeitar nada", relembra José Silva. Nas traseiras dos prédios, que totalizam 36 apartamentos habitados por cidadãos de várias etnias, uma mulher estende a roupa indiferente ao lixo acumulado.

"Só queremos melhores condições de vida", diz Pedro Manuel, salientando que a rua nunca é limpa pela autarquia. "Está tudo velho. Há um espaço de jardim onde podia ser feito um parque para crianças, mas não fazem nada. Parece que somos cidadãos de segunda", lamenta António Silva. "Vivemos aqui há muitos anos, e sabendo que será difícil darem casas novas, apenas pedimos que recuperem as nossas", salienta outro morador, conhecido por Marcos.

Os moradores souberam que em tempos a Câmara Municipal podia ter comprado os prédios "Se calhar estaríamos com outras condições", conclui um residente. A vereadora da Acção Social, Margarida Silva, confirmou que o IGHAP chegou a efectuar essa proposta à autarquia, que tem naquele bairro dois prédios. "Na altura dissemos que ficaríamos com os prédios, mas não aceitaríamos um presente envenenado. Isto é, só tomaríamos posse se a entidade responsável fizesse obras profundas e completas nos edifícios e efectuassem um registo real dos moradores".

Obras até ao fim do ano


A vereadora da Acção Social, Margarida Silva, garantiu que o caso está a ser acompanhado pela Câmara Municipal de Viana do Castelo, no âmbito do "novo diagnóstico social em curso, ao nível da rede social, com as comissões sociais de freguesia". Margarida Silva afirmou que ela própria esteve "com responsáveis do IGHAP para alertar para a situação, tendo esta entidade, apesar de estar a passar um período de fusão com o INH, garantido que até, ao final do ano, efectuaria obras profundas de recuperação no interior e no exterior dos prédios". Quanto aos dois prédios da autarquia, Silva afirmou que tem havido intervenções, como as obras de remodelação total de um apartamento para alojar uma família numerosa, que vivia no mesmo prédio, mas numa casa com menos divisões".