1.7.07

Experiência foi desaproveitada mas Barroso pode ser um aliado

Pedro Araújo, in Jornal de Notícias

Observadores crêem que interesse nacional unirá Durão e Sócrates, embora não sejam do mesmo partido


Trata-se de uma oportunidade de ouro. Inicia-se hoje a terceira (depois de 1992 e 2000) e, ao que tudo indica, última presidência portuguesa da União Europeia (UE). Uma vantagem - o Governo de José Sócrates pode contar com um presidente da Comissão Europeia (CE) português. Uma desvantagem - a Representação Permanente de Portugal junto da União Europeia (Reper) quase não tem funcionários que estiveram associados às duas presidências anteriores e não foram solicitados conselhos de quadros antigos e experientes.

A importância de Durão Barroso não deve ser menosprezada. A facilidade de comunicação com a presidência portuguesa será uma mais-valia. Toda a agenda foi concertada com a CE e Barroso desdobrou-se em iniciativas informais, públicas - caso do recente encontro de alguns chefes de Estado na Penha Longa - ou privadas - caso dos contactos efectuados pelo seu "staff" junto de vários governos europeus, quando se tratou de preparar a Cimeira de Bruxelas, que culiminou com o mandato para a elaboração final do novo Tratado Europeu.

"Apesar de o presidente da CE e o primeiro-ministro português não serem do mesmo partido, o interesse nacional vai uni-los. Sobretudo se, numa perspectiva mais cínica, Barroso quer ser reconduzido no cargo em 2009. Nunca o conseguirá sem o apoio do Governo português", afirma Jean Quatremer, correspondente em Bruxelas do diário francês "Libération" e um dos jornalistas mais respeitados pelos eurocratas.

Luís Frazão Gomes, ex-chefe dos negociadores da Reper para a Agricultura, tendo ocupado diversos cargos em Bruxelas ao longo de três governos, considera que não há um grau acrescido de dificuldade nesta presidência relativamente às anteriores. "As pessoas que estão na Reper são praticamente todas diferentes das que estiveram em 1992 e mesmo em 2000", alerta."Também não tenho conhecimento que pessoas que estiveram em qualquer das duas outras presidências tivessem sido consultadas", acrescenta.

"Será precisa muita inteligência táctica de Portugal para limitar a Conferência Intergovernamental a um simples exercício jurídico de redacção de um tratado", considera Jean Quatremer.

No plano interno, há uma contradição a resolver. "O primeiro-ministro afirma que recebeu um mandato claro para o Tratado, mas diz que não se pode comprometer com o referendo, porque não sabe qual será o conteúdo", nota Frazão Gomes.

Percepção de crise

A Europa não está em crise. Funciona tão bem a 15 quanto a 27. O problema está longe de ser esse. Depois do "não" à Constituição europeia por parte de franceses e holandeses, em 2005, Durão Barroso aconselhou uma pausa para reflexão. Esta versão foi assegurada ao JN por fonte próxima da presidência da CE e Luís Frazão Gomes subscreve-a por inteiro. Se os cidadãos acham que a Europa está em crise, há que contrariar essa ideia com uma iniciativa de fôlego, mesmo que tal passe por manter os tratados anteriores, acrescentar-lhes algo e não chamar Constituição ao futuro Tratado. As eleições europeias são já em 2009.