Imigrantes brasileiros enviam quase 400 milhões de euros para casa por ano

Ricardo Garcia, in Jornal Público

Livro revela que brasileiros ganham mais em Portugal, mas acham que vivem pior

Os imigrantes brasileiros em Portugal enviam quase 400 milhões de euros por ano para o Brasil. Este quinhão ajuda a fazer com que as remessas de emigrantes no exterior sejam uma receita cada vez mais importante para o país.

As remessas são um dos aspectos focados no livro Imigração Brasileira em Portugal, lançado ontem em Lisboa e editado pelo Alto-Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural - um instituto do Estado. Com ensaios de diferentes investigadores, o livro faz uma radiografia da presença brasileira no país, que subiu em flecha.
Entre 1986 e 2003, o número de brasileiros legalizados aumentou quase nove vezes, de pouco mais de sete mil para cerca de 64 mil. Em 2004 eram 67 mil. Hoje, serão 80 mil os legais, mais 40 mil em situação irregular, segundo o presidente da Casa do Brasil, Gustavo Behr, citado pela agência Lusa.

O livro enfatiza as duas vagas de imigração brasileira. A primeira, no fim dos anos 1980 e começo da década de 1990, trouxe profissionais especializados de que Portugal necessitava, como publicitários e dentistas. A segunda, a partir de 1998, envolve sobretudo trabalhadores de sectores menos qualificados, na construção civil, no comércio e nos serviços.

Mas a escolaridade dos novos imigrantes não é significativamente menor do que a dos mais antigos. "O que parece seguro é que as qualificações dos brasileiros que decidem imigrar para Portugal têm sido sempre superiores à média portuguesa", escrevem João Peixoto e Alexandra Figueiredo, do Instituto Superior de Economia e Gestão, num dos capítulos do livro.

Um inquérito realizado pela Casa do Brasil em 2003 - cujos resultados também estão no livro - revela que o imigrante da segunda vaga é maioritariamente jovem (75 por cento com idade entre 20 e 35 anos) e do sexo masculino (64 por cento). Sete em cada dez trabalham no comércio, na restauração ou na construção civil. Dos 400 que responderam ao inquérito, mais de um terço (36 por cento) não tinha os documentos em ordem.

Só uma parcela minoritária considera que vive melhor em Portugal - em termos de habitação, sistema de saúde e lazer. Em compensação, a maioria dos inquiridos (77 por cento) diz que ganha mais dinheiro aqui do que no Brasil.

O resultado vê-se nos montantes enviados para casa. Foram cerca de 373 milhões de euros em 2003, ou metade dos mil milhões de dólares de remessas dos imigrantes brasileiros na Europa. No total, o Brasil recebeu nesse ano 5200 milhões de dólares (3900 milhões de euros) dos seus cidadãos que vivem fora do país, segundo dados do Banco Interamericano de Desenvolvimento.

Num outro inquérito citado no livro, a maioria dos portugueses acha os brasileiros alegres, bem-dispostos, simpáticos e de trato fácil. Mas em outros campos, a imagem pende para o lado negativo: a maioria dos portugueses não vê os brasileiros como bem-educados, bons profissionais e cumpridores.

67
mil brasileiros viviam legalmente em Portugal em 2004

48
por cento vivem na região de Lisboa, onde há mais trabalhos não qualificados

380
euros é o montante médio de remessas dos imigrantes feitas através do Banco do Brasil, de 1 de Janeiro a 30 de Abril de 2004