Ana Cristina Pereira, in Jornal Público
Reestruturação do Instituto da Droga e da Toxicodependência tenta diversificar
respostas para adequar serviços aos novos consumos e ao álcool
Se tudo correr dentro dos prazos previstos, lá para Setembro deverão desaparecer as Unidades de Prevenção (UP) e os Centros de Apoio a Toxicodependentes (CAT). No seu lugar surgirão os Centros de Respostas Integradas (CRI), a reunir prevenção, dissuasão, tratamento, reinserção, redução de danos e minimização de riscos. A Região Norte contará com sete estruturas desta natureza: três no Porto e uma em cada um dos outros distritos (Viana do Castelo, Braga, Vila Real e Bragança).
A reestruturação é nacional. Conforme os Estatutos do Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) - que entraram em vigor a 1 de Junho -, Portugal terá um máximo de 22 CRI. Os distritos de Lisboa e Porto, pela maior incidência de tráfico/consumo, concentrarão mais CRI. "Temos de funcionar em estruturas integradas para dar respostas integradas", sublinha o delegado regional Adelino Vale Ferreira, numa alusão ao Programa Operacional de Respostas Integradas (PORI), que já ultrapassou a primeira fase do diagnóstico dos territórios de intervenção prioritária e que avança já para a análise de pormenor.
Só na área metropolitana existem oito CAT e duas Unidades de Prevenção, o que significa grande "dispersão" de serviços. E "os CAT já não são adequados", defende Adelino Vale Ferreira. Estas estruturas foram pensadas para enfrentar um elevado consumo de opiáceos e o uso de heroína está em queda. "Há CAT a mais na cidade do Porto. Houve uma altura em que se justificava, agora não", diz.
Ganham adeptos drogas como a cocaína, a cannabis, o ecstasy. Cresce o policonsumo. E os novos consumidores tendem a não procurar os CAT, estruturas com uma imagem "pesada", derivada do estigma do heroinómano. É "preciso ir ao encontro" desta realidade, vinca, lembrando ainda a recente integração dos serviços de alcoologia e as novas restrições sobre o consumo de tabaco. "Vamos criar uma consulta tabágica, em princípio, nas instalações do antigo hospital de Matosinhos", onde ficará a unidade de alcoólicos, a consulta de grávidas e de menores filhos de toxicodependentes.
Os funcionários serão redistribuídos de acordo com as necessidades. A nova lógica é concentrar equipas técnicas e dar "respostas de proximidade", em concertação com as redes sociais. Os técnicos irão às escolas, ao invés de ficarem nos gabinetes à espera de pedidos, exemplificou. Irão a concelhos como Santo Tirso dar consultas, ao invés de esperarem que os toxicodependentes venham ao Porto, como agora acontece. Na zona industrial do Porto, "uma área de animação nocturna, é necessário ter uma equipa de prevenção e de redução de riscos".
Nos bairros críticos, impõe-se criar "equipamentos de retaguarda (pontos para tratamentos, acolhimento e cuidados básicos de higiene), em parceria com a autarquia e IPSS". Adelino Vale Ferreira admite que a mudança possa causar "mágoa" a alguns funcionários. Mas os serviços "não podem funcionar como se estivesse tudo como há dez anos".
O CRI Ocidental funcionará nas actuais instalações do CAT Ocidental e integrará ainda as do actual CAT de Matosinhos. O CRI Central funcionará com as actuais instalações do CAT da Feira, do CAT de Cedofeita e do CAT de Gaia, o CRI Oriental contará com as instalações do CAT Oriental, do CAT de Gondomar e do Centro de Saúde do Freamunde. A componente clínica do CAT da Boavista passará para o CRI Ocidental e as actuais instalações deste conhecido centro funcionarão apenas como sede da Delegação Regional do IDT.