4.7.07

Sócrates quer cimeira com todos os líderes africanos

Ana Dias Cordeiro, em Accra, in Jornal Público

Sócrates falou de uma "nova parceria" no primeiro discurso de um presidente do Conselho da UE numa cimeira da União Africana


A expectativa era grande ontem em Accra antes do discurso do primeiro-ministro português, José Sócrates, no encerramento da cimeira da União Africana (UA). A dúvida entre as delegações africanas era sobretudo saber se, na qualidade de presidente do Conselho da União Europeia, Sócrates ia ou não anunciar que a II Cimeira Europa-África, prevista para Dezembro em Lisboa, no âmbito da presidência portuguesa da UE, seria aberta aos 53 chefes de Estado de África. E se a posição de incluir o Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe - alvo de sanções europeias e sobre cuja presença pairaram dúvidas -, seria dada de forma inequívoca.

A espera foi longa, durou toda a manhã, e acabou por ser aproveitada para a delegação portuguesa manter contactos bilaterais com vários líderes africanos.
Quando enfim subiu à tribuna na cimeira da UA, Sócrates não mencionou especificamente o caso Mugabe. Porém, no discurso que proferiu em português, Sócrates disse, a proposito da "importância" da cimeira, que contava com o empenho e a "presenca de todos" e saudou "todos os líderes presentes" em Accra. Ao mesmo tempo, manifestou "admiração" pelo "empenho de todos os países africanos no processo de construção da União Africana".

Sócrates reconheceu a "lacuna na política externa europeia" de não ter mantido, nos últimos sete anos, um "diálogo estruturado e global com o continente africano" desde a I Cimeira Europa-África, também sob a presidência portuguesa da UE em 2000, e disse que Portugal "não se resignava a essa situação".

Deixando claro que a aposta da cimeira de Lisboa seria lançar "uma nova parceria estratégica" entre a Europa e África, e marcar um "ponto de viragem" entre os dois continentes, Sócrates acrescentou que uma tal parceria "impunha" um diálogo sobre a paz e a segurança, o "reforço do respeito pelos direitos humanos" e uma "gestão equilibrada e mutuamente vantajosa dos fluxos migratórios".

Sócrates falou no grande auditório onde decorreu a cimeira, excepcionalmente aberta a jornalistas para a sua intervenção e a do presidente da Comissão Europeia (CE), Durão Barroso, que o antecedeu. O presidente da CE reiterou o compromisso da comissão em facilitar o comércio africano, isentando os seus produtos de quotas e tarifas, para que as relações nao se baseiem "apenas na ajuda".

Ambos - Sócrates e Barroso - falaram na presença de vários chefes de Estado, como Omar Bongo do Gabão, Thabo Mbeki da África do Sul, Pedro Pires de Cabo Verde, Abdoulaye Wade do Senegal, ou Ellen Sirleaf-Johnson da Libéria, entre outros. Ausentes da sala estavam Robert Mugabe do Zimbabwe ou Omar al-Bashir do Sudão, José Eduardo dos Santos de Angola - que se fez representar pelo chefe da diplomacia, João Miranda - ou Muammar Kadhafi. Mas o líder líbio, que mantém relações privilegiadas com Mugabe e uma especial influência na construção da UA, encontrou-se com José Sócrates, à margem da cimeira, num dos momentos altos desta curta viagem que Lisboa quis fosse "simbólica" e um sinal claro da sua vontade de relançar o diálogo entre os dois continentes.

O presidente da Comissão Executiva da UA, o maliano Omar Konaré, falou ao PÚBLICO sobre a cimeira, afirmando que esta se "reveste de um grande simbolismo e é de grande importância para os africanos", lembrando que a primeira cimeira UE-África decorreu na anterior presidência portuguesa da UE. "A cimeira de Lisboa tem de se realizar e é imperativo que seja bem sucedida. E não o digo por estarem cá os dois [Sócrates e Barroso]", concluiu o antigo Presidente do Mali.

Omar Konaré disse ao PÚBLICO que a cimeira UE--África, em Lisboa, tem de ser "bem sucedida"