15.5.07

Bispo faz retrato negro do Norte

in Jornal de Notícias

A visita do papa João Paulo II ao Porto, faz hoje 25 anos, efeméride que serviu de mote ao bispo do Porto, Manuel Clemente, para uma nota pastoral que traça um retrato negro da região Norte. Um quarto de século após a visita papal, "sentem-se desencantos e desmotivações, por vezes muito precoces, em relação às perspectivas de vida", pode ler-se na nota pastoral

Manuel Clemente alude às "reconhecidas e analisadas dificuldades sociais e económicas da região, em especial no que toca às empresas e ao desemprego de muitos trabalhadores", que originou "novos surtos migratórios, em busca do trabalho que aqui escasseia", acrescentou.

Percebe-se o alerta para a necessidade minimizar as consequências da globalização e da deslocalização de empresas. "Os intervenientes no processo de desenvolvimento, mesmo quando se tenha de proceder a grandes alterações, deslocações e até substituições e dispensas no quadro das empresas e serviços, devem pensar em alternativas viáveis para todos os eventualmente afectados, tendo em conta, aliás, as respectivas idades e famílias", pode ler-se na nota episcopal, que realça o papel regulador do Governo. "As autoridades públicas, primeiras zeladoras do bem comum, têm certamente de apoiar os particulares, quer empregadores quer empregados".

Considerando o trabalho como "um meio de justa e digna subsistência e, também, o caminho próprio da realização humana", Manuel Clemente considera que "garantir trabalho, promover a habilitação escolar e profissional, desenvolver a formação contínua e obviar às ociosidade forçada, tudo são garantias de uma sociedade realmente desenvolvida". Um quarto de século após a visita ao Porto, as palavras de João Paul II sobre o emprego e o desemprego são actuais "Por isso, a consideração dos valores subjectivos e sociais do trabalho requer que em toda a comunidade política seja reconhecida não só a importância do trabalho mas o próprio direito ao trabalho, tudo se tente no sentido de eliminar o desemprego e o sub-emprego."

O papa dos trabalhadores
A 15 de Maio de 1982, João Paulo II encerrou uma visita de quatro dias a Portugal, no Porto. Saiu da "cidade do trabalho" repabtizado como "o papa dos trabalhadores", depois de um discurso em abordou "grave crise" no emprego. "Todo o cidadão deve aceitar o dever de colaborar sinceramente para construir, com o seu trabalho sério e fiel, uma comunidade nacional sempre melhor, onde seja promovida a justiça social", disse, então, João Paulo II. O papa considerou os sindicatos como "um expoente da luta pela justiça social, pelos justos direitos dos homens do trabalho segundo as suas diversas profissões" e referiu-se expressamente à luta de classes "Não é justo que uma classe, devido a maiores possibilidades de pressão, prevaleça sobre os demais, menosprezando os legítimos interesses de outrem."