31.5.07

Mais mil camas de cuidados continuados nas misericórdias

António Marujo, in Jornal Público

Meia centena de misericórdias irá investir na criação de mais um milhar de camas da Rede de Cuidados Continuados, disse ontem ao PÚBLICO o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel de Lemos. Com este crescimento, a rede nacional passará a contar com cerca de 2500 camas. Do total, quase 1800 serão das misericórdias. Hoje, inicia-se em Braga o VIII Congresso Nacional das Misericórdias.
Manuel de Lemos insiste na ideia de que os cuidados continuados não são apenas as camas. "Inclui-se também o apoio domiciliário, que tem de ser pensado de outra forma, a alimentação e a saúde." A entrada de mais 50 misericórdias na rede - actualmente são 28, com cerca de 800 camas - significa que os serviços prestados terão de "manter a mesma capacidade e qualidade", diz o presidente da UMP.

"As misericórdias são instituições com 500 anos no sector social, mas têm capacidade de se modernizar", assegura Manuel de Lemos. "O que vamos fazer é dizer à sociedade e ao Estado que somos úteis ao país, não vamos exigir nada." Nem mesmo a actualização dos valores de comparticipação do Estado? Lemos diz que o congresso não é o lugar para tal. "Os valores são objecto de negociação, não são para falar no congresso."

Mesmo assim, o presidente da UMP diz que não há conflito, sobre a questão, entre as misericórdias e o executivo. "Temos tido um diálogo aberto com o Governo."

Na relação com as câmaras municipais, outro dos temas do congresso, o presidente da UMP diz que as misericórdias estão atentas à questão das transferências de competências para as autarquias. Conta que, recentemente, o ministro da Saúde deu o exemplo do hospital de Valongo como um dos que poderiam ser geridos pela autarquia.
"Porque não transferi-lo para a proprietária, que é a Misericórdia? As misericórdias já gerem 20 hospitais e há outros 30 propriedade das misericórdias e que ainda estão no Serviço Nacional de Saúde. E as autarquias nunca geriram hospitais", contesta Manuel de Lemos. Dá como exemplo o de Santo António, no Porto, e o de São Marcos, em Braga, que são das misericórdias locais mas estão integrados no SNS. "Antes que haja transferência, estamos a marcar terreno."

O congresso decorre até sábado e debaterá ainda a organização interna destas instituições sociais. As 400 misericórdias do país dão emprego directo a cerca de 50 mil pessoas.