18.5.07

Desemprego ao nível mais alto da década

Alexandra Figueira, in Jornal de Notícias

Aescalada do desemprego em Portugal não pára. Contrariando uma série de outros indicadores económicos, o Instituto Nacional de Estatística (INE) apurou uma taxa de 8,4%, a mais alta, pelo menos, da última década. Existiam, no primeiro trimestre, 469,9 mil pessoas a querer trabalhar e activamente à procura de emprego, mas sem sucesso. São mais 11 mil do que nos últimos três meses de 2006, ou mais 52 mil face ao trimestre anterior, culminando a subida iniciada em 2002.

Os números ontem revelados suportam o aumento já registado nos dois trimestres anteriores, mas foram alvo de críticas - pela Oposição e parceiros sociais - e de incompreensão, pelo Governo.

No Parlamento, à direita, tanto o CDS-PP quando o PSD consideram tratar-se de "uma catástrofe", que prova a "governação falhada" de Sócrates. À esquerda, o Bloco considera ser uma "moção de censura" ao Governo, cuja "propaganda" é desmentida pela realidade, diz o PCP. O próprio PS diz-se preocupado, mas prefere chamar a atenção para o facto de estarem a ser criados empregos.

Também os parceiros sociais criticaram ou o Governo ou o INE. A Confederação Industrial Portuguesa alega que as estatísticas "não merecem crédito nem confiança" porque "não correspondem à realidade". A UGT não contesta os dados, mas adianta serem espelho de um "crescimento económico insuficiente". Para a CGTP, o aumento do desemprego é mais uma razão para aderir à greve do dia 30.

Novo modelo económico?

Vieira da Silva, ministro do Trabalho, disse à Lusa partilhar da preocupação geral com o desemprego, mas desfiou números "que mostram um sentido contrário" a economia cresce ao ritmo mais elevado dos últimos cinco anos, o número de novos beneficiários de subsídio de desemprego baixou 13,5% no trimestre face ao homólogo e os novos inscritos no Instituto do Emprego e Formação Profissional baixaram 6,8%. Também a entidade estatística europeia, o Eurostat, tem divulgado números para o desemprego português perto de um ponto percentual abaixo dos do INE.

Esta aparente contradição de tendências pode ser explicada, diz Vieira da Silva, pela "mudança que a economia portuguesa está a atravessar".

Vai no mesmo sentido a justificação de Luís Bento. O especialista em questões do emprego assenta no novo comportamento da economia mundial. É comum pensar que o crescimento da economia implica, forçosamente, uma descida no desemprego, mas o passado recente tem mostrado o contrário. "Há dois anos, os Estados Unidos estavam a crescer a bom ritmo e o desemprego disparou. Depois, aconteceu o mesmo na Europa e, agora, Portugal". A economia portuguesa, diz, "está a especializar-se, com novo equipamento e procedimentos. As empresa criam mais valor, mas ao mesmo tempo despedem trabalhadores". Ou seja, o desemprego e a riqueza crescem, em simultâneo.

Certo é que o objectivo de chegar ao final deste ano com uma taxa de desemprego de 7,5% parece estar mais longe de ser atingido.

Vários outros especialistas ouvidos pelo JN, contudo, vêem incoerência entre os dados do INE e outros, da economia, e fazem uma série de perguntas que ficam sem resposta.

É certo, dizem, que as novas regras do subsídio de desemprego são mais eficazes contra a fraude, pelo que muitas pessoas nem sequer se inscrevem no IEFP (a inscrição é obrigatória para aceder à prestação), mas o próprio INE indica que a maioria das pessoas à procura de emprego o faz, precisamente, através dos centros de emprego.

O mesmo raciocínio pode ser feito para o próprio subsídio, mas o número de novas pessoas a entrar no sistema está a baixar. Ou seja, os novos desempregados detectados pelo INE não podem ser pessoas com direito ao subsídio, ou porque rescindiram contrato mesmo sabendo não ter direito à prestação ou porque estavam na economia paralela e não tinham feito descontos. São aparentes contradições, que aguardam explicação.