20.5.07

Portugueses não querem ter mais tempo para a família, ao contrário da maioria dos europeus

Clara Viana, in Jornal Público

O universo das famílias continua em profunda transformação em Portugal. Os agregados de um casal com filhos desceram abaixo dos 50 por cento


Os portugueses têm cada vez menos filhos e, entre a maioria daqueles que os têm, não faz parte das prioridades poder ter mais tempo para lhes dedicar, segundo dados divulgados esta semana pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) a propósito do Dia Internacional da Família.

Mais individualistas, mais autocentrados: é uma tendência que já não é nova, mas que se tem vindo a consolidar. Surpreendentes, contudo, são estas percentagens extraídas do Inquérito ao Emprego de 2005, agora divulgadas: 83,7 por cento da população empregada, com pelo menos um filho ou dependente a quem prestem cuidados, diz que não deseja alterar a sua vida profissional para poder dedicar mais tempo a cuidar deles. Os que admitem desejar trabalhar menos para conseguir aquele objectivo representam apenas 13,4 por cento. A percentagem de mulheres nesta situação mais do que duplica a dos homens (18,8 por cento contra 8,1).

Nos estudos realizados por organismos da União Europeia ressalta o contrário, com a maioria dos europeus a manifestar-se insatisfeito no que respeita à conciliação entre trabalho e família. Esta insatisfação foi mesmo apresentada como uma espécie de "moeda comum" europeia.

No ano passado, ainda segundo os dados do INE, a percentagem de agregados constituídos por um casal com filhos desceu abaixo dos 50 por cento: representavam 46,8 por cento, quase empatando com os 46,6 por cento contabilizados pelos agregados familiares de uma pessoa só, casais sem filhos e agregados monoparentais. Estes três últimos têm vindo a subir; o primeiro tem estado a descer.

Na verdade, a sua proporção desceu 3,8 por cento em sete anos, o que é em parte justificado pelas quebras registadas nas famílias maiores e com este qualificativo já se abrange as de dois filhos. O contingente mais representativo continua a ser o das famílias com apenas um filho (32 por cento).

As casas podem ter menos gente, mas ganharam em conforto, revela um estudo da Marktest, também divulgado esta semana. Em todos os lares do continente há já um frigorífico ou combinado. Quase a fazer o pleno estão o fogão e a televisão. Popular é também a máquina de lavar a roupa. Está em 97,8 por cento das casas.

Os leitores de DVD já chegaram a 62,3 por cento dos lares. Ultrapassaram os computadores, mas a proporção de lares onde estes estão presentes mais que duplicou em seis anos: passou de 22 por cento em 2000 para 45,4 no ano passado.

Equipamentos minoritários são o ar condicionado e o aquecimento central. Estão presentes em 9,7 e 13,9 por cento dos lares, respectivamente. A par da má qualidade da construção em Portugal, esta escassez contribui para uma situação também já identificada em vários estudos da UE: entre os europeus, os portugueses são dos que mais sofrem de frio (ou calor) dentro de portas.