15.1.08

Clima agrava impacto negativo que a poluição tem na saúde

Maria João Caetano e Rita Carval, in Diário de Notícias

Alterações climáticas trarão secas e calor que provocam mais ozono


A poluição do ar causada pela concentração de ozono e de partículas inaláveis é o principal problema ambiental detectado no Relatório do Estado do Ambiente de 2006, divulgado ontem. Um problema com forte impacto na saúde pública e que será agravado pelas alterações climáticas.

O aumento da temperatura, de vagas de calor e secas provocará condições favoráveis à formação de ozono e partículas inaláveis. "A radiação solar gera maior libertação de ozono. E com fenómenos climáticos extremos (chuvas intensas e secas) haverá também uma distribuição diferente dos poluentes. O que trará problemas respiratórios e cardíacos aos grupos de risco como os idosos e as crianças", disse ao DN, Paulo Diegues, da divisão de Saúde Ambiental da Direcção-geral de Saúde.

Na origem da concentração destes poluentes estão causas humanas, como a poluição industrial ou o tráfego automóvel, mas também fenómenos meteorológicos. "A deterioração da qualidade do ar tem a ver com a poluição que fazemos mas as condições meteorológicas são decisivas pois podem agravar este problema", explica Francisco Ferreira, da Quercus. Prova disso é a grande concentração de ozono em zonas rurais onde a poluição causada pela indústria e pelos transportes é baixa.

Enquanto não se conseguem reduzir drasticamente as origens da poluição, há que actuar na prevenção. "Temos de monitorizar cada vez melhor, para podermos alertar as populações e reduzir os impactos na saúde", diz Paulo Diegues. Há sistemas de monitorização que quando detectam excesso de concentrações poluentes obrigam a lançar alertas à população para que os grupos de risco tomem medidas de prevenção.

Em dias de Verão com céu limpo e temperaturas altas, as pessoas mais vulneráveis devem evitar fazer esforços físicos para não agravarem os seus problemas respiratórios e cardíacos. Paulo Diegues afirma que apesar dos riscos para a saúde serem mais elevados quando se excedem os limites legais, ainda não há estudos que estabeleçam uma relação directa entre a concentração de poluentes e a ida às urgências hospitalares.

Apesar das situações graves decorrentes do ozono troposférico e das partículas, que são concentradas em algumas zonas do país e são esporádicas, numa apreciação global a qualidade do ar no território é boa, diz o relatório. Ou seja, os problemas de ozono e partículas são localizados e as excedências pontuais.

Relatório

Os 24 indicadores avaliados pela Agência Portuguesa do Ambiente apontam cinco áreas onde houve uma evolução desfavorável em relação às metas estabelecidas. Houve 12 indicadores com uma tendência favorável mas ainda insuficiente para atingir as metas estipuladas e sete com bom desempenho.

Para o secretário de Estado do Ambiente não há uma tendência de deterioração ambiental em Portugal. "Não quer dizer que estejamos óptimos. Mas há bons sinais", afirmou Humberto Rosa. "Há muitos indicadores que são pertinentes para a saúde humana e é para esses que temos de olhar", acrescentou o Governo.