31.1.08

Subsídio de desemprego chega a 45% dos desempregados no distrito de Coimbra

in Sol

Um estudo promovido pela Rede Anti-Pobreza/Portugal (REAPN), apresentado hoje em Coimbra, abrangendo o período entre 2000 e 2005, revela que 45 por cento dos desempregados do distrito recebia subsídio de desemprego

«É preocupante a baixa taxa de subsídios de desemprego», afirmou, em conferência de imprensa, o coordenador do estudo, o investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra (CES/UC) Pedro Hespanha.

Intitulado «É o (des)emprego fonte de pobreza? - O Impacto do (des) emprego e do mau emprego na pobreza e exclusão social do distrito de Coimbra», o livro mostra ainda que 13,7 por cento dos desempregados que procuravam trabalho em 2005 conseguiram uma colocação através do seu centro de emprego.


Ao destacar estes dados, considerando-os «preocupantes», Pedro Hespanha adiantou que esta realidade do distrito «não andará muito longe do que se passa em Portugal».

Segundo o coordenador científico do estudo, a taxa de subsídios de desemprego de 45 por cento reporta-se a Dezembro de 2004, mas o valor é representativo do período estudado.

Financiado pelo Programa Operacional Emprego Formação e Desenvolvimento Social, o estudo foi feito por uma equipa pluridisciplinar durante dois anos, visando obter «um diagnóstico sustentado em indicadores comuns e caminhos e estratégias que possam integrar um plano estratégico de desenvolvimento social para o distrito».

«A probabilidade de o desemprego ou o mau emprego resultar em situação de pobreza é muito elevada», afirmou o investigador, especialista em políticas sociais e cidadania.

Além do impacto mais imediato da perda do rendimento, o desemprego e o mau emprego «criam, em geral sentimentos de desânimo e de angústia, de desvalorização e inutilidade até»", lê-se num texto sobre o projecto.

A investigação concluiu ainda que «os desempregados e os trabalhadores com mau emprego que consideram a sua situação financeira má ou razoável, raramente se consideram pobres».

«As pessoas podem não ter consciência de que são pobres, mas há um conjunto de privações que afectam as suas condições de vida», observou, descrevendo a situação como «uma pobreza suave» e «integrada» em que as redes familiares têm um papel fundamental.

Segundo o investigador do CES/UC, este aparente conformismo gera «uma armadilha: os governos, consciente ou inconscientemente, quando sabem que as pessoas se conformam não têm a pressão suficiente para dar resposta aos problemas».


«A prevenção é extremamente importante, ter uma abordagem precoce, por exemplo, quando há um despedimento massivo», defendeu ainda.

De acordo com Pedro Hespanha, trata-se de «um estudo em progresso». «O que há de mais inovador e original é ter-se utilizado a experiência das pessoas desempregadas ou com mau emprego e das que têm conhecimento directo da pobreza», explicou

O trabalho foi desenvolvido por uma comissão executiva distrital, envolvendo várias entidades como o Centro Distrital de Segurança Social de Coimbra (CDSS), Delegação Regional do Centro do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Governo Civil e CES.

Esta comissão criou uma parceria com as 17 redes sociais do distrito, de forma a «rentabilizar e potenciar o trabalho já realizado e maximizar, no futuro, recursos comuns».

«A problemática do combate à pobreza é complexa. Devia haver uma entidade que congregasse a actividade dos organismos da administração central, autarquias e instituições particulares», defendeu, na sessão, o coordenador distrital de Coimbra da REAPN, Manuel Machado.

O governador civil de Coimbra, Henrique Fernandes, Alberto Costa (Delegação Regional do IEFP) e Pedro Coimbra (CDSS) foram outros dos oradores.

Jorge Caleiras, Sandra Pessoa e Vanda Pacheco são os restantes membros da equipa que fez o estudo, publicado pela REAPN.

Lusa/SOL