13.1.08

Um quarteirão de luxo onde a crise passa ao lado

Inês Schreck, in Jornal de Notícias

Sabe onde mandar fazer um fato exclusivo com a lã mais fina do Mundo por "apenas" oito mil euros? Ou onde comprar uns sapatos feitos à medida com as suas iniciais na sola por cinco mil euros? Sabe onde são vendidas as jóias e os relógios das marcas mais luxuosas? Ou onde há vestidos de noite hollywoodescos? Fica tudo no quarteirão mais sumptuoso da cidade do Porto, o Aviz, junto à Avenida da Boavista, onde se concentram milhares de euros por metro quadrado. Seja para trabalhar ou comprar, é o local de eleição de empresários, médicos, advogados, industriais, futebolistas e respectivas famílias. Fomos ver. Eis uma reportagem "sem crise".

Se Paris tem uma Place Vandôme, Barcelona tem um Paseig de Gràcia, Lisboa uma Avenida da República, o Porto também tem um ninho de lojas de luxo e, pela amostra, não precisa de se envergonhar. Diz quem ali vende que os estrangeiros ficam de olhos em bico com a qualidade da oferta no Aviz.

Mas, por ali, quem mais compra tem sotaque portuense ou nortenho. Vêm de Braga, Guimarães, Famalicão ou de onde for preciso para uma tarde de compras no Aviz. Porquê? Simples. Porque grande parte daquelas lojas não está nos shoppings, nem nos centros de qualquer uma daquelas cidades.

A maioria abriu primeiro em Lisboa e depois estendeu-se ao Porto, com o Aviz como único local na mira. É só para quem pode - o metro quadrado das lojas anda à volta dos cinco mil euros -, mas garante quem lá trabalha que a aposta é ganha.

De resto, é só parar por uns minutos e observar as lojas, sempre com movimento. Não estão a deitar por fora como muitas dos shoppings, mas também não precisam. Uma ou duas vendas certeiras podem fazer o dia. Os jipes de vidros fumados, os Mercedes e os Audi estacionados à porta - quase sempre em segunda fila porque o parque é um caos - ajudam a perceber o forro daquelas carteiras, se dúvidas ainda houvesse. Há ainda quem prefira não se maçar com o incómodo do estacionamento e opte pelo motorista privado. Ou quem faça do BMW um 4x4 e suba para um canteiro que um dia ousou ter relva. A Polícia, asseguram os vigilantes dos prédios , nunca pára por aquelas bandas, não vão os 30 euros de multa provocar gargalhadas...

Ao fim-de-semana, o cenário fica mais desanuviado com a debandada dos funcionários dos escritórios. Melhor para quem lá mora, que paga bem para ter qualidade de vida. Note que nos prédios mais recentes o preço do metro quadrado pode ultrapassar os três mil euros.

Quem arriscou há 20 anos

Foi há quase duas décadas que o primeiro edifício, com galerias, despontou naquela zona nobre da Avenida da Boavista. Sem saberem o que o futuro lhes reservava, a conceituada loja de roupa de homem Rosa & Teixeira, a luxuosa Machado Joalheiro, a característica Thantrey Oriental e a tradicional Chá Clube foram algumas das que arriscaram. Anos depois chegaram a Wesley, a Massimo Dutti (onde agora está a Hugo Boss), a Max Mara e a Fashion Clinic (de malas aviadas para o novo edifício de Souto Moura na Avenida da Boavista). Esta última terá sido, aliás, uma das lojas que mais impulsionaram o Aviz ao trazer para o Norte roupa de homem e mulher das marcas de luxo internacionais.

Depois vieram a Cutipol, com decoração de casa e famosa pelos seus faqueiros, a sapataria Farrutx, as cores vivas de Agatha Ruiz de la Prada, o prestígio da Bang & Olufsen, a exuberância dos vestidos de Fátima Mendes, entre muitas outras. Hoje são quase cem lojas em pouco mais de quatro ruas.

Mas desengane-se quem pensa que o Aviz é uma redoma só para ricos. Não é preciso ter milhões na carteira para andar por ali. Até pode fazer algumas compras porque há lojas com preços que não escandalizam como a de roupa de crianças Ovo Estrelado. Nos edifícios mais recentes, há também uma série de restaurantes novos (Soho, Chocolatti) em alternativa ao afamado Bull & Bear do chefe Miguel Castro Silva, no cimo do edíficio da antiga Bolsa de Derivados do Porto.