12.2.09

Crise económica abre caminho a crise política na União Europeia

Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público

Presidência checa da UE convoca duas cimeiras especiais dos Vinte e Sete para ultrapassar "tensões" e responde às críticas de Nicolas Sarkozy


A pior crise económica dos últimos 50 anos está a provocar uma crise política na União Europeia (UE) em resultado das respostas contraditórias e proteccionistas dos Estados-membros, que estão em risco de rebentar com as regras comuns.

Este diagnóstico foi ontem feito por Mirek Topolanek, primeiro-ministro da República Checa e actual presidente da UE, que decidiu convocar nada menos do que duas cimeiras extraordinárias dos lideres europeus para resolver as "tensões" existentes.
"Esta grave crise provocará certas tensões proteccionistas" porque "os Estados-membros têm abordagens diferentes para resolver os problemas" afirmou, após um encontro em Bruxelas com Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. Esta crise política "é uma das razões que me levam a pensar que temos de discutir para remover certas tensões", sublinhou.

"Claro que há dificuldades quando temos de lidar politicamente com esta crise económica e financeira, mas não se trata de um problema especificamente europeu", desdramatizou Durão Barroso, exemplificando com as dificuldades de aprovação do plano económico nos Estados Unidos.

Primeiro encontro em Março

O primeiro encontro extraordinário dos lideres decorrerá a 1 de Março, em Bruxelas, com o objectivo de preparar as decisões da cimeira regular que já estava agendada para os dias 19 e 20. No centro da agenda estará a definição de regras comuns para o novo plano de apoio ao sector financeiro assente na "limpeza" dos activos "tóxicos" ou desprovidos de liquidez, que pesam nos balanços dos bancos e os impedem de retomar o crédito à economia real.

A segunda cimeira extraordinária está prevista para Praga, em Maio, e incidirá nos aspectos sociais e do emprego da crise económica.

O chefe do Governo checo deixou implícito que a convocação destas duas cimeiras é a resposta às críticas veladas que o modo como tem conduzido a presidência da UE, sobretudo quanto à crise económica e financeira, tem suscitado em Paris, que precedeu Praga no cargo.

"Alguns países pensam que durante a sua presidência devem dirigir ou controlar a UE, mas penso que os outros países não querem ser controlados", afirmou numa crítica indirecta, mas clara, ao estilo dirigista do Presidente francês, Nicolas Sarkozy.
"A presidência francesa da UE foi um sucesso, mas agora é a presidência checa", disse Durão Barroso, lembrando que "os líderes europeus têm a responsabilidade de ajudar a presidência checa".

Além das divergências sobre a condução da presidência, Sarkozy e Topolanek estão no centro de uma forte polémica que ilustra as dificuldades dos Vinte e Sete perante a recessão económica. O Presidente francês irritou profundamente Praga ao afirmar recentemente a várias televisões nacionais que quando decide ajudar o sector automóvel não é para os construtores instalarem fábricas "na República Checa, ou outros países". Uma afirmação "inacreditável", disse Topolanek a um jornal checo, acusando o Presidente francês de proteccionismo e de pôr em risco a ratificação do Tratado de Lisboa no seu Parlamento (ver texto ao lado).

Já esta semana, o chefe do Governo checo criou nova polémica ao afirmar que "a resposta dos países da zona euro à crise económica e financeira deformou o projecto comum do euro mais do que qualquer outro acontecimento imaginável".

A crítica dirige-se sobretudo ao plano francês de apoio aos fabricantes automóveis anunciado segunda-feira, que, ao ligar as ajudas à manutenção da produção em França, suscitou um coro de acusações de proteccionismo e de contrariar as regras comuns sobre as ajudas de Estado.