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Pessoas desempregadas ou com salários em atraso, gente que não consegue pagar as dívidas e que corre o risco de ficar sem casa, famílias que pela primeira vez recorrem à ajuda de instituições de solidariedade social. Confirmando o que o Banco Alimentar contra a Fome e a Rede Anti-Pobreza já haviam denunciado há uma semana, o alerta parte agora da Cáritas, que pede ao governo "o reforço de meios dissuasores de falências oportunistas e fraudulentas" e o "empenho na criação e manutenção de emprego".
"As famílias vêm à procura de ajuda financeira para amortizar os empréstimos contraídos na habitação", disse ao Diário de Notícias Eugénio Fonseca, presidente da Cáritas. Segundo o líder da instituição, as famílias que pedem auxílio chegam com muitas prestações em atraso, quando as cobranças começam a cair, e às vezes sem nada para comer porque todo o dinheiro foi para colmatar dívidas.
Esta situação já tinha sido denunciada pelo Banco Alimentar contra a Fome. "Há muitas famílias em dificuldade. Cada dia que passa há mais famílias a pedir apoio alimentar e diariamente recebemos curriculum de pessoas a pedir emprego" disse Isabel Jonet, responsável pela instituição, à Agência Lusa.
A Cáritas esclarece que não são famílias pobres e desorganizadas, mas pessoas que nunca foram a um atendimento e só precisam de uma ajuda pontual até se organizarem. Por isso defende que devem ser apoiadas no pagamento dos seus empréstimos para evitar que caiam na miséria. "A situação é dramática. O Governo devia criar uma linha de crédito para apoiar situações comprovadas de quem perdeu o posto de trabalho. O Estado podia ser fiador e partilhar a responsabilidade com os bancos", diz Eugénio Fonseca, lembrando que a habitação é um direito elementar. Em comuncado, esta instituição precisa que "o recurso ao crédito bancário com bonificações decrescentes das taxas de juros deverá ser, para o efeito, a opção a tomar".
A Cáritas pede ainda ao governo "o reforço de meios dissuasores de falências oportunistas e fraudulentas" e o "empenho na criação e manutenção de emprego".
"Ficamos com a percepção, ou que as empresas estavam tão enfraquecidas que não conseguiram ultrapassar esta crise, ou que não estavam assim tão mal e alguém se está a aproveitar da conjuntura para fechar as empresas com menos encargos", avisa Eugéno Fonseca, em declarações à Lusa, adiantando que "o Governo tem de pôr na rua as suas estruturas inspectivas e os tribunais têm de ter uma malha muito fina para ver o que são falências e o que são falências mascaradas".
As exigências da Cáritas resultam de uma reunião do seu Conselho Permanente, que decorreu este sábado, em Fátima.
Também a Rede Europeia Anti-Pobreza/Portugal já havia alertado para esta situação. "Com os casos de desemprego e o aumento dos produtos alimentares há cada vez mais pessoas que começam a ter graves problemas e que procuram ajuda", afirmou o presidente desta instituição, sublinhando que "muita gente que vai perdendo os empregos é obrigada a vender os carros e encontrar outras formas de subsistir".
Agostinho Moreira frisou ainda que "estamos a assistir uma derrocada de todo o sistema capitalista, que vai levar a situações muito difíceis de subsistência. Vai haver um grande número de pessoas que realmente vão passar muito mal", criticou, lamentando as previsões sobre o número de desempregados que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) divulgou a semana passada.


