14.2.09

Economia caiu a pique e agora 2009 pode ser ainda mais sombrio

Sérgio Aníbal, in Jornal Público

Portugal foi um dos países europeus com pior desempenho económico no final de 2008. Até os mais pessimistas ficaram surpreendidos


Nem os mais pessimistas estavam preparados para uma quebra da economia desta dimensão. Portugal está entre os países europeus mais afectados pela crise e registou no quarto trimestre de 2008 uma contracção do PIB de dois por cento face aos três meses imediatamente anteriores e de 2,1 por cento face ao mesmo período do ano anterior, revelou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE).

É preciso recuar quase 16 anos, até ao primeiro trimestre de 1993, para encontrar nas séries do INE um registo mais negativo e agora, perante este cenário, torna-se quase inevitável rever, ainda mais para baixo, as estimativas para 2009. Para já, no total de 2008, a variação do PIB foi nula.

É verdade que os indicadores parciais que iam sendo divulgados para os últimos meses de 2008 já faziam antecipar uma contracção forte da economia. As exportações em queda livre, afectadas pela diminuição da procura dos principais parceiros comerciais europeus, a indústria a reduzir a produção, a construção a voltar para a crise dos anos recentes e as vendas a retalho a fraquejarem no Natal. Ainda assim, com os dados que estavam disponíveis, os analistas dos departamentos de research dos bancos portugueses "apenas" esperavam uma variação negativa do PIB de 0,9 por cento em termos homólogos durante o quarto trimestre.

A que se deveu este erro? Paula Carvalho, analista do BPI e uma das que previram um contracção da economia bastante menor do que a anunciada pelo INE, diz que os dados de Dezembro - que ainda não eram totalmente conhecidos - devem ter sido muito piores do que os de Novembro. "A cada mês que passou, a economia piorou o seu desempenho e acredito que continuará muito negativa no início de 2009", afirma a analista.

É por isso que avisa que "as previsões para o ano de 2009 vão ser piores do que as que estavam feitas". O BPI estava a antecipar uma contracção da economia de 1,2 por cento este ano (pior do que os 0,8 por cento do Governo e do Banco de Portugal), mas perante os indicadores agora dados pelo INE, Paula Carvalho diz que terá de ser corrigida a estimativa, que "poderá ficar mais próxima de um valor negativo de dois por cento".

Essa é também a intuição de José Silva Lopes. O ex-ministro das Finanças afirmou ontem à agência Lusa que "todas as previsões, incluindo as do Banco de Portugal, mas que já estão ultrapassadas, apontam para que o crescimento económico este ano se possa aproximar dos dois por cento negativos".

Uma das razões para prever agora um resultado mais negativo em 2009 é o facto de, com esta quebra tão forte no último trimestre de 2008, Portugal arrancar para o novo ano de uma posição muito baixa, o que vai afectar as variações em termos homólogos. Assim, num cenário em que o valor do PIB nos quatro trimestres de 2009 se mantivesse inalterado face ao último de 2008, a variação anual do PIB ficaria em -1,5 por cento. Há também indicadores, como o das encomendas à indústria e o das vendas de automóveis em Janeiro, que mostram que o início do ano vai trazer notícias muito negativas.

Entre os mais afectados


Portugal está longe de ser o único a sofrer uma crise acentuada. Também ontem, o Eurostat anunciou a variação do PIB para diversos outros países da UE e o cenário geral foi de quebra acentuada das economias, com destaque para a Alemanha, a maior potência europeia, que registou uma contracção de 1,6 por cento em termos homólogos.
No entanto, a hipótese, colocada algumas vezes pelo Governo, de que Portugal poderia estar a resistir melhor que a maior parte dos seus parceiros europeus à crise, foi agora colocada de lado. A queda de 2,1 por cento no PIB compara com um recuo de 1,2 por cento no total da zona euro. E entre os 27 países da UE com dados definitivos já anunciados, apenas a Letónia e a Itália têm um pior resultado nos últimos três meses do ano passado. Portugal, um país com um défice externo elevado e que depende da procura externa para crescer, mantém-se agora na mesma situação dos últimos oito anos em que cresce menos que a média dos seus parceiros europeus.