11.2.09

José Sócrates manifesta-se contra as "armadilhas do proteccionismo"

João Manuel Rocha, in Jornal Público

O chefe do Governo defendeu ontem a articulação entre a eficiência económica e a equidade social e uma agenda concertada entre os países


O primeiro-ministro, José Sócrates, disse ontem que os países têm que "evitar as armadilhas do proteccionismo" e defendeu o modelo social europeu como matriz da "nova ordem económica e internacional" que venha a sair da actual crise.
"O caminho não passa pelo proteccionismo nem pela redução dos direitos sociais", disse José Sócrates aos delegados de 51 países que, até sexta-feira, participam em Lisboa na 8.ª Reunião Regional Europeia da Organização Internacional do Trabalho (OIT). "É necessária uma articulação virtuosa entre eficiência económica e equidade social que evite as armadilhas do proteccionismo", disse.

Para o chefe do Governo português, no entender de quem "grande parte" do sucesso do combate à crise depende da "concertação da agenda económica dos países", o "caminho é difícil", mas "é por aí que seremos capazes de assegurar a paz civil e social das nossas sociedades".

A crítica ao proteccionismo esteve também presente nas palavras do director-geral da OIT, Juan Somavia. "É extremamente difícil gerir a recessão deste modelo de globalização sem coordenação internacional. Temos de trabalhar em conjunto. Se as políticas não forem articuladas terão um efeito mais fraco", afirmou, na abertura dos trabalhos.

O líder desta organização tripartida, em que têm assento governos e organizações de empregadores e trabalhadores, considera que "não há maneira de sair da crise sem diálogo político e social" e defende que "os governos e os seus pacotes fiscais têm que estar mais atentos à criação de emprego e à protecção social".

Além de alertar para"políticas económicas proteccionistas que agravariam a crise", Somavia disse que é preciso evitar manifestações de ódio racial e religioso, discriminação contra imigrantes e minorias e, também, que os representantes sindicais se vitimizem.

Para Juan Somavia, segundo o qual "já havia uma crise antes da actual crise financeira e económica" - uma vez que "a globalização estava a acontecer num vácuo ético, tornando-a moralmente inaceitável e politicamente insustentável" - é preciso preencher o "vácuo político e institucional" que a crise revelou (ver caixa).

No entender de José Sócrates, "se há ensinamento que podemos tirar desta crise é que ela exige mais Europa e não menos Europa", disse. O valores europeus devem estar "mais presentes nas grandes políticas internacionais", sublinhou.

Sobre a importância que a integração europeia tem no actual contexto, o primeiro-ministro deixou também um desabafo aos delegados: "Não quero nem pensar nas consequências que esta crise teria para a Europa se não tivéssemos a consolidação política e a moeda única." com A.R.S.