Virgínia Alves, in Jornal de Notícias
Enquanto uns despedem, há empresas a construir novas fábricas e a expandir o negócio
Empresas que "não adormeceram" quando tudo parecia estar bem ou com uma carteira de encomendas elevada serão as que escaparão quase incólumes a esta crise e que conseguirão mesmo crescer, dizem os economistas.
Serão algumas dezenas as empresas portuguesas que, apesar da crise, continuam a investir e até mesmo a contratar pessoal (ler ao lado). São as empresas que "foram capazes de inovar e, por isso, conseguem manter o seu mercado", afirma o economista João Loureiro. Ou então, adianta a também economista Aurora Teixeira, "são empresas que foram fazendo a sua própria reestruturação, pensando sempre no que se poderia melhorar".
A economista dá como exemplo algumas empresas do têxtil e do calçado, "que ultrapassaram sucessivas crises, tornando-se cada vez mais sólidas e não se limitaram aos mercados tradicionais, procurando novos clientes".
No entanto, espanta-se com novos investimentos no sector automóvel (Midas - ler ao lado), "porque é uma área muito sensível, mas certamente que em tempos mais desafogados encontrou alternativas que lhe permitiram o investimento", frisou.
João Loureiro referiu que "a crise não tem características normais e vai obrigar a mudar muitas coisas e também as mentalidades, no que diz respeito aos padrões de consumo e de poupança ".
Além das alterações que vão verificar-se nos mercados financeiros, o economista prevê que esta convulsão vai resolver um outro problema, o "das alterações climáticas. O sector automóvel, por exemplo, será todo novo e mais virado para o futuro, mais amigo do ambiente".
Sem querer avançar com previsões para um possível fim ou abrandamento da actual situação, João Loureiro admite que "2009 será muito difícil". "Em termos de emprego, poderá ser pior após as férias, com empresas que não reabrem depois da pausa", diz.
Sem avançar com previsões, Aurora Teixeira diz que "a crise é profunda, mas permitirá separar o trigo do joio".
Catarino aposta no mercado espanhol
O Grupo Catarino, que actua nas áreas da construção, floresta e paisagismo, decoração de interiores, imobiliário, hotelaria, indústria, consultadoria e trading e emprega 350 trabalhadores, fechou 2008 a crescer 33% e prevê mais investimentos este ano. Só no mercado espanhol a empresa facturou cerca de quatro milhões de euros, no ano passado. Para 2009, o Grupo quer reforçar a presença em Espanha e aumentar a facturação para cinco milhões de euros.
Hovione compra duas unidades fabris
A Hovione, de produtos farmacêuticos, cresceu em 2008, criando mais 50 postos de trabalho. Nos últimos 18 meses, adquiriu duas fábricas, uma na China e outra na Irlanda. Para Peter Villax, presidente da empresa, o importante é saber encontrar o equilíbrio entre o risco e a prudência. E foi o risco calculado em 2001 que permitiu aumentar os projectos de investigação e desenvolvimento. Chegando agora a altura de industrializar muitos dos projectos, foi necessário comprar fábricas totalmente novas.
Midas abre mais seisoficinas em 2009
A cadeia norte-americana de reparação automóvel Midas abriu a sua 31.ª oficina em Portugal e espera avançar com seis novas oficinas este ano. Prevê criar mais 40 postos de trabalho, a juntar aos 200 já existentes. Embora admitindo que a crise também atingiu a Midas, tal não afectou a capacidade de investimento, em 2009: para Portugal, o valor previsto é de 2,5 milhões de euros. O segredo, dizem, está na gestão profissionalizada e no cumprimento de orçamentos e prazos.
Suavecel investe em duas novas fábricas
Até ao final do ano, a Suavecel - Indústria Transformadora de Papel, com sede em Viana do Castelo, terá duas novas fábricas, com um investimento global superior a 37 milhões de euros. Uma delas ficará na Zona Industrial de Alvarães e irá albergar a actual fábrica. Os trabalhadores vão duplicar, passando para cerca de cem. A empresa também prevê instalar uma fábrica em Pontevedra, Espanha, num investimento de 12,5 milhões de euros, criando 70 postos de trabalho.
Nestlé cria 50 postos de trabalho em Coruche
Em Março, a nova fábrica da Nestlé, em Coruche, deverá entrar em funcionamento e criar 50 novos postos de trabalho. Os responsáveis pela multinacional dizem que não é tempo para marcar passo, mas para avançar. A nova unidade representa um investimento de sete milhões de euros. A Nestlé Waters Direct deverá processar 1500 garrafões e 28 350 litros de água, por hora. A escolha de Coruche ficou a dever-se à grande abundância e qualidade da água.
Hotel de charmetemático em 2011
Até 2011, na Quinta da Abrançalha, em Abrantes, será construído um Hotel & SPA de cinco estrelas. O promotor, o empresário Joaquim Ribeiro, anunciou que se trata de um investimento de 10 milhões de euros. O objectivo é criar um hotel de charme temático, a partir da requalificação de um palacete do vale da Abrançalha, que implica a recriação temporal entre os séculos XVIII e XIX. O futuro hotel terá capacidade para 188 clientes e empregará 40 pessoas.


