António Rodrigues, in Diário de Notícias
Recessão. Com o mundo mergulhado na pior crise dos últimos 70 anos, os países tentam, cada um por si, enfrentar as consequências da hecatombe económica. Como se viu em Davos, e se é certo que todos concordam que o problema existe, ninguém parece ter uma fórmula mágica para o resolver
Faltam iniciativas conjuntas para superar pessimismo
Há quem lhe chame a crise do século e, pelo menos, desde o tempo da Grande Depressão, na década de 30 do século passado, que o mundo não enfrentava um desafio tão grande em termos económicos. A economia está praticamente estagnada (as economias mais desenvolvidas estão todas em recessão) e, pela primeira vez em várias décadas, o comércio mundial vai sofrer uma quebra de 2,8%. Políticos, especialistas, gente comum, todos parecem concordar que estamos perante o grande desafio desta geração; os governos, acossados pela crise, concordam no diagnóstico, mas acabam a dissentir no que diz respeito a uma iniciativa conjunta para tentar vencer a crise.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, fez o aviso no Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, e reiterou-o esta semana quando recebeu, em Londres, o primeiro--ministro chinês, Wen Jiabao: "Esta crise financeira é global. Nenhum país pode permanecer imune ou resolver a situação sozinho. Estamos no mesmo barco e temos de trabalhar em conjunto para ultrapassar as dificuldades."
Quem esperava que de Davos saísse uma plataforma comum para enfrentar a contracção económica, o aumento do desemprego e o crescer do pessimismo, ficou desiludido, porque a maior parte da discussão girou em torno dos problemas e não se debruçou sobre as soluções. Todos pareciam concordar que é preciso fazer algo e depressa, sem saber muito bem o quê.
Havia outros arautos contra soluções unilaterais e uma sombra a pairar sobre a vila suíça que se tornou um símbolo do capitalismo liberal: sobre Davos estendia-se a ameaça do proteccionismo como recurso político para aplacar o vendaval financeiro. Brown lembrou que a Grande Depressão ficou a dever-se às medidas proteccionistas decretadas depois do crash de 1929, como a subida das taxas alfandegárias e as barreiras comerciais.
Agora, a acontecer o mesmo, quem mais sofrerá serão as economias emergentes, que terão de enfrentar a diminuição do investimento, a falta de dinheiro a circular e o consequente arrefecimento das suas economias.


