17.9.09

Apesar dos sinais de retoma, o pior ainda está para vir no desemprego

Por Sérgio Aníbal, in Jornal Público

A OCDE apresentou projecções sombrias para o mercado de trabalho mundial. Em Portugal, até ao final de 2010, ainda se chega aos 650 mil desempregados


A economia portuguesa saiu da recessão técnica no segundo trimestre deste ano, mas a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) veio ontem avisar que o pior da subida do desemprego ainda está para acontecer.

No relatório anual sobre o mercado de trabalho publicado por esta entidade, projecta-se uma subida da taxa de desemprego em Portugal para 11,7 por cento até ao final de 2010, com o número de desempregados a chegar aos 650 mil.

Isto significa que os próximos meses poderão ser de uma aceleração do processo de degradação do mercado de trabalho, em comparação com o que aconteceu desde o início da crise que atingiu quase todo o mundo. Segundo as contas da OCDE - que marca o final de 2007 como o início da crise laboral -, já se registou até agora (dados do 2.º trimestre deste ano) um agravamento da taxa de desemprego de 1,5 pontos percentuais, com um acréscimo de 84 mil desempregados. O cenário será substancialmente pior no ano e meio seguinte, já que durante esse período a OCDE espera que a taxa de desemprego portuguesa suba mais 2,3 pontos percentuais, com mais 126 mil desempregados.

À primeira vista poderia parecer estranho que, numa fase em que a economia começa a fugir de taxas de crescimento negativas, as condições no mercado de trabalho pioram ainda mais. No entanto, a história tem mostrado que o emprego reage com um atraso de tempo em relação à actividade económica e o desemprego não desce, enquanto o ritmo de crescimento da economia não atingir um valor relativamente alto.

No total dos países da OCDE, o cenário é ligeiramente diferente. Nos três anos de crise, entre 2007 e 2010, espera-se que a crise custe ao mundo a criação de mais 25 milhões de desempregados, sendo que, até agora, já se fez sentir um acréscimo de 16 milhões. O país responsável por este abrandamento na segunda metade do período de crise é os EUA, onde, depois de se terem perdido mais de sete milhões de empregos, se poderá vir agora a assistir a um estancamento desta sangria. No resto da Europa, o cenário é muito mais semelhante ao de Portugal, com o pior da crise laboral ainda para vir.

Governo salva 28 mil

As boas notícias trazidas pela OCDE para Portugal é que, mesmo com a taxa de desemprego a bater novos máximos históricos, a subida projectada é mais moderado do que aquela que se espera para a média dos países da OCDE. Em Portugal, o número de desempregados pode subir, entre 2007 e 2010, 47,9 por cento, enquanto nos 30 países membros da organização sediada em Paris, a variação é de 80,1 por cento. A Espanha destaca-se, neste capítulo, pela negativa, com um acréscimo de 153,1 por cento, que colocará o número de desempregados em 4,4 milhões e a taxa de desemprego quase nos 20 por cento.

Os motivos para que Portugal resista melhor que a maior parte dos seus parceiros não é clara. Por um lado, a OCDE destaca o facto de Portugal, em conjunto com a Polónia, ser um dos países onde, por causa da crise, o Governo decidiu realizar um maior reforço das verbas gastas em políticas activas de criação de emprego. As medidas tomadas anualmente durante a crise serão cerca de 60 por cento superiores às registadas em 2007 e representarão um custo adicional de 0,31 por cento do PIB.

No entanto, apesar deste esforço, a OCDE calcula também que o efeito ao nível da criação de empregos das medidas discricionárias de combate à crise será, em Portugal, relativamente baixo. O contributo para o crescimento da população empregada será, no cenário mais favorável, de 0,29 por cento em 2009 e 2010, o que contrasta com uma média de 0,92 e 1,38 por cento nos países da OCDE.

No total, as medidas anticrise adoptadas pelo Governo poderão garantir a criação de 28 mil empregos, entre o início deste ano e o final do próximo, um número que não chega para contrariar a tendência de subida de desemprego que ainda está a acelerar.