24.9.09

Obama sublinha que sozinho não pode resolver os males do mundo

Por Rita Siza, Washington, in Jornal Público

O Presidente pede aos que acusavam os Estados Unidos de unilateralismo que se juntem a ele para atacar as crises e desafios da actualidade


O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, prometeu ontem, na Organização das Nações Unidas (ONU), abrir um "novo capítulo de cooperação internacional" que reconheça os direitos e as responsabilidades de todos os países" e ofereça "respostas globais para os problemas globais". A mensagem do Presidente foi simples: acabou o tempo em que a América decidia e ditava o caminho a seguir pelo resto do mundo. "Nenhuma nação pode ou deve tentar dominar outra", declarou. "Temos de abraçar uma nova era de relacionamento baseada nos interesses e no respeito mútuo, e esse trabalho tem de começar imediatamente."

Obama falava pela primeira vez perante uma Assembleia Geral da ONU que encarava os discursos da América com cepticismo e desconfiança. O Presidente reconheceu que, nos anos passados, o "anti-americanismo se tornou um sentimento reflexo", e disse que aqueles que outrora criticaram o unilateralismo dos EUA devem agora juntar-se-lhe para concertar soluções para as muitas crises e desafios com que todos se confrontam.

Referindo-se veladamente à conturbada relação da anterior Administração Bush com o órgão onde discursava, Obama sublinhou que os EUA já "pagaram as suas dívidas" para com a ONU. "Juntámo-nos ao Conselho dos Direitos Humanos. Assinámos a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Comprometemo-nos com os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio", enumerou. "E não deixaremos de tentar resolver os problemas dentro desta instituição: por exemplo, através do Conselho de Segurança, em reuniões como aquela a que presidirei amanhã [hoje] sobre as questões do desarmamento e não-proliferação nuclear", prosseguiu. A Assembleia Geral aplaudiu.

Obama nunca nomeou o seu antecessor George W. Bush, mas era óbvio que era dele que falava quando defendeu que as "imperfeições" no funcionamento da ONU não podem servir para "abandonar a instituição", mas antes para "redobrar os esforços" para que esta possa cumprir os seus objectivos. "As Nações Unidas fazem um trabalho extraordinário para alimentar os famintos, tratar os doentes e reabilitar os lugares que foram destruídos", observou.

Quatro pilares essenciais

"Sei bem das expectativas dos que acompanham a minha presidência em todo o mundo", admitiu Obama, "mas essas expectativas dizem menos sobre mim e mais sobre o descontentamento com ostatu quo e sobre a esperança de que a mudança é possível e a América pode liderar esse movimento", considerou. Para que não ficassem quaisquer dúvidas, o Presidente disse que a sua visão para a tal nova "era de envolvimento mundial" não preconiza um domínio da América. "Aqueles que gostavam de castigar a América por actuar sozinha não podem agora assobiar para o ar e esperar que a América venha resolver os problemas sozinha", apontou.

Obama elencou uma série de medidas, tomadas durante os primeiros nove meses da sua Administração, que dão conta dessa nova era que os EUA, garantiu, já inauguraram: o fim da tortura, a retirada do Iraque, a nomeação de enviados especiais para o Médio Oriente, Afeganistão e Paquistão, o investimento em energias renováveis, a redução de ogivas nucleares...

Depois, distinguiu "quatro pilares fundamentais" para a actuação da comunidade internacional - mais um manifesto de intenções ou cartilha para o futuro do que propostas políticas concretas. "Primeiro, temos de parar com a disseminação das armas nucleares e perseguir como nosso objectivo um mundo em que estas deixem de existir", apelou, criticando o comportamento provocatório do Irão ou da Coreia do Norte.

O segundo pilar é a paz, continuou Obama, que se referiu à ameaça da Al-Qaeda no Afeganistão e Paquistão, à situação no Darfur e aos países que "continuam a ser assolados pela violência, do Haiti ao Congo e a Timor Leste". O Presidente garantiu que não vai desistir de encontrar uma solução pacífica que permita o convívio entre Israel e um estado palestiniano independente, apesar de na véspera não ter conseguido que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o Presidente Mahmoud Abbas concordassem com o reatamento das negociações.

Sublinhando que estas devem acontecer "sem pré-condições", Obama ofereceu o guião dos temas a resolver "de forma permanente": segurança, fronteiras, refugiados e Jerusalém. E defendeu que a conversa deve mesmo ser alargada para que seja possível encontrar a paz entre Israel e o Líbano e a Síria.

Em terceiro na lista de Obama surgiu a "responsabilidade pela preservação do planeta" e o combate às alterações climáticas. "Os dias em que a América fincava o pé nesta questão acabaram", sublinhou, assegurando que o seu país está determinado a cortar as emissões de gases com efeito de estufa de forma a cumprir as metas estabelecidas para 2020 e, eventualmente, 2050.

Por fim, a economia. Obama deverá aprofundar o seu discurso amanhã, numa sessão com todos os líderes do G20 em Pittsburgh. Como "aperitivo", o Presidente disse que as maiores economias do mundo querem definir novas regras para apoiar a recuperação e promover um crescimento sustentado e equilibrado.