19.9.09

Projecto de empresários tenta ajudar alunos em risco a passar de ano e maioria consegue

Por Bárbara Wong, in Jornal Público

Sete em cada dez alunos em risco tiveram duas ou menos negativas. Programa apoiado pela tutela pode ser alargado a nível nacional


A campainha ainda não tocou e no pátio da escola básica de 2.º e 3.º ciclo Aranguês, em Setúbal, há pequenos grupos de alunos a conversar. Manuela Quitério cumprimenta alguns estudantes que não vê desde que as aulas terminaram, antes das férias do Verão. Despede-se com um "depois combinamos, não te esqueças de lá passar". "Lá" é o espaço onde trabalha como mediadora, onde recebe os alunos, mas também os encarregados de educação e os professores, com o único objectivo de os ajudar a melhorar os resultados escolares.

O programa de mediadores para o sucesso escolar, desenvolvido pela Associação Empresários pela Inclusão Social (EPIS), funciona há três anos e são conhecidos agora os primeiros resultados: em 2007-2008, 55,5 por cento dos alunos da população-alvo, cerca de seis mil estudantes em risco de insucesso ou de abandono escolar, conseguiu ter duas ou menos negativas, passando de ano. Em 2008-2009 foram 70,6 por cento. Feitas as contas, "é como que se houvesse mais de 860 novos 'bons alunos'", explica Diogo Simões Pereira, director da EPIS.

O projecto, uma parceria com o Ministério da Educação, autarquias e empresas locais, envolve dez concelhos do país (Aljezur, Amadora, Matosinhos, Odivelas, Paredes, Resende, Santarém, Setúbal, Tavira e Vila Franca de Xira), e 20 mil alunos dos 7.º e 8.º anos. Destes, 5731 foram considerados de risco e acompanhados por 65 mediadores. O projecto vai ser apresentado, na próxima semana, a nível internacional no Clinton Global Initiative, em Nova Iorque, EUA.

Os jovens foram sinalizados, em colaboração com as direcções de turma, porque corriam o risco de insucesso ou de abandono. Na escola de Setúbal, Manuela acompanhou cerca de meia centena de estudantes, sendo que as percentagens de aprovações são muito equivalentes às nacionais, diz. Mas a professora de Inglês, que está no projecto a tempo inteiro como mediadora, prefere contar as histórias dos alunos como João (nome fictício) que começou o ano com cinco negativas e terminou sem nenhuma. Agora é tempo de o observar, ao longo deste primeiro período, para perceber se vai continuar a precisar de ajuda.

"Os meus pais andam a trabalhar e a minha irmã também e como eu não tinha muitas ajudas... Há certas matérias que é difícil compreender e a mediadora ajudou-me", conta Mariana (nome fictício), de 14 anos e no 8.º ano. Transitou de ano com apenas uma negativa, quando no 2.º período contava com seis. A ajuda não passa por explicações, mas por ensinar aos alunos métodos de estudo. "Aprendi a sublinhar, a estudar o essencial, a fazer resumos", enumera a estudante, que já sonha com uma carreira de psicóloga ou de fisioterapeuta.

Alice (nome fictício), de 16 anos, passou para o 9.º ano e aderiu ao projecto "para levantar as notas". Manuela diz: "A Alice tem todas as capacidades, mas, às vezes, não acredita". Com um ar envergonhado, a jovem confirma. "Acho que não consigo...". "Mas consegue!", torna a mediadora, acrescentando que este ano vão con-

tinuar a trabalhar em conjunto. Os encontros com os alunos, que podem ser semanais ou quinzenais, também passam por trabalhar a auto-estima, refere Manuela Quitério.

Esta metodologia pode ser aplicada ao país todo, acredita Diogo Simões Pereira, para quem a EPIS deve funcionar como uma incubadora de projectos de inovação que depois devem ser aplicados pelo Estado.

Outro dos projectos que a EPIS está a desenvolver é o da promoção de boas práticas. Para isso, foram escolhidas as escolas com os melhores resultados escolares nos exames nacionais, com o objectivo de criar um manual com as boas práticas que as outras escolas podem aplicar. A EPIS propõe-se ainda fazer uma formação especializada em gestão para os directores das escolas.