11.2.10

União Europeia prepara operação "inequívoca" de salvamento da Grécia

Por Isabel Arriaga e Cunha, Bruxelas, in Jornal Público

Responsáveis europeus passaram ontem o dia numa roda-viva a analisar os diferentes cenários possíveis de ajuda a Atenas e a ponderar as contrapartidas a exigir


A Grécia vai hoje receber uma mensagem "forte" de apoio da União Europeia (UE) face aos ataques especulativos de que tem sido alvo, mensagem que poderá, se necessário, ser traduzida numa ajuda concreta aos seus problemas de financiamento.

Esta mensagem será expressa pelos líderes dos Vinte e Sete durante uma cimeira informal convocada em Janeiro para debater a sua estratégia económica a médio prazo, mas que será largamente dominada pelos problemas de solvabilidade da Grécia.

De acordo com vários diplomatas europeus, os líderes emitirão uma declaração dirigida aos mercados financeiros. A ideia é acalmar a especulação dos últimos dias sobre o risco de Atenas entrar em cessação de pagamentos devido ao prémio de risco cada vez mais elevado que tem de pagar para financiar a dívida pública colossal de 120 por cento do PIB. Sobretudo porque esta especulação começa a afectar a estabilidade do euro e corre o risco de contagiar outros países, como Portugal ou Espanha.

Os detalhes do apoio europeu foram ontem objecto de intensas discussões entre responsáveis europeus, dando mesmo lugar a uma teleconferência, considerada inédita, entre os ministros das Finanças da zona euro ao início da tarde. Algumas horas depois foi a vez de os membros do conselho de governadores dos Banco Central Europeu (BCE) usarem idêntico procedimento. "Estas reuniões todas dão um sinal de que está em preparação um apoio inequívoco à Grécia", afirmou um diplomata europeu, convicto de que "os mercados não vão acalmar enquanto não houver uma oferta de dinheiro".

O apoio europeu poderá começar por ser essencialmente político, através de uma mensagem clara aos mercados de que Atenas cumprirá as suas obrigações em qualquer cenário. Isto equivale à oferta de uma garantia sobre os títulos de dívida gregos por parte da zona euro, ou por alguns dos seus membros, o que permitirá baixar de imediato o prémio de risco.

Não era claro ontem se esta garantia será ou não acompanhada do anúncio de algum tipo de ajuda concreta bilateral ao Governo grego, já que o BCE ou a UE enquanto tal estão expressamente proibidos de o fazer. A França e a Alemanha, sobretudo - cujos bancos comerciais estão particularmente expostos à dívida grega - emitiram amplos sinais de que poderão fazê-lo, o representa uma viragem de 180 graus de Berlim: o Governo alemão tem resistido sistematicamente a este tipo de operações de salvamento, temendo criar um precedente para outros países pouco disciplinados. Lisboa e Madrid são os exemplos mais frequentemente citados.

Possível recurso ao FMI

Outra possibilidade em discussão passa por um possível recurso ao FMI, que, como referiu um diplomata, "está sentado numa montanha de dinheiro e não sabe o que lhe há-de fazer". O Reino Unido e a Suécia favorecem a intervenção do FMI, nos mesmos moldes da ajuda que já concedeu à Hungria, Lituânia e Roménia, países da UE mas não da zona euro. A Comissão Europeia é terminantemente contra, sobretudo por questões de soberania.

"No plano técnico é mais fácil ser o FMI a intervir", reconheceu um diplomata, embora sublinhando que a discussão não é técnica, mas política. "A conversa de que a zona euro não tem mecanismos [para ajudar] é política e vem de quem tenta pôr em causa o actual modelo de construção europeia", protestou.

Uma vertente essencial nas discussões de ontem prendeu-se com o tipo de garantias que terão de ser exigidos da Grécia em troca do apoio europeu. "Se houver ajuda, não será grátis, é preciso contrapartidas", frisou um perito monetário.

George Papandreou, primeiro-ministro grego, que ontem almoçou em Paris com o Presidente francês, Nicolas Sarkozy, insistiu logo a seguir de forma particularmente clara que fará "tudo o que for preciso" para cumprir o compromisso assumido com os seus pares europeus de reduzir o défice orçamental de 12,7 por cento do PIB no ano passado para menos de 3 por cento em 2012. Nas ruas de Atenas, milhares de funcionários protestavam ao mesmo tempo contra o plano de austeridade de Papandreou que prevê, nomeadamente, o congelamento, ou mesmo redução, dos seus salários.