Carla Soares, in Jornal de Notícias
Estudo em Portugal e Moçambique mostra efeitos do tabaco no estômago
Um estudo comparativo entre Portugal e Moçambique mostra que o menor consumo de tabaco, associado ao perfil genético, defende a população africana do cancro do estômago, mesmo que os níveis de infecção sejam igualmente elevados.
A propósito do 21º aniversário do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), foram apresentados trabalhos de investigação desenvolvidos em colaboração com os países africanos de língua oficial portuguesa. O estudo realizado em Portugal e Moçambique incidiu sobre lesões da mucosa gástrica. Publicado no ano passado, mostra que ambos têm uma elevada taxa de infecção por Helicobacter pylori, principal causa de cancro no estômago.
Contudo, concluiu a equipa liderada por Leonor David, Portugal tem uma elevada incidência de carcinoma gástrico, que, em Moçambique, é baixa, remetendo-nos para o "enigma africano". No nosso país, a prevalência de infecção por aquela bactéria é de 95%; em Moçambique de 93%. Porém, as lesões de gastrite crónica atrófica, por exemplo, são "pouco fortes em Moçambique" Só representam 8%. Em Portugal, a prevalência é de 36%.
A disparidade de valores, apesar da presença muito semelhante da bactéria, é explicada pelas "diferenças no perfil genético dos indivíduos" e pelos "estilos de vida", nomeadamente "o menor consumo de tabaco em Moçambique". São estes factores que fazem com que o cancro "evolua de forma diferente nos dois países".
Moçambique é o país com que o IPATIMUP tem uma colaboração mais estreita. Sobrinho Simões, presidente do instituto, Rui Mota Cardoso, investigador sénior, e Marques dos Santos, reitor da Universidade do Porto, querem alargar e fortalecer a rede de intercâmbio com África.