I.C., in Jornal de Notícias
A maioria das crianças que, em 2009, foram adoptadas tinham até cinco anos. Uma tendência considerada natural, assente na própria facilidade de integração, que é maior quanto mais nova for a criança. E que até já levou vários países europeus a limitar a idade de adopção aos seis anos.
A constatação está no Relatório de Caracterização das Crianças e Jovens em Situação de Acolhimento, do Instituto da Segurança Social, segundo o qual 385 das 2135 crianças saídas em 2009 do sistema seguiram para adopção. Dessas, 185 tinham entre zero e três anos e 70 entre quatro e cinco. A faixa etária seguinte ainda conta com 106 casos. Mas a partir os dez anos, já são muito poucos os jovens adoptados (24).
"É natural", comenta Dulce Rocha, presidente executiva do Instituto de Apoio à Criança. "As preferências dos casais candidatos vão sempre para crianças mais novas, porque muitos não têm filhos e querem uma substituição daquilo que a biologia não lhes deu. Querem passar todas as etapas do crescimento".
Defendendo ser injusto acusar os adoptantes de querer seleccionar crianças, garante que, a partir dos seis anos, é sempre muito mais difícil integrar crianças num ambiente familiar. "Algumas delas também não querem e devem ser ouvidas. Até porque há crianças que mantêm ligação a membros da família alargada. E que se identificam com a família biológica, mesmo que não haja relação possível", diz a especialista.
O atraso da definição da adopção como projecto de vida (que se aplica a 10% das 9563 crianças e jovens em situação de acolhimento) deve-se ao protelar de tentativas de reintegrar no ambiente de origem. "Há que melhorar o diagnóstico das situações em que há uma ruptura dos laços de filiação e ponderar logo a adopção".


