12.4.10

Não há crise de alternadeiras na noite do Porto

Vítor Pinto Basto, in Jornal de Notícias

SEF identifica 429 estrangeiras em 40 bares. Só no Porto, 33 das 74 identificadas estavam em situação irregular.

Trinta e três das 74 mulheres identificadas, ontem de madrugada, pelo SEF em três bares do Porto, estavam em situação de permanência irregular no país. Quatro ficaram detidas; houve 19 detenções no país. Ali, as coimas aplicadas foram entre 4 mil e 480 mil euros.

O número de alternadeiras encontradas nos três bares do Porto não surpreendeu os responsáveis do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), numa operação que decorreu em todo o país e foi coordenada, a partir do Porto, pelo inspector Mário Neves. "O que ficou acima do esperado", afirmou, ao JN, o coordenador do departamento regional de investigação da Direcção Regional do Norte do SEF, "foi terem detectado tantas mulheres em situação irregular dentro das casas" de diversão nocturna.

E os números dão forma à surpresa. Nas três casas-alvo da operação no Porto (foram fiscalizadas 40 casas no país), o SEF verificou que entre as 74 mulheres identificadas 33 estavam em situação de permanência irregular em Portugal - isto é: quase metade das alternadeiras identificadas. Destas, segundo Mário Neves, 29 foram notificadas a abandonar o país e quatro ficaram detidas por estarem ilegais.

Num dos bares, os elementos do SEF tiveram uma surpresa. Entre as mulheres identificadas encontrava-se um grupo de cidadãs da América Latina que estariam a trabalhar como bailarinas. O que é ilegal, tendo em conta que não teriam contrato de trabalho.

Noutro bar, a operação põe uma jovem, que não aparenta ter mais do que vinte anos, a chorar. Agarrada ao telemóvel, em pranto, contaria a alguém o castigo que lhe deveria ser aplicado alegadamente por estar ilegal: a detenção e consequente abandono do país. Há outras que pedem para ir a casa buscar a sua identificação, o que lhes é negado por elementos do SEF que admitem, porém, que elas ou alguém possa contactar seus familiares ou conhecidos para lhe trazerem os documentos.

Mais a Norte, noutro bar, apurou o JN, elementos do SEF admitem que algumas alternadeiras tenham escapado à identificação. Encontraram uns sapatos junto a uma escapatória e verificaram que havia um buraco no telhado de uma casa ao lado do bar por onde elas terão fugido.

Cem casas de alterne

Esta operação a nível nacional, segundo o inspector Mário Neves, dando nota do comunicado ontem divulgado pelo SEF, envolveu 172 elementos daquela força policial. Foram identificados 429 cidadãos estrangeiros; 19 foram detidos por estarem ilegalmente no país e a 45 (29 das quais no Porto) foi instaurado o processo para abandono voluntário do país no prazo de vinte dias.

Segundo o SEF, foram instaurados, aos proprietários das casas daquelas casas de diversão nocturna, 20 processos de contra-ordenação por emprego de estrangeiros não autorizados a exercer a sua actividade profissional. No Porto, apurou o JN, as coimas aplicadas aos três bares visados pelo SEF foram de valores que variam entre 4 mil e 20 mil euros; 90 mil e 480 mil euros; e 96 mil e 480 mil euros.

"A nossa acção foi verificar se há prostituição ou mulheres ilegais nessas casas", explicou Mário Neves, salientando que na zona de acção da Direcção Regional do Norte estão identificadas 100 casas de alterne licenciadas". E, pelo número de mulheres encontradas nos três bares visados ontem, no Porto, constataram uma singular evidência: não há crise de alternadeiras.