20.5.11

Desemprego de longa duração alarga fosso entre INE e IEFP

Por João Ramos de Almeida, in Público on-line

Os números mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que continua a ampliar-se o hiato entre os valores do desemprego registado nos centros de emprego e os estimados pelo organismo estatístico nacional. As duas séries caminham em direcções opostas.

Esse afastamento pode estar, mais recentemente, a ser influenciado pela subida do desemprego de longa duração. À medida que o tempo passa, esgota-se o tempo de atribuição do subsídio e, com a falta de empregos, os desempregados vão-se desinteressando de estar inscritos nos centros de emprego.

Segundo o INE, havia 279,5 mil desempregados de longa duração no 4º trimestre de 2009. Um ano depois, já eram 337,4 mil, mais de metade do desemprego global. Nos centros de emprego passou-se o mesmo. Passaram de 181 mil em Dezembro de 2009, para 233,4 mil em Abril passado, ou seja, de 34 para 42 por cento do total.

Em paralelo, reduziu-se o grupo dos desempregados que recebem subsídio de desemprego. Mesmo retirando os jovens desempregados em busca do primeiro emprego, no final de 2009 havia 75 por cento dos desempregados a receber subsídio. Mas em Março passado, esse grupo reduzira-se para 57,6 por cento. Por seu lado, o INE estimou que, no final de 2009, cerca de 56 por cento dos desempregados em busca de um novo emprego recebiam subsídio de desemprego. Mas o seu número foi se reduzindo até chegar aos 51,6 por cento no final de 2010. A nova metodologia de recolha de informação, a partir do primeiro trimestre de 2011, piorou os números. São só 46,2 por cento os que têm apoio no desemprego.

O que acontecerá no futuro?

A perda dos apoios pode mesmo estar a reduzir os fluxos de novos desempregados entrados nos centros de empregados (ver gráfico). Mas as duas trajectórias seguem de perto o agravamento do desemprego global. E tudo indica que vai continuar a aumentar o número dos que não recebem qualquer apoio.

Primeiro, porque se perspectivam pelo menos dois anos de recessão económica. Depois, porque mesmo quando a retoma económica se inicia, verifica-se historicamente haver um hiato de quase dois anos até que o desemprego comece a ser absorvido. Em terceiro, porque a criação de emprego apenas se verifica com taxas de crescimento económico acima dos dois por cento.

Finalmente, porque, neste cenário, as medidas de austeridade previstas com a troika vão reduzir ainda mais os apoios, em duração e montantes de subsídio. E resta saber até que ponto não agravarão a recessão, ao reduzir ainda mais o consumo.