16.5.11

'A pobreza em Portugal tem rosto feminino '

in O Primeiro de Janeiro

Pobreza. Responsáveis pelo sustento do lar, muitas mulheres começam a prostituir-se.

'São mulheres de todas as idades que se prostituem para pagar as contas', explica Inês Fontinha, presidente da Associação O Ninho.

Cada vez mais mulheres recorrem à prostituição para conseguir sustentar os filhos. Desempregadas ou com trabalhos mal pagos, aceitam vender o corpo para manter a vida que tinham antes de o companheiro as abandonar. As técnicas da Associação O Ninho aperceberam-se a partir de 2009 que começavam a aparecer nas ruas de Lisboa novas mulheres, com histórias de vida semelhantes: mães sozinhas, inteiramente responsáveis pelo sustento do lar. 'São mulheres de todas as idades que se prostituem para pagar as contas', conta Inês Fontinha, presidente daquela instituição.
'Estas mulheres só o fazem para resolver um problema do momento, porque a ideia é abandonar aquela vida. Mas não é fácil porque muitas vezes não encontram alternativas. Nos últimos tempos, temos tido várias mulheres que recorrem a nós pedindo-nos ajuda porque não querem continuar', assume.
Segundo dados do INE, em 2010 havia mais de 346 mil famílias em Portugal com apenas um progenitor e, segundo a socióloga Karin Wall, as famílias monoparentais 'são as mais vulneráveis à situação de pobreza', principalmente quando são as mães com os filhos.
Parte dessa fragilidade advém do facto de as mulheres continuarem a ser discriminadas no trabalho: ganham menos que os homens, têm profissões mais desclassificadas e 'em épocas de crise as situações de discriminação tendem a agravar-se', lamentou Manuela Goias, da UMAR, sublinhando que 'a pobreza tem um rosto feminino', 'O desemprego cria situações muito graves e há cada vez mais mulheres que passam a recorrer à prostituição para ajudar a família. Vivem em grande sofrimento', acrescentou Maria Teresa Costa Macedo, presidente da Confederação Nacional das Famílias. 'As mulheres estão desesperadas. Aqui há uns anos pediam ajuda à família, mas hoje nem a família pode ajudar', conclui Inês Fontinha.