17.5.11

Rui Rio admite estudar projecto dos "ocupas" da Fontinha

in Jornal de Notícias

O caso da antiga escola primária da Fontinha, abandonada há cinco anos e gerida durante um mês por um grupo de "ocupas" despejados na semana passada, dominou a Assembleia Municipal do Porto de segunda-feira. O executivo camarário admite propostas para o reaproveitamento daquele espaço, inclusive as que forem apresentadas pelo referido grupo, disse o presidente da Câmara, Rui Rio.

"Não conheço o projecto que lá estava dentro e não me custa aceitá-lo, mas é impossível aceitar seja que ocupação for de um edifício", acrescentou Rui Rio.

Na semana passada, a Polícia Municipal, cumprindo ordens da câmara, despejou o movimento ES.COL.A do Alto da Fontinha, que ali pretendia criar um centro social "autogestionado" com diversas actividades culturais para jovens e idosos.

O ES.COL.A ocupou o edifício, propriedade camarária, há cerca de um mês e os moradores pareciam apreciar a sua presença, até pela segurança criada. "Não tem mal nenhum", garantiu José Sampaio Lima, "representante dos moradores" locais. "Querem é ser felizes", continuou, dirigindo-se aos deputados municipais. "Somos como irmãos, a população está radiante", concluiu.

O caso Fontinha foi chamado à assembleia através da deputada do Bloco de Esquerda (BE) Ada Pereira da Silva, que criticou "o excesso policial" que rodeou a acção de despejo, com agentes armados de "shotguns" por causa de "sete pessoas".

A deputada notou que o ES.COL.A "não pediu apoio, não pediu colaboração e não pediu subsídio" para o seu projecto e, apesar disso, "tinha resultados positivos".

"Sim, não é legal", concordou, referindo, no entanto, que os membros daquele movimento "mostraram iniciativa".

A socialista Carla Sousa enunciou as várias actividades promovidas pelo ES.COL.A, para concluir que "o espaço tornou-se útil, quando antes era "uma bolha de insegurança" que a comunidade residente tinha à sua porta.

"Os moradores sentiam o projecto como deles", reforçou, tendo depois perguntado ao executivo "que projecto" tinha para aquele espaço.

A CDU preferiu sublinhar a "forma brutal e violenta" como a Câmara agiu para desocupar a ex-escola.

Na maioria PSD-CDS/PP, o social-democrata Paulo Rios considerou que os "ocupas" tiveram "um comportamento censurável numa sociedade civilizada e num estado de direito". Admitiu, ainda assim, que "o projecto pode ter sentido" e pediu à câmara para "ver até que ponto faz sentido prosseguir" com ele.

Rio aceitou na sugestão e disse estar receptivo a uma proposta que o movimento queira fazer. Segundo disse, a autarquia vai "procurar fazer um projecto decente para aquele edifício".

O morador Carlos Correia pediu "uma segunda oportunidade" para os jovens do ES.COL.A, alguns dos quais, juntamente com alguns moradores da Fontinha, estiveram concentrados mais de cinco horas nas traseiras da câmara, em apoio daquele projecto, à espera que a assembleia terminasse e de notícias acerca do que foi discutido .

Alguém colocou uma faixa branca, na qual podia ler-se: "da ES.COL.A para o bairro ou da câmara para o abandono? Espaço coletivo autogestionado do Alto da Fontinha".