in Diário de Notícias
O tema da discriminação racial é "normalmente mal utilizado em períodos eleitorais", afirma à Lusa a especialista da ONU em direitos humanos Mirjana Najchevska, preferindo ouvir os políticos falar no assunto depois das eleições.
Quando questionada pela agência Lusa sobre o caso recente da política nacional, quando o líder do PSD, Passos Coelho, disse ser "o mais africano dos candidatos", a especialista em questões de discriminação racial considera que são quase sempre negativas estas intervenções políticas.
Lembrou até que muitas vezes, em períodos eleitorais, "há pessoas envolvidas na política que declaram ter simpatia por determinados grupos étnicos, nomeadamente africanos, mas isso não quer dizer que estejam verdadeiramente a par dos problemas ou mesmo preparados para lidar com estes problemas que as pessoas enfrentam".
Na opinião da líder do grupo da ONU que está a visitar Portugal, e que também pretende avaliar de que forma a atual crise económica está a afetar as pessoas de ascendência africana no País, "é preferível verificar as alterações e os debates que se dão depois das eleições e também as mudanças de práticas e o reconhecimento dos problemas".
A participação das comunidades de afro-descendentes nos processos eleitorais é outro dos aspetos que preocupam este grupo de trabalho do Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
"A participação é muito importante. Quando temos grupos muito vulneráveis, como os descendentes africanos, que estão a enfrentar estereótipos, independentemente de estarmos a par desses factos, defendo que deve haver ação positiva para 'empurrar' estes grupos para o processo participativo", disse a investigadora.
E deixa um alerta: "Os direitos activos estão ligados também com a possibilidade passiva de poderem fazer parte dos partidos políticos, mas tanto quanto sei só há um ou dois afro-descendentes no Parlamento português..."
Que motivação terão os afro-descendentes para votar "se não há ninguém a representar o seu interesse e as suas necessidades específicas", questiona a perita da ONU.
"Há a necessidade de os partidos políticos reconhecerem estas necessidades e reconhecerem estes grupos como potenciais votantes", concluiu.
No entanto, este não é também um problema unicamente português, pois "muitas democracias desenvolvidas não querem reconhecer isto como um problema, preferem falar num problema de qualidade, de liberdade de escolha, mas já há muitos investigadores que começam a identificar isto como um problema nos países mais desenvolvidos, como a Suíça, a Dinamarca, a Suécia, a Alemanha ou a França".
O grupo de trabalho apresentará o relatório da sua visita a Portugal ao Conselho de Direitos Humanos em 2012.
No final desta missão em Portugal, no dia 20, os membros do grupo de trabalho farão uma conferência de imprensa na sede da UNICEF em Lisboa.


