Rafaela Burd Relvas, in Público on-line
No final do primeiro semestre deste ano, o valor mediano das rendas habitacionais em Portugal ultrapassava os 6 euros por metro quadrado, um aumento superior a 40% em relação a 2017.
Em cinco anos, as rendas praticadas em Portugal aumentaram mais de 40%, um ritmo de crescimento que chega a ser largamente superado em vários municípios. Só nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, onde é mais caro viver, as rendas aumentaram em torno de 50% neste período; e, nos concelhos da periferia da capital, os aumentos chegam aos 60%.
Os dados são do Instituto Nacional de Estatística (INE) e ilustram aquela que tem sido a evolução do mercado de arrendamento em Portugal, que, pelo menos desde o segundo semestre de 2017, data em que foi iniciada esta série estatística, nunca conheceu uma quebra nos preços.
No final do primeiro semestre deste ano (considerando o conjunto dos doze meses até aí), foram atingidos novos recordes: o valor mediano das rendas de novos contratos de arrendamento atingiu os 6,25 euros por metro quadrado, um aumento de 3,5% em relação ao semestre anterior e de 7,4% face a igual período do ano passado. O actual cenário de agravamento dos preços é ainda mais evidente se se tiver em conta apenas o segundo trimestre deste ano, período em que a renda mediana em Portugal atingiu os 6,55 euros por metro quadrado, uma subida de 8,6% em relação a igual período do ano passado.
Este aumento acelerado das rendas acontece apesar da retracção da procura no mercado de arrendamento. No segundo trimestre de 2022, foram celebrados 21.005 novos contratos de arrendamento para habitação, número que representa um aumento de 2,1% em relação ao ano passado, mas uma queda superior a 15% em relação aos 24.727 novos contratos que tinham sido celebrados no primeiro trimestre do ano.
Também na análise a um período alargado fica clara aquela que tem sido a evolução do mercado. Entre o segundo semestre de 2017, altura em que o valor mediano das rendas se situava em 4,39 euros por metro quadrado, e o primeiro deste ano, as rendas sofreram um aumento de 42,4%. E, por esta altura, já praticamente não existem cidades que escapem a este fenómeno, ao contrário do que chegou a acontecer durante alguns anos. Entre os 199 municípios para os quais o INE disponibiliza informação relativa a todo este período, só em dois houve uma redução das rendas medianas entre 2017 e 2022: Borba, onde se verifica uma quebra de 7%, e Mira, onde as rendas caíram 2%.
Em todos os restantes, as rendas aumentaram e, na larga maioria dos casos, o crescimento foi a dois dígitos, um movimento que foi particularmente acentuado nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. No final de Junho deste ano, as rendas já atingiam um valor mediano de 9,29 euros por metro quadrado na Área Metropolitana de Lisboa, um aumento superior a 53% em relação ao que se verificava há cinco anos, enquanto na Área Metropolitana do Porto o valor mediano das rendas ascendia a 6,82 euros por metro quadrado, uma subida de 48,9% face a 2017.
São, sobretudo, as periferias das cidades de Lisboa e do Porto que explicam essa evolução. Nestes cinco anos, as rendas nos municípios do Barreiro, Setúbal e Moita, em Lisboa, aumentaram cerca de 60%, fazendo destes os concelhos onde os preços registaram o maior aumento do país durante este período. Já nos concelhos de Valongo, Póvoa de Varzim e Vila Nova de Gaia, no Porto, as rendas aumentaram em torno de 48% neste período.
Cascais é o concelho mais caro
Apesar do contínuo aumento das rendas em Lisboa, desde sempre a cidade mais cara do país para arrendar casa, esse lugar passou agora a ser ocupado pelo município de Cascais, onde, este ano, o valor mediano das rendas ultrapassou, pela primeira vez, aquele que se regista na capital.
No final do segundo trimestre, a renda mediana em Cascais atingiu os 12,78 euros por metro quadrado, um aumento de quase 20% que torna este município no mais caro do país. Logo de seguida está Lisboa, onde a renda mediana é agora de 12,61 euros por metro quadrado.
De resto, este movimento é comum a quase todas as grandes cidades. No trimestre em análise, as rendas aumentaram, em relação ao ano passado, em 23 dos 24 municípios com mais de 100 mil habitantes, com excepção apenas de Barcelos, onde o valor mediano das rendas caiu 2%, para 4,04 euros por metro quadrado.
A discrepância entre os valores praticados nas maiores cidades e aqueles que se verificam a nível nacional vai-se tornando, assim, cada vez mais acentuada. Com o aumento agora registado, a renda mediana em Cascais representa praticamente o dobro do valor mediano nacional.
Numa análise territorial mais fina, contudo, continua a ser em Lisboa que se encontram as freguesias mais caras do país, não havendo nenhuma onde as rendas tenham sofrido uma quebra na primeira metade do ano. Aliás, já é difícil encontrar casas com rendas inferiores a 10 euros por metro quadrado na capital, sendo a freguesia de Santa Clara a única que ainda apresenta valores inferiores a esta fasquia, com uma renda mediana de 8,82 euros. Já na freguesia de Santo António, a mais cara, onde se encontra a zona do Marquês de Pombal e da Avenida da Liberdade, a renda mediana chegou aos 15 euros por metro quadrado.