Em 1990, o rácio era de 66 idosos por cada 100 jovens. Hoje estamos nos 182 por cada 100. Pordata calculou a evolução entre 2015 e 2020 nos vários países da UE. E em Portugal há quase duas vezes mais idosos do que jovens e crianças.
Portugal é país da União Europeia onde o índice de envelhecimento — o rácio entre o grupo dos mais velhos (a partir dos 65 anos) e o dos mais novos (0 a 14 anos) — tem crescido com maior rapidez nos últimos anos.
Cálculos feitos pela equipa da base de dados estatísticos Pordata para o período compreendido entre 2015 e 2020 indicam que Portugal registou “uma taxa de crescimento médio anual do índice de envelhecimento” da ordem dos 3,6%, o ritmo mais acelerado no conjunto dos países da UE, mesmo superior ao de Itália — que em 2020 era o país com mais idosos por cada 100 jovens e crianças. Portugal subira, então, para o segundo lugar da lista.
O envelhecimento “não é dramático” mas “as sociedades precisam da energia dos jovens”
“Esta taxa de crescimento foi calculada na lógica das taxas de juro, olhando para 2015 e 2020, sem considerar valores intermédios”, explica ao PÚBLICO a directora da Pordata, Luísa Loura. O que se observa é um estreitamento progressivo e veloz da base da pirâmide etária e o alargamento do topo, que se voltou a acentuar em 2021, quando a relação entre os mais velhos e os mais novos passou para 182 por 100 em Portugal, de acordo com os dados provisórios do último censo. “É a base da pirâmide que está muito estreita”, enfatiza.
Este indicador é relevante porque ilustra o processo de duplo envelhecimento da população residente em Portugal. E o que se percebe é que o processo “está a ser mais rápido do que nos outros países”, em resultado do aumento da esperança de vida, por um lado, e da contínua quebra da fecundidade e da natalidade, por outro, nota Luísa Loura.
Centro e Alentejo são as regiões mais envelhecidas
Quando divulgou os resultados provisórios do Censos 2021, em Dezembro passado, o Instituto Nacional de Estatística (INE) chamou a atenção para este fenómeno. “O envelhecimento demográfico em Portugal continuou a acentuar-se de forma muito expressiva, salientando os desequilíbrios já evidenciados na década anterior”, destacou o INE, lembrando que em 2011 este índice era de 128 idosos por cada 100 crianças e jovens até aos 14 anos, e de 102 em 2001, ano em que a relação entre os dois grupos etários se inverteu.
Desde então, o número praticamente duplicou, corresponde agora quase ao dobro do total de jovens e crianças e a transformação aconteceu num curtíssimo espaço de tempo — em 1990, o rácio era ainda de 66 idosos por cada 100 jovens. A equipa da Pordata calcula que as taxas de crescimento médio anual do índice de envelhecimento ficaram acima dos 3% durante os anos 90 do século passado, para “abrandarem durante a primeira década deste século” e voltarem a crescer a partir de 2010.
O envelhecimento demográfico é uma tendência transversal ao conjunto dos países da União Europeia, onde as consistentemente baixas taxas de natalidade e a maior esperança de vida estão a transformar a forma da pirâmide etária desde há décadas.
Porém, na análise de curto prazo feita pela Pordata, projecto da Fundação Francisco Manuel dos Santos, entre 2015 e 2020 há dois países em que o índice de envelhecimento não aumentou: a Alemanha e a Suécia registaram mesmo uma ligeiríssima redução neste período (menos 0,1%). De resto, este rácio subiu em todos os outros países e com maior rapidez, além de Portugal, na Irlanda (que, ainda assim, continua a ser o menos envelhecido de todos, com 72 idosos por 100 crianças em 2020), na Finlândia e nos Países Baixos.
Em Portugal, o aumento do índice de envelhecimento é comum a todas as regiões do país, como sinalizou o INE, mas era mais expressivo no Centro e no Alentejo, com 229 e 219 idosos por cada 100 jovens no ano passado, respectivamente. Em contrapartida, a Região Autónoma dos Açores, Área Metropolitana de Lisboa e Região Autónoma da Madeira tinham então os índices mais baixos: 113, 151 e 157. Oleiros, Alcoutim e Almeida eram os municípios do país mais envelhecidos, com sete vezes mais idosos do que jovens.
Na última década, a população decresceu em todos os grupos etários, com excepção dos idosos, que representavam no ano passado já quase um quarto do total dos residentes no país (23,4%) e o grupo das crianças e jovens até aos 14 anos foi o que sofreu a redução mais expressiva, correspondendo então a apenas 12,9% da população.
Imigrantes, precisam-se
Feitas as contas, procuram-se explicações e respostas. “A distância entre os dois grupos — os mais novos e os mais velhos — está a acentuar-se em Portugal. O grupo dos mais novos está a diminuir muito e o dos mais velhos está a aumentar muito. A consequência é esta e é preocupante”, sintetiza Paulo Machado, presidente da Associação Portuguesa de Demografia.
“O problema é que toda a nossa organização social assenta na relação entre grandes grupos etários e, quando isto se desequilibra, temos que perguntar: como é que nos organizamos agora?” Para Paulo Machado, “a solução à vista é a imigração”. Os imigrantes chegam em idades mais jovens e têm mais filhos, e a sua contribuição para a natalidade é significativa, lembra.
Mas isso não será suficiente para “estancar a hemorragia” populacional e as “as projecções indicam que, pelo menos até 2050, 2060”, este índice continuará a agravar-se e “até lá o país poderá perder 2,5 milhões de habitantes”.
“Temos que trabalhar em duas frentes — dar condições aos jovens portugueses para terem famílias mais numerosas e criar condições para que quem vem de fora se sinta cá bem e fique”, complementa Luísa Loura, apontando o exemplo da Alemanha, país que “abriu muito as portas à imigração”.
A directora da Pordata sublinha ainda que há países, como a França, que conseguem ter um índice de longevidade (número de pessoas com 80 e mais anos por cada 100 com 65 e mais anos) dos mais elevados e, simultaneamente, um dos índices de envelhecimento mais baixos. “Isto significa que França consegue ter a base da pirâmide suficientemente alargada, conseguiu reforçá-la com uma série de políticas para a natalidade que surtiram efeito.”
Portugal, pelo contrário, não está a conseguir ampliar a base da pirâmide e esse é que é “o nosso problema”. E o futuro não se afigura risonho, se nada se alterar entretanto. O índice se envelhecimento continuará crescer nos próximos 35 anos, porque o grupo etário dos 45 aos 49 anos e os grupos acima destas idades, “dos 50 aos 54 anos e por aí fora”, são os mais volumosos e “têm muito peso na pirâmide etária”, explica.
Na década de 50, o número de idosos atingirá o valor mais elevado, momento a partir do qual passa a decrescer. Estamos, portanto, num processo de aceleração do envelhecimento que não vai durar para sempre mas ainda vai durar muitos anos. “É imprescindível que Portugal integre pessoas vindas de outros países”, repete.
No mesmo sentido, nas projecções populacionais feitas em Março de 2020, o INE já apontava para uma quase duplicação do índice de envelhecimento em Portugal entre 2018 e 2080, ano poderá haver 300 idosos por cada 100 jovens, em resultado do contínuo decréscimo da população mais nova.
“O índice de envelhecimento só tenderá a estabilizar na proximidade de 2050, quando as gerações nascidas num contexto de níveis de fecundidade abaixo do limiar de substituição das gerações já se encontrarem no grupo etário 65 e mais”, concluía.